Em 26 de novembro de 1855, Adam Mickiewicz morreu em Istambul. O poeta estava na Turquia há semanas, tentando organizar tropas polacas e judaicas para lutar na guerra russo-turca em curso.
Mickiewicz, que está se aproximando dos sessenta anos, até agora gozava de boa saúde, mas viagens frequentes, falta de sono e alimentação insuficiente afetaram seu corpo. A morte de sua esposa, em março daquele ano, causou-lhe preocupações adicionais. Apesar disso, não havia indicação de que esse homem não tão velho estivesse prestes a se despedir deste mundo.
Naquele dia, Mickiewicz acordou de manhã, pediu um chá e adormeceu novamente. Quando acordou, provavelmente estava vomitando, mas se sentia muito bem. Ele foi visitado por várias pessoas, incluindo o coronel Emil Bednarczyk, o suposto líder do regimento judeu.
Por volta do meio-dia, o poeta tomou café com creme e comeu um pedaço de pão, depois tirou uma soneca de uma hora. Inesperadamente, ele se sentiu muito pior, mal conseguia ficar de pé, mas não queria voltar para a cama.
Um total de quatro médicos foram trazidos, mas a condição do paciente piorava rapidamente. Ele recebeu láudano, o que aliviou um pouco sua dor. Ele ordenou chamar um padre que administrou a extrema-unção ao moribundo.
O poeta dirigiu as suas últimas palavras ao Coronel Bednarczyk: “Diga apenas às crianças, deixe-as amarem-se umas às outras. Sempre."
Na certidão de óbito, o médico local Jan Gembicki registrou a causa da morte como hemorragia cerebral. Henryk Służalski, um dos companheiros de Mickiewicz, afirmou que o poeta foi morto por cólera, mas se esta doença tivesse sido mencionada na certidão de óbito, o corpo de Adam não teria sido transportado para França.
Rumores de envenenamento surgiram rapidamente; foi apontado que ninguém na comitiva do poeta estava infectado e que não havia epidemia em Constantinopla naquela época. A causa da morte de Mickiewicz continua a ser uma questão controversa até hoje.
Versos do poema "Polonaise" de Adam Mickiewicz traduzidos pelo poeta curitibano Paulo Leminski:
Choveram-me lágrimas limpas, ininterruptas,
Na minha infância campestre, celeste,
Na mocidade de alturas e loucuras,
Na minha idade adulta, idade de desdita;
Choveram-me lágrimas limpas, ininterruptas...
Adam Bernard Mickiewicz nasceu em 24 de dezembro de 1798, na Vila de Zaosie, então pertencente a uma governadoria russa, e que se encontra atualmente no território da Bielorrússia. Zaosie está localizada na província de Brest, região de Baranowicki. Ele faleceu em Istambul, então Império Otomano, em 26 de novembro de 1855.
ALPUJARRA
Poema de Adam Mickiewicz,
traduzido pelo escritor brasileiro Machado de Assis
Jaz em ruinas torrão dos mouros;
Pesados ferros o infiel arrasta;
Inda resiste a intrepida Granada;
Mas em Granada a peste assola os povos.
C’um punhado de heroes sustenta a luta
Fero Almansor nas torres de Alpujarra;
Fluctua perto a hispanica bandeira;
Hade o sol d’amanhã guiar o assalto.
Deu signal, ao romper, do dia, o bronze;
Arrasam-se trincheiras e muralhas;
No alto dos minarets erguem-se as cruzes;
Do castelhano a cidadella é presa.
Só, e vendo as cohortes destroçadas,
O valente Almansor apoz a luta
Abre caminho entre as imigas lanças,
Foge e illude os christãos que o perseguiam.
Sobre as quentes ruinas do castello,
Entre corpos e restos da batalha,
Dá um banquete o Castelhano, e as presas
E os despojos pelos seus reparte.
Eis que o guarda da porta falla aos chefes:
«Um cavalleiro, diz, de terra estranha
Quer fallar-vos; — noticias importantes
Declara que voz traz, e urgencia pede.»
Era Almansor, o emir dos Musulmanos,
Que, fugindo ao refugio que buscára,
Vem entregar-se ás mãos do castelhano,
A quem só pede conservar a vida.
«Castelhanos, exclama, o emir vencido
No limiar do vencedor se prostra;
Vem professar a vossa fé e culto
E crer no verbo dos prophetas vossos.
«Espalhe a fama pela terra toda
Que um arabe, que um chefe de valentes,
Irmão dos vencedores quiz tornar-se,
E vassallo ficar de estranho sceptro!»
Cala no animo nobre ao Castelhano
Um acto nobre... O chefe commovido,
Corre a abraçal-o, e á sua vez os outros
Fazem o mesmo ao novo companheiro.
Ás saudações responde o emir valente
Com saudações. Em cordial abraço
Aperta ao seio o commovido chefe,
Toma-lhe as mãos e pende-lhe dos labios.
Subito cahe, sem forças, nos joelhos;
Arranca do turbante, e com mão tremula
O enrola aos pés do chefe admirado,
E junto delle arrasta-se por terra.
Os olhos volve em torno e assombra a todos:
Tinha azuladas, lividas as faces,
Torcidos labios por feroz sorriso,
Injectados de sangue avidos olhos.
«Desfigurado e pallido me vêdes,
Ó infieis! Sabeis o que vos trago?
Enganei-vos: eu volto de Granada,
E a peste fulminante aqui vos trouxe.»
Ria-se ainda — morto já — e ainda
Abertos tinha as palpebras e os labios;
Um sorriso infernal de escarneo impresso
Deixára a morte nas feições do morto.
Da medonha cidade os castelhanos
Fogem. A peste os segue. Antes que a custo
Deixado houvessem de Alpujarra a serra,
Succumbiram os ultimos soldados.
Jaz em ruinas torrão dos mouros;
Pesados ferros o infiel arrasta;
Inda resiste a intrepida Granada;
Mas em Granada a peste assola os povos.
C’um punhado de heroes sustenta a luta
Fero Almansor nas torres de Alpujarra;
Fluctua perto a hispanica bandeira;
Hade o sol d’amanhã guiar o assalto.
Deu signal, ao romper, do dia, o bronze;
Arrasam-se trincheiras e muralhas;
No alto dos minarets erguem-se as cruzes;
Do castelhano a cidadella é presa.
Só, e vendo as cohortes destroçadas,
O valente Almansor apoz a luta
Abre caminho entre as imigas lanças,
Foge e illude os christãos que o perseguiam.
Sobre as quentes ruinas do castello,
Entre corpos e restos da batalha,
Dá um banquete o Castelhano, e as presas
E os despojos pelos seus reparte.
Eis que o guarda da porta falla aos chefes:
«Um cavalleiro, diz, de terra estranha
Quer fallar-vos; — noticias importantes
Declara que voz traz, e urgencia pede.»
Era Almansor, o emir dos Musulmanos,
Que, fugindo ao refugio que buscára,
Vem entregar-se ás mãos do castelhano,
A quem só pede conservar a vida.
«Castelhanos, exclama, o emir vencido
No limiar do vencedor se prostra;
Vem professar a vossa fé e culto
E crer no verbo dos prophetas vossos.
«Espalhe a fama pela terra toda
Que um arabe, que um chefe de valentes,
Irmão dos vencedores quiz tornar-se,
E vassallo ficar de estranho sceptro!»
Cala no animo nobre ao Castelhano
Um acto nobre... O chefe commovido,
Corre a abraçal-o, e á sua vez os outros
Fazem o mesmo ao novo companheiro.
Ás saudações responde o emir valente
Com saudações. Em cordial abraço
Aperta ao seio o commovido chefe,
Toma-lhe as mãos e pende-lhe dos labios.
Subito cahe, sem forças, nos joelhos;
Arranca do turbante, e com mão tremula
O enrola aos pés do chefe admirado,
E junto delle arrasta-se por terra.
Os olhos volve em torno e assombra a todos:
Tinha azuladas, lividas as faces,
Torcidos labios por feroz sorriso,
Injectados de sangue avidos olhos.
«Desfigurado e pallido me vêdes,
Ó infieis! Sabeis o que vos trago?
Enganei-vos: eu volto de Granada,
E a peste fulminante aqui vos trouxe.»
Ria-se ainda — morto já — e ainda
Abertos tinha as palpebras e os labios;
Um sorriso infernal de escarneo impresso
Deixára a morte nas feições do morto.
Da medonha cidade os castelhanos
Fogem. A peste os segue. Antes que a custo
Deixado houvessem de Alpujarra a serra,
Succumbiram os ultimos soldados.