De como cheguei ao tema Saga dos PolacosTinha comprado meu primeiro computador nos Estados Unidos, durante a Copa do Mundo de Futebol. Voltei da final de Los Angeles e logo inscrevi-me no primeiro servidor de Internet de Curitiba, o Kanopus. Logo em seguida fiz minha primeira homepage. Era 1994 e já tinha na rede uma página sobre trânsito.
Eram poucos os acessos à página, pois o Brasil ainda não sabia o que era Internet. Os anos se passaram e em 1998, aquela página sobre Segurança no Trânsito recebeu da Agência Estado o reconhecimento de o “Site da Semana”. Não houve premiação e nem troféu, ficou apenas registrado no site da agência noticiosa.
Um professor da USP vendo o “Site da Semana” e o sobrenome do autor entrou em contato comigo, dizendo que estava preparando uma tese sobre imigrações no Brasil. Como o autor era de Curitiba e tinha um sobrenome polaco ele disse que me procurou em busca de material sobre a imigração polaca, pois já tinha bastante material sobre italianos, alemães e japoneses, mas não havia encontrado referências sobre a presença polaca no Brasil.
Perguntou-me se tinha alguma coisa e solicitou-me material. Respondi-lhe que o pouco que tinha era resultado de alguns recortes de jornais de matérias próprias sobre a história da Polônia e Lech Walesa, além de cópias de dois programas “Polska” (de uma série semanal de seis meses que eu havia produzido para a Televisão Educativa do Paraná). Disse ao professor paulista que se ele quisesse, disponibilizaria cópias dos recortes e das fitas de vídeo e lhe enviaria.
Foi quando ele perguntou se tinha sido eu mesmo quem havia confeccionado a homepage de trânsito. Respondi que sim. Então o professor propôs que eu fizesse o mesmo com o material sobre a Polônia. No momento, respondi que o assunto não fazia parte de minhas prioridades, mas que registraria a sugestão. Estava nascendo ali, sem eu pudesse prever o alcance que teria o projeto “Saga dos Polacos”. Isso era maio de 1998. Passadas algumas semanas da conversa, reuni o material, fruto de coletas esparsas em bibliotecas, revistas e alguma coisa cedida pelo Consulado Geral da Polônia e comecei a digitar tudo aquilo no computador.
Uma das séries de reportagens publicadas por mim no Jornal do Estado (Curitiba) tinha o título, “Polaco, um povo sofrido”. Enquanto dava formas a homepage, pensava não seria o caso de repetir o título já utilizado na série do jornal. Aliás, a série de nove páginas inteiras fez bastante sucesso. A Biblioteca Pública do Paraná, a Secretaria Estadual de Cultura e a Câmara Municipal enviaram cartas de congratulações à direção do Jornal. Mas isso tinha sido em 1987, há mais de dez anos. Depois disso, o mesmo material serviu de base na produção dos programas de TV, o “Polska”, em 1992. Outras referências bibliográficas usadas então foram “História Geral da Polônia”, editado em idioma espanhol e cedido pelo Consulado; e o Boletim “Quem é o Polonês”, de autoria do médico e historiador Edwino Tempski.
Saga
Sempre interessado pela etimologia das palavras, descobri que a palavra “Saga” era de origem norueguesa e praticamente escrita com a mesma grafia e pronúncia em vários idiomas e que seu significado era: “viagem intrépida de muitos acontecimentos”.
Mas não era isso mesmo, o que haviam feito os imigrantes? Uma viagem de muitos acontecimentos? O título da homepage surgiu naturalmente, ou seja, “Saga dos Polacos”.
Concluído o trabalho de digitação, coloquei no ciberespaço o site Saga dos Polacos e… Surpresa! A quantidade de acessos imediatamente superou a outra página existente sobre segurança no trânsito, que naquele momento completava quatro anos. Numa primeira parcial, os números comparativos de acessos às duas páginas demonstrava o sucesso do tema étnico: Trânsito: 05 acessos por mês. Polacos: 50 acessos por dia.
Além disso, passei a receber uma média de 10 e-mails por dia solicitando mais informações. Estava criado um dilema: como responder a tantas inquietações se eu mesmo não tinha as respostas e tampouco tinha material disponível em português para responder?
Comecei novamente buscas por Consulado, Bibliotecas, Instituto Histórico, Círculo Bandeirantes, sociedades polacas e muita, muita pesquisa em sites polacos, franceses, ingleses, alemães e Norte-americanos. Tratei de traduzir todas estas informações com a ajuda apenas de dicionários bilíngues. Quanto aos e-mails, tentava responder ou encaminhar os solicitantes. Todas estas mensagens foram sendo arquivadas e não eram de imediato, publicadas na homepage. Ao longo de um ano havia sido coletado tanto material que já não tinha como mantê-lo no Hard Disk. Passei então a gravar em CD. Dei-me conta que este processo de responder as inquietações era na verdade uma pesquisa de opinião pública.
Se um especialista em marketing gasta dinheiro e horas analisando o comportamento do mercado consumidor antes de lançar um novo produto, este processo de responder às perguntas dos internautas era a mesma coisa. Com a diferença de que, de certa forma, era gratuito e barato, portanto. Podia assim, balizar todo o projeto em função desta pesquisa de opinião espontânea.
Entre centenas de mensagens recebidas neste período apenas uma, de um professor de Porto Alegre, que tomando a liberdade, elogiou bastante o conteúdo da homepage, mas que não podia deixar de qualificar o autor de estúpido e ignorante, pois ele não admitia que partisse de um descendente a iniciativa de cunhar a palavra “polaco”, tantas vezes nos textos.
A mensagem foi mostrada ao Cônsul Geral da Polônia que argumentou que a insistência no uso da palavra polaco iria criar uma série de problemas para mim. O que deveria servir de censura, ao contrário, serviu de estímulo. Orientei-me minhas pesquisas no sentido de saber porque a comunidade polonesa no Brasil esconjurava o termo polaco. A quem perguntasse, a resposta era sempre a mesma: “é pejorativo”. Mas ninguém sabia explicar o porquê.
Começava a se delinear assim, um grande projeto. Ousar é a palavra que melhor qualifica a ideia de se fazer um filme longa-metragem na linha das grandes epopeias.
Entusiasmado em transformar o tema num projeto de cinema, comecei a escrever um roteiro cinematográfico. Ambientado em seu início na Polônia de 1910. Período em que meu bisavô provavelmente decidiu emigrar para o Brasil. Meu bisavô, aos 31 anos, era casado e pai de dois casais de filhos. Mas se eu não conhecia perfeitamente a história do bisavô e da Polônia como contá-la num filme?
Conversando com amigos, fui convencido a abandonar o longa-metragem e colocar meus esforços num curta-metragem documental. Sem enredo e personagens, além de mais barato e minha experiência nessa área teria maior possibilidade de êxito. O longa-metragem era justamente isso: um sonho. Mas o projeto sofreria novas interferências. Outras pessoas propuseram deixar de lado o projeto cinematográfico e partir para o literário. Por que não escrever um livro? E foi assim que surgiu o livro “Saga dos Polacos – a Polônia e seus emigrantes no Brasil”
O livro “Saga dos Polacos” Destinado inicialmente a brasileiros descendentes de imigrantes polacos. Principalmente descendentes de segunda a sétima geração que não dominam o idioma polaco.
Nos grandes centros como Curitiba e Porto Alegre, a colônia de imigrantes polacos perdeu muito de sua identidade. Estas pessoas se diferenciam apenas porque trazem um sobrenome complicado aos ouvidos brasileiros e possuem cabelos geralmente loiros.
As tradições, costumes, culinária, música se perderam pela miscigenação e identificação com a terra em que nasceram. Corroborando com isto, a Lei de Nacionalização do Presidente Getúlio Vargas, no final dos anos 30, contribuiu bastante para este afastamento, chegando até mesmo a atemorizar os imigrantes. Os mais velhos passaram a proibir seus filhos e netos a conversar no idioma polaco até em casa.
A Segunda Guerra Mundial, o período comunista na Polônia e o período da ditadura militar no Brasil foram outros componentes importantes nesse afastamento das origens e que deixou grande parte dos descendentes impedida de contato com a Polônia.
O sistema educacional nesse período procurava se orientar no sentido de valorizar a cidadania brasileira e despertar o sentimento patriótico de cada um. Durante o regime militar brasileiro isto foi ainda mais acentuado. Slogans como “Ame-o ou deixe-o” e canções como “Eu te amo meu Brasil” completavam a política de distanciamento. Os livros didáticos, as bibliotecas, os jornais pouco falavam, registravam e arquivavam sobre assuntos relacionados à Polônia.
Por outro lado, durante este período de pouco mais de 40 anos os descendentes das demais imigrações como a italiana, portuguesa, alemã, espanhola e francesa, em maior, ou menor grau sempre tiveram contato com a pátria mãe.
A colônia italiana, por exemplo, a maior do Brasil, sempre manteve um intercâmbio bastante grande com a Itália. Não havia impedimento nenhum para que brasileiros visitassem a Itália e italianos viessem ao Brasil. Em todos os campos houve um permanente relacionamento. Atores, cantores e diretores do mundo artístico, além de historiados, políticos e empresários divulgaram sua arte, seus pensamentos, seus negócios tanto no Brasil quanto na Itália. Muito foi escrito sobre a cultura e a história italiana no Brasil. Peças teatrais, filmes, músicas, novelas de televisão foram produzidas sobre a Itália e seus imigrantes no Brasil. Parece até que o Brasil foi colonizado só por italianos. Diferentemente de uma grande parcela dos descendentes dos imigrantes da Polônia. Os laços que unem os dois países foram quase que cortados no período entre as décadas de 40 e 80. Muitas cartas não chegaram a seus destinos.
Não fosse pelo trabalho de alguns poucos poderia se afirmar que os laços entre os que ficaram na Polônia e os que partiram para o Brasil foram completamente extintos. Tanto os estudiosos da imigração polaca no Brasil, quanto os da Polônia nunca conseguiram chegar à grande parcela da comunidade. Seus trabalhos invariavelmente bastante localizados e pontuais não transpunham as portas das universidades e ficaram restritos a um pequeno grupo de iluminados. Estes, por sua vez, procuraram tirar vantagem do parco conhecimento e buscaram estabelecer contato com as autoridades da Polônia.
Os mais de três milhões (número impreciso) de pessoas de origem polaca no Brasil com a redemocratização dos dois países no final da década de 80 de repente se viram polacos num outro país. A sede de informações, principalmente, quase os frustra. Na fosse pela Internet dos anos 90 até agora, muito pouco se teria avançado no intercâmbio de informações. Apesar da infinidade de homepages na rede mundial de computadores, os polacos do Brasil ainda não conseguem se informar sobre as coisas da Polônia, pois lhes falta o básico: a compreensão do idioma de seus bisavôs.
Conteúdo do Livro
A história milenar e atual da Polônia. Tradições, crendices, religião, música, danças, trajes, receitas de culinária e tradução de nomes e sobrenomes. As causas da imigração. Os primeiros polacos no Brasil. Cursos de idioma polaco em Curitiba e Polônia. Endereços de cartórios e arquivos na Polônia.
Segundo estudiosos, como W. Surowiecki, a Polônia, como território e povo existe há mais de três mil anos. Os polacos são descendentes da cultura luzaciana que se sobressaiu entre 1400 a 1200 a.C.
O livro de Iarochinski, “Saga dos Polacos”, revela o sofrimento, as frustrações e a identidade de um povo que soube se manter fiel à língua, credo e sentimento de nacionalidade, mesmo sob as atrocidades de invasores germânicos, suecos e russos. Sofrimento que os acompanhou em terras brasileiras, onde falando uma língua estranha foram motivo de discriminações e agressões. Provocando a irritação dos próprios descendentes contra o adequado termo polaco. Por isto, muitos destes preferem o galicismo “polonês”.
Um povo que se moldou na esperança e em vários momentos da história mundial deu sua contribuição para as mudanças, evolução, desenvolvimento e sucesso da humanidade.
O livro "Polaco - Identidade cultural do brasileiro descendente de imigrantes da Polônia"
Polêmica centenária explicada finalmente num livro de fácil leitura, sem deixar de ser científica. POLACO traz em detalhes linguísticos, sociológicos, culturais e antropológicos porque o Brasil deixou de falar “Polaco” para incorporar o galicismo termo “Polonês”.
O professor de história Rui Wachowicz contava que na década de 20, em Curitiba, realizou-se um encontro no recêm inaugurado Consulado da Polônia.
Incomodados com a degradação que o termo “polaco”, tinha sofrido naquelas décadas, os presentes no coquetel, aceitaram a sugestão do embaixador francês no sentido de trocar a palavra “polaco” para a afrancesada “polonês”. A razão para que aquela comunidade se envergonhasse do termo era sem sentido, isto porque, a causa de “polaco” se ter tornado pejorativo não tinha relação com a etnia polaca, mas sim com prostitutas judias que eram leiloadas por seus maridos judeus no largo da Carioca, no Rio de Janeiro, no fim do século 19.
Se há uma palavra que deveria ser pejorativa então, seria judeu e não polaco. Mas aquela elite da comunidade polaca do Estado do Paraná não queria ser confundida com “filhos de uma polaca”, ou melhor, de uma “puta judia”.
Assim, o Brasil passou a ser o único país lusófono a adotar o galicista termo “Polonês”. A palavra “Polaco”, a partir de então, passou a ser sinônimo de agressão para os ditos “Poloneses”.
Incomodado com as respostas evasivas de, “ora é pejorativo e pronto”, o autor deste livro, buscou as origens do preconceito contra a correta adoção em língua portuguesa da tradução de Polak para “Polaco”.
O resultado foi nota máxima na defesa da dissertação no mestrado de Cultura Internacional, na Faculdade de Estudos Internacionais e Políticos da Universidade Iaguielônica de Cracóvia, na Polônia.
Quem é?
Ulisses Iarochinski, é natural de Harmonia - Monte Alegre, então município de Tibagi, (atualmente Telêmaco Borba), no Paraná, tem raízes em Minas Gerais e na Polônia. Neto do imigrante Polaco Boleslaw Jarosinski, que chegou ao Brasil em 1911, procedente de Wojcieszków, na voivoda Lubelska, junto com seus pais Piotr e Anna e os irmãos Józef, Wiktoria e Marianna, o autor deste livro costuma dizer que é “polaqueiro”, ou seja, paranaense, metade polaco, metade mineiro.
Jornalista e ator já atuou nas duas áreas. Como ator trabalhou em 31 peças teatrais e cinco filmes. Como jornalista trabalhou em rádio, TV, jornal, revista e Internet. Além da experiência como correspondente internacional, cobrindo desde Cracóvia, a morte e enterro do Papa João Paulo II, as visitas do Papa Bento XVI na Alemanha e na Polônia,
a Copa do Mundo da Alemanha, para o jornal o “Estado de SPaulo” e para a “TV Bandeirantes”, teve passagem ainda pela “Rádio Nederland”, como chefe da Seção Brasileira daquela emissora internacional, na Holanda. Na cobertura internacional esteve nas Copas da França, Estados Unidos, Itália e na Copa Mundial de Voleibol, realizada em 2007, na Katowice.
Na Polônia, desde 2002, onde fez dois cursos de idioma polaco e a defesa da dissertação de mestrado em Cultura Internacional, pela Universidade Jagiellonski de Cracóvia, está para defender, na mesma universidade sua tese de Doutoramento
em história sobre a colônia Cruz Machado.
Antes de ir a Polônia estudar, lançou o livro “Saga dos Polacos”, em 27 cidades brasileiras, onde a presença da etnia polaca é bastante significativa.