A fortuna que se pode amealhar ao longo da vida e que realmente vale a pena são as amizades. E amigos conhecedores profundos em assuntos específicos então, têm um viés diferenciado que nos enriquecem ainda mais. Tenho um amigo/colega que é especialista em assuntos de polacos. E aqui o termo nada tem de pejorativo, como alguns podem pensar.
Durante anos tinha para comigo que os polacos e seus descendentes brasileiros não gostavam do termo "polaco", considerando-o uma forma depreciativa e até agressiva de tratá-los. Como uma legítima "polaquinha curitibana" (com a permissão de Dalton Trevisan, o criador do termo) interessei-me grandemente pelo assunto ao conhecer o jornalista, escritor, historiador e cineasta Ulisses Iarochinski, que pelo sobrenome já se descobre as origens. E aqui cabe um pequeno esclarecimento: o sobrenome de minha família materna é Zaduski; meus tataravós vieram da Polônia e meus avós - Pedro e Francisca - falavam polaco e um português ruim, carregado de sotaque e com aquele "erre" mal pronunciado.
Dito isso é compreensível meu imediato apreço pelo Ulisses, que conheci num grupo de WhatsApp que reúne jornalistas (os verdadeiros, com formação universitária). Ao me aprofundar na amizade descubro que Ulisses é locutor, repórter, ator de teatro, TV e cinema, poeta declamador de mais de 220 poemas no YouTube, e já publicou 19 livros. Além de possuir uma quantidade enorme de pós graduações, mestrado e doutorado feitos na Polônia, cujo idioma domina melhor que muitos polacos.
Já no nosso primeiro contato fui direto ao ponto: qual o termo certo, polaco ou polonês? E pacientemente ele me explicou (como bom professor que é) que ambos estão certos e que polaco é aceitável no mundo todo, sem qualquer depreciação aos filhos da Polônia. E logo foi me mostrando seus livros como "Polacos do Brasil", "Polaco" e "Saga dos Polacos". Um tsunami de cultura e conhecimento sobre a polacada da nossa terrinha. Leitura obrigatória para quem tem "ki" no final do sobrenome.
Eu, particularmente fiquei feliz e satisfeita com a explicação. Mas, nem sempre foi assim. O próprio Ulisses me contou os perrrengues que enfrentou para garantir o polaco em suas capas. Certa feita, num de seus primeiros lançamentos - e tendo ele mesmo que vender seus livros - foi de mala e cuia para uma cidadezinha do interior habitada por muitos polacos, na esperança de sucesso. Logo que montou seu stand de venda, uma pequena fila se fez até a chegada de um nada amistoso suposto leitor que se aproximou e lhe desferiu um certeiro murro no rosto, acabando com o modesto evento. Ele simplesmente não admitia que alguém ousasse usar a palavra "polaco" para se dirigir à sua etnia.
Outros inconformados passaram pelos lançamentos de livros do Ulisses, como um que juntou todos os exemplares que pode e os atirou pela janela do primeiro andar da livraria; e ainda outro que chegou gritando e virou a mesa, derrubando tudo o que tinha pela frente. Mas, superadas estas desagradáveis situações, a vida seguiu seu rumo.
Novos livros foram escritos e recentemente nosso intrépido jornalista estreou na tela grande o documentário "Cemitério sem Tumbas Auschwitz Birkenau", quando conversou com a plateia e contou sobre suas experiências como guia turístico nos campos de concentração de Auschwitz Birkenau e Plaszow por quatro anos.