Drones que entram nos céus da Polônia vindos do leste devem ser abatidos, disse ministro da defesa.
O ministro da Defesa polaco, Władysław Kosiniak-Kamysz, disse nesta terça-feira (9/9) que o exército do país deve interceptar drones que invadam o espaço aéreo pelo leste, acrescentando que a decisão final cabe ao Comando Operacional.
O comentário foi feito um dia após destroços de um drone com marcas em cirílico terem sido encontrados na vila de Polatycze distrito de de Terespol, na cidade de Biała Podlaska, na Voivodia de Lublin, no leste da Polônia, na noite de domingo para segunda-feira, a cerca de 300 metros da fronteira com a Bielorrússia.
O incidente ocorreu após um caso semelhante na mesma província de Lublin, quando destroços de um drone foram descobertos a 50 quilômetros da fronteira do país com a Ucrânia, em guerra, no último sábado.
As autoridades disseram que o primeiro drone não tinha marcas militares e que o segundo era de contrabando.
Além disso, em agosto, um drone entrou na Polônia vindo da Bielorrússia e explodiu em um milharal na Voivodia de Lublin.
Kosiniak-Kamysz afirmou que o objeto provavelmente era um drone russo e descreveu o incidente como "uma provocação da Federação Russa".
Em entrevista à Radio Zet, na terça-feira, Kosiniak-Kamysz disse que a decisão de derrubar drones estrangeiros exige "discernimento e habilidade", observando que a Polônia, que enfrenta uma guerra em andamento, geralmente lida com drones armados, de disfarce ou de contrabando.
"Esta é uma decisão difícil... Há dias em que mais de 800 drones sobrevoam a Ucrânia. Os incidentes que ocorreram na Polônia desde que o conflito armado entrou em seu quarto ano estão se repetindo em outros países também, e cada um está considerando como responder", continuou.
Ele acrescentou que "este é o comandante operacional e todo o sistema de defesa aérea que têm que decidir se a interceptação causa maior ou menor dano aos civis".
Ele também se dirigiu aos moradores das cidades e vilas que fazem fronteira com os países do leste, prometendo que os serviços tomarão todas as medidas possíveis para garantir sua segurança em meio aos ataques russos à Ucrânia.
Enquanto isso, Maciej Duszczyk, vice-ministro do Ministério do Interior, repetiu a afirmação de Kosiniak-Kamysz, na terça-feira, de que os drones pousando em solo polaco são provavelmente iscas e anunciou que Varsóvia solicitou à Comissão Europeia que facilitasse a construção do chamado "muro de drones".
"Também solicitamos financiamento à Comissão Europeia na semana passada, provavelmente para grande parte desta barreira para drones", disse Duszczyk, referindo-se ao projeto conjunto da Polônia com os países bálticos, Finlândia e Noruega.
Duszczyk disse que mesmo quando essas armas entram no espaço aéreo do país, elas não representam uma ameaça à Polônia, pois logo são redirecionadas para a Ucrânia para atacar seu oeste.
"O custo de derrubá-los pode ser maior do que simplesmente deixá-los voar", acrescentou.
Falando sobre os drones de contrabando, Duszczyk explicou que a maioria deles entra ilegalmente na Polônia, transportando cigarros não tributados da Bielorrússia e acabando nas mãos de agentes de fronteira polacos. Os drones mais recentes, no entanto, não eram desse tipo.
ATAQUES NA MADRUGADA DE QUARTA-FEIRA
Polônia abateu drones russos em seu espaço aéreo e chama a incursão de "ato de agressão".
A Polônia disse que enviou suas próprias defesas aéreas e as da OTAN para abater drones na quarta-feira (10/9) após um ataque aéreo russo no oeste da Ucrânia, a primeira vez na guerra da Ucrânia, que Varsóvia engajou ativos em seu espaço aéreo.
O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, afirmou estar em "contato constante" com o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte.
Tusk convocou uma reunião de emergência do conselho de ministros para as 8h (06h00 GMT), informou um porta-voz do governo.
O comando militar polaco disse que drones violaram repetidamente o espaço aéreo polaco durante o ataque russo na fronteira, no oeste da Ucrânia, mas que as operações contra essas violações já foram concluídas.
Os radares rastrearam mais de 10 objetos voadores e aqueles que poderiam representar uma ameaça foram "neutralizados", disse o comando.
"Alguns dos drones que entraram em nosso espaço aéreo foram abatidos. Buscas e esforços para localizar os possíveis locais de queda desses objetos estão em andamento", afirmou a empresa em um comunicado.
O governo pediu que as pessoas ficassem em casa, citando as regiões de Podlasie, Mazóvia e Lublin como as de maior risco, acrescentando: "Este é um ato de agressão que representa uma ameaça real à segurança dos nossos cidadãos".
Desde o início da guerra em 2022, houve vários incidentes de drones russos entrando no espaço aéreo de Estados que fazem fronteira com a Ucrânia, incluindo Polônia e Romênia, mas até agora eles conseguiram evitar derrubá-los.
Autoridades citaram o perigo físico que tais ações poderiam causar e o desejo de evitar uma escalada nas tensões entre a Rússia e a OTAN.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sybiha, disse que as violações do espaço aéreo polaco mostram que o presidente russo, Vladimir Putin, está expandindo sua guerra e testando o Ocidente.
"Quanto mais tempo ele não enfrentar forças para responder, mais agressivo ele se tornará", disse Sybiha no X.
"Uma resposta fraca agora provocará ainda mais a Rússia — e então os mísseis e drones russos voarão ainda mais para dentro da Europa."
AEROPORTO FECHADO
O aeroporto Chopin, em Varsóvia, o maior do país, fechou seu espaço aéreo por várias horas antes de reabrir. A empresa informou que haveria interrupções e atrasos ao longo do dia.
A maior parte da Ucrânia, incluindo as regiões ocidentais da Volínia e Lwów, que fazem fronteira com a Polônia, estava sob alertas de ataque aéreo durante quase toda a noite, de acordo com a força aérea ucraniana.
Anteriormente, a força aérea da Ucrânia relatou que drones russos haviam entrado no espaço aéreo da Polônia, membro da OTAN, representando uma ameaça à cidade de Zamość, mas posteriormente removeu essa declaração do aplicativo de mensagens Telegram.
MÍSSIL UCRÂNIANO
A Polônia está em alerta máximo para objetos que entram em seu espaço aéreo desde que um míssil ucraniano perdido atingiu uma vila no sul da Polônia em 2022, matando duas pessoas, alguns meses após o início da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia.
A Polônia havia dito anteriormente que fecharia sua fronteira com a Bielorrússia, na quinta-feira à meia-noite, horário local, como resultado dos exercícios militares liderados pela Rússia que estão ocorrendo na Bielorrússia.
Os exercícios militares em larga escala da Rússia e da Bielorrússia, conhecidos como exercícios "Zapad", levantaram preocupações de segurança nos Estados vizinhos membros da OTAN, Polônia, Lituânia e Letônia.
TRATADO DA OTAN 4.º
A Lituânia disse que as defesas ao longo de sua fronteira com a Bielorrússia e a Rússia seriam reforçadas devido aos exercícios.
A Polônia confirmou que solicitou a invocação do artigo 4.º do Tratado da Otan após dezenas de drones terem invadido o espaço aéreo do país.
Numa declaração ao parlamento polaco, Donald Tusk confirmou a decisão de acionar o artigo, tomada após conversações com o presidente do país, Karol Nawrocki, que já informou que planejava convocar o Conselho de Segurança Nacional do país dentro de 48 horas.
Nawrocki descreveu o incidente como um "ataque sem precedentes na história da Otan" e agradeceu aos pilotos e aliados pela sua ação eficaz.
"As consultas entre os aliados acabam de assumir a forma de um pedido formal de ativação do artigo 4.º do Tratado do Atlântico Norte.
O artigo 4.º estabelece que as partes procederão a consultas conjuntas sempre que, na opinião de qualquer uma delas, a integridade territorial, a independência política ou a segurança de qualquer uma das partes estiver ameaçada", explicou o primeiro-ministro polaco durante a sua invertenção no parlamento.
A Polônia abateu os aparelhos que sobrevoaram o país em direção à Ucrânia. Para Donald Tusk é claro que o incidente representa uma escalada da ameaça russa para os polacos.
"Não há dúvida de que esta provocação é incomparavelmente mais perigosa do ponto de vista da Polônia do que as anteriores", afirmou.
O artigo 4.º do Tratado do Atlântico Norte, também conhecido como Tratado de Washington, prevê a possibilidade de consultas conjuntas entre os Estados-membros da Otan quando qualquer um dos aliados considerar que as suas fronteiras, independência política ou segurança estão ameaçadas.
Esta disposição prevê um mecanismo de resposta diplomática a uma potencial ameaça antes de serem tomadas outras medidas de caráter militar.
"Ações dizem mais que palavras"
As forças militares polacas rapidamente abateram os aparelhos que sobrevoavam o espaço aéreo do país, com Donald Tusk a congratulando o comando operacional, "A DORSZ aumentou a prontidão das suas forças e meios tendo em conta as informações. Para além dos sistemas terrestres, foram ativados aviões de alerta precoce para operações aéreas. Tratou-se de uma ação da Otan. Dois F-35, dois F-16, helicópteros Mi-17, Mi-24 e um Black Hawk foram desviados para a zona de operação prevista", detalhou o primeiro-ministro no parlamento.
Tusk reforçou a gravidade do incidente, indicando que o incidente não se tratou de um erro ou "pequena provocação. Esta é a primeira vez que um número significativo de drones voou diretamente da Bielorrússia", explicou.
"Os procedimentos funcionaram, o processo de decisão foi perfeito, a ameaça foi eliminada graças à determinação dos comandantes, soldados, pilotos e também dos aliados. Estamos muito, provavelmente, a lidar com uma provocação em grande escala", reforçou.
Apesar da gravidade do incidente e das consultas com os aliados que, segundo Tusk, "estão a levar a situação muito a sério", o líder polaco indicou que não é tempo de alarmismo desmedido.
"Não há motivo para pânico, a vida vai continuar normalmente. Vamos informar os cidadãos sobre todos os acontecimentos para que haja clareza sobre o que está acontecendo no céu polaco, na fronteira polaca", afirmou.
"Situação sem precedentes" disse, o diretor do Gabinete de Segurança Nacional
Sławomir Cenckiewicz, diretor do Gabinete de Segurança Nacional (BBN) sublinhou que se trata de uma "situação sem precedentes" e lembrou a importância da parceria com os aliados da Otan para o sucesso de operações como esta.
"A reação que ocorreu esta noite não teria sido possível se não fosse a cooperação dos aliados".
KACZYŃSKI
A gravidade da situação foi também reforçada pelo presidente do partido da oposição PIS - Direito e Justiça, Jarosław Kaczyński.
"Estamos lidando hoje com um ataque à Polônia. Já não se trata de um acidente e de algo que possamos atribuir a ações imprevistas. Trata-se simplesmente de um ataque. É muito simbólico que, neste dia em que a unidade é necessária, aqueles que se manifestam sempre contra nós, contra a Polônia, sejam ainda mais descarados do que o habitual", afirmou.
UNIÃO EUROPEIA
Von der Leyen: Europa está solidária com a Polônia
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, mencionou o assunto no seu discurso anual perante o Parlamento Europeu, reafirmando a total solidariedade da Europa com a Polônia.
"Testemunhamos a violação gratuita e sem precedentes do espaço aéreo polaco e europeu por mais de 10 drones russos Shahed. A Europa está totalmente solidária com a Polônia".
Fontes: PAP Agência Estatal de Notícias Polônia, Euronews e Reuters
Tradução Ulisses Iarochinski