sábado, 29 de março de 2008

Kurytyba-Curitiba faz aniversário

Totem das cidades parceiras de Cracóvia.
No alto, a placa de Kurytyba, a única cidade gêmea de honra da capital da alma polaca.
Foto: Ulisses Iarochinski

Kurytyba a 11.500 km de distância de Cracóvia está fazendo 315 anos de existência. Sim, a capital dos paranaenses é a única cidade do Brasil que possui grafia própria no idioma polaco. Pois se fosse grafada como em português, os polacos diriam Tssuritiba e não Kurytyba.

A cidade do segundo planalto paranaense é mais conhecida em Cracóvia do que a mundialmente famosa Rio de Janeiro, ou Buenos Aires (capital do Brasil para desavisados europeus).

A prova disso é o diálogo com um motorista de táxi:

Taxista: O senhor é búlgaro, não?
Brasileiro: Búlgaro, por que?
Taxista: Porque o senhor tem cabelo escuro e apesar de falar bem polaco tem um sotaque bem estranho. O senhor não é polaco!
Brasileiro: Não! Não sou búlgaro... Sou de muito mais longe, além oceano.
Taxista: Ah! Já sei. O senhor é brasileiro... de Curitiba.
Brasileiro: Mas como o senhor sabe que sou de Curitiba?
Taxista: Ora! Porque Curitiba é a capital polaca da América do Sul, a terceira maior cidade polaca do mundo. Só perde para Chicago e Varsóvia. E convenhamos um carioca não iria saber falar tão bem o idioma polaco.

Curitiba, ou Kurytyba é mais do que isso para os polacos em geral e para a Polônia, em particular. Destino de milhares de imigrantes nos séculos 19 e 20, Curitiba, durante muito tempo foi cantada em versos e prosa como a "terra onde corria leite e mel". Terra abençoada que teria sido escolhida por Nossa Senhora e indicada pelo Papa ao Imperador brasileiro Dom Pedro II como o paraíso buscado pelo sofrido e oprimido povo da nação Polônia.

O primeiro polaco a chegar à pequena Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais deve ter sido o capitão do exército, Edward Kasper Stepnowski, que chegou ao Brasil em 1826. Foi ele o primeiro polaco a se estabelecer no Paraná comprando terras na cidade de Castro, mais precisamente em 1858.

Depois dele foi a vez de Hieronim Durski, que reimigrou de Joinville e se estabeleceu, em 1863, na Vila do Príncipe, atual Lapa, a 65 km de Curitiba. Mais tarde o professor viria morar em Curitiba e seria considerado o "pai das escolas polacas do Brasil". Hoje Durski é nome de rua no bairro do Bigorrilho.

Mais tarde, em setembro de 1871, chegaram mais 32 famílias de silesianos polacos (que tinham vivido por dois anos em Brusque), conduzidas pelo padre Antoni Zielinski e pelo jovem silesiano Sebastian Edmund Wos Saporski, este chamado de "o pai da imigração polaca no Brasil" (e também nome de rua em Curitiba).

Os chefes daquelas famílias pioneiras eram: Franciszek Polak, Mikolaj Wós, Bonawentura Polak, Tomasz Szymanski, Szymon Purkot, Filip Kokot, Michał Prudlo, Szymon Otto, Dominik Stempki, Kasper Gbur, Balcer Gbur, Walenty Weber, Antoni Kania, Franciszek Kania, Andrzej Pampuch, Stefan Kachel, Fabian Barcik, Grzegorz Chyły, Leonard Fila, Baltazar Gebrza, Leopold Jelen, Andrzej Kawicki, Marcin Kempka, Błazej Macioszek, Walenty Otto, Wincenty Pampuch, Paweł Polak Marcin Prudlik, Jozéf Purkot, Jozéf Skroch, Tomasz Szajnowski e August Walder. No total eram 164 pessoas.

A partir de então, o movimento de polacos nunca mais parou. A última a chegar certamente é Alina Prałat, de Gryfino, cidade do Noroeste da Polônia, em março de 2007. Alina, mestre em geografia pela Universidade de Berlim, casou com o curitibano Leandro Rocha e espera o nascimento nos próximos dias do último curitibano desta imensa lista de polacos-brasileiros que nasceram na "terra de muitos pinhões", em mais de 150 anos de imigração polaca em Curitiba.

QUANTOS POLACOS?

Já em 1938, o Consulado da Polônia, em Curitiba, realizou um recenseamento sobre a etnia no Estado e constatou que os polacos representavam 10 por cento da população do Paraná e 15 por cento dos curitibanos.

Na década de 70, quando Curitiba chegava ao milhão de habitantes e o médico, historiador e ex-deputado Edwino Tempski apresentou uma pesquisa onde estimava que os polacos eram mais de 350 mil em Curitiba, seguidos por 210 mil moradores de origem alemã, 120 mil de origem italiana, 80 mil de origem ucraniana, 47 mil de origem síria e libanesa e 18 mil polacos-judeus.


Não por isso: possuir uma comunidade tão expressiva! Mas muito mais por influência cultural importantíssima; por tanta fumaça com cheiro de pierogi saindo das chaminés das casas de madeira (patrimônio polaco-paranaense) é que a etnia polaca exerceu e exerce sobre a capital de todos os paranaenses esta atmosfera impressionante de "cidade de todas as gentes".

Curitiba está em dezenas de livros sobre imigrações polacas para o mundo. E em quase todos estes livros está este poema do curitibano-polaco-negro Paulo Leminski:

Meu coração de polaco voltou
Coração que meu avô
Trouxe de longe pra mim
Um coração esmagado
Um coração pisoteado
Um coração de poeta
Paulo Leminski, Polonaises, 1980
Kurytyba - Curitiba... Mais polaca impossível... Tuas ruas... tuas casas... tuas avenidas de chorões... teu verde das matas preservadas dos bairros ao Norte, ao Oeste, ao Leste, ao Sul... tua tez clara, teus cabelos loiros e teus olhos azuis te denunciam. Por isso nesta data querida é preciso ouvir e cantar um parabéns na quarta língua mais importante da cidade, depois do português, do curitibanês, do caingangue... o parabéns para você em polaco:

Sto lat, sto lat, sto lat
Niech żyje żyje żyje nam
Jeszcze raz
Sto lat, sto lat, sto lat
Niech żyje żyje żyje naaaaaaaaaammmmmm

Tradução dos versos da canção de aniversário polaca:
Cem anos, cem anos, cem anos,
viva, viva, viva para nós,
mais uma vez,
cem anos, cem anos, cem anos, viva, viva, viva para nnnnnnnóóóóóóóóóóóóóssssssssssssssss.

Buscador de origens em Lomza

Foto: Ulisses Iarochinski
Esta semana tive sucesso em mais uma busca de certidão de nascimento de um ancestral de brasileiro descendente de Polacos. Além de enviar o documento encontrado para a pessoa que solicitou meus serviços de "buscador" de origem, costumo fazer uma espécie de relatório. Faço isso para demonstrar a honestidade do serviço, das dificuldades encontradas e também porque sempre ocorrem situações inusitadas. São estas surpresas que conferem os atrativos para que continue procurando documentos em terras da Polônia. Não fosse por conhecer a história da Polônia, a história da imigração polaca, dominar o difícil idioma polaco e a índole dos polacos de hoje, com certeza não teria como fazer estas buscas. Esta semana fui ao Noroeste do país, quase 500 quilômetros distante de Cracóvia (onde moro e estudo há cinco anos).
1. Antes disso, semana passada fui a Białystok, a 493 km de Cracóvia. Estive no Arquivo Nacional (que tem departamentos regionais). Mas a viagem foi frustrante. Não encontrei nenhum registro do ancestral pesquisado. Como não tinha mais tempo de ir procurar em outro lugar, em função das minhas aulas na universidade, voltei a Cracóvia. Como é de se esperar tive gastos com trem, ônibus e alimentação.
2. Mas como não desisto, esta semana enfrentei outros 469 km até Łomża (pronuncia-se uomja). Viagem cansativa. Três horas de trem até Varsóvia, depois um segundo trem local até a saída dos ônibus regionais. Lá tomei um ônibus até Łomża, ou seja, mais 3 horas. Cheguei já quando era noite. Temperatura de 5 graus negativos. Nenhuma viva alma nas ruas. Andando a esmo encontrei uma moça e perguntei: "Onde é o hotel mais próximo?" E ela respondeu: "O mais próximo? Você quer dizer o único?". Então, ela indicou-me a direção. Era preciso andar umas dez quadras a pé com aquele vento frio que cortava até não sei o quê. Mas encontrei o hotel naquela escuridão. As ruas de muitas cidades da Polônia são mal iluminadas. Consegui dormi, mas o hotel foi mais caro do que tinha planejado.
3. Dia seguinte fui ao Arquivo Nacional (sub-departamento de Łomża do regional de Białystok. Perguntei se poderiam me dar indicações de onde era Zabiele. A funcionária me disse que havia pelo menos 3 localidades com este nome nas redondezas. Disse então, que esta Zabiele ficava em Kolno. Perguntei também se o Arquivo Nacional fornece certidão de nascimento. Ela disse que não.
4. Fui então para estação de ônibus. Peguei o primeiro, das 10.30, para Kolno. A viagem, naquele ônibus antigo foi vagarosa. Mas muito bonita. Sol forte, céu azul, terra arada. Fui imaginando a vida dos imigrantes nos séculos passados nesta terra. Fiquei emocionado. Como é que saíram desta terra bonita para se meterem no meio das florestas do Paraná? Tinham que ser uns corajosos mesmos estes nossos bisavós. Tirei fotos pelo caminho de dentro do ônibus mesmo. Depois de um tempo apareceu o totem de boas vindas da cidade de Kolno.
5. No caminho até a estação, o ônibus passou em frente a prefeitura e cartório da cidade. "Menos mal, já sei onde é", pensei!
Prefeitura e Cartório de Kolno. Foto: Ulisses Iarochinski
6. Desci na estação e logo fui perguntar no guichê de vendas de passagens. "Por favor tem ônibus para Zabiele?" A funcionária respondeu com pergunta: "Mas qual Zabiele? tem três". Respondi: "de Kolno". Ela então: "Sim tem!" Perguntei: "Fica longe? É aquela onde deve ter uma igreja antiga... do século dezenove, pelo menos?" A mulher respondeu: "Não! Lá só tem propriedade rural... Fica pertinho aqui da cidade. A igreja antiga mesmo... é a de Kolno".
7. Fui caminhando então até o prédio da prefeitura. Céu azul, sol, mas frio de rachar. Fui direto à sala do Cartório, que ficava no térreo. Apresentei-me para duas senhoras que estavam lá. Disse que era do Brasil e que estava buscando registro de nascimento do bisavô de uma amiga. A mulher disse então: "Não! Para o senhor não vamos dar nada. A amiga é que tem que vir retirar". E inqueri: "Mas como? A senhora sabe que o Brasil não fica ali na esquina! Tem um oceano no meio e pelo menos 12 mil quilômetros de distância". E sorri.
8. Ela perguntou pelo ano de nascimento da pessoa que eu estava buscando. Disse que era 1906. A mulher retrucou: "Ihhh! Então nada feito. Não temos livro de assentamentos deste ano aqui". E Mostrou a prateleira com os livros de registros. "Eu sei, minha senhora. Mas na paróquia tem, não?", retruquei. Ela falou muito séria. Até ali, a conversa tinha transcorrido em meio a sorrisos: "Pode ser que tenha, mas eu não tenho aqui comigo e se o livro não existe aqui não posso fornecer a segunda via da certidão de nascimento. É lei!" Dizendo que não concordava com ela e que em outros cartórios que já tinha estado, eles aceitavam a fotocópia do assentamento no livro da igreja, pedi onde ficava a paróquia. A mulher me indicou o caminho. Saí dali e fui procurar a igreja.

Igreja de Santa Anna de Kolno. Foto: Ulisses Iarochinski

9. Encontrei a igreja. Bati na porta na casa do padre, que ficava nos fundos. Atendeu um padre e convidou-me para dar a volta e entrar pela porta do escritório ao lado. Lá dentro me apresentei, contando o que tinha vindo buscar. O Padre foi até um armário fechado que estava num canto e abriu as portas. Estava cheio de livros. Pegou um com a inscrição 1906 e começou a folhear aquelas páginas amareladas pelo tempo tentando encontrar o assentamento. Encontrou! "Aqui está!" Disse ele. Nesse momento me invadiu uma tremenda emoção. Fiquei emocionado da mesma forma que anos atrás, numa outra localidade da Polônia, encontrei o registro do nascimento de meu avô. Engraçado! Pela enésima vez eu me emocionava com o achado sobre o ancestral polaco de um brasileiro.
10. Pedi uma cópia do assentamento. O Padre disse que estava escrito em idioma russo, por causa do período da invasão russa nas terras da Polônia por 127 anos. Colocou então, o livro no "scanner" e fez uma, duas, três cópias até achar aquela que tinha ficado bem impressa. Em seguida procurou carimbos da igreja e dele e carimbou com tinta vermelha. Depois assinou com a declaração de que a fotocópia correspondia ao registro autêntico. Perguntei o preço e ele respondeu que era o quanto eu quisesse oferecer. Paguei então com uma nota de 10 zl. Agradeci muito. Ele sentiu que eu estava emocionado e me desejou boa sorte no Cartório.
11. Voltei com a preciosa fotocópia autenticada ao Cartório. O tempo já havia mudado, estava nublado e mais frio ainda. Mais uma vez estava diante da cartorária. Ela viu a fotocópia e disse: "Infelizmente é a lei. Não posso dar uma segunda via de algo que não possuo. E aqui não tenho este livro. Ele já foi enviado para o Arquivo Nacional. Nossa lei é esta. Todos os documentos com mais de cem anos devem ser enviados para o Arquivo Nacional. Não posso fazer nada". Mas argumentei: "Entendo, minha senhora, mas veja, aqui está a prova. E o livro está ali na igreja.". Ela foi decisiva: "Não adianta. Não posso lhe dar o que me pede". Quase desiludido, perguntei quem era o chefe e ela respondeu que era o prefeito. Pedi que indicasse onde estava o prefeito e ela disse que era no primeiro andar daquele mesmo prédio.
12. Na sala da secretária perguntei se o prefeito estava. A moça loira retrucou apenas: "Quem deseja falar com o prefeito?" Respondi com meu sobrenome e que era do Brasil. Usando o interfone, ela perguntou se poderia receber o sr. Iarochinski. Porta aberta, entrei para falar com o prefeito.
13. Apresentei-me. Disse que além de jornalista brasileiro era doutorando em história na Universidade Jagiellonski de Cracóvia. Então o prefeito disse: "Ah! Então temos uma visita especial em nossa cidade. O senhor quer café, chá, bolo?" E levantou-se trazendo em seguida um livro, um chaveiro e uma flâmula da cidade de Kolno. Conversamos...disse que a cartorária não queria fornecer o registro de nascimento. Ele então chamou a secretária e pediu para que a cartorária viesse conversar. Olhando pela janela, atrás do prefeito vi a nevasca que estava caindo, forte. Mas como era possível há uma hora atrás estava um céu azul e um sol forte. Decididamente esta primavera polaca está muito estranha este ano. A mulher do cartório entrou na sala do prefeito nesse instante e repetiu a mesma história de que não tinha o livro, que este se exisitiu ali no cartório teria mais de cem anos e que possivelmente foi enviado para o Arquivo Nacional. Então, o prefeito pediu para a secretária fazer uma ligação telefônica com o Arquivo sediado na cidade mais importante da região: Łomża. Ligou, conversou e encerrando a ligação, disse para mim: "É... Não vai dar mesmo! Mas o senhor vá até Łomża. Lá eles podem lhe dar uma declaração oficial do registro de nascimento do bisavô".
14. Não houve jeito. Saí dali sem a segunda via oficial da certidão de nascimento. Corri até a estação de ônibus para voltar a Łomża Eram 13 horas e o Arquivo Nacional iria fechar o expediente as 15 horas. Cheguei em Łomża as 14.20 horas. Corri até o Arquivo. Uma senhora me atendeu já com o livro de 1906 nas mãos. Mas disse que eu teria que fazer um requerimento e pagar a taxa. Mas esta só podia ser paga no Correio. Contudo, não haveria mais tempo de fazer isto hoje, pois ela encerraria o expediente dali a 20 minutos. Encarecidamente pedi que ela fizesse o favor de fornecer o documento neste mesmo dia, pois não tinha mais dinheiro para pernoitar na cidade. Ela resignada com meu pedido, auxiliou-me a escrever o requerimento. Voei até a agência de correio, paguei 26 zl e voltei na mesma desabalada corrida. Eram 15.08 minutos. A Declaração do Arquivo Nacional já estava redigida em cima da mesa. Tal declaração segundo a chefe do Sub-Departamento Regional do Arquivo Nacional de Łomża substitui a segunda via do Cartório. Pois, segunda a lei civil polaca, uma instituição só pode fornecer uma segunda via de um documento, desde que tenha estes registros em seu próprio arquivo. Como já se passaram mais de cem anos do registro só o Arquivo Nacional pode expedir esta declaração.
Correio de Łomża. Foto: Ulisses Iarochinski

15. Tarefa cumprida, mais uma vez tive sucesso na busca de documento que comprova que o ancestral de um brasileiro nasceu em terras da Polônia e que portanto, era sim... um polaco, em que pese invasões estrangeiras.

Festa polaca no Sul brasileiro


No dia 06 de abril de 2008 será realizada em Mariana Pimentel, cidade do Rio Grande do Sul, festa conjunta de aniversário dos 16 anos do município e 119 anos de colonização polaca naquela região. Os festejos começam às 08 horas da manhã, no Centro de Atividades Culturais, com Café Colonial Polaco, depois as 10 horas será celebrada a Santa Missa da Igreja Católica Romana Apostólica. No período da tarde, a partir das 15 horas o palco da festa recebe várias apresentações artísticas polacas e estas se encerram à noite, com o show da Banda Brilhasom. No almoço, os gaúchos polacos de Mariana Pimentel além da tradicional comida típica polaca poderá degustar o famoso churrasco gaudério.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Viver sem registro na Polônia

Foto: Jakub Gliniecki / AG
Todo estrangeiro que chega a Polônia para morar, seja como estudante ou trabalhador imediatamente deve se registrar na Prefeitura. É a famosa Zameldowania (registro). Alguém do local onde se está morando, seja temporária, ou permamentemente deve fornecer uma declaração de que tal pessoa está ali residindo. No caso de hotéis e casas de estudante já existe um pequeno formulário que deve estar preenchido com dados do hóspede-morador e assinado pelo gerente do estabelecimento. Se a moradia for numa casa particular, o dono deve assinar uma declaração com os dados do novo morador. Sem este pequeno formulário, ou declaração do proprietário do imóvel, a prefeitura não faz a Zameldowania (registro de morador). Tal registro é necessário para se obter o visto temporário de residência, ou permanente do estrangeiro. Além de uma série de outras coisas, como abrir uma conta bancária.
Tal registro não é "coisa de comunista", como muitos estrangeiros chegam a dizer, irritados com a burocracia da Polônia, pois também é exigido em países como a Holanda, por exemplo. Um brasileiro exaltado na fila do guichê de registros da Prefeitura reclama: "No Brasil, isto não existe! Onde já pensou a prefeitura, ou a Polícia obrigar o cidadão a se registrar? Que controle é esse? Moro onde quiser e ninguém tem nada com isso. Ah democracia, infelizmente não chegou na Polônia ainda!".
Apesar da demora, dos resmungos não há como escapar. Todos devem possuir. Inclusive os próprios cidadãos polacos. Sem este registro de moradia é difícil abrir uma conta bancária na Polônia. Como também é impossível tirar carteira de motorista, comprar telefone por assinatura e outras necessidades comuns de um cidadão.
A falta da Zameldowania cria embaraços não só para estrangeiros, mas também para os polacos. É o caso de dois irmãos da cidade de Gdynia, no litoral Norte do país. Krzysztof e Adam Gojtowscy que perderam a casa de um dia para outro. O pai vendeu a casa e imigrou para a Inglaterra. Os filhos Gojtowscy como não quiseram acompanhar os pais ficaram literalmente no "olho da rua". E foi aí que as coisas começaram a ficar difíceis. Pois sem Zameldowania eles passaram a ser considerados "bezdomni" (sem casa), os chamados "sem teto" no Brasil.
O caso dos irmãos Gojtowscy foi parar nas páginas dos jornais. Os jornais Gazeta Wyborca e "Metro" (distribuído gratuitamente nos pontos de ônibus, tramwaj) contaram a história dos irmãos na reportagem "Życie bez meldunku" (jitchie bes melduncu - na vida sem registro) em suas edições de ontem.
Evidentemente que os dois irmãos, em função da nova situação a que foram colocados, moram atualmente num apartamento alugado por um deles. Adam, no entanto, como não é proprietário do imóvel não pode fornecer a declaração de que o irmão Krzysztof mora com ele. E o proprietário do imóvel também não quer dar a declaração para os dois irmãos. Sem esta declaração Krzysztof e Adam não podem fazer a Zameldowania na prefeitura. E sem o registro não pode fazer o exame de admissão na Escola Teatral, onde gostaria de se aperfeiçoar na carreira. Ele trabalha como ator no teatro, mas também não pode abrir conta no banco para receber o salário. Adam, por sua vez, que trabalha como segurança numa livraria, recebeu proposta para mudar de emprego. A empresa de transporte, no entanto, exigiu que ele deveria ter carteira de motorista, embora não fosse trabalhar nesta função. Adam então se dirigiu a prefeitura (que também fornece carteira de identidade, nos moldes do Detran e Ciretrans no Brasil). Qual não foi sua surpresa quando lhe exigiram a tal Zameldowania. Não adiantou ele fornecer o endereço do apartamento alugado. O funcionário disse que sua declaração pessoal de residência não era suficiente. Ele precisava ir no outro guichê e solicitar a Zameldowania. Mas como, se o pai vendeu a casa e se mandou para a Inglaterra?
A Zameldowania foi introduzida na Polônia em 1974, e prevê que todo aquele que durma mais de três dias numa moradia tem que ser registrado na prefeitura. A pergunta do repórter do jornal "Gazeta Wyborcza" é a seguinte: "Isto significa então que aquele que não possui zameldowania está ilegal no país?" A resposta foi dada por Krzysztof Szerkus, porta-voz plenipotenciário dos direitos civis (cidadania) de Gdańsk: "A pessoa sem teto não deveria ter problemas para fazer documentos. Infelizmente os funcionários públicos costumam abusar freqüentemente no cumprimento das normas." O repórter do jornal foi então até o Departamento de Assuntos do Civis de Gdynia e perguntou: "O Sr. Adam não pode tirar a carteira de motorista?" A resposta da funcionária Katarzyna Widawska: "Sim nós podemos fornecer documento sem indicações de endereço". Widawska admitiu que basta certificar de que se vive em determinado lugar há 185 dias. O repórter replicou surpreso: "Mas se existe esta possibilidade, por que ninguém informa?" A resposta: "Não sei."

Fotógrafas polacas - 2

Chorzow, Prak Kultury_WPWiK,1970. Foto de Anna Chojnacka, na exposição fotográfica "Ela - Documentalista - As mulheres polacas fotógrafas do século 20", que vai até 18 de maio, em Varsóvia, na Galeria Zachęta.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Kolno: origem de paranaenses

Foto: Ulisses Iarochinski
Paróquia de Santa Anna, em Kolno, no Nordeste da Polônia, quase fronteira com a Bielorrússia onde foram batizados muitos dos imigrantes que foram colonizar a região central do Paraná. Polacos de Cândido de Abreu tem origem nesta terra de Kolno. Estive lá esta semana em busca de documentos para uma "polskiego pochodzenie" do Paraná. E com sucesso! Encontrei o que buscava nesta igreja e no arquivo regional.

Ruim: Polônia zero, EUA três

Eby Smolarek foi o único que se salvou, apesar de não ter feito gol. Foto: Radosław Jóżwiak
A imprensa polaca de forma geral encarou a derrota da Seleção Nacional da Polônia como apenas um exame antes da partida contra os alemães. E no pior estilo. O 0 x 3 para os Estados Unidos, dois meses antes da estréia da Euro 2008 foi o retrato de um time bastante fraco. Não houve um minuto de concentração dos jogadores de que estavam diante dos Norte-americanos. "Nossos atletas pensaram que já era o jogo contra a Alemanha". Chegou a comentar o treinador holandês Leo Beenhakker.
Os jornalistas polacos questionam o quanto de verdade há nesta afirmação do técnico e uma voz aqui, outra lá diz que já é hora de parar com a bajulação em torno da figura do técnico holandês. É só isso que fazem desde que o holandês conseguiu a façanha histórica de colocar a Polônia pela primeira vez nas finais de uma Copa da Europa. Todos estão de acordo que os alvi-rubros jogaram a pior partida dos últimos anos. Adjetivos como ruim, fraco, fatal foram os mais usados para qualificar a apresentação da seleção. Ao descrevem a atuação de cada jogador deram notas entre 1 e 3. Apenas livraram a cara de Lewandowski e Matusiak. O treinador Beenhakker não afirmou, mas deixou no ar de que o artilheiro do líder do campeonato Wisła Kraków, Paweł Brożek perdeu a chance de ir para a Euro jogando justamente em seu estádio e diante de seus fanáticos fãs. Sobre os americanos pouco se falou.

Detalhes do jogo: Polônia 0 X 3 USA
Gols: Bocanegra aos 12 min, Onyewu 35 min e Lewis aos 73 min.
Equipes:
Polônia: Boruc - Wasilewski, Bąk, Radomski (63. Goliński), Bronowicki - Piszczek (46. Łobodziński), Dudka, Lewandowski, Krzynówek (46. Smolarek) - Żurawski (46. Garguła) - Brożek (46. Matusiak).
EUA: Howard - Cherundolo (72. Spector), Bocanegra, Onyewu (63. Demerit), Pearce (85. Feilhaber) - Dempsey, Bradley, Clark, Donovan (64. Lewis) - Johnson, Ching (64. Wolff).

quarta-feira, 26 de março de 2008

Roger polaco?

Roger de uniforme alvinegro do Legia
Roger Guerreiro, meio-campista do Legia Warszawa deve no início de abril receber seu passaporte polaco. A informação foi anunciada, ontem à noite, no programa "Dzień Dobry TVN". Seu processo de cidadania foi encaminhado pouco tempo atrás ao gabinete da presidência da República. Roger que não possui ancestrais polacos e tampouco vai além do Dzień Dobry e Dziękuje pode receber em tempo recorde a cidadania polaca. Enquanto isso descendentes de polacos enfrentam a burocracia dos departamentos de imigração das Voivodas que insistem em considerar os bisavós polacos de outros brasileiros, como tendo sido russos, austríacos e prussos. Isto só porque nasceram durante a ocupação das nações invasoras em terras da Polônia do século 19. O mesmo processo, que está levando semanas para se concluir, no caso de Roger, leva em média 2 anos para obter uma resposta do Presidente Lech Kaczyński (Lérrrhhh catchinhsqui) e muitas vezes, a decisão é negativa. O que não faz um perna de pau na terra de bons de salto em esqui.

Polacos roubados na rede

Manchete desta quarta-feira, 26 de março de 2008 do jornal Rzeczpospolita informa que os "Bancos roubados na rede".
Segundo uma sondagem de opinião pública do jornal, 13 % dos polacos já foram roubados em sua contas bancárias por criminosos da Internet.

terça-feira, 25 de março de 2008

Śmigus Dyngus na Polônia

Os turistas estrangeiros que vieram a Cracóvia foram supreendidos nesta segunda-feira com uma cidade praticamente fechada. Lojas, bancos, repartições públicas, empresas e até resturantes, supermercados, bares e fármacias estavam com as portas fechadas. Inconformados perguntavam aos poucos moradores nas ruas se havia algo de estranho no calendário. Era Páscoa ou não? Em resposta recebiam um jato de água.
A explicação para a brincadeira está no feriado da segunda-feira molhada, que coincide justamente com a segunda-feira após a Páscoa. Cumprindo uma velha Tradição as vilas rurais, aldeias e cidades polacas comemoram o Śmigus Dyngus (como este costume é chamado). Há duas versões para sua origem: um amável e elegante que se traduz numa forma simpática de regar com água de cheiro os amigos, o outro bastante impiedoso feito com baldes inteiros de água despejados nos inimigos. Na verdade, o costume de jogar água é um rito primaveral de purificação, limpeza e fertilidade. Os pagãos polacos brincavam com a natureza —Dingen— jogando água em si e nos outros para se purificarem e serem merecedores do próximo ano que iria se iniciar. Diz a tradição, que o primeiro governante polaco o Príncipe Mieszko I teria sido batizado na batizado na segunda-feira de Páscoa em 966. Tal ato oficial marcaria a criação do Reino da Polônia entre as nações católicas apostólicas romanas daquela época.
Um historiador polaco da idade média descreveu o Śmingus Dyngus e o chamou de Oblewania, que consistia "No costume universal, entre o povo e nobles, de molhar a mulher pretendida na segunda-feira de após a Páscoa. As mulheres, por sua vez, começavam a jogar água nos pretendidos na terça-feira, e assim diariamente até o feriado de Pentecostes."
O Dyngus começa geralmente ao redor das cinco horas da manhã. Segundo a tradição, os homens devem invadir a casa onde as mulheres dormem. Fazem isso pulando janelas, ou descendo pela chaminé. Às vezes o pai de família - futuro sogro - conspirava junto com o invasor da madrugada deixando alguma porta aberta e permitindo que a filha fosse depertada com o banho de água. O espírito de Dyngus é descrito em 1800 na região de Poznań assim: "Apenas o dia tinha amanhecido na segunda-feira de Páscoa. Despertei os meninos e juntei um pouco de água para que eles fossem lançar nas meninas. Para cima com o Piwezyny! Lá estavam eles logo gritando, gritando e armando a maior confusão. As meninas gritando encolerizadas, mas nos corações havia alegria porque sabiam que aquela que não é molhada não se casará naquele ano. E quanto mais eles se mostrassem aborrecidos uns com os outros, mais esvaziavam os baldes d'água gritando: Dyngus—Śmigus! Então tinhamos que mudar nossas roupas porque não havia nada seco nas meninas e muito menos nos meninos".

Primavera em Zakopane

Foto: Ulisses Iarochinski
Preparando-se para comemorar o Śmigus-dyngus, a festa pagã da segunda-feira molhada Zakopane apresentava este céu azul, na manhã de domingo, na montanha de Cirhla. Porém, na manhã seguinte, o que era para ser de muita água e também para brindar o início da primavera a capital de inverno da Polônia (confirmando a excessão a regra) foi supreendida por uma bela nevasca.
Foto: Ulisses Iarochinski

Procura-se familiares de Wanda Barczak

O Centro de Estudos Polono-Brasileiros Karol Wojtyla - CEKAW www.cekaw.org informa sobre a busca realizada pelo senhor Ceslau Barczak. Ele quer encontrar familiares diretos da Sra. VANDA BARCZAK (ou Wanda), filha de ESTANISLAU WOJCIESK (ou Stanislaw Wojciech) e ÂNGELA WYSZALYCKI BARCZAK. A Sra. Vanda, que residia no Rio de Janeiro há muitos anos, faleceu. Apesar do sobrenome igual, e de terem ambos residido em Curitiba, o Sr. Ceslau não é parente próximo da Sra. Wanda. Como esta vivia sozinha no Rio de Janeiro está dificil localizar alguém que possa a vir a ser parente e possível herdeiro dessa Senhora. Informações podem ser dadas pelo
Email: czeslau@yahoo. com.