Uma brasileira, carioca, paulista de adoção, filha de polaca expulsa junto com seus avôs da Polônia, pelas atrocidades da Segunda Guerra Mundial, teve três de suas fotos, escolhidas para representar o Brasil, na exposição "Polish Paradise", que abre neste 19 de maio, na Galeria Lue Lue, na ulica (pronuncia-se ulitssa e traduzida para rua) Miodowa (pronuncia-se miódóva e traduzida para "do mel") nrº 22, no bairro judeu do Kazimierz (pronuncia-se cájimiéj e traduzida para Casimiro), em Cracóvia.
Seu nome: Ana Cristina Panek.
As fotos escolhidas:
"Não existe escuridão suficiente no mundo capaz de apagar a chama de uma pequena vela." Gautama Buddha |
"Ao longo de um inverno, eu aprendi, que existe dentro de mim, um indestrutível verão." Albert Camus |
"Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história." Hannah Arendt |
As três fotos já fizeram parte da exposição "Minha Polônia", que Ana Cristina realizou, em São Paulo, no Espaço Oficina, ano passado, de 8 de março a 15 de maio.
Agora é a vez destas fotos transporem o Atlântico mais uma vez, agora não mais na memória da máquina fotográfica, mas em painéis e poderem ser vistas por milhares de pessoas em Cracóvia, na Polônia.
A exposição "Polish Paradise" (Paraíso Polaco) com fotos de nove fotógrafos estrangeiros apresenta as perspectivas e impressões que fizeram da Polônia a casa de cada um deles.
Através das lentes de suas câmeras, eles capturaram com nitidez incomum a beleza, simplicidade e nuances da realidade polaca.
Segundo os organizadores da mostra é extremamente importante enfatizar a presença destas pessoas na sociedade polaca, a contribuição delas no contexto da tradição, língua e história. E principalmente mostrar a forma como estes fotógrafos moldam sua compreensão da identidade polaca.
Ainda segundo os objetivos da exposição, este olhar estrangeiro, captura em um ambiente de diversidade étnica verdadeiramente multicultural, os valores e crenças que coexistem não só como um elemento bonito, mas também como impulsos no sentido de prosperar ainda mais o acolhimento tão necessário no processo de adaptação e assimilação.
Segundo os organizadores da mostra é extremamente importante enfatizar a presença destas pessoas na sociedade polaca, a contribuição delas no contexto da tradição, língua e história. E principalmente mostrar a forma como estes fotógrafos moldam sua compreensão da identidade polaca.
Ainda segundo os objetivos da exposição, este olhar estrangeiro, captura em um ambiente de diversidade étnica verdadeiramente multicultural, os valores e crenças que coexistem não só como um elemento bonito, mas também como impulsos no sentido de prosperar ainda mais o acolhimento tão necessário no processo de adaptação e assimilação.
Nos meios de divulgação da exposição é salientado que a questão do pluralismo cultural "nunca foi mais importante do que é hoje, mas que se a identidade foi igualmente crucial para as gerações anteriores, assim o é para as sociedades modernas".
No convite, a frase do mais importante jornalista polaco de todos os tempos Ryszard Kapuściński, "Inny (…) to zwierciadło, w którym się przeglądam, które uświadamia mi, kim jestem.” (Outros (...) são o espelho no qual eu olho para mim e que me diz quem eu sou.) soa como um epíteto, mas também traduz de forma clara qual é o objetivo da exposição cracoviana.
A representante brasileira Ana Cristina Panek se define como "uma brasileira totalmente polaca". Ela explica dizendo que, "parece fácil me definir com essa simples frase, mas ao refletir em sua essência, sinto uma súbita asfixia, um caso de melancolia Vistuliana."
Panek reconhece que precisou de muita coragem para se definir desta forma, "pois significa dizer que sou descendente de um país obsessivamente insano sobre sua própria história, mas que adora ostentar sua magnífica alma heróica."
Segundo ela, "ser polaco, é nunca ser neutro". Assim ao se assumir com este perfil, ela está aceitando seu envolvimento através de "emoções extremas de amor e ódio".
Talvez tenha sido isso que motivou essa cientista brasileira a buscar na fotografia um meio de "sublimar estes sentimentos, permitindo-me um distanciamento da realidade de forma a conhecer e muitas vezes entender".
Ana Cristina Panek começou a, de fato, conhecer a Polônia em 2008, quando pela primeira vez acompanhou a mãe Anita em seu retorno à sua terra natal, Cracóvia.
Junto com a mãe percorreu ruas, praças, lugares desconhecidos de seus olhos, mas vivos em sua memória, através das recordações maternas. Foram momentos de reconhecimento de sua própria identidade. Desde então procurou formas de registrar estas emoções através das lentes da máquina fotográfica.
Ao analisar o resultado de suas impressões nas centenas de fotos que foi clicando pelos caminhos da capital cultural e coração da Polônia, Ana Cristina afirma que, a "Minha Polônia é um estado de espírito: uma loucura coletiva dócil e uma beleza singela.
Existe um profundo paradoxo: vejo a beleza e vejo o lado obscuro de quase tudo.
Para mim, estas lições de impermanência são amaciadas pelos imutáveis escapes da minha vida.
Preciso sempre de mais tempo.
Sempre preciso, deixá-la de forma a poder voltar com uma nova perspectiva".
Ana Cristina Panek, nasceu no Rio de Janeiro, onde viveu até 1986, quando mudou-se para São Paulo. Filha da imigrante polaca Anita Dolly Panek. Casada com Pedro Soares de Araújo, tem um casal de filhos.
Formada em Biomedicina pela Universidade do Estado da Guanabara, especializou-se em Patologia. É mestre em biofísica e doutora em bioquímica.
A abertura da coletiva acontece no dia 20 de maio às 19 horas e permanece aberta até 30 de junho.
As fotos de Ana Cristina Panek, Behit Onat, Chris Wilson, Cinar Timur, Lilit Muradian, Lylia Khudzik, Luca Mattia Vigilante, Nuno Vilela, Penny Turner poderão ser adquiridas na galeria cracoviana até o final de julho.