Totem das cidades parceiras de Cracóvia.
No alto, a placa de Kurytyba, a única cidade gêmea de honra da capital da alma polaca.
Foto: Ulisses Iarochinski
No alto, a placa de Kurytyba, a única cidade gêmea de honra da capital da alma polaca.
Foto: Ulisses Iarochinski
Kurytyba a 11.500 km de distância de Cracóvia está fazendo 315 anos de existência. Sim, a capital dos paranaenses é a única cidade do Brasil que possui grafia própria no idioma polaco. Pois se fosse grafada como em português, os polacos diriam Tssuritiba e não Kurytyba.
A cidade do segundo planalto paranaense é mais conhecida em Cracóvia do que a mundialmente famosa Rio de Janeiro, ou Buenos Aires (capital do Brasil para desavisados europeus).
A prova disso é o diálogo com um motorista de táxi:
Taxista: O senhor é búlgaro, não?A cidade do segundo planalto paranaense é mais conhecida em Cracóvia do que a mundialmente famosa Rio de Janeiro, ou Buenos Aires (capital do Brasil para desavisados europeus).
A prova disso é o diálogo com um motorista de táxi:
Brasileiro: Búlgaro, por que?
Taxista: Porque o senhor tem cabelo escuro e apesar de falar bem polaco tem um sotaque bem estranho. O senhor não é polaco!
Taxista: Ah! Já sei. O senhor é brasileiro... de Curitiba.
Brasileiro: Mas como o senhor sabe que sou de Curitiba?
Taxista: Ora! Porque Curitiba é a capital polaca da América do Sul, a terceira maior cidade polaca do mundo. Só perde para Chicago e Varsóvia. E convenhamos um carioca não iria saber falar tão bem o idioma polaco.
Curitiba, ou Kurytyba é mais do que isso para os polacos em geral e para a Polônia, em particular. Destino de milhares de imigrantes nos séculos 19 e 20, Curitiba, durante muito tempo foi cantada em versos e prosa como a "terra onde corria leite e mel". Terra abençoada que teria sido escolhida por Nossa Senhora e indicada pelo Papa ao Imperador brasileiro Dom Pedro II como o paraíso buscado pelo sofrido e oprimido povo da nação Polônia.
O primeiro polaco a chegar à pequena Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais deve ter sido o capitão do exército, Edward Kasper Stepnowski, que chegou ao Brasil em 1826. Foi ele o primeiro polaco a se estabelecer no Paraná comprando terras na cidade de Castro, mais precisamente em 1858.
Depois dele foi a vez de Hieronim Durski, que reimigrou de Joinville e se estabeleceu, em 1863, na Vila do Príncipe, atual Lapa, a 65 km de Curitiba. Mais tarde o professor viria morar em Curitiba e seria considerado o "pai das escolas polacas do Brasil". Hoje Durski é nome de rua no bairro do Bigorrilho.
Mais tarde, em setembro de 1871, chegaram mais 32 famílias de silesianos polacos (que tinham vivido por dois anos em Brusque), conduzidas pelo padre Antoni Zielinski e pelo jovem silesiano Sebastian Edmund Wos Saporski, este chamado de "o pai da imigração polaca no Brasil" (e também nome de rua em Curitiba).
Os chefes daquelas famílias pioneiras eram: Franciszek Polak, Mikolaj Wós, Bonawentura Polak, Tomasz Szymanski, Szymon Purkot, Filip Kokot, Michał Prudlo, Szymon Otto, Dominik Stempki, Kasper Gbur, Balcer Gbur, Walenty Weber, Antoni Kania, Franciszek Kania, Andrzej Pampuch, Stefan Kachel, Fabian Barcik, Grzegorz Chyły, Leonard Fila, Baltazar Gebrza, Leopold Jelen, Andrzej Kawicki, Marcin Kempka, Błazej Macioszek, Walenty Otto, Wincenty Pampuch, Paweł Polak Marcin Prudlik, Jozéf Purkot, Jozéf Skroch, Tomasz Szajnowski e August Walder. No total eram 164 pessoas.
A partir de então, o movimento de polacos nunca mais parou. A última a chegar certamente é Alina Prałat, de Gryfino, cidade do Noroeste da Polônia, em março de 2007. Alina, mestre em geografia pela Universidade de Berlim, casou com o curitibano Leandro Rocha e espera o nascimento nos próximos dias do último curitibano desta imensa lista de polacos-brasileiros que nasceram na "terra de muitos pinhões", em mais de 150 anos de imigração polaca em Curitiba.
QUANTOS POLACOS?
Já em 1938, o Consulado da Polônia, em Curitiba, realizou um recenseamento sobre a etnia no Estado e constatou que os polacos representavam 10 por cento da população do Paraná e 15 por cento dos curitibanos.
Na década de 70, quando Curitiba chegava ao milhão de habitantes e o médico, historiador e ex-deputado Edwino Tempski apresentou uma pesquisa onde estimava que os polacos eram mais de 350 mil em Curitiba, seguidos por 210 mil moradores de origem alemã, 120 mil de origem italiana, 80 mil de origem ucraniana, 47 mil de origem síria e libanesa e 18 mil polacos-judeus.
O primeiro polaco a chegar à pequena Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais deve ter sido o capitão do exército, Edward Kasper Stepnowski, que chegou ao Brasil em 1826. Foi ele o primeiro polaco a se estabelecer no Paraná comprando terras na cidade de Castro, mais precisamente em 1858.
Depois dele foi a vez de Hieronim Durski, que reimigrou de Joinville e se estabeleceu, em 1863, na Vila do Príncipe, atual Lapa, a 65 km de Curitiba. Mais tarde o professor viria morar em Curitiba e seria considerado o "pai das escolas polacas do Brasil". Hoje Durski é nome de rua no bairro do Bigorrilho.
Mais tarde, em setembro de 1871, chegaram mais 32 famílias de silesianos polacos (que tinham vivido por dois anos em Brusque), conduzidas pelo padre Antoni Zielinski e pelo jovem silesiano Sebastian Edmund Wos Saporski, este chamado de "o pai da imigração polaca no Brasil" (e também nome de rua em Curitiba).
Os chefes daquelas famílias pioneiras eram: Franciszek Polak, Mikolaj Wós, Bonawentura Polak, Tomasz Szymanski, Szymon Purkot, Filip Kokot, Michał Prudlo, Szymon Otto, Dominik Stempki, Kasper Gbur, Balcer Gbur, Walenty Weber, Antoni Kania, Franciszek Kania, Andrzej Pampuch, Stefan Kachel, Fabian Barcik, Grzegorz Chyły, Leonard Fila, Baltazar Gebrza, Leopold Jelen, Andrzej Kawicki, Marcin Kempka, Błazej Macioszek, Walenty Otto, Wincenty Pampuch, Paweł Polak Marcin Prudlik, Jozéf Purkot, Jozéf Skroch, Tomasz Szajnowski e August Walder. No total eram 164 pessoas.
A partir de então, o movimento de polacos nunca mais parou. A última a chegar certamente é Alina Prałat, de Gryfino, cidade do Noroeste da Polônia, em março de 2007. Alina, mestre em geografia pela Universidade de Berlim, casou com o curitibano Leandro Rocha e espera o nascimento nos próximos dias do último curitibano desta imensa lista de polacos-brasileiros que nasceram na "terra de muitos pinhões", em mais de 150 anos de imigração polaca em Curitiba.
QUANTOS POLACOS?
Já em 1938, o Consulado da Polônia, em Curitiba, realizou um recenseamento sobre a etnia no Estado e constatou que os polacos representavam 10 por cento da população do Paraná e 15 por cento dos curitibanos.
Na década de 70, quando Curitiba chegava ao milhão de habitantes e o médico, historiador e ex-deputado Edwino Tempski apresentou uma pesquisa onde estimava que os polacos eram mais de 350 mil em Curitiba, seguidos por 210 mil moradores de origem alemã, 120 mil de origem italiana, 80 mil de origem ucraniana, 47 mil de origem síria e libanesa e 18 mil polacos-judeus.
Não por isso: possuir uma comunidade tão expressiva! Mas muito mais por influência cultural importantíssima; por tanta fumaça com cheiro de pierogi saindo das chaminés das casas de madeira (patrimônio polaco-paranaense) é que a etnia polaca exerceu e exerce sobre a capital de todos os paranaenses esta atmosfera impressionante de "cidade de todas as gentes".
Curitiba está em dezenas de livros sobre imigrações polacas para o mundo. E em quase todos estes livros está este poema do curitibano-polaco-negro Paulo Leminski:
Meu coração de polaco voltou
Coração que meu avô
Trouxe de longe pra mim
Um coração esmagado
Um coração pisoteado
Um coração de poeta
Paulo Leminski, Polonaises, 1980
Coração que meu avô
Trouxe de longe pra mim
Um coração esmagado
Um coração pisoteado
Um coração de poeta
Paulo Leminski, Polonaises, 1980
Kurytyba - Curitiba... Mais polaca impossível... Tuas ruas... tuas casas... tuas avenidas de chorões... teu verde das matas preservadas dos bairros ao Norte, ao Oeste, ao Leste, ao Sul... tua tez clara, teus cabelos loiros e teus olhos azuis te denunciam. Por isso nesta data querida é preciso ouvir e cantar um parabéns na quarta língua mais importante da cidade, depois do português, do curitibanês, do caingangue... o parabéns para você em polaco:
Sto lat, sto lat, sto lat
Niech żyje żyje żyje nam
Jeszcze raz
Sto lat, sto lat, sto lat
Niech żyje żyje żyje naaaaaaaaaammmmmm
Niech żyje żyje żyje nam
Jeszcze raz
Sto lat, sto lat, sto lat
Niech żyje żyje żyje naaaaaaaaaammmmmm
Tradução dos versos da canção de aniversário polaca:
Cem anos, cem anos, cem anos,
viva, viva, viva para nós,
mais uma vez,
cem anos, cem anos, cem anos, viva, viva, viva para nnnnnnnóóóóóóóóóóóóóssssssssssssssss.
Cem anos, cem anos, cem anos,
viva, viva, viva para nós,
mais uma vez,
cem anos, cem anos, cem anos, viva, viva, viva para nnnnnnnóóóóóóóóóóóóóssssssssssssssss.
3 comentários:
Oi Ulisses,
que lindo, o que voce escreveu, muito obrigada. A nossa familia vai ficar muito orgulhosa.
Gostei do artigo inteiro. Sera que proponho para Luciano (do Polska w Brazylii) coloca-lo no proximo jornal). Voce sabe, que ja publicamos algums artigos teus, o ultimo era sobre pączki, mniam mniam. Nao , o ultimo era sobre os nomes das criancas.
A foto com as plaquinhas de Cracovia tenho aqui pendurada no meu quarto. Tenho tambem uma assim com voce e o Leon.
Fotos da paschoa desse ano tenho so no papel, porque estragou a nossa camera, que pena!
Muitos beijos de Curitiba!
Alina Pralat Rocha
PS Ontem, na Praca Santos Andrade o povo comeu 315 kg de bolo de aniversario. Nos so vimos a fila inorme.......
Olá Ulisses,
A matéria sobre Curitiba é uma declaração de amor que me emocionou. Embora de origem italiana, tenho muitos bons amigos polacos, inclusive a Alina, minha sobrinha agora.
Tomo a liberdade de encaminhar um poema meu sobre Curitiba, para dizer a você do quanto me senti tocado.
Na sua manhã
Curitiba
respiro a cerração
das nuvens que dormiram com você.
Um abraço forte,
Edival Perrini
Olá Ulisses,
Fiquei emocionado com o seu texto sobre Curitiba. Sou curitibano de berço, italiano de origem, mas tenho muitos amigos polacos, inclusive a Alina, minha sobrinha agora.
Para você que sente Curitiba, ofereço este meu poema, que me parece ter a cara de Curitiba:
Na sua manhã
Curitiba
respiro a cerração
das nuvens que dormiram com você.
Grande abraço,
Edival Perrini.
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