segunda-feira, 8 de maio de 2017

Fotógrafa brasileira expõe em Cracóvia

Uma brasileira, carioca, paulista de adoção, filha de polaca expulsa junto com seus avôs da Polônia, pelas atrocidades da Segunda Guerra Mundial, teve três de suas fotos, escolhidas para representar o Brasil, na exposição "Polish Paradise", que abre neste 19 de maio, na Galeria Lue Lue, na ulica (pronuncia-se ulitssa e traduzida para rua) Miodowa (pronuncia-se miódóva e traduzida para "do mel") nrº 22, no bairro judeu do Kazimierz (pronuncia-se cájimiéj e traduzida para Casimiro), em Cracóvia.

Seu nome: Ana Cristina Panek.

As fotos escolhidas:
"Não existe escuridão suficiente no mundo capaz de apagar a chama de uma pequena vela."
Gautama Buddha

"Ao longo de um inverno, eu aprendi, que existe dentro de mim, um indestrutível verão."
Albert Camus
"Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história."
Hannah Arendt

























As três fotos já fizeram parte da exposição "Minha Polônia", que Ana Cristina realizou, em São Paulo, no Espaço Oficina, ano passado, de 8 de março a 15 de maio.
Agora é a vez destas fotos transporem o Atlântico mais uma vez, agora não mais na memória da máquina fotográfica, mas em painéis e poderem ser vistas por milhares de pessoas em Cracóvia, na Polônia.

A exposição "Polish Paradise" (Paraíso Polaco) com fotos de nove fotógrafos  estrangeiros apresenta as perspectivas e impressões que fizeram da Polônia a casa de cada um deles. Através das lentes de suas câmeras, eles capturaram com nitidez incomum a beleza, simplicidade e nuances da realidade polaca.
Segundo os organizadores da mostra é extremamente importante enfatizar a presença destas pessoas na sociedade polaca, a contribuição delas no contexto da tradição, língua e história. E principalmente mostrar a forma como estes fotógrafos moldam sua compreensão da identidade polaca.
Ainda segundo os objetivos da exposição, este olhar estrangeiro, captura em um ambiente de diversidade étnica verdadeiramente multicultural, os valores e crenças que coexistem não só como um elemento bonito, mas também como impulsos no sentido de prosperar ainda mais o acolhimento tão necessário no processo de adaptação e assimilação.

Nos meios de divulgação da exposição é salientado que a questão do pluralismo cultural "nunca foi mais importante do que é hoje, mas que se a identidade foi igualmente crucial para as gerações anteriores, assim o é para as sociedades modernas".

No convite, a frase do mais importante jornalista polaco de todos os tempos Ryszard Kapuściński, "Inny (…) to zwierciadło, w którym się przeglądam, które uświadamia mi, kim jestem.” (Outros (...) são o espelho no qual eu olho para mim e que me diz quem eu sou.) soa como um epíteto, mas também traduz de forma clara qual é o objetivo da exposição cracoviana.

A representante brasileira Ana Cristina Panek se define como "uma brasileira totalmente polaca". Ela explica dizendo que, "parece fácil me definir com essa simples frase, mas ao refletir em sua essência, sinto uma súbita asfixia, um caso de melancolia Vistuliana."

Panek reconhece que precisou de muita coragem para se definir desta forma, "pois significa dizer que sou descendente de um país obsessivamente insano sobre sua própria história, mas que adora ostentar sua magnífica alma heróica."

Segundo ela, "ser polaco, é nunca ser neutro". Assim ao se assumir com este perfil, ela está aceitando seu envolvimento através de "emoções extremas de amor e ódio".
Talvez tenha sido isso que motivou essa cientista brasileira a buscar na fotografia um meio de "sublimar estes sentimentos, permitindo-me um distanciamento da realidade de forma a conhecer e muitas vezes entender".



Ana Cristina Panek começou a, de fato, conhecer a Polônia em 2008, quando pela primeira vez acompanhou a mãe Anita em seu retorno à sua terra natal, Cracóvia.
Junto com a mãe percorreu ruas, praças, lugares desconhecidos de seus olhos, mas vivos em sua memória, através das recordações maternas. Foram momentos de reconhecimento de sua própria identidade. Desde então procurou formas de registrar estas emoções através das lentes da máquina fotográfica.


Ao analisar o resultado de suas impressões nas centenas de fotos que foi clicando pelos caminhos da capital cultural e coração da Polônia, Ana Cristina afirma que, a "Minha Polônia é um estado de espírito: uma loucura coletiva dócil e uma beleza singela. Existe um profundo paradoxo: vejo a beleza e vejo o lado obscuro de quase tudo. Para mim, estas lições de impermanência são amaciadas pelos imutáveis escapes da minha vida. Preciso sempre de mais tempo. Sempre preciso, deixá-la de forma a poder voltar com uma nova perspectiva".

Ana Cristina Panek, nasceu no Rio de Janeiro, onde viveu até 1986, quando mudou-se para São Paulo. Filha da imigrante polaca Anita Dolly Panek. Casada com Pedro Soares de Araújo, tem um casal de filhos.

Formada em Biomedicina pela Universidade do Estado da Guanabara, especializou-se em Patologia. É mestre em biofísica e doutora em bioquímica.



A abertura da coletiva acontece no dia 20 de maio às 19 horas e permanece aberta até 30 de junho.

As fotos de Ana Cristina Panek, Behit Onat, Chris Wilson,  Cinar Timur, Lilit Muradian, Lylia Khudzik, Luca Mattia Vigilante, Nuno Vilela, Penny Turner poderão ser adquiridas na galeria cracoviana até o final de julho.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Hungria e Polônia cada vez mais autoritárias

Hungria e Polônia estão cada vez mais autoritárias e menos democráticas.


Estado da democracia na Europa Central e de Leste é cada vez mais preocupante, de acordo com o relatório Nations in Transit 2017.

Na Rússia, o nível de repressão e de violência contra a sociedade civil poderá aumentar este ano. O retrato para 2017 é tudo, menos animador: existem mais países em declínio democrático do que a melhorar, de acordo com o relatório da organização sem fins lucrativos Freedom House, apresentado este mês.

E quando concentramos a atenção na Europa Central e do Leste, o cenário chega a ser alarmante. E claro, existe ainda a Rússia, classificada como um regime autoritário consolidado. No que diz respeito ao país de Vladimir Putin, a Freedom House prevê que "com as autoridades a continuar evitando mudanças democráticas num ambiente turbulento, isso poderá significar um aumento do nível de repressão e mesmo violência contra a sociedade civil e atores políticos e de meios de comunicação independentes".

Mas enquanto o índice democrático tem piorado cada vez mais na Rússia nos últimos anos - numa escala de 1 a 7, sendo que o 7 é um regime pouco democrático, Moscou tem estado sempre acima dos 6,5 desde 2009 -, atualmente alarmante é a situação na Europa Central e de Leste.

Nesta região, 18 dos 27 países desceram o seu coeficiente democrático e, tendo em conta que dez deles pertencem à União Europeia, o cenário torna-se ainda mais preocupante. De acordo com o Nations in Transit 2017, são dois os que se destacam: Hungria e Polônia, países tidos como casos de sucesso na transição do comunismo para o capitalismo, mas que se estão se tornando regimes cada vez mais autoritários e menos democráticos.

"A grande diferença entre a Hungria de Orbán e a Polônia de Kaczyński, no entanto, é que o PiS está transformando o cenário polaco numa velocidade rápida e violando as próprias leis do país. Com uma supermaioria parlamentar, o Fidesz foi capaz de reescrever a Constituição e a estrutura legislativa de maneira formalmente legal, apesar de clara violação dos princípios da democracia liberal", explica num ensaio Nate Schenkkan, o diretor do Nations in Transit.

Outra das grandes diferenças entre os dois países é o fato de Viktor Orbán ser o primeiro-ministro eleito da Hungria e Jarosław Kaczyńsky ser apenas o líder do Partido Direito e Justiça (PiS) - uma condenação por fraude eleitoral impede-o de ocupar cargos públicos -, mas é ele quem controla governo e presidente. Classificada no relatório como uma democracia semiconsolidada, a Hungria tem visto o seu o índice democrático descer desde que Orbán chegou ao poder, em 2010, tendo este ano apresentado o maior declínio entre os países analisados.

"Na Hungria, o primeiro-ministro Viktor Orbán e o seu partido Fidesz têm-se consolidado no poder cada vez mais desde 2010, alimentando o fanatismo e o ódio através de uma campanha anti-imigração. Tendo passado os primeiros anos reescrevendo a Constituição, tomando conta dos tribunais e pervertendo o sistema eleitoral, o governo eliminou agora a maior parte dos jornalistas críticos e criou uma eficiente máquina de uso do Estado para fins privados e uma grande corrupção. Com as eleições de 2018 perto, o Fidesz está a virar as suas atenções para a sociedade civil, ameaçando varrer organizações suportadas por fundos estrangeiros", refere Schenkkan. O caso mais mediático tem que ver com a Universidade Centro-Europeia (CEU), localizada em Budapeste e fundada em 1991, pelo norte-americano de cidadania, mas húngaro de nascimento, George Soros.

A União Europeia abriu processo legal contra a Hungria por causa da ameaça de encerrar a CEU, afirmando que a nova lei de ensino superior húngara viola a liberdade acadêmica e os valores democráticos, dando um mês ao governo para responder. Horas antes, num debate no Parlamento Europeu, Orbán defendeu sua lei e disse que a Hungria continua comprometida com a UE, mas acusou Soros de "atacar" o seu país.

A UE pode impor sanções à Hungria se esta não responder de forma adequada, mas a margem para punir o país é limitada. A aplicação de sanções implicaria em unanimidade dos outros 27 Estados membros e Orbán conta com o apoio dos seus aliados da Polônia para impedir qualquer ação mais radical. Luta contra o Constitucional. A Polônia registou este ano a sua pior classificação no Nations in Transit desde a sua criação em 1995, o que se deve ao facto do PiS ter atuado de forma muito semelhante aos primeiros anos do Fidesz.

"Imediatamente depois de ganhar as eleições no final de 2015, o PiS montou um flagrante ataque ao Tribunal Constitucional e apressou uma ainda influente comunicação social pública ao mudar a lei de nomeação dos seus diretores de alto escalão e ao mudar a política editorial", escreveu o diretor da Freedom House. As mudanças no Constitucional - que Kaczyński já classificou como "o bastião de tudo o que é mau na Polônia" - levaram a Comissão Europeia a abrir uma investigação sobre o funcionamento do Estado de direito. Sem consequências até agora.

A situação no Parlamento também não é pacífica. Os deputados da oposição ocuparam a sala do plenário dias à fio por causa da decisão em limitar o acesso dos jornalistas aos trabalhos parlamentares, mas também porque pretendiam a repetição do debate e votação do Orçamento para 2017, que foi votado fora do plenário e só na presença de deputados aliados do governo.

Já este mês soube-se que Varsóvia está trabalhando num projeto de lei que permita deter candidatos a asilo em campos fronteiriços, defendendo que tal política teve bons resultados na Hungria.

Fonte: Diário de Notícias - Lisboa
Texto: Ana Meireles
Adaptação de texto para o português do Brasil: Ulisses Iarochinski