Lá pelos idos de 1999, quando escrevia meu livro "Saga dos Polacos", o então cônsul geral da Polônia, em Curitiba, Marek Makowski, perguntou-me se eu sabia algo sobre a maior tragédia ocorrida na imigração polaca para o Brasil. - Que tragédia é essa? Perguntei ao que ele respondeu: "Parece que na zona rural do município de Cruz Machado, no ano de 1911, morreram quase dois mil imigrantes polacos. Não sobreviveram a uma epidemia de tifo".
Munido de um câmera de vídeo viajei até Cruz Machado, município há mais de 250 km de Curitiba. Chegando a prefeitura perguntei sobre o cemitério abandonado dos polacos. Ninguém sabia dizer onde era. O cônsul deve ter recebido uma informação falsa, pensei. Já desistindo, saí do prédio com intenção de voltar a Curitiba. Fui alcançado abrindo a porta do carro por um senhor que se dizia tratorista da prefeitura. Dizia que sabia onde era o cemitério e se eu quisesse ele me levava lá. Depois de 40 km de estrada de chão pela Serra da Esperança, chegamos depois de mais de uma hora, a uma colina cercada de árvores. Da estradinha tivemos que subir a pé aquela encosta. Foi então que deparei em meio ao matagal algumas tábuas antigas fincadas no chão. Eram as lápides improvisadas das primeiras vítimas da maior colônia polaca, em área territorial, do Brasil. Diante de mim estava o cemitério dos polacos do Rio do Banho, do antigo Pátio Velho.
Depois disso a história do cemitério ganhou duas páginas no meu livro. Transformou-se num documentário, que apresentei durante uma missa dominical na igreja do Distrito de Santana. O documentário "Cruz Machado - Os Polacos e o Tifo" produzido por mim foi lançado também na Cinemateca de Curitiba e passou a servir de parte integrante do processo metodológico de minha tese de doutoramento na Universidade Iaguielônia de Cracóvia, na Polônia.
Mas as repercuções não se restringiram apenas às minhas iniciativas. Logo em seguida, com apoio da comunidade de Santana, do Consulado e do Ministério da Cultura da Polônia, o cemitério foi restaurado. A jornalista e documentarista Ana Johann, oriunda de Cruz Machado, fez um outro documentário sobre os polacos de Cruz Machado. Documentarista formada na escola de cinema de Barcelona, ela voltou para casa com uma idéia na cabeça: fazer um documentário sobre a localidade onde nasceu. E fez o filme "de tempos em tempos".
Cena do "casos e causos" de Guto Pasko
Agora o cineasta Guto Pasko, descendente de ucranianos de Prudentópolis, que dirigiu o filme longa metragem "Made in Ucrânia", entre outros, também se volta para Cruz Machado e nos apresenta neste domingo, na RPCTV Canal 12 de Curitiba (Rede Globo de Televisão), "O herói de Cruz Machado", no quadro "Casos e Causos", do programa Revista RPC.
O herói faz parte destas minhas pesquisas para o livro "Saga dos Polacos", do filme "Cruz Machado - Os polacos e o tifo", do trabalho dos alunos e professores do Colégio Estadual em Santana - Cruz Machado e da minha tese de doutoramento.
O herói é o farmacêutico Antiocho Pereira, natural de Paranaguá, e formado na faculdade de medicina do Rio de Janeiro, e morador de União da Vitória, que ao contrário das lendas da região ajudou os imigrantes polacos de Cruz Machado, em 1918 e não em 1911.
Já o episódio de Guto Pasko, que tive a oportunidade de colaborar e que assisti em primeira mão é de uma singeleza e beleza de imagens impressionantes. Obrigatória a audiência neste domingo, portanto!
No texto de divulgação a RPC informa que Antiocho Pereira, sabendo da epidemia de tifo que atingia o interior do Paraná, resolveu atender os doentes. Na região viviam diversas famílias de origem polaca que viviam em condições precárias, sem comida suficiente, vivendo em cabanas, passando frio e convivendo com muitos doentes. Comovido com a situação o revolucionário Antiocho decide mudar o rumo desta história.
O Herói de Cruz Machado tem participação de Lício Ferreira como Antiocho e Nice Novak como Ruzia. “Usei as pessoas da própria comunidade polaca de Cruz Machado e União da Vitória que são os descendentes daqueles imigrantes que foram salvos pelo Antiocho Pereira, ou seja, se não fosse o ato heroico dele, aquelas pessoas simplesmente não estariam ali. Creio que, com isso, consegui imprimir uma maior veracidade e autenticidade na história”, diz o diretor Pasko. Está é mais uma produção GP7 Cinema e RPCTV.
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