domingo, 26 de outubro de 2008

Diferença horária mudou


Foto: Rafał Mielnik / AG
As perguntas, neste domingo, mais comuns na Polônia são: "Que horas são agora? O relógio está marcando 11.06. Mudou o horário? Para mais ou para menos?" Semanas atrás a mudança, no Brasil, foi para o horário de verão, quando os relógios foram adiantados em uma hora, para aproveitar mais a luz do Sol no final da tarde. Pois aqui na Polônia, hemisfério Norte, os relógios foram atrasados à meia-noite deste domingo para o horário de inverno. Isto é para aproveitar melhor a luz do sol de manhã. A partir de agora até o final de março, as tardes aqui ficam mais curtas, o sol que ainda estava no céu às 22.30 em julho passado (verão), e até este sábado aparecendo às 19.00 horas, no final de novembro estará indo embora a partir das 15:30 da tarde... Às 16 horas, ou seja, a 4 da tarde cracoviana é escura no natal e no ano novo.
A diferença de fuso horário com o Brasil (horário oficial de Brasília) passa a ser de apenas 3 horas. Esta diferença vai aumentar no mês de março para 4 horas, quando acabar o horário de verão no Brasil e ficará maior em abril, quando acabar o horário de inverno polaco, teremos então 5 horas normais de fuso.
ENTÃO, AGORA TEMOS APENAS 3 HORAS DE DIFERENÇA A MAIS EM RELAÇÃO AO HORÁRIO OFICIAL BRASILEIRO DE VERÃO.

sábado, 25 de outubro de 2008

Portugal investe muito na Polônia

Basílio Horta, presidente da AICEPortugal

Já se foi o tempo, que a Polônia era de interesse apenas de brasileiros descendentes de polacos. A ligação com a pátria dos bisavôs sempre foi o maior atrativo de brasileiros para vir até aqui. As universidades sempre tiveram o maior cuidado com a questão da emigração para o Brasil. Até a entrada na União Européia, os poucos cursos em língua portuguesa nas universidades polacas era ensinado por brasileiros, ou por polacos que tinham aprendido e/ou estado no Brasil.
Agora os sotaque brasileiro vem perdendo espaço, não se sabe se por uma preferência, ou por ligações da União Européia, a verdade é que os portugueses já começam a aparecer mais que os brasileiros por aqui.
Mas não é só nessa área que as coisas estão mudando. Se existiam até há pouco tempo, uns 400 brasileiros na Polônia, segundo estimativa da Embaixada do Brasil em Varsóvia e nada de portugueses, estes agora, pelo menos em Cracóvia parecem ter superado os brasileiros. Se entre estudantes, ex-estudantes, conjugês de polacos, os brasileiros eram umas 30 pessoas, os portugueses já devem ter ultrapassado o número de 50 pessoas.
Na maioria "os gajos" são trabalhadores de empresas portuguesas. Isto por que, segundo Basílio Horta, presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), "A Polônia é a Espanha do Leste". Horta, esteve meses atrás em Varsóvia, para o lançamento da Câmara de Comércio Luso-Polaca, composta por pelo menos 60 empresas portuguesas já instaladas na Polônia. Segundo ele, o país é o quarto destino em termos de investimento português e o maior em trocas comerciais na Europa Central. A investida lusa começou em já 1990, quando o grupo de distribuição Jerónimo Martins (JM) abriu sua primeira loja de supermercado, o Biodronka, hoje, a maior rede de supermercados da Polônia e chegou a mais de 60 empresas, dados de 2008.
Já em 2006, a Polônia captou 8% do investimento português no estrangeiro, o que corresponde a 359 milhões de euros, ficando apenas atrás dos Países Baixos, da Espanha e do Brasil, com 28, 20% e 11%, respectivamente, segundo a AICEP. Além do Biedronka, o Millennium Bank, o banco do BCP na Polônia, atingiu, em 2007, os maiores lucros de todos os tempos (121,8 milhões de euros).
A construtora Mota-Engil também bateu à porta dos donos da Biedronka, tendo consultado Soares dos Santos, presidente do conselho de administração, antes de arriscar. Hoje, eles são responsáveis pela construção de todas as auto-estradas européias que estão cruzando o país de Oeste a Leste, Sul a Norte. A empresa Payup, por exemplo, abriu suas portase, em fevereiro último, com a ajuda da Eurocash, grupo de distribuição português que comprou 49% do seu capital e presta seus serviços em 300 lojas. Agora, vai colocar, pela primeira vez, nas suas prateleiras produtos nacionais importados pela Atlantika, mais uma empresa portuguesa que vem para investir forte na na Polônia.
Vítor Pinto, vice-presidente da Câmara do Comércio, está disposto a fazer "lobbying junto às autoridades polacas" para facilitar a vida das empresas portuguesas. Diz que vai apelar para se modificar a lei de licenciamento comercial, que não permite investir em lojas de grande porte e encomendar um estudo sobre o potencial de energias renováveis, setor em que dois grupos portugueses já operam na Polônia, a Eviva e a Infusion.

P.S. E o Brasil, hein? A APEX- Associação dos Produtores e Exportadores brasileiros recebeu um Pavilhão do governo Lula em Varsóvia e ainda conta com apenas uma funcionária. Comprar feijão preto, chá-mate, guaraná, chimarrão (tem muito estudante gaúcho aqui), pinga, café é praticamente impossível...Nos poucos lugares onde existe é porque o dono do local foi na Alemanha, ou Holanda comprar em lojas de brasileiros.

Ironia russa sobre Katyń

Cemitério Militar em Powązki. Comemoração do Dia da Memória às vítimas de Katyń.
Foto: Jerzy Dudek

Os russos tentam explicar os crimes cometidos contra os soldados polacos nas florestas de Katyń durante a segunda guerra mundial. "Alguns oficiais polacos mortos em Katyń poderiam ser espiões, guerrilheiros e terroristas", afirmou o promotor militar russo nesta sexta-feira.
Um dos promotores, Igor Blizjejew, discutiu no tribunal de Moscou, que não se pode reabilitar todos os oficiais polacos assassinados. Existem argumentos que permitem classificá-los como espiões, guerilheiros e terroristas. O promotor público pediu também atenção para o fato de que o exército polaco planejava atacar a Rússia. Somando, não se tem provas, de que eles tenham sido assassinados, mas apenas de que sumiram de suas famílias.

P.S. Vão ser irônicos assim lá na casa do Stalin, do Putin....

Europa sente a crise

A manchete principal de capa do jornal Rzeczpospolita, deste sábado 25 de outubro de 2008 é: "Europa abaixo da linha, ou seja, vida em tempos de crise". A matéria diz, entre outras coisas, que a Grã-Bretanha e Alemanha estão em recessão. Cairam também irlandeses dinamarqueses e estonianos. Na sexta-feira a maioria das economias do velho continente de novo tiveram uma séria caída. Europeus começaram a apertar os cintos.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

China abre as portas para Polônia

Os primeiros-ministros Donald Tusk e o Wen Jiabao em Pequim. Foto: AFP

Em sua visita oficial a China o chefe de governo da Polônia, primeiro-ministro Donald Tusk ouviu do também premier Wen Jiabao que a China desbloqueia a entrada dos produtos animais polacos no mercado de seu país. Por sua vez, Tusk disse que o comércio bilateral com a China será tratado de forma prioritária.
Os chineses também estão interessados em comprar tratores agrícolas e componentes elétricos da Polônia.

O rei era homossexual?


Władysław Warneńczyk. Foto: Wikipedia

O rei polaco Władysław Warneńczyk foi gay? Os organizadores das comemorações do aniversário do rei garantem que sim. Os historiadores têm dúvidas. Não ousam dizer que não era. Afinal faz tanto tempo, não?
Por isso o prefeito de Cracóvia já mandou avisar aos organizadores da festa que não irá estar presente nas comemorações da Juventude SdPl com a Sociedade Internacional de Gays e Lésbicas (ILGCN).
No dia 31 de outubro no Rynek Główny (Praça do Mercado Central) ou na Brama Floriańska (Portas Medievais da cidade da rua Florianska) acontecerá a apresentação "Gejowskie miłostki króla" (gueióvsqui miuóstqui crula - amores gays do rei). Depois do espetáculo, os organizadores planejam uma marcha até o Castelo de Wawel para colocarem flores no túmulo do rei.
A idéia dos organizadores com o evento é mostrar que séculos atrás, a Polônia, já garantia liberdade as minorias sexuais. "Hoje o mundo nos vê como homófobos, enquanto a história mostra, que este foi o único país no mundo onde não houve pena de morte por causa da orientação sexual de seus nacionais", sublinha Łukasz Pałucki da ILGCN.
Em defesa da tese de que o rei teria sido homossexual, Sergiusz Wróblewski, historiador de Poznań, diz que "de acordo com os escritos de Jan Długosz - o grande historiador da História da Polônia - e um documentot i papal sobre a batalha de Warna, pode-se vislumbrar que o rei tinha preferências homosexuais". Por outra parte, Janusz Sroka, do Instituto de História da Universidade Iaguielônia de Cracóvia esclarece que "Jan Długosz em seus textos escreve que - o rei -tinha um comportamento obsceno e asqueroso - mas não diz que isto era uma preferência sexual. O rei realmente tinha um mal comportamento, mas as crônicas de Długosz não são claras neste aspecto".
Concluindo, Łukasz Pałucki, diz que não é esta a questão se ele foi gay ou não, o que importa é que "esta comemoração tem um caráter simbólico de que Cracóvia é uma cidade das diferenças".

Curitiba e Varsóvia: as mais seguras

Curitiba é a quarta mais segura do mundo

Curitiba está entre as 65 cidades mais importantes dos países emergentes. De acordo com o estudo feito pela MasterCard, a capital paranaense é a mais segura do Brasil e a quarta do mundo entre as cidades pesquisadas. Enquanto Varsóvia é a mais segura da Polônia e a segunda no mundo. Por ordem, segundo a MasterCard: Budapeste na Húngria, Varsóvia na Polônia, Montevidéu no Uruguai e Curitiba no Brasil.
O estudo leva em consideração diversos índices que analisam características macroeconômicas e financeiras de cidades em países emergentes. O objetivo é definir as 65 metrópoles mais importantes para a economia mundial.

Varsóvia é a segunda cidade mais segura do mundo

Outras quatro cidades brasileiras também foram citadas. São Paulo é a mais bem posicionada, entre elas, em 12º lugar. Depois aparecem o Rio de Janeiro, na 36ª colocação, Brasília, que ficou em 42º e Recife, em 47º.
Ao todo, oito áreas com mais de 100 indicadores foram pesquisados. Curitiba foi a cidade brasileira melhor posicionada no quesito risco e segurança.
Segundo Carlos Fonseca, líder de planejamento e inteligência de mercados para a América Latina e Caribe da MasterCard, o resultado final foi baseado em cinco pontos diferentes, e não apenas em dados de segurança pública.
Neste quesito foram analisados a percepção de um governo democrático, os avisos que os turistas recebem antes de vir para a cidade, acidentes naturais, a liberdade política e social e o sistema político. O Brasil é o país latino americano que mais teve cidades citadas no estudo.

Budapeste é a cidade mais segura do mundo

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Filme polaco em São Paulo

Foto: divulgação

O Clube de Discussão de Filmes da Casa Sanguszko de Cultura "Polonesa" de São Paulo está promovendo a projeção do filme “Rysa” (risco) produção polaca de 2008 e dirigido por Michał (mirrau) Rosa. (www.rysa-film.pl). O filme é falado em polaco com legendas em inglês e legendas eletrônicas em português. Após a projeção os presentes poderão conversar com o diretor Rosa e com o produtor Dariusz Sidor.
O filme conta com as atrizes Jadwiga Jankowska-Cieslak, Ewa Telega, Mirosława Marcheluk entre outros. Recebeu três premiações no festival do Filme polaco para melhor roteiro, de Michał Rosa, menções honrosas para Jadwiga Cieslak e Krzysztof Stroiński.


O filme é uma produção de Filmcontract Ltda. em co-produção de Televisão Polaca - TVP S.A., do Estúdio do filme documentário e ficção polaco - WFDiF - em asociação com o Instituto do filme Polaco - PISF.
O filme conta uma história muito simples. E é tradicional. Um casal tem vivido junto alegremente por muitos anos. A vida teve seus altos e baixos, mas eles sobreviveram apoiando e respeitando um ao outro. De repente algo lança uma sombra em cima da relação, uma suposta colaboração de um deles com a polícia secreta. Eles não são capazes de lidar com isso, que volta como um risco numa superfície brilhante. Como uma onda devolvendo o pecado original no matrimônio. O diretor diz que "eu observo pessoas mais que mecanismos. Eu estou contando a história porque quero entender antes de dar o meu veredicto. Estou perguntando qual a necessidade de balancear os anos de boa vida em conjunto oposição a uma mentira desleal. Estou perguntando o que fazer com todas as dúvidas que aumentam em nós e crescem como uma bola de neve ladeira abaixo; absorvendo tudo e levando à desintegração.”

Jadwiga Jankowska-Cieslak

Para o crítico de cinema do mais importante jornal polaco, Gazeta Wyborcza, Jerzy Armata trata-se "Um dos melhores filmes polacos dos últimos anos".
O filme já foi apresentado em agosto passado, no "Giornate degli Autori - Venice Days", na Itália e estará na 32a. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
O evento ocorre no dia 25 de outubro, próximo sábado, a partir das 17h00 na Rua Prof. João Arruda, 440 – Sumaré – São Paulo.

Moeda polaca em queda livre

Foto: Seweryn Sołtys

Mais de meio milhão de polacos, que economizaram em moeda estrangeira, tem motivos para estarem com dor de cabeça. A cotação do złoty não para de subir em relação ao Euro e Dolar. Em algumas horas da última segunda-feira para a manhã de quarta-feira, a moeda polaca perdeu 27 groszy (grochi - centavos) em relação ao Euro e 25 groszy ao franco suíco. Queda de 6 – 9%. Ten, Quem a um ano atrás contraiu um crédito de 300 mil zł para ser pago em 30 anos, cotado em franco suíço, terá agora que pagar uma taxa de 200 zł a mais do que o ano passado.
O problema do crédito atinge alguns milhares de polacos. Segundo dados do NBP são mais de um milhão e duzentas mil pessoas nessa situação.
Com o Euro custando 3,81 zł, franco suíço 2,56 zł e debilitando também as moedas russas e húngaras como resultado da crise mundial, o złoty se desvaloriza a cada dia. Para se ter uma idéia antes do estouro dos bancos estadunidenses a cotação chegou próxima a paridade 1 Euro 3 złoty.
O vizinho banco central da Húngria acusa uma queda de sua moeda em 15% desde o início de outubro.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Geórgia: conseqüências da ocupação russa

Ekateriny Beruaszwiil e sua mãe no Centro de Saúde da Criança em Varsóvia. Foto: jornal Rzeczpospolita

Duas crianças georgianas da Osetia do Sul chegaram na Polônia. Vieram em busca de especialistas. Ekateriny Beruaszwili de 13 anos têm problemas no coração. Como não tinham dinheiro, pois fugiram da zona ocupara pelos russos em Cchinwali, ainda não puderam ser operadas. A cirurgia deve custar entre 20 a 30 mil złotych. Foi iniciada uma campanha para arrecadar o dinheiro suficiente.
A segunda criança é Temuri Machniaszwili. Sua família toda morreu. O menino Temuri não ouve devido aos bombadeios. Estava prevista uma cirurgia para um implante, que permita a ele voltar a escutar. O Centro Internacional de Audição e Fala de Kajetan quer fazer a cirgurgia gratuitamente, mas é necessário pagar o implante, que custa em torno de 30 mil euros. A mãe de Ekaterina, a senhora Makvala Beruaszwili diz que é um milagre que esteja na Polônia, onde está recebendo ajuda do governo polaco e também da Embaixada da Geórgia em Varsóvia.

A grande batalha medieval

Quadro monumental de autoria do mestre Jan Matejko retratando a maior batalha da idade média, a de Grunwald (ou Tannenberg, em alemão) em 15 de julho de 1410, quando finalmente o reino polaco com seus aliados lituanos e tártaros-lipka, principalmente, expulsaram das terras da Polônia, os cruzados teutônicos (saxões, atuais alemães). Na cena, o grande duque lituano Witold ataca as forças do mestre da ordem Ulrich von Jungingen (de branco com faixa azul no lado direito) que é morto nesse instante, mesmo tendo o maior exército da época. O Rei polaco Władysław Jagiello ajudado por uma combinação de legiões lituanas, francesas, inglesas e mil soldados tártaros-lipka deram fim a uma ocupação de quase 200 anos em terras polacas.

Mapa da fase final da batalha de Grunwald com as posições de cada uma das legiões em confronto. As bandeirinhas vermelhas e brancas da Polônia contra as azuis e brancas dos teutônicos. Do outro lado do rio o avanço dos mil soldados tártaros sob o comando de Dzielal Ed Dyn em direção ao Oeste.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Teresa, caçadora e polaca

Teresa Urban

Navegando pela internet, descubro um longo artigo do jornalista paranaense Aroldo Murá G. Haygert sobre a amiga jornalista e curitibana Teresa Urban, intitulado "A caçadora de florestas no paraíso perdido" . O texto além de traçar um perfil de Tereza como mulher, jornalista mostra o quanto uma filha de polaco tem de tenacidade, defesa dos ideais (já perdidos, por muitos) e do quanto, mesmo que "sozinhos" podemos fazer para salvar nossa terra, nosso planeta. A seguir trechos do artigo do Aroldo publicado na "Idéias" em 13, agosto de 2004, Travessa dos Editores:

Sua força hoje repousa na intransigência com que defende o meio ambiente. Não participa de clubes de elogios mútuos, é parca em reconhecer avanços em áreas pelas quais apostou a vida, e vive, sem muito questionar, uma “loucura de meta certa”. Ao mesmo tempo, com o irmão, João, mergulha no mundo semeado por polacos e seus descendentes no Brasil, captado nas fotos e textos do livro Tu i Tam , lá e cá. Foi militante marxista entre os bóias-frias no Norte do Paraná. Passou dois anos na cadeia por suas convicções políticas. Entre seus troféus, contempla a auditoria que fez ao projeto do Prosan, do Banco Mundial, de saneamento ambiental, trabalho modelar e como tal apresentado oficialmente pelo Brasil, no Habitat II de Istambul.

Muito nela tem a ver com a herança católica tradicional transferida pela mãe, dona Janina, 90, que vive na outra metade da ampla casa da Rua Brigadeiro Franco, em Curitiba, e com o legado espiritual do pai, Estanislau, já morto, polaco que aqui chegou aos 12 anos.
O fumo talvez seja a única contradição na vida de quem há pelo menos 15 anos é paladino das causas ecológicas. Mas que, ao mesmo tempo, é identificada por outros traços notáveis: as lutas e conseqüentes prisões políticas sofridas por ter defendido o homem oprimido; o apego à cultura paranaense-polaca; e sua insubstituível presença no jornalismo do Estado, como repórter e comandante de redações.
Logo nas primeiras locuções bem pronunciadas, o interlocutor recém introduzido a Teresa Urban descobrirá que está diante de um ser precioso. E que gostar dela ou de suas teses, ou apoiá-las, não é o importante. O valioso é ouvi-la e recolher as lições de vidas de um ser inflexível no combate daquilo que aponta como injustiças (contra o homem, os bichos, as florestas, a biosfera, as minorias...).
No telefone, alguém da sua casa, “uma amiga”, informa que Teresa Urban está viajando, ficará 10 dias fora, “à procura de florestas”. É uma caçadora de florestas. Florestas que hoje são preciosidades, em extinção, no Sul. Mas antes de caçar florestas, e de se embrenhar em lutas também sem fim pela preservação de mananciais, como os que abastecem Curitiba, e daquilo que restou de floresta de araucária (0,8% do acervo identificado no começo do século 20), essa mulher que sempre gera polêmicas — “você não fica indiferente às teses dela, ela terá sempre posições muito definidas”, diz uma professora da UFPR, da área biológica — teve uma conturbada ação política.


Tereza Urban, ainda no Colégio São José, em Curitiba.

Madura intelectualmente, dava trabalho a mestres acomodados ou não, no curso de jornalismo da UFPR, de 1965 a 1967. Nunca renunciou a questionar o mundo ao derredor e as verdades históricas encobertas ou os tempos nebulosos de uma universidade de joelhos diante de pressões dos arapongas e de setores castrenses.
Quem a conhece sabe que ameaças e perigos sempre a fizeram mais forte. Foi assim desde o começo da militância esquerdista. Primeiro, em movimentos católicos, como a Ação Católica (JUC); depois, os desdobramentos à esquerda da Igreja, que então era um dos poucos núcleos de resistência ao governo ditatorial. Expressões da Igreja Católica visíveis em organismos como a AP (Ação Popular) — com o qual a hierarquia não se ligou senão por meio de militantes. Nos meios católicos, cita sempre dois contemporâneos de juventude e ideais: Paulo Bottas e Paulo Esmanhotto. Tornou-se agnóstica (ou já não era mais crente nos dogmas do Transcendental?), optou pelo comunismo mas não se filiou ao partidão e teve uma rápida ligação com o grupo dissidente que deu origem ao MR-8. Também atuou junto à POLOP (Política Operária). Era crente disciplinada, a da genuflexão quase completa aos dogmas marxistas aceitos a partir de 1966.
Mas divergiu das esquerdas que pregavam a resistência armada, posição por ela marcada várias vezes. Escolheu o caminho da pedagogia política. Correu o Paraná, tentando “organizar a classe operária”. Resultados parcos. Depois, foi fazer catequese marxista entre os bóias-frias do Norte do Paraná. “Numa semana eles ouviam a gente, na seguinte, já não se encontravam as mesmas pessoas”. Mobilidade física do lúmpen rural acompanhada por um certo desinteresse em organizar-se para enfrentar questões como as de injustiça no dia-a-dia do campo. Não gosta de responder sobre os seus torturadores de 1970. Cita apenas dois: um sargento de sobrenome italiano, morador das Minas Gerais, que tem família em Curitiba, e que em sonhos recorrentes lhe aparece para “apertar a moleira do Gunther”, o filho que era bebê nos dias da prisão; e o delegado paulista Sérgio Fleury, o carrasco da repressão política. Sofreu muito, torturas psicológicas e físicas, inimagináveis, ali na Praça Rui Barbosa, onde então funcionava um quartel militar (hoje, Rua da Cidadania). Era a central curitibana da repressão política. Em busca de liberdade, foi para o Chile, onde viveu sob ares democráticos, de 1970 a 1972. O filho ficou sob os cuidados da mãe, dona Janina, uma mulher de oração e ação, criadora e até agora mantenedora do Abrigo do Senhor (com ajuda de amigos), que acolhe, dando casas e comida, uma dúzia de famílias carentes, em Campo Magro.
— Claro que nunca foi fácil para minha mãe, uma mulher criada no catolicismo tridentino, entender uma opção marxista, comunista, como a minha. Mas ela nunca fugiu dos seus deveres de mãe, de dar apoio, ajuda e consolo, garante Teresa. Uma vez, levados por paranóia sem medidas, cassadores (de cassar direitos) prenderam a outra Urban, dona Janina, por engano. Teresa apressou-se em substituí-la nas grades, enquadrada por práticas de “subversão à ordem constituída”. Esperançosa de tempos melhores, a catequista da luta operária e camponesa volta ao Brasil em 1972. É logo presa, e condenada pela Lei de Segurança Nacional, por “subversão”.
Em 1975, começa a colaborar com a revista Panorama , como repórter. Depois, de 1977 a 1978, era o semanário Voz do Paraná. Depois, uma longa passagem pela revista Veja , em Curitiba, e a seguir a chefia de redação da sucursal de O Estado de S. Paulo . Em 2000 retoma o jornalismo, até final de 2001, dirigindo o diário Folha de Londrina.
Assim, no começo dos anos 90 embrenha-se nas lutas ecológicas, participando de instituições como Sociedade de Pesquisa da Vida Selvagem (SPVS), SOS Mata Atlântica, Rede Verde de Informações Ambientais, e em projetos de educação ambiental. Em parceria com a ONG Mater Natura, Teresa ajudou a viabilizar o projeto Pró-Lago, de educação da população vizinha à represa do Irai e dos mananciais formadores do Iguaçu, Leste de Curitiba, na Região Metropolitana.
De lá para cá, já participou do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAM), fez auditoria ambiental no Prosan, projeto do Banco Mundial de conservação ambiental (saneamento) levado como modelar, exibido no Habitat II, em Istambul, em 1996. O trabalho rendeu a Teresa visibilidade para ganhar novos apoios de entidades internacionais às causas que defende do meio ambiente.
A Fundação Francisco, de Brasília, a Fundação Ashoka, dos Estados Unidos, e o Fundo Nacional do Meio Ambiente apoiaram-na na grande empreitada pioneira em termos mundiais que foi a Rede Verde de Comunicação Ambiental. Esse trabalho recorria a uma espécie de cobaia da internet, a Alternex, abastecendo centenas de jornais, rádios e televisões do Brasil e exterior com informações ecológicas e de catequese ambientalista.
Qual profeta veterotestamentária, Teresa tem clamado contra a degradação ambiental, o comprometimento dos rios, a extinção da Mata Atlântica e das florestas de araucárias, o sumiço da fauna. Fala do mundo mais imediato, o do Sul. Acha que, mal ou bem, graças até ao olhar e pressões internacionais permanentes, a Amazônia — o dito pulmão do mundo — está bem monitorada.
— Temo e tremo pelo que vem aí. Quando faltar água de verdade nas metrópoles, talvez essa catástrofe provoque nas autoridades e no homem em geral interesse para preservar o que levou bilhões de anos para ser formado e estamos destruindo em duas gerações. As grandes mudanças virão, infelizmente, quando o caos estiver instalado e estivermos buscando água a sabe-se lá quantas centenas de quilômetros de Curitiba..., ressalta a ambientalista.
Pelas contas de Teresa, até os anos 70 do século passado, o Paraná derrubou 94% de suas florestas e a implantação de indústrias automobilísticas na Região de Curitiba, com as indústrias subsidiárias, foi um desastre ecológico ainda maior, comprometendo os mananciais: não mais se respeitam as nascentes que formam o Iguaçu (os rios Irai, o Piraquara, o Pequeno, o Miringuava). A chegada da Renault rendeu não poucos dissabores à ecologista e seus aliados, cujos argumentos ecológicos e fincados no futuro mais ou menos imediato perderam para o imediatismo defendido: era preciso gerar empregos a qualquer custo. “O resultado agora é que o licenciamento ambiental no Paraná está desmoralizado”, garante.
Além da prática, Teresa levou sua militância para o papel. No livro Saudade do Matão , publicado pela Editora UFPR em 1999, Teresa faz um amplo levantamento da história da defesa do meio ambiente no Brasil, com depoimentos de seis de seus personagens mais notáveis: Adelmar Faria Coimbra Filho, Alceo Magnanini, almirante Ibsen de Gusmão Câmara, Maria Tereza Jorge Pádua, Paulo Nogueira Neto e Wanderbilt Duarte de Barros. Uma preciosidade realizada com o patrocínio da The John D. and Catherine T. McArthur Foundation e Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.
A face mais rica de Teresa talvez seja a que a aponta envolvida com suas raízes. A “etnógrafa” amadora (ela só quer ser jornalista, não tem outra pretensão) descreve com o melhor conhecimento de causa a vida dos polacos e seus descendentes no Sul do Brasil. Está no livro Tu i Tam — lá e cá.

Poloneses no Paraná, Colônia Santana, 1987. processo cromógeno. 21,0 x 31,5 cm (23,8 x 34,0 cm). © João Urban. Todos os direitos reservados. Reprodução proibida.

Os textos são dela, as fotos de João Urban, o irmão fotógrafo premiadíssimo. A proposta editorial bem-sucedida é de registrar momentos de vidas em colônias polacas no Brasil, a partir de flagrantes feitos por João desde 1978. Seqüências fotográficas que depois registram os mesmos personagens agricultores de origem polacas fotografados hoje, no seu dia-a-dia.
Nesse meio tempo, as lentes de João Urban foram à Polônia, em 1992. Acompanhado da mãe, dona Janina, João capturou momentos de semelhanças e dissonâncias entre os trabalhos agrícolas polacos e os de seus parentes aqui. Razão do nome lá e cá, Tu i Tam . As casas ricas em cores, por exemplo, são um gosto comum, diz Teresa. O livro é ferramenta para que se entenda um pouco mais também a jornalista Teresa. Na obra, ela envereda por um universo de trabalho muito peculiar, rico em situações atuais, em colônias como a de Santana, em Cruz Machado, próximo a União da Vitória. “Lá, 30% das crianças ainda falam polaco” — constata Teresa, sem esconder um certo orgulho no examinar essa realidade cultural única. A paisagem é de florestas convivendo com a agricultura familiar. O livro vai também às colônias Muricy e Tomás Coelho (desta, restam poucos vestígios polacos). Santana é só alegrias para a pesquisadora Teresa que, ao contrário de João Urban, não fala, mas pode entender a língua dos pais. “É uma réplica das primeiras colônias no Paraná e está no roteiro definitivo da história polaca no Brasil, iniciada no século 19”.
Entusiasmo contido: Teresa lembra a saga da família de Estanislau, o pai, chegada ao Brasil no final do século 19, indo direto — ele, os pais e cinco irmãos — para as lavouras de café em São Paulo. Mas eram urbanos, trataram de “fugir” para Curitiba, onde Estanislau depois casaria com a filha de polacos Janina Majchrowicz, uma mulher que fala e escreve a língua polaca. Janina é parte de um grupo de dez pessoas que até hoje resiste, aos domingos de manhã, mantendo a celebração da missa em polaco, na Igreja de São Vicente de Paulo, em Curitiba.
Estanislau foi das grandes admirações de Teresa, marceneiro exímio, produtor de móveis requintados muitos dos quais hoje resgatados pela família. O mesmo Estanislau que, um dia, confessaria a Teresa também ter militado no Partido Comunista, “na juventude” — militância abandonada pouco tempo depois, quando retornaria ao catolicismo.
Sente-se como que em estado de graça pelas batalhas campais encetadas. Não importa se algumas foram perdidas. O importante, o que conta, para ela, é que cada vez mais gente de seu calibre e com suas opiniões está tentando salvar o Paraíso. Ninguém merece o Leste do Éden, parece dizer ao despedir-se anunciando: “Na semana que vem estarei fora, procurando florestas”.
PRINCIPAIS OBRAS
- Boias Frias - Tagelohner im Sudem Brasiliens . Edition diá: Alemanha, 1984.
- Bóias Frias - Vista Parcial . Editon diá e Fundação Cultural de Curitiba: Brasil, 1988.
- O livro do Matte . Salamandra Consultoria Editorial: Rio de Janeiro, 1990.
- Engenhos e Barbaquás , com Nego Miranda. Editora do autor: Curitiba, 1998.
- Saudade do Matão . Editora UFPR: Curitiba, 1999.
- Missão (Quase) Impossível . Editora Peirópolis: São Paulo, 2001.
- Em Outras Palavras - Meio Ambiente para Jornalistas . Senar-Pr/SEMA: Curitiba, 2002.
- Memórias de Um Paraíso em Floresta Atlântica: Reserva da Biosfera, com Carlos Renato Fernandes. Curitiba, 2003.
- Histórias do Velho Victor . Editora do autor: Curitiba, 2004.