Um ano depois, a terrível temperatura que atingiu Cracóvia, em janeiro de 2006, permitiu fazer uma foto de meu rosto com pingos de gelo. Gelo formado pelo bafo de meu nariz, a uma temperatura de 33 graus negativos, às 9 horas daquela manhã belíssima de céu azul e sol forte de domingo. Enviada para o colunista Dante Mendonça e publicada no Jornal "O Estado do Paraná", a foto foi reproduzida no blog do cartunista Solda.
Ainda naquele 2006, um terceiro "post" foi acrescentado ao blog. Foi uma prosa-poema em homenagem ao dia das mães. Enviei "Meu Sonho de menino", como presente para minha mãe Eunice, através de e-mail para meu irmão em Ponta Grossa. Cícero imprimiu e levou como um cartão de dia das mães para ela em Curitiba.
Novo recesso no blog. Os estudos na Polônia e um trabalho ali e aqui de correspondente internacional para a TV Bandeirantes e Jornal "O Estado de SPaulo" roubavam tempo para se escrever sobre qualquer coisa no blog.
Mas foi um artigo escrito durante o Campeonato Mundial de Volei, realizado em Katowice, onde o Brasil sagrou heptacampeão mundial, que acabou parando no Jornal Tribuna do Paraná, reproduzido no blog do cartunista Solda e dali reenviado para o blog do Juca Kfouri, na Folha de São Paulo, que JAROSIŃSKI do Brasil deslanchou. "Corte previsto" explicando os motivos que levaram o técnico Bernardinho a cortar da equipe dos Jogos Panamericanos o melhor do torneio, Ricardinho. Reproduzido em várias comunidades do Orkut e fóruns de discussão, o artigo, causou muita polêmica e eu recebi muitos desaforos das "viúvas" do jogador. Finalmente percebi a força do formato blog e de como poderia divulgar as coisas de polaco e a Polônia, entre leitores de língua portuguesa, espalhados pelo globo. Leitores tão distantes como Finlândia, Chile, Nova Zelândia, Japão, Angola, Estados Unidos, Rússia, Moçambique, Portugal, Honduras...Montain View, Recife, Guarani das Missões...Curitiba.
Nos anos seguintes e com o aumento cada vez de leitores, houve momentos em que publicava 5 textos diariamente. Desde que passei a viver na ponte-aérea Cracóvia/Curitiba, o número de "posts" diários se reduziu a apenas um. Mas poucas vezes houve interrupção, inclusive em dias que estava nos ares sobre o Oceano Atlântico.Hoje, neste "post" de número 2000 quero reproduzir texto de um dos jornalistas mais representativos do jornalismo Paranaense, Aroldo Murá. Ele com sua sensibilidade foi o único a lembrar-se do falecimento e dos feitos de uma polaca-paranaense que nos deixou dias atrás:
SOFIA EXTRAORDINÁRIA
Não só as novas gerações de paranaenses são incapazes de identificar o nome de Sofia Winklerwiski Dyminski. Os de meia idade também. E deixam passar batida a morte da pintora, tradutora e parte da memória preciosíssima da etnia polonesa entre nós.
Pois ela morreu semana passada e, afora anúncio de missa por sua alma, não percebi nenhum movimento sobre o fato, nos meios culturais oficiais ou não.
Mas eu tive a ventura de comprar, no final do ano, o livro “Imigrantes Poloneses no Brasil em 1891”, obra seminal do padre e jornalista Zygmunt Chelmicki, que Sofia traduziu. Um trabalho em que ela se debruçou por 30 anos, e consumado ano passado graças, em parte, a auxílios fundamentais, como os dados pelo professor Paul, revisor da obra.
SOFIA – 2
Por sugestão de seu sobrinho (e uma das pessoas a quem devo momentos, na juventude, de preparo intelectual preciosos) professor Luiz Gonzaga Paul, casado com Halina Dyminski Paul, fui à Bienal do Livro realizada em novembro no Shopping Estação.
Comprei o livro no stand da Editora do Senado, mas perdi o melhor, a oportunidade de ter meu volume da obra autografado por Sofia. Com compromisso assumido anteriormente para a mesma a hora da tarde de autógrafos, antecipei minha presença. Ela ainda não havia chegado.
SOFIA – 3
Agora, passo os olhos sobre minha limitada pinacoteca e lá encontro o óleo sobre tela “Às margens do rio”, assinado pela artista plástica que é parte de nosso melhor inventário das artes visuais do século XX. Isto mesmo.
Releio partes do livro que ela traduziu, um esforço hercúleo, pois haveria de ter cuidados no adequar a linguagem a um português de fácil compreensão nos dias hoje. E assim o fez, mas absolutamente fiel ao original. Por anos, refletiu sobre “a conveniência” da tradução, com a qual trabalhou por trinta anos. Havia patrício que a advertiam sobre possíveis perseguições de autoridades brasileiras, pois a obra do padre Chelmicki é pesada nas críticas aos governos de então. Pura bobagem esse medo.
SOFIA – 4
O livro é obrigatório em qualquer estante da história das imigrações. No Paraná, o livro pode ser ponto de partida para novos estudos acadêmicos. Revela o autor e padre numa missão de cem dias aqui com objetivo de conhecer as condições de vidas do “Eldorado do Brasil” que tanto atraia seus patrícios. Mas ele também movimentou-se no país acolhendo poloneses desiludidos com o sonho brasileiro e, assim, levando-os de volta ao lar. Só que depois, anos depois de 1891, haveria uma segunda “onda brasileira”, trazendo da Polônia boa parte dos poloneses que ficaram no Paraná, SC e RS.
Sofia tinha 93 anos, era brasileira naturalizada, e para o Brasil se mudara em 1929. Seus quadros estão em galerias oficiais e particulares no país e exterior e sua produção pictórica garantiu-lhe participações em mostras como o Salão Paranaense.
P.S. Caro Aroldo! Tive o privilégio de me antecipar a você, embora também não tenha conseguido o autógrafo da senhora Sofia. Quando descerraram as fitas abrindo a Bienal do Livro no Estação entrei junto com as autoridades e convidados e fui o primeiro a chegar ao primeiro estande, justo o da Editora do Senado. De longe, vi na vitrina o livro da senhora Sofia. Fui o primeiro comprador da Bienal, fui o primeiro a comprar o livro da senhora Sofia. A leitura tem me causado muitos momentos de emoção e conhecimento sobre minhas origens.