quarta-feira, 3 de abril de 2013

Nova lei de concessão e perda da cidadania polaca

As questões relacionadas com a aquisição e perda da nacionalidade polaca são regidas pela Lei da Cidadania polaca de 2 de abril de 2009 (Diário Oficial de 2012 item, 161).

A lei estabelece dois princípios básicos relacionados com a cidadania polaca.

O primeiro está estipulado no artigo 2 º, o princípio da continuidade da cidadania polaca garante continuidade temporal da cidadania, a partir do momento de sua aquisição, de acordo com as regras obrigatórias naquele momento, independentemente de posteriores alterações introduzidas na legislação sobre a cidadania. 
Isto significa que as pessoas que adquiriram a nacionalidade polaca de acordo com as regras anteriores, que foram alteradas ou revogadas, posteriormente, não perderão a nacionalidade polaca, mante-la-ão, de acordo com as normas em vigor sobre o momento da sua aquisição.
Ao mesmo tempo, este princípio constitui uma diretriz para as autoridades competentes da administração pública sobre como proceder em caso de confirmação de cidadania polaca ou sua perda. 

O segundo princípio, previsto no artigo 3 º da lei - o princípio da exclusividade da nacionalidade polaca - está diretamente relacionada com a questão da cidadania (ou vários) do casal, uma vez que cria um claro conflito de orientações, em caso, de sua ocorrência e permite a eliminação dos seus efeitos adversos. 
De acordo com o projeto de lei, a cidadania múltipla (dupla, ou mais) é estipulada como admissível, com a condição de que a cidadania polaca tenha prioridade absoluta. Um cidadão polaco pode possuir ao mesmo tempo, cidadania polaca e cidadania de outra nacionalidade (país),  desde que ele ou ela mantenha os mesmos direitos e deveres para com a República da Polônia, tal como uma pessoa que possui apenas a nacionalidade polaca, isto é, ele ou ela não pode efetivamente invocar perante as autoridades polacas, a cidadania simultaneamente estrangeira, ou os direitos ou deveres dela decorrentes.

Formas de aquisição de cidadania polaca

a) por nascimento, a partir dos pais, ou pelo menos, quando um do casal é  cidadão polaco - direito de sangue (jus sanguinis).

Nos termos da lei, uma criança adquire a nacionalidade polaca por nascimento quando, pelo menos, um dos pais é possuidor da nacionalidade polaca, independentemente se a criança nasceu na Polônia e ou no exterior (artigo 14 parágrafo 1 da Lei de Cidadania Polaca).

b) por nascimento, em território da Polônia - direito do solo (jus soli)

O princípio aplica-se quando uma criança nasce, ou encontra-se no território da República da Polônia, e ambos os pais são desconhecidos ou não possuem cidadania (artigo 14º parágrafo 2 e artigo 15º). Em seguida, a criança adquire a nacionalidade polaca, por força de lei.

c) por adopção plena.

A criança adotada por um titular ou titulares da nacionalidade polaca adquire a cidadania, se a adoção plena tinha sido concluída antes da criança completar 16 anos. Neste caso, a criança é considerada como possuidora da cidadania polaca desde o momento de seu nascimento.

d) Através da concessão de cidadania polaca pelo Presidente da República da Polônia.

Nos termos do artigo 18º da Lei, o Presidente da República da Polônia pode conceder a um estrangeiro, que tenha solicitado diretamente a cidadania polaca. Não existem condições limitantes à competência constitucional do Presidente  da República da Polônia, este pode conceder a nacionalidade polaca a qualquer estrangeiro.
A concessão da cidadania polaca para ambos os pais se aplica a crianças sob sua custódia. A concessão de cidadania polaca para um dos pais, aplica-se ao menor sob custódia paterna, no caso em que o outro progenitor não tem custódia do filho (os), ou ele (ou ela) dá seu consentimento para que o menor adquira a cidadania polaca.
Quando a criança já completou 16 anos, apenas o consentimento da própria é necessário.
Pessoas que vivem no território da Polônia podem requerer a cidadania polaca através de uma Voivodia (Estado) competente, onde resida o interessado.
Pessoas que vivem no exterior podem requerer através de um cônsul competente. O pedido deve ser apresentado pessoalmente, ou pelo correio, com  assinatura com firma reconhecida.
Os documentos emitidos em língua estrangeira deverão ser apresentados com tradução para o polaco em anexo, elaborado por um tradutor juramentado ou um cônsul da República da Polônia.
O formulário de pedido de cidadania deve ser especificado através de uma portaria emitida pelo Presidente da República da Polônia.

Formulário padrão de Requerimento para a cidadania polaca (em idioma polaco)

e) por reconhecimento como cidadão polaco

De acordo com as disposições da Lei de Cidadania Polaca de 02 de abril de 2009, mais estrangeiros são elegíveis podem ser reconhecidos como cidadãos polacos de forma administrativa, em comparação com a Lei de 1962.
Pessoas que podem requerer a cidadania polaca através do reconhecimento da cidadania são aqueles estrangeiros que vivem no território da Polônia nos termos das permissões aplicáveis, que, já residem por muitos anos na Polônia; integraram-se na sociedade polaca de forma plena; conhecem o idioma polaco; tem meios de sustento e habitação; respeitam a ordem jurídica polaca; e não representam ameaça para a defesa ou segurança nacional.

Isto aplica-se em particular aos refugiados, apátridas, filhos e cônjuges de cidadãos polacos e pessoas de origem polaca.

Processos de reconhecimento de cidadania devem ser realizada de acordo com as normas especificadas no Código Administrativo. O interessado pode recorrer da decisão de um Voivoda (governador), atuando nesse caso, como autoridade de primeira instância, à autoridade da segunda instância, ou seja, o ministro do Interior.
Considerando ainda que a decisão do Ministro do Interior pode ser objeto de recurso para um tribunal administrativo.
O pedido deve ser apresentado em conformidade com as disposições da Portaria do Ministro do Interior de 03 de agosto de 2012, através de requerimento padrão sobre reconhecimento como cidadão polaco e uma fotografia anexada ao pedido (Diário Oficial, item 916).

Nos termos do artigo 30º parágrafo 1 da Lei de Cidadania Polaca, as pessoas podem ser reconhecidas como cidadãos polacos quando,

1. O estrangeiro reside de forma contínua no território da República da Polônia há pelo menos três anos, de acordo com visto expedido, de visto de residência para cidadão da comunidade europeia, de visto de residência de longa duração, ou direito de visto de residência permanente, ter uma renda estável e regular dentro da República da Polônia, possuir escritura legal de imóvel ocupado;

2. O estrangeiro residente continuamente no território da República da Polônia há pelo menos dois anos, nos termos de visto expedido, visto de residência para cidadão europeu para residência de longa duração, ou direito  de visto de residência permanente, sendo, por pelo menos 3 anos casado com uma cidadã (ão) polaca (o), ou é apátrida;

3. O estrangeiro residente continuamente no território da República da Polônia há pelo menos 2 anos, nos termos de visto de residência obtido através do status de refugiado, concedido pela República da Polônia;

4. O estrangeiro menor de idade, cujo pai é cidadão (ã) polaco (a), residente no território da República da Polônia nos termos de visto de residência, visto para   europeus de residência de longa duração, ou visto residência permanente, enquanto que o outro progenitor, sendo um cidadão não-polaco, deu seu consentimento para o reconhecimento da cidadania do menor;

5. O estrangeiro menor de idade, cujo pelo menos um dos pais tenha renunciado à nacionalidade polaca, desde que, com a condição de que o menor foi residir no território da República da Polônia nos termos do visto expedido, visto para   europeus de residência de longa duração, ou visto de residência permanente, enquanto o segundo cônjuge, seja um cidadão não-polaco, deu seu consentimento para o reconhecimento da cidadania do menor;

6. O estrangeiro residente continuamente e legalmente no território da República da Polônia, pelo menos, há 10 anos, que cumpre conjuntamente as seguintes condições: de acordo com visto expedido, de visto de residência para cidadão da comunidade europeia, de visto de residência de longa duração, ou direito de visto de residência permanente, ter uma renda estável e regular dentro da República da Polônia, possuir escritura legal de imóvel ocupado;

7. O estrangeiro residente continuamente no território da República da Polônia há pelo menos 2 anos, nos termos de visto de residência (estudante por exemplo), o qual foi concedido, por sua relação de descendente de pessoas de  origem polaca.

Simultaneamente, o artigo 20 Seção 2 dispõe que um estrangeiro (com as exceções de pontos 4 e 5 acima, menores, ou seja, cujo um dos pais já tem cidadania polaca) que solicita o reconhecimento como cidadão polaco, deve ter confirmado oficialmente o conhecimento do idioma polaco.
A cidadania polaca é reconhecida a pedido de uma parte interessada e deve estender-se a seus filhos (as), desde que o pai tenha concordado, ou que, no caso, da criança que já  completou 16, também é necessário o consentimento desta.
No entanto, nos termos do artigo 31 da Lei,  o pedido de um estrangeiro para ser reconhecido como um cidadão polaco deve ser indeferido no caso dele / dela não ter cumprido os requisitos obrigatórios, especificados acima, previsto no artigo 30 seção 1, ou se a aquisição da cidadania polaca por essa pessoa representa uma ameaça à defesa e segurança nacional, ou para a segurança e ordem públicas.

Requerimento padrão para solicitação do reconhecimento da cidadania polaca (em idioma polaco)

Polacos não querem o Euro

50 złoty - algo em torno de 30 reais

Os polacos continuam contra a adoção do euro, afirmou o diário Gazeta Wyborcza nesta terça-feira, citando uma pesquisa realizada pela CBOS. 
A pesquisa realizada em fevereiro mostra que 64% dos entrevistados é contra a adoção do euro e 29% são a favor, de acordo com o jornal. 
Indecisos somavam 7%. Os resultados estão em linha com os dados de uma pesquisa do Homo Homini publicada no jornal Rzeczpospolita no final de março. 
A Polônia concordou em adotar a moeda comum europeia quando aderiu à União Europeia em 2004, mas não especificou uma data. O apoio para a moeda única caiu nos últimos anos uma vez que a Polônia tem se saído melhor do que alguns países da zona do euro. 
As informações são da Dow Jones.

sexta-feira, 29 de março de 2013

O que é o Śmigus-Dyngus


Śmigus-Dyngus é a comemoração da segunda-feira, pós domingo de Páscoa, na Polônia. Conhecida como a segunda-feira molhada. 
Celebrações semelhantes são realizadas na República Tcheca, na Eslováquia (Oblévačka em checo, Oblievačka em eslovaco, ambas significando "Rega") e na Hungria, onde é conhecido como Vízbevető ou "Mergulhe água na segunda-feira".
Tradicionalmente, os meninos jogam água sobre as meninas que passam sob suas janelas, nas praças, ruas e campos. As meninas, por sua vez, batem nos meninos com ramos com painas de salgueiro. 
Isto é acompanhado por uma série de rituais, como fazer declarações em verso e batendo de porta em porta como numa procissão. 
Em algumas regiões da Polônia, os meninos se vestem como se fossem ursos. As origens da celebração são incertas, mas são dos tempos pagãos (antes de 1000 A.C.). Os primeiros registros escritos datam do século 15. 
A celebração continua a ser praticada tanto na Europa Central como nos Estados Unidos, onde é grande a presença da etnia polaca. Ali a festa evoluiu para uma combinação de tradições polacas e com elementos patrióticos americanos.
Enquanto fazem a festas meninos cantam, "Dyngus, dyngus, po dwa jaja; nie chce chleba tylko jaja. ("Dyngus, dyngus, para dois ovos; Eu não quero pão mas ovos").
As meninas tentam fugir da molhadeira, escondem-se, mas para serem resgatadas dão como pagamento aos rapazes "pisanki" (ovos pintados), considerados amuletos mágicos que trazem boas colheitas, bem sucedidas relações sexuais e partos saudáveis.
Apesar de, em teoria, as meninas deverem esperar até no dia seguinte para obter a sua vingança, molhando também os meninos, na prática, ambos jogam água uns sobre os outros no mesmo dia.
Os ramos de painas de salgueiros parecem ter sido adotados como uma alternativa para a folhas de palmeira usada em outras partes como celebrações da Páscoa, porque as palmas não existiam na Polônia.
Os ramos de painas foram abençoados pelos padres no Domingo de Ramos, após o que, os paroquianos chicoteavam uns aos outros com os ramos de salgueiro cantando, "Nie ja bije, Wierzba bije, za tydzień, wielki Dzień, za sześć noc, wielkanoc" ("Não sou eu quem bate, o salgueiro é quem bate, daqui uma semana, no grande dia, daqui a seis noites, na grande noite da Páscoa ").

A música tradicional do Śmigus-Dyngus (pronuncia-se chmingus dingus)"

"Seu pato me disse
Que você já fez um bolo
Sua galinha me disse 
Que ela botou numa cesta, meia dúzia de ovos 
Sua porca me disse que você matou seu filho
Se não foi seu filho, então foi sua filha pequena
Dê-me alguma coisa, nem que seja um pouco de sua gordura
Quem não for generoso hoje
Pode contar que não terá o céu."

Origens
A celebração tem origens pré-cristãs e envolvem as festas do equinócio de março. As origens da palavra "Dyngus" são obscuras. Alguns sugerem que pode ter influência saxônica, "dingeier" ("os ovos tem dono") ou "dingnis" ("resgate").
A ocorrência da celebração em todos os países ocidentais eslavos, mais a Hungria (cujos antepassados ​​conquistaram uma região anteriormente habitada por eslavo ocidentais - polacos, eslovacos e tchecos) sugere uma origem comum na mitologia pagã, provavelmente uma ligação com as deusas da fertilidade eslavas.
Pode, eventualmente, estar relacionada com a tradição de regar os cabelos das espigas de milho, para fazer crescer os pés da plantação e foi representado, em algum momento, na forma de uma boneca, ou de uma grinalda feita a partir dos cabelos do milho.
Isto seria simbolicamente encharcado em água e mantido durante o inverno, até que seu grão fosse misturado com a semente de milho para garantir uma boa colheita.
Com o tempo, a crescente influência do cristianismo na Polônia incorporou as celebrações do Dyngus, juntamente com outras práticas pagãs, em festas cristãs como a segunda-feira de Páscoa.
Alguns sugerem ainda, que o uso da água é uma alusão ao batismo de Mieszko I, o Duque dos Polanos (c. 935-992), que em 966 dC, uniu toda a Polônia, sob a bandeira do cristianismo.
Originalmente "śmigus" e "dyngus" eram duas festas separadas. O "śmigus" envolve o ato de jogar água (oblewanki), e o "dyngus", subornando os molhadores com "pisanki" (ovos de galinha pintados e decorados) para escapar do "śmigus". Mais tarde, ambas as tradições se fundiram num dia só, pois enquanto o "śmigus" era comemorado na segunda-feira, o "dyngus", na terça-feira. 
Em 1410, as festas foram proibida pelo bispo de Poznań, em um decreto intitulado "Dingus Prohibitur", que instruiu os moradores para não "incomodar ou importunar os outros no que é chamado universalmente de Dingus".

quarta-feira, 27 de março de 2013

100 mil saíram as ruas em Katowice para protestar


Cerca de 100 mil pessoas protestam hoje no Sudoeste da Polônia. A manifestação contou com a participação de mineiros, trabalhadores do transporte e de centros de saúde. 
Nas voivodias (estados) do sudoeste do país, durante algumas horas, foi suspenso o serviço de transporte ferroviário, centenas de escolas cancelaram as aulas, os hospitais quase paralisaram o atendimento. 
Os manifestantes pedem mais segurança no trabalho, aumentos de pensões e proteção do governo em minas de carvão. As manifestações que duraram quatro horas na região de Silésia foram comandadas pelo sindicato Solidariedade
Eles exigem incentivos fiscais para as empresas durante o tempo de inatividade, uma indenização às empresas afetadas pelas obrigações da Polônia de controlar as emissões para a atmosfera, bem como rejeitam a reforma da educação e saúde que prevê a redução do financiamento estatal de escolas e hospitais. 
 Os manifestantes pediram ao governo do primeiro-ministro, Donald Tusk, para melhorar o código trabalhista com a finalidade de dar às companhias mais flexibilidade nas horas de trabalho em momentos de crise, e reestruturar o sistema de saúde debilitado e ineficiente. 
Os membros do sindicato realizaram ações de apoio em Katowice, Gdansk e algumas outras cidades da Polônia. 
O ministro da Economia, Janusz Piechocinski, afirmou que o governo conversou com os sindicatos, que haviam pressionado por demandas "inaceitáveis", que onerariam o orçamento do Estado já apertado. 
A região da Silésia foi a mais próspera da Polônia durante o período comunista, mas tem sido afetada desde 1990 pelo fechamento de muitas minas e siderúrgicas. 
Se as autoridades não aceitarem o diálogo, os sindicatos ameaçam exigir a renúncia do governo.
 As informações são da Associated Press e da Radio Voz da Rússia.

A revolta estudantil de março de 1968 na Polônia


Em 30 de março de 2008, Adam Michnik, fundador do jornal diário "Gazeta Wyborcza", concedeu entrevista ao jornal francês "Le Monde" sobre os acontecimentos em 1968, na Polônia.
No mesmo momento em que o mundo ocidental era varrido pela revolta estudantil, na Europa Central aconteciam dois movimentos também importantes na esfera mundial, que foram a "Primavera de Praga", na então Tchecoslováquia e o Expurgo do Judeus da Polônia.
O  estopim para as autoridades polacas começarem a expulsar os judeus ocorreu naquele 8 de março quando os policiais entraram em conflito com os estudantes, que protestavam diante da estátua de Adam Mickiewicz, em Varsóvia contra a censura a peça de sua autoria, "Os avós".
A alegação dos censores era de que a peça era um manifesto contra a Rússia.
Os líderes estudantis foram expulsos da universidade. Isso, deu início a uma série de manifestações e repressões que se estenderam a outros centros e cidades.
Os manifestantes foram dispersados com violência. Muitos foram detidos. A contestação tomou conta da Escola Politécnica de Varsóvia e das Universidades de Cracóvia e de Wrocław.
"A revolta espontânea dos estudantes foi para o chefe do Partido Comunista polaco na época, Wladysław Gomułka, um bom pretexto para se impor aos seus rivais na disputa pelo poder", considera o historiador Dariusz Stola.
"Criticado por sua tendência autoritária por militantes comunistas de origens judaicas e intelectuais, Gomułka teve a chance de desacreditá-los, já que um bom número de líderes da revolta estudantil eram filhos ou filhas de intelectuais judeus comunistas", como Adam Michnik.
Segundo Stola, "Gomulka tinha muito medo de que a Polônia fosse 'contaminada' pelas reformas tchecoslovacas da Primavera de Praga", esmagada pelos tanques russos do Pacto de Varsóvia, em agosto de 1968.
Com a ajuda da polícia política e dos radicais do partido, o chefe do PC polaco, Gomułka, deu início à caça ao "judeu comunista". Aproximadamente 20 mil pessoas foram obrigadas a abandonar o país e 13.500 delas perderam a nacionalidade entre 1968 e 1970, segundo documentos encontrados nos arquivos do Estado.
"Não tenho sentimento algum de nostalgia por meu país natal", afirma Nelly Plotzker, 62 anos, que fugiu da Polônia em 1968 para viver em Israel. "Vimos que era preciso partir e fizemos o que as autoridades nos fizeram fazer", conta a polaca-israelense.
Małgorzata Melchior, 57 anos, decidiu em 1968 permanecer na Polônia. "Meu irmão mais velho decidiu emigrar para a Suécia. Nosso pai queria sair também, mas eu, uma estudante de 17 anos, não queria ouvir falar disso", diz ela.
Um grupo de intelectuais polacos, dentre os quais o cineasta Andrzej Wajda e o Prêmio Nobel de literatura Wisława Szymborska (falecida), fizeram um apelo ao então presidente Lech Kaczyński para pedir uma restituição automática da nacionalidade polaca aos judeus obrigados a emigrar em 1968.
"Entre os crimes comunistas, a infâmia de março de 1968 permanece como um evento que pesa particularmente sobre a consciência polaca", escreveram os signatários do apelo.
Em março de 2008, o ministro do Interior, Grzegorz Schetyna, passou a expedir certificados de nacionalidade polaca às pessoas (na sua maioria polacos de origem judaica) que a perderam em 1968.
Muitos cidadãos israelenses, por esta lei, já foram contemplados nos primeiros meses após a promulgação da Lei, com a cidadania polaca. Grande parte deles, não por um sentimento de carinho pela Polônia, mas porque a cidadania é extensiva a toda a União Europeia.
Em muitos destes, que readquiriram a cidadania polaca, o antipolonismo é latente e exagerado. Alegam que fazem o reconhecimento da cidadania, pela possibilidade de livre acesso à União Europeia e alardeiam que a Polônia é antissemita.
De alguma forma eles tem suas razões, pois este antissemitismo é cultivado e disseminado pela emissora católica conservadora, Radio Maryja e principalmente pelo seu fundador Padre Tadeusz Rydzyk, além de suas televisões à cabo,  como o canal "Trwam" e outros jornais que representam os setores ultranacionalistas. 
Um herói do célebre sindicato Solidariedade e fundador do jornal diário "Gazeta Wyborcza", Adam Michnik comenta, em entrevista ao "Le Monde", sobre os eventos que marcaram o movimento estudantil de 1968, na Polônia e suas consequências nas décadas seguintes, as quais acabariam por derrubar a União Soviética, à partir dos estaleiros de Gdańsk
Apesar de ter sido ele mesmo vítima dos acontecimentos de março de 1968 na Polônia, Adam Michnik foi "esquecido" por ocasião da cerimônia oficial comemorativa, em 8 de março de 2008, realizada na presença do presidente conservador Lech Kaczyński (falecido na tragédia de Smoleński),  ele mesmo, um primo distante de Michnik, como pode-se ler no final desta entrevista. 

Entrevista 

Le Monde - Na Polônia, o movimento de estudantes e de intelectuais, que nasceu a partir da suspensão das apresentações da peça "Os Avôs", de Adam Mickiewicz (1798-1855, poeta e escritor polaco) no Teatro Nacional de Varsóvia foi utilizado como pretexto pelo poder comunista para deslanchar a sua vasta campanha antissemita...

Adam Michnik - Aquela era uma campanha contra os intelectuais e contra as liberdades. Na História, não existem apenas lutas vitoriosas. O mês de março de 1968, viu a vitória de uma política extremamente chauvinista, xenófoba e autoritária, além da nossa derrota. Uma verdadeira derrota. Três semanas depois de ter sido iniciado, o nosso movimento foi liquidado pela máquina policial. A maioria dos líderes do movimento acabou sendo encarcerada. Foi uma campanha brutal, que também resultou nos processos e nas expulsões de professores e de estudantes. O levante de 1968 também foi o primeiro movimento de massa contra a ditadura. Este movimento, que foi fomentado pela nova geração, aquela que nascera na Polônia comunista, teve continuidade alguns anos depois. A tradição da jovem democracia polaca havia nascido. 

Le Monde - Devemos concluir então que em 1968, a sua geração abriu caminho rumo à liberdade? Aquele que a conduziria aos protestos operários de Gdansk, à criação do Comitê de Defesa dos Operários (KOR), e depois ao sindicato Solidariedade?
Adam Michnik - O KOR, e mais tarde o Solidariedade, constituíam uma ampla confederação, que por sua vez tinha origem em inúmeras fontes. O movimento de 1968 era uma delas, mas não a única. 

Le Monde - Por que os movimentos de protesto polacos, que estavam germinando havia meses, encontraram a sua expressão em 1968? 
Adam Michnik - Estes são os segredos da situação revolucionária! Na Polônia, a inspiração tchecoslovaca certamente exerceu a sua influência sobre o movimento. Em março de 1968, os estudantes tinham como slogan "Toda a Polônia aguarda seu Dubcek" (Alexander Dubcek, 1921-1992, antigo líder do Partido Comunista da Tchecoslováquia, iniciou as reformas da "Primavera de Praga" em 1968). Se a evolução democrática era possível em Praga e em Bratislava (capital da Eslováquia, então parte da Tchecoslováquia), por que não em Varsóvia? Mas o movimento polaco foi também, para nós, uma surpresa. Ninguém havia imaginado que o ato de protesto contra o cancelamento da temporada de "Os Avôs", no Teatro Nacional em Varsóvia, em janeiro, seria o ponto de partida de um vasto movimento estudantil. Proibir apresentações de uma peça de Mickiewicz, que é para os polacos o que é Victor Hugo para os franceses, era intolerável. Os nossos protestos foram fortalecidos e repercutidos pela revolta de grandes escritores, entre os mais conhecidos e os mais respeitados na Polônia - Andrzejewski, Sloniński, Kolakowski. No início de março, o governo decidiu expulsar vários estudantes, entre os quais, eu, estava incluído. Aquele foi um momento decisivo. Como resposta, nós organizamos um grande comício no campus da universidade de Varsóvia. Mas ninguém havia imaginado que o dia 8 de março seria o primeiro dia de um grande movimento que se disseminaria por várias universidades na Polônia. 

Le Monde - O que o senhor tinha em mente, naquela sexta-feira, 8 de março de 1968, aos 21 anos, no pátio da Universidade de Varsóvia, diante dos inúmeros estudantes que estavam reunidos naquele ato de protesto contra a sua exclusão?
Adam Michnik - Eu me opunha à ditadura, é claro. Para os meus amigos e para mim, aquele era um ato de protesto em nome do socialismo democrático. Aquela era a língua universal da época, a da "Primavera de Praga", entre outras.

Le Monde - Na época, os movimentos de protesto que tomaram conta da Europa, do Leste ao Oeste, tiveram protagonistas da mesma geração. Apesar de lutarem por opções que, contudo, eram radicalmente opostas em 1968, teriam eles lutado em defesa dos mesmos valores?
Adam Michnik - Esses movimentos eram profundamente diferentes. Os slogans que eram clamados na Sorbonne ou em Berlim Oeste eram dirigidos contra o capitalismo, a sociedade de consumo, a democracia burguesa definida como uma pseudo-democracia, e, além disso, também contra os Estados Unidos e a guerra do Vietnã. Para nós, era uma luta em prol da liberdade na cultura, nas ciências, na memória histórica, em prol da democracia parlamentar, e, por fim, no que veio a ser visível, sobretudo, na Tchecoslováquia, contra o imperialismo soviético, não o americano.

Le Monde - Em 1968, a Polônia também foi o palco dos expurgos antissemitas orquestrados pelo general Moczar, que atingiu inicialmente os quadros do partido em nome de uma campanha antissionista, e depois provocou o êxodo de 15 mil polacos de origem judaica.
Adam Michnik - Por que Moczar e seus asseclas utilizaram a linguagem antissionista e antissemita? Em primeiro lugar, em função das suas convicções nacionalistas, chauvinistas, que também lhes permitiram alinhar-se com Moscou contra Israel. Segundo, porque isso lhes permitiu instaurar divisões entre os quadros do regime. Tradicionalmente, muitos apparatchiks (membros da hierarquia do partido comunista) tinham origens judaicas, e não apenas no aparelho do partido, como também nos hospitais e na universidade. E finalmente, porque eles se baseavam na tradição, forte na Polônia, do movimento nacionalista Endecja, cuja linguagem era o antissemitismo. Ao recorrer a esta linguagem, o poder comunista procurou fincar raízes na tradição polaca.

Le Monde - Foi preciso esperar por 20 anos, até 1988, para que o poder comunista polaco reconhecesse pela primeira vez o caráter antissemita dos eventos de 1968, ainda que livrando de toda responsabilidade os quadros do partido. Aquilo chegou a ser considerado como suficiente?
Adam Michnik - Foi inaceitável. Até o fim, a grande maioria dos "apparatchiks" permaneceu silenciosa em relação àqueles fatos. Atualmente, 40 anos depois, a situação está completamente mudada. Os pós-comunistas, em sua maioria, nos seus discursos públicos, são absolutamente contra o chauvinismo étnico. Eles utilizam a linguagem dos social-democratas ocidentais. Paradoxalmente, o discurso antissemita populista migrou para a direita, não só com Roman Giertych e sua Liga das Famílias Polacas. Tendências antissemitas bastante fortes estão despontando nos meios de comunicação, tais como os jornais diários "Nasz Dziennik" (dirigido pelo Padre Rydzyk), "Nasza Polska", e, de vez em quando, até mesmo o "Rzeczposposlita", que aposta na ambivalência.

Quem é Adam Michnik



Ele nasceu em 17 de outubro de 1946, em Varsóvia, na Polônia. Filho de Ozjasz (Uzziah) Szechter, um comunista polaco judeu muito conhecido (Primeiro Secretário do Partido Comunista do Oeste da Ucrânia) e de Helena (Hinda) Michnik, escritora de livros infantis e uma comunista fervorosa. Adam Michnik se define a si mesmo como um polaco de origens judias.
Especialistas em genealogia afirmam que Michnik é um primo distante dos gêmeos Lech e Jarosław Kaczyński. Isto porque, pelo lado materno, Adam é neto de Hirsch Michnik, que juntamente com sua esposa Perła de Grünwaldów viviam com seus três filhos em Cracóvia, na ulica (rua) św. Sebastian, nr. 34, onde também vivia o bisavô de Adam Michnik, Selig Michnik, com a idade de 65 anos, um conhecido talmudista de Cracóvia.
Ainda pelo lado materno, Adam é bisneto de Hillel Schmeidler, que era irmão de Sarah e cujo marido tinha um irmão, Symche Wachtel, que por sua vez, era marido de Eidel Mendelsohn, cuja irmã, Chawa, era sogra de Julia Bergson.
Esta senhora por sua vez teve como primeiro marido, o pintor Aleksander Lesser conhecido irmão do nobre (magnata) Zygmunt Lesser, casado com a também nobre Laura Krasicka, viúva do magnata Edward Dunin-Borkowski.
Este por sua vez, era primo de Helena Wolski, esposa do general Jan Krukowiecki. A filha do general Krukowiecki, Bronisława Olszewska era irmã de Julia que é a trisavó (tataravó) de Lech (presidente da república falecido) e Jaroslaw Kaczyński (ex-primeiro-ministro e presidente do Partido PiS - Direito e Justiça (de extrema-direita).
Adam Michnik é o fundador e editor-chefe do principal jornal polaco da atualidade, o Gazeta Wyborcza, onde às vezes escreve sob o pseudônimo de Andrzej Zagozda ou Andrzej Jagodziński.
Adam foi um dos principais organizadores da oposição democrática ilegal na Polônia, nos anos 60, 70 e 80.
Historiador, ensaísta, jornalista político. Ele recebeu muitos prêmios, incluindo a distinção de Cavaleiro da Legião de Honra da Polônia.

terça-feira, 26 de março de 2013

Melhores fotos da reportagem polaca 2013


As melhores fotos de fotorrepórteres polacos em 2013, no Concurso BZ WBK Press Photo 2013. 
A foto "Vida Cotidiana" de Jakub Ociepa / Agência Gazeta Wyborcza retrata a nevasca sobre os carroceiros do Rynek (Praça do Mercado) que esperam pelos turistas. 
Foto tirada no dia 15 de fevereiro de 2012.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Merkel tem tio polaco


Por esta ninguém esperava, muito menos os polacos. A segunda pessoa mais poderosa do mundo na atualidade, a cientista e política alemã, Ângela Merkel, a chanceler da Alemanha, é neta de polacos. Seu avô lutou nas Forças Armadas polacas contra os alemães, os ucranianos e os soviéticos.

Margareth e Ludwig Kasner (Ludwik Kazmierczak)
O avô de Merkel, Ludwik Kazmierczak, fez parte das Forças Armadas Polacas criada na França e conhecida como Blue Army, Błękitna Armia, ou ainda Haller Armii. Formação comandada pelo general polaco Józef Haller. Este agrupamento militar foi criado em junho de 1917, como parte de unidades polacas aliadas à Entente. 
Depois da Primeira Guerra Mundial, o exército foi transferido para a Polônia, onde tomou parte nos conflitos da renascente Polônia com seus inimigos do Leste. Durante a Guerra polaco-ucraniana, o Exército Azul ajudou a quebrar o impasse em favor da Polônia. Também Durante a Guerra Polaco-bolchevique, o Exército Azul (por usar as cores dos uniformes franceses) desempenhou um papel fundamental na defesa bem sucedida da Polônia contra as forças soviéticas. 

Os avós de Angela Merkel com seu pai nos braços
Já no ano de 2000, Merkel, em entrevista a revista Der Spiegel, tinha declarado ser um quarto polaca. Segundo ela seu sobrenome Kasner foi o nome inventado pelo avô polaco Ludwik Kazmierczak, em 1930, depois de ter deixado Poznań, capital da Voivodia (Estado) da Wielkopolska (Grande Polônia), na Polônia, com destino à Alemanha. 
Também os avós maternos de Merkel, Willi Jentzsch e Gertrud Drange, nasceram na Polônia ocupada. De acordo com jornal semanal Preußische Allgemeine Zeitung, ambos tinham ascendência alemã e viveram em Gdańsk (Danzig em alemão), onde Willi Jentzsch era um professor ginasial. 
Ângela Dorothea Kasner, nasceu em Hamburgo, na Alemanha, filha de Horst Kasner (1926-2011). Este por sua vez nasceu em Berlim, e sua esposa Herlind Jentzsch, em 1928, em Gdańsk. Ela era filha de alemãs e foi professora de inglês e latim, além de membro do Partido Social-Democrata da Alemanha. 
O pai de Merkel estudou teologia em Heidelberg e, depois, em Hamburgo. Em 1954, recebeu um pastorado na igreja de Quitzow (perto de Perleberg em Brandenburgo), que então estava na Alemanha Oriental, e a família mudou-se para Templin.

o tio polaco de Angela Merkel - Zygmund Rychlicki
Dessa forma, Merkel cresceu numa região rural a 80 km ao norte de Berlim. O jornal Gazeta Wyborcza, de Varsóvia, publica nesta sexta-feira, dia 22 de março, que um primo de Angela Merkel, o aposentado polaco Zygmunt Rychlicki, residente no Condôminio Kosmonautów, em Poznań, na Polônia, virou celebridade de uma hora para outra. 
Isto porque, ainda nos anos 80, no período comunista, Rychlicki enviava cartas para um primo da cidade de Templin, então Alemanha Oriental, de nome Horns Kasner
Passados todos estes anos e com o cessar das correspondências, Rychlicki, deu-se conta, que o primo (metade polaco) tinha um casal de filhos, Angela e Marcus. Angela então era estudante de química. 
Na semana passada, Rychlicki tomou conhecimento da mais recente biografia da chanceler alemã Angela Merkel e veio a descobrir que o avô dela, nasceu em 1896, com o nome de polaco de Ludwik Kazmierczaki, em Poznań. 
Com a ajuda de jornalistas e arquivistas da cidade de Poznań, Zigmund que era filho de Anna Kazmierczaki (mãe solteira), que mais tarde se casou com Ludwik Rychlicki, nasceu em 1934, certificou-se que realmente seu avô é também o avô de Merkel. 
Portanto, Zygmunt Rychlicki é tio da mulher mais poderosa do mundo, na atualidade. “Foi uma sensação, não é? Um ano atrás, eu li em algum lugar que o pai Merkel era um pastor. Mas não me dizia nada naquele momento. Estava escrito o nome dele Horst Kasner. Soubemos que Horst Kasner teve uma filha de nome Angela, mas ninguém lembrou de que poderia ser a chanceler alemã.”, diz Zygmunt Rychlicki.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Nova temporada do Duppa em Araucária


Neste dia 23 de Março (sábado), Dupa inicia nova Temporada do “No Empório com Isidório”!!! na Cantina Da Lídia.
Novo Texto, Novas piadas. Isidório, além de aprontar das suas, receberá nesta edição o Zico da Jovem Pan. 
Totalmente participativo, onde o público pode até dar uma palhinha, opinar sobre a programação do dia, pedir o microfone e mandar ver! 
Além de boas risadas, há o cardapio da casa, carinhosamente inspirado na cozinha polaca, de fazer inveja aos melhores Chef’s da Kraków. 
Adquira já o seu ingresso, diretamente na Cantina ou pelos telefones: 3642-2769, 9915-0163, 9995-7306, 
Vá se divertir com Isidório Duppa e valorizar o artista local, afinal, eles são a essência da terra.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Papa Francisco vai canonizar João Paulo II


Fontes da agência italiana "Ansa" no Vaticano informaram que logo após a eleição, o novo Pontífice falou ao cardeal Stanisław Dziwisz, ex-secretário de João Paulo II, sobre sua determinação em levar adiante a conclusão do processo. 
Uma das principais expectativas do Vaticano, a canonização de João Paulo II, pode ser o primeiro feito do Papa Francisco - que teria presenciado um milagre atribuído a Karol Wojtyła quando ainda era cardeal. 
O antecessor de Francisco, Bento XVI, beatificou Wojtyła em tempo recorde, somente seis anos após sua morte, descontando cinco anos do processo normal. A beatificação é o primeiro passo no processo de canonização. 


Dziwisz, no entanto, não confirmou as informações, pois, segundo ele, "a questão é séria demais para ser discutida em um encontro breve". Mais cedo, o jornal argentino "Clarín", afirmou que o Papa deve iniciar as beatificações de seu pontificado com o padre Carlos de Dios Murias, argentino sequestrado, torturado e assassinado em 1976 junto com o também sacerdote francês Gabriel Longueville durante a ditadura. 
A canonização de João Paulo II é uma das principais expectativas da Santa Sé, mas "é preciso terminar algumas medidas formais que ainda não foram tomadas", explicou ao jornal "Vatican Insider" o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. "Antes de tudo, é necessário um decreto reconhecendo o milagre e, em seguida, um consistório para decidir a data da canonização. Há um desejo generalizado de canonização do Papa João Paulo II, mas não há data definida para isso", disse. 
 O próprio Bergoglio, quando ainda era cardeal, presenciou um milagre atribuído a João Paulo II, em Buenos Aires: uma mulher recuperou-se misteriosamente de um câncer do intestino que já estava em metástase após ter conhecido Wojtyła. A revista italiana "Chi" relembra a história. Josefa Natividad Zelaya, hoje com 70 anos, teria sido curada depois de um encontro com o Pontífice na Catedral de Nossa Senhora de Luja'n, em Buenos Aires. "Eu fui em direção ao Papa e caí de joelhos, chorando, enconstando na borda da batina branca. Em seguida, ele tocou minha cabeça com as mãos. Depois de um tempo as metástases desapareceram", lembra. 
 Muito impressionado com o acontecimento, Bergoglio chorou e deu à mulher uma imagem do Papa. "O que aconteceu é um milagre de João Paulo II, leve esta foto para sempre com você", disse Francisco na época. 
 Em janeiro, o cardeal italiano Giovanni Battista Re, confidente próximo de João Paulo II, disse que ele poderia ser nomeado santo ainda este ano. "Não tenho informações suficientes para dizer com certeza que ele vai se tornar santo até o final do ano, mas eu sei que, recentemente, três ou quatro de seus milagres estavam sendo examinados", disse o cardeal Re. "Se não for este ano, será em 2014."

Fontes: Ansa, Gazeta do Povo, O Estado de SPaulo.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Bispos ucranianos lembram a limpeza étnica polaca na Volínia

Catedral de São Jorge, em Lwów, sede da Igreja Greco-católica da Ucrânia
Em todas as igrejas do rito greco-católica na Ucrânia, neste domingo, foi lida uma mensagem sobre os 70 anos dos crimes de guerra ocorridos na antiga voivodia polaca da Volinia
A região foi território polaco desde o século XIV até 1945, em que pese a ocupação russa entre 1795 a 1918. Cidades importantes fundadas por polacos estão nesta região como Łuk, que era a capital da voivodia, Rowne (em 1931 pop. 42.000 hab.), Kowel (pop. 29.100 hab.), Włodzimierz Wolynski (pop. 26.000 hab.), Krzemieniec (pop. 22.000 hab.), Dubno (pop. 15.3000 hab.), Ostróg (pop. 13.400 hab.) e Zdolbunów (pop. 10.200 hab.). 
Nos anos de 1943 e 1944 foram mortos cerca de 100 mil polacos e e 20 mil ucranianos ali. Para relembrar os crimes cometidos ali os bispos ucranianos, neste domingo, escreveram que "Hostilidade mútua para derramar sangue fraterno não é desculpa". Pela primeira vez na história os bispos ucranianos do rito grego-católico se manifestam sobre a tragédia na Volínia e não mencionam de forma concreta sobre uma reconciliação polaco-ucraniana
Stepan Bandera
Como os fatos comprovam a história, na primavera de 1943, partidários da facção nacionalista ucraniana B (do nome do líder Stepan Andriyovych Bandera, que chefiava a OUN- Organização dos Nacionalistas Ucranianos) começou a limpeza étnica da população polaca na Volínia. 
 O objetivo era intimidar ou liquidar fisicamente os polacos, em face da derrota esperada diante da Alemanha nazista, e antes da chegada do Exército Soviético, e com isso formar ali um Estado ucraniano. A "Ação Antipolaca", como foi sacramentada nos documentos da OUN B e seu braço militar do Exército Insurgente Ucraniano, evoluiu para um sangrento massacre de polacos civis, mulheres e crianças. 
Foram queimadas aldeias inteiras, igrejas e escolas. Os guerrilheiros nacionalistas ucranianos foram apoiados por agricultores locais, que muitas vezes eram obrigados a assassinar os seus vizinhos polacos, se não o faziam espontaneamente. 


Os habitantes polacos da Volínia foram inicialmente surpreendidos, mas com o tempo, reagiram às represálias espontaneamente como forma de autodefesa, até que chegasse nestas áreas a 27ª. Divisão de Infantaria da Armia Krajowa. Segundo os historiadores, como resultado do conflito na Volínia, que também se espalhou para a Galícia, foram mortos em 1943 e 1944, aproximadamente 100 mil polacos e cerca de 20 mil Ucranianos. 
Não bastasse os polacos estarem sendo atacados por duas das Forças Armadas mais poderosas da época, Nazista e Soviética, também os guerrilheiros nacionalista ucranianos se aproveitaram da segunda guerra mundial para dizimar seus irmãos e vizinhos polacos. 
"No limiar da celebração do 70º aniversário do conflito ucraniano-polaco na Volínia, nós, os bispos da Igreja greco-católica ucraniana, gostaríamos de apresentar a proclamação que expressa nossa posição sobre estes trágicos acontecimentos - escreveram os bispos superiores - Uma coisa é indiscutível: diante de Deus não há nenhuma desculpa, nenhuma vida humana destruída ou nenhum dano esquecido". 
Swiatosław Szewczuk
 Os bispos manifestam que os polacos e os ucranianos devem ter uma memória coletiva diferente desses eventos, uma avaliação diferente do contexto histórico, e até mesmo dão-lhes nomes diferentes. Na Polônia, falam de "massacres", "limpeza étnica genocida", enquanto na Ucrânia de "Tragédia de Volínia" ou "guerra civil fratricida"
Eles relutantemente admitem que os crimes antipolacos cometidos pelos líderes do movimento nacional, no oeste da Ucrânia são considerados atos nacionais e os líderes são adorados como heróis. 
Os bispos sublinharam que merecem condenação tanto as políticas do B do OUN, que levou ao assassinato de civis e autoridades polacas, como também a política anti-ucraniana de antes da Segunda Guerra Mundial: "A nossa obrigação moral diante de Deus é informar que as razões políticas e ideológicas que pareciam convincente para nossos antepassados, levou ao assassinato de pessoas inocentes e vingança mútua. Isto que alguns parecia ser justo, embora não santificado por Deus, era um cruel pisoteamento de seus mandamentos e o grande eclipse do espírito humano". 
A carta lida nas igrejas era assinada por Swiatosław Szewczuk, arcebispo superior da Igreja Greco-católica da Ucrânia.
A manifestação sem precedentes foi lida em todas as igrejas greco-católica na Ucrânia, que é a religião mais popular no Oeste da Ucrânia, e está intimamente associada com o movimento nacional, embora a Volínia predominantemente ortodoxa. 
A alta hierarquia Greco-católica queria que sua mensagem fosse uma carta conjunta com o episcopado católico na Ucrânia. Mas seu presidente, o Arcebispo Mieczysław Mokrzycki de Lwów (Lviv para os ucranianos) discordou, argumentando que os ucranianos não batem o suficiente em seus próprios peitos. 
Mieczysław Mokrzycki
Sua resistência causou espanto no Episcopado polaco, que ao longo dos anos, envia sinais de reconciliação em cartas à no mesmo espírito manifestado neste domingo pela Igreja greco-católica da Ucrânia. 
O Arcebispo Mokrzycki, ex-secretário pessoal do Papa João Paulo II, é originário de Lwów e tem uma história de relação emocional entre as duas nações. Particularmente ele falou ao Papa João Paulo II sobre reconciliação polaco-ucraniana: "É hora de romper com o passado doloroso, vamos perdoar - dando e recebendo - pois só assim este ato irá se espalhar como um bálsamo de cura em cada coração. Que a purificação da memória histórica que nos une possa ser colocada acima do que o que nos divide, a fim de que possamos construir juntos um futuro baseado no respeito mútuo, cooperação e solidariedade fraterna genuína."