O polaco
Podolski fez dois, a Polônia não fez nenhum gol. Resultado: Polaco dois Polônia zero. O goleiro da Polônia,
Artur Boruc cumprimentou o jogador da Alemanha que fez os gols.
Podolski, alegria dos alemães, entretanto, não comemorou seus tentos. No segundo, ainda esboçou um sorriso quando envolvido pelo abraço do outro polaco,
Klose, companheiro de equipe. Encerrada a partida,
Podolski estava com a camisa branco-vermelha com o número 18 de
Lewandowski, outro polaco, mas jogador da seleção da Polônia. Ao lado, por outras razões evidentemente, um carioca e um paulista também trocavam as camisas. O controvertido passaporte polaco
Roger Guerreiro, há dois anos em Varsóvia, dava sua camisa branco-vermelha número 20 para
Kuranyi. Este apesar de nascido no Rio de Janeiro, portanto cidadão brasileiro é filho de pai alemão (mas com origens húngaras) e de mãe panamenha. Embora torcedor do Flamengo e dono de um RG de carteira de identidade brasileira será mesmo brasileiro? E Roger? Este parece ser mesmo brasileiro, pois as suas origens são as mesmas de todos os cidadãos da
República Federativa do Brasil: uma mistura de raças e etnias, a começar pela portuguesa. O que está por detrás destas confraternizações, infelizmente, o "analfabeto funcional" não percebe. A questão subliminar é que enquanto alguns dão valor ao que está escrito em Malaquias "
...recordai-vos dos feitos que vossos antepassados realizaram em seu tempo e merecereis uma grande glória e um nome eterno" ( 1 Mac.2:51), ou que conseguem se guiar pelo que escreveu o filósofo-psicólogo
Carl Jung quando disse que
"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia. Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas. Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo que mutilá-lo.", outros, sem consciência de suas origens, acham normal e absolutamente plausível que a cidadania de alguém possa ser vendida, ou usada, para defender a sua pátria, ou a de outros. E a FIFA, organização, que está por cima dos canônes da ONU, dos Estados, das leis nacionais e internacionais e principalmente dos indivíduos reconhece que tanto faz se alguém nasceu, ou etnicamente pertence a uma nação ou outra. O campeonato europeu, sul-americano, mundial de seleções de países passa por cima das cores e brasões dos estandartes das nacionalidades. Assim, um jogador de futebol só não pode jogar por duas seleções diferentes, como fez o brasileiro
Mazola e depois
Altafini para os italianos nas décadas de 50 e 60, o resto pode tudo. Afinal, o que importa são os cifrões advindos dos espetáculos. Etnia, nacionalidade, origem, paixão, patriotismo são meros adereços para aqueles que embalados pelo neo-liberalismo só pensam em lucro e riqueza. Para resolver a questão basta vender uma certidão de cidadania e um passaporte e está resolvida a questão. Controle de imigração, deportação de ilegais... isto tudo é coisa para Bruxelas e Strasburgo, não para Zurique. Pena daqueles que mesmo tendo avôs europeus precisam provar e esperar por funcionários de provincias, departamentos, regiões e voivodas decidirem se têm direito a cidadania ou não. Perdoem a divagação, pois o assunto aqui é futebol, mas é que na leitura dos jornais polacos desta manhã pós derrota na Euro2008, as entrelinhas não são tão obscuras, ao contrário estão bem nas linhas.
A imprensa polaca, desta segunda-feira faz menção ao fato de que jogar numa seleção de futebol européia, há algum tempo, não significa estar jogando pela pátria. Não discordam daquela expressão bem brasileira,
a seleção canarinho do Brasil é a pátria de chuteiras, ao contrário, parece que a endoçam
. O jornal
Rzeczpospolita, um dos dois maiores da Polônia, traz escrito o texto:
"no primeiro jogo na Euro nos venceu o nascido em Gliwice, Łukas Podolski, o qual marcou dois gols. Podolski emigrou da Polônia quando crianças. Nunca quis jogar para a Polônia, mas sempre falou calorosamente sobre seu país natal. Em Klagenfurt até depois de seu segundo gol, o qual significou o fim das esperanças polacas, não demonstrou nada além de um tímido sorriso. Seus colegas também não demonstraram qualquer euforia. Os polacos não quiseram pensar sobre o fato de que a Polônia poderia perder. Os jogadores, por alguns momentos até que jogaram bem. Dois anos atrás, houve um outro encontro bastante diferente em Dortmund. A equipe de Leo Beenhakker quis vencer e não só se defender. [...] Depois do segundo gol ficou claro, que não ajudaria aos polacos, nem Roger, o qual começou como reserva e entrou no lugar do capitão Maciej Żurawski, e os branco-vermelho das arquibancadas."No
Gazeta Wyborcza, o outro grande jornal da Polônia, não foi diferente. Uma das manchetes foi:
"Łukas Podolski: Desejo que a Polônia se classifique conosco no grupo" . No texto está escrito que
o atacante da representação alemã de origem polaca fez dois gols contra nós no primeiro jogo dos polacos na Copa Européia. "Ganhei depois do jogo muitas camisas da seleção polaca, pois tenho uma numerosa família também na Polônia. E claro, uma até vesti". Disse Łukas Podolski ao repórter da TV Polsat Sport e completou dizendo: "Vi que ía ser duro, mas ganhamos muito bem. Poderíamos fazer mais gols. Jogamos apenas no contra-ataque. Agora desejo que a Polônia junto com a gente passe para a próxima fase, embora os próximos jogos devam ser muito mais duros. A Áustria é forte e vai jogar em casa." No mais, falam que de repente, no estádio de Klagenfurt, os 70 mil torcedores polacos trocaram o refrão de
"Jogamos com vocês, Polacos, jogamos com vocês", por
"Kubica, Kubica!”. Numa evidente demonstração de que o grande orgulho da Polônia, no momento atende pelo nome de
Robert Kubica (pronuncia-se cubitssa) e estava bem longe daquele estádio, subindo no lugar mais alto do pódium do autódromo de Montreal, no Canadá. Este sim, se não pôs o coração no bico da chuteira, botou as mãos no volante do
BMW (curiosamente um carro alemão), com sangue frio, regularidade, mas nem por isso com menos paixão. Paixão pela pátria polaca, que Podolski também demonstrou ter.
O
polaco voador enviou imeditamente após a vitória uma menssagem a
Mario Theissen, diretor da equipe
BMW: “Estou em primeiro agora, o que é fantástico para nossa equipe, para mim, meu país (a primeira vitória na Fórmula 1), os fãs. Espero contar com 100% de apoio de nosso time até o final.”
Foto: Jim Young /Reuters E no terceiro jornal, o
Dziennik, a manchete não poderia ser mais explicita como a deste texto do meu blog:
"Perdemos para Podolski 0:2. Leo, por que ?" A resposta parece ser óbvia, o treinador holandês da seleção polaca deveria ao invés de pressionar pelo passaporte polaco para o paulista
Roger, ter solicitado às autoridades polacas e a FIFA que permitissem o polaco
Podolski de
Gliwice jogar com a camisa alvi-rubra e não alvinegra. Talvez aí, o resultado seria o contrário.
O JogoLocal: Estádio Wörthersee, em Klagenfurt (Áustria)
Data: 8 de junho de 2008, domingo
Horário: 20h45
Árbitro: Tom Henning Ovrebo (Noruega)
Assistentes: Geir Age Holen e Jan Petter Randen (ambos da Noruega)
Cartões amarelos: Schweinsteiger (Alemanha); Smolarek e Lewandowski (Polônia)
Gols: Podolski, aos 19 minutos do primeiro tempo e aos 27 minutos do segundo tempo.
ALEMANHA: Lehmann; Lahm, Metzelder, Mertesacker e Jansen; Frings, Ballack, Fritz (Schweinsteiger) e Podolski; Gómez (Hitzlsperger) e Klose (Kuranyi).
Técnico: Joachim Low
POLÔNIA: Boruc; Wasilewski, Zewlakow, Bak e Golanski (Zaganowski); Dudka, Lewandowski, Krzynowek, Lobodzinski (Piszczek) e Zurawski (Roger Guerreiro); Smolarek.
Técnico: Leo Beenhakker
Na outra partida do grupo B, a Croácia venceu a co-anfitriã Áustria por 1 a 0. O gol foi anotado aos quatro minutos do primeiro tempo por Luka Modricque. A próxima rodada do grupo será disputada na quinta-feira (dia 12) com os seguintes jogos: Alemanha x Croácia e Áustria x Polônia.