sexta-feira, 14 de setembro de 2018

A história de Karol Jaroszyński do Brasil

Casa construída em 1920 no local onde nasceu Karol em 1880, em Starosiele - Dubienka - Chełm
O rapaz saiu de casa em 1903 (ou 1905), em Starosiele, vila rural da Polônia, localizada na voivodia de Lublin, no município de Chełm, distrito de Dubienka, aos 22 anos, com o sonho de todo o europeu miserável do início do século 20.

Mapa da fronteira polaca-ucraniana
Sim, o sonho era o mesmo para venezianos, napolitanos, sicilianos, toscanos (atuais italianos), renanos, bávaros, saxões (atuais alemães), rutenos (atuais ucranianos), castelhanos, galegos, andaluzes, catalães (atuais espanhóis), portugueses e… polacos: “Fazer a América”.

Karol Jaroszyński
Karol, esse era seu nome, atravessou os mares e o oceano numa viagem de quase dois meses. Foi direto para a Nova Polônia, terra que já tinha recebido milhares de compatriotas seus: Kurytyba, a Nowa Polska, única cidade americana com grafia no idioma polaco.

Karol, nascido em 10 de dezembro de 1882 (segundo a árvore genealógica de parte da família na Polônia, ele teria nascido em 28 de novembro de 1880) era filho de Kacper Jaroszyński. E este por sua vez, nascido em 05/01/1855, Włościanin e falecido em 05/01/1938, em Starosiele. E filho também de Karolina Pawluk, que havia nascido em 09/11/1856, em Tomaszów Lubelski e faleceu em 1920, em Starosiele.

Seu bisavô também se chamava Karol, e este havia nascido em 27/01/1828, em Rogatka, e era casado com Marianna Siemieszka, falecida em 18/08/1864, em Rogatka.

Karol, o que emigrou para o Brasil era bisneto de Jan, que havia nascido em 1778, em Majdan Siedliski e de Apolonia Kołodziejów, nascida em 1779.

Ainda é possível saber que Karol era trineto de Marcin, nascido em 1755 e falecido em 05/08/1810, em Majdan Siedliski, e de Apolonia Szawarska.

Nesta carta, Karol, confirmava que nasceu no Distrito de Dubieka.
Na época, a localidade pertencia à cidade de Horubieszów. Atualmente pertence à cidade de Chełm.
Karol tinha dois irmãos, Jan, nascido em 30/05/1883, e Wacław, nascido em 28/09/1889, todos nascidos em Starosiele. Wacław (pronuncia-se: vátssuáf) falecido em 16/04/1967, foi casado com Anna Jamroz, que faleceu em 09/05/1978; Além de mais 3 irmãs, Adolfa, nascida em 10/08/1879, em Starosiele; Waleria, nascida em 25/12/1885, em Starosiele e falecida em 10/09/1970, que foi casada com Franciszek Gołebiowski, este falecido em 06/01/1955; e Domicela, nascida em 1894 e falecida em 03/01/1926, em Starosiele, foi casada com Antoni Cybulski, falecido em 25/04/1944.
Foto da irmã Waleria, enviada por ela a Carlos em 1956.
No verso da foto ela escreveu: "Ao amado irmão, Waleria em Starosiele - 1 dezembro 1956
O avô Kacper Jaroszyński que viveu na zona rural chamada de Starosiele, teve vários filhos, entre eles Karol, o que emigrou para Curitiba, no Paraná e depois transmigrou para Pariquera-açú, no Estado de São Paulo.

O segundo filho, Wacław, e seu neto Remigiusz estudaram o segundo grau, na cidade Lwów (então Polônia e atualmente no território da Ucrânia).

Karol Hołownicki, filho de Remigiusz, conta que seu avô Wacław e a esposa Irena residiram, em Starosiele na infância, mas que depois, quando voltou de Lwów, passou a residir na cidade de Hrubieszów até 2004, quando morreu. Karol é filho de Jolanta e neto de Wacław (que é irmão de Karol - Carlos do Brasil).

Karol (Carlos do Brasil) não encontrando lugar em nenhuma das mais de 10 colônias de imigrantes polacos, na terra dos pinheirais, foi para a pequena Pariquera-açú, no litoral Sul do Estado de São Paulo, pois lá existia uma pequena comunidade de imigrantes polacos, com quem teve contato.

Lá, em Pariquera-açú, ele encontrou uma descendente de polacos como ele: Marianna Redyś. Logo, o amor nasceu, floresceu entre eles, e também impôs todas as exigências de uma família constituída.
Sobrenome grafado com Yaroczynski

Algum tempo depois, Karol recebeu a notícia de que o governo paulista estava doando lotes coloniais na distante e desconhecida cidadezinha de Barão de Antonina.

E lá foi Karol mais uma vez em busca da realização de seu sonho: “Fazer a América”.

Quem sabe com a bela Marianna não seria mais fácil?

O sonho estava diante de si: 10 hectares de terra, que nunca seus pais e avós ousaram pensar possuir, naquela Polônia, invadida, ocupada, seviciada e escravizada por russos, saxões e austríacos.

Terra fértil que se transformaria em berço de um filho e três filhas, João, Helena, Paulina e Ewa, que perpetuariam seu sobrenome com uma grafia adulterada: Jarochinski (talvez por causa da pronúncia da grafia em idioma polaco soar aos ouvidos brasileiros como chi e não zy).

A família brasileira de Karol foi aumentando ao longo das décadas seguintes.

O filho João se casou com Darci e deu dois netos: José Maria, Carlos e adotou a menina Doraci.
A filha Helena se casou Rodolfo e deu uma neta, Zilda, e dois netos Flávio e Felizberto.
A filha Paulina se casou com João Batista e deu um neto Isaias Carlos, e três netas, Ana Maria, Vera Lúcia e Maria José.
A filha Ewa se casou com Elias e deu três netos João Carlos, Antônio Tadeu, Teófilo José, e duas netas Maria Inês e Rita de Cássia.

O neto José Maria deu três bisnetas Nives, Carolina e Raquel. A bisneta Raquel deu um trineto, Estevan.

O neto Carlos deu dois bisnetos: Gabriel e Leandro.
Marianna Redyś

A neta Doraci deu três bisnetos: Ibrahim Rogério, Luciano e Juliano. O bisneto Ibrahim Rogério deu dois trinetos, Gustavo e João, e a trineta Luíza. O bisneto Luciano deu dois trinetos, Gabriel e João Vitor, e duas trinetas, Maria Vitória e Izadora. O bisneto Juliano deu dois trinetos, Antony e Arthur, e a trineta Nathália.

A neta Zilda deu dois bisnetos: Emerson e Paulo Rodolfo. O bisneto Emerson deu a trineta, Maria Helena.

O neto Isaias Carlos deu dois bisnetos, Gabriel e Rodrigo. O bisneto Rodrigo deu o trineto, Tomás e a enteada Isabella.

A neta Vera Lúcia deu duas bisnetas: Juliana e Mariana. A bisneta Juliana deu uma trineta, Maria Eduarda. A bisneta Mariana deu uma trineta, Ana Clara.

A neta Maria José deu dois bisnetos: Rodrigo e Raíssa.

O neto João Carlos deu dois bisnetos: Ana Flávia e João Carlos. A bisneta Ana Flávia deu uma trineta: Natalie. O bisneto João Carlos deu dois trinetos: Caio e Eric.

Ewa Jarochinski da Silva
O neto Antonio Tadeu deu duas bisnetas: Carolina e Mayara.

O neto Teófilo José deu dois bisnetos: Maria Fernanda e João Guilherme.

A neta Maria Inês deu três bisnetos: Marco, Gabriela e Iacy. O bisneto Marco deu dois trinetos: Gabriel e Manoela.

A neta Rita de Cássia deu três bisnetos: Renato, Pedro e Marianna. A bisneta Marianna deu uma trineta, Maria Beatriz.

A prole cresceu ao longo das décadas. Atualmente 69 brasileiros são descendentes daquele casal que se meteu nas matas da fronteira paulista com o Paraná - a terra da Nova Polônia - e fincou raízes no Brasil, mantendo nas veias os sangues dos Jaroszyński e Redyś.

Um dos genros, Elias, conta que Karol, além de lavrador era um excelente domador de cavalos. Não havia um fazendeiro e sitiante na região de Barão de Antonina, Itaporanga e Rio Vermelho que não o procurasse para amansar seus animais.

Karol, ou Carlos, como Elias chamava seu sogro, criou com dignidade todos os seus filhos. Se mais não fez, foi porque os governos estaduais praticamente se esqueceram daquela terra de imigrantes. A cidade e a região não progrediram. Mas de seu trabalho e persistência, os filhos, netos, bisnetos e trinetos puderam alcançar a universidade e terem uma vida muito melhor que aquele velho imigrante do Leste polaco.


Este bilhete com o endereço de Carlos em poder da família em Starosiele, Dubienka, é de 1948.

Sobre a grafia do sobrenome

Sempre envolta na defesa de seu território, a Polônia foi atacada muitas vezes pelos vizinhos ateus, protestantes, católicos ortodoxos, muçulmanos e tengriistas (mongóis-tártaros).
De 1795 a 11 de novembro de 1918, a Polônia foi invadida, ocupada e repartida entre o Reino da Rússia (onde vivia Kacper), o Império Austríaco e o Reino da Prússia (República da Alemanha, a partir de 1870). As ocupações provocaram um êxodo sem precedente na história da República da Polônia (criada em 1530, em parceria com o ducado da Lituânia, sendo, portanto, a primeira República do mundo moderno). Milhões de polacos emigraram para França, Inglaterra, Austrália, Estados Unidos, México, Haiti, Peru, Argentina e Brasil.

Devido à esta permanente situação de ocupação estrangeira de quase 150 anos nos séculos 18, 19 e 20, os nomes sofreram alterações causadas por funcionários das potências invasoras, por analfabetismo, por registros equivocados nos portos e aduanas.

Assim, grafia do sobrenome dos ancestrais de Karol, de Barão de Antonina, no idioma polaco era Jaroszyński, desde antes 1755.

As ocupações estrangeiras causaram alterações de grafia nos nomes das ruas, vilas, cidades, regiões, e até nomes e sobrenomes da Polônia. E este foi o caso do Karol que virou Carlos e do Jaroszyński, que virou Jarochinski.

Nas regiões ocupadas pelos povos saxônicos houve adulteração não só na grafia de algumas letras, mas sílabas inteiras. Nomes de cidades grafados em polaco como Oświęcin e Brzezinka se transformaram em Auschwitz (campo de concentração e extermínio alemão nazista) e Birkenau, assim como Szulman se transformou em Schulmann, Szmyd em Schmidt.

No caso da ocupação russa houve alteração devido à transliteração do alfabeto cirílico usado pela Rússia e o alfabeto latino usado pela Polônia. Assim, uma mesma família devido a essa transliteração de alfabetos, passou a ter duas ou mais grafias. Os parentes do Ocidente continuaram a escrever Jarosiński, mas os do Oriente (onde era mais comum o alfabeto cirílico dos russos, rutenos e bielorrussos) passaram a grafar Jaroszyński.

Na cidade Łuków, no Centro-Leste da Polônia, existem três irmãos, dois deles grafam Jarosiński e um Jaroszyński.

Foi também em Łuków, que nasceu Maria, filha de Piotr e Anna Jarosiński, que emigraram para o Paraná e chegada ao Brasil foi assentada com os pais e irmãos, na colônia do Tronco, na cidade de Castro. Cidade distante de Pariquera-açú e Barão de Antonina para aqueles tempos. Assim, como poderiam ter se encontrado se não falavam português e os transportes eram difíceis?

Devido a essas alterações de idioma, pronúncia, sotaque e alfabetos, muito provavelmente a raiz familiar de sobrenomes polacos como Jarosiński, Jarociński, Jaroszyński, Yaroczynski, Jaroszewski e Jarosz, seja a mesma.

Daí, o fato de existirem no Brasil parentes que não se conhecem e tampouco se reconhecem por terem sobrenomes grafados como Iarochinski, Iarocrinski, Iarozinski, Jarochinski e Jarocheski.

Encontro dos descendentes de Carlos e Marianna em Araçoiaba da Serra - SP

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Família Jarosiński foi morta por esconder judeus

Poviat: Vila de Stryj / Województwo: voivodia (Estado) e cidade de Stanislawów
No Outono de 1943. Bronisław Jarosiński foi preso pela nazista Gestapo junto com sua esposa Maria e o filho Leszek.

Na mesma operação foram presas outras cinco pessoa de uma família de origem judiaca, que Bronisław tinha escondido em sua casa na vila Stryj na voivodia de Stanislawów.

No comunicado do comandante da SS e da polícia na região da Galícia polaca, em 28 de janeiro de 1944, entre as 84 pessoas na 79ª posição, Bronisław Jarosiński foi condenado à morte. Sua esposa, embora não mencionada no documento, juntamente com o marido deu sua vida pela ajuda à pessoas de origem judaica.

Em novembro, a Gestapo tinha chegado à família Jarosiński na companhia de um policial ucraniano. Os policiais foram direto para o alçapão do porão escondido sob o guarda-roupa, onde os judeus estavam escondidos.

Os polacos-judeus foram ordenados a sair e levados para a delegacia de Stryj. Além deles, Bronisław, sua esposa Maria e seu filho, acabaram adoecendo na prisão. Ambas as filhas Alicja de 16 anos e Liwia de 12 anos não estavam em casa e por isso não foram levadas. O pequeno Leszek foi libertado e uma polaca que trabalhava na Gestapo o escoltou até o orfanato dirigido pelas Irmãs Seráficas na igreja de São José.

Orfanato das Irmãs Seráficas em Stryj
Enquanto o casal Jarosiński estave na prisão, Paulina Gruszecka, a irmã de Maria levou as crianças para ver seus avós.

Depois de algum tempo, as crianças  receberam informações de que Bronisław e Maria foram mortos.

As crianças dos Jarosiński ficaram no orfanato até 1945. Depois foram levados para Gliwice para viver com a tia.

Depoimento de Leszek Jarosiński




Mapa da Vila de Stryj
No canto esquerdo, embaixo a vila de Stryj

O autor W. Zajączkowski em seu livro "Mártires da Caridade", ao invés de colocar o correto sobrenome de Bronisław - Jarosiński -  escreveu uma das outras versões de sobrenome: Jaroszyński. Mas foi o único. Em todos os outros autores e documentos é mesmo Jarosiński

Bibliografia:

- IPN BU 392/2033.
- FLV, List od Leszka Jarosińskiego [syn], Gliwice, z dn. 8.2013 r.
- FLV, List od Zaleska-Roman [fragm. książki TB-AR], Warszawa, z dn. 21.01.2014 r.
- Berenstein, A. Rutkowski, Pomoc Żydom w Polsce 1939-1945, Warszawa 1963.
- Bielawski, Zbrodnie na Polakach dokonane przez hitlerowców za pomoc udzielaną Żydom, Warszawa 1981.
- Godni synowie naszej Ojczyzny, cz. 2, s. J. Chodorska CSL (red.), Warszawa 2002.
- Datner, Las sprawiedliwych. Karta z dziejów ratownictwa Żydów w okupowanej Polsce, Warszawa 1968.
- Poray, Those Who Risked Their Lives, Chicago, Illinois 2007.
- Those Who Helped. Polish Rescuers of Jews During the Holocaust, cz. 3, R. Walczak (ed.), Warszawa 1997.
- Wroński, M. Zwolak, Polacy-Żydzi 1939–1945, Warszawa 1971.
- Zajączkowski, Martyrs of Charity, Washington D.C. 1988. [Strona internetowa – http://www.niedziela.pl/wydruk/82564/nd], dostęp: 27.04.2015.

Atenção:

- Poray, Those Who Risked Their Lives, Chicago, Illinois 2007, s. 29; R. Walczak (ed.), Those Who Helped. Polish Rescuers of Jews During the Holocaust, cz. 3, Warszawa 1997, s. 74;
- S. Datner, Las sprawiedliwych. Karta z dziejów ratownictwa Żydów w okupowanej Polsce, Warszawa 1968, s. 103–104;
- S. Wroński, M. Zwolak, Polacy-Żydzi 1939–1945, Warszawa 1971, s. 431, 442;
- W. Bielawski, Zbrodnie na Polakach dokonane przez hitlerowców za pomoc udzielaną Żydom, Warszawa 1981, s. 31;
- W. Zajączkowski, Martyrs of Charity, Washington D.C. 1988, s. 229 podają nazwisko Jaroszyński.

- FLV, List od Leszka Jarosińskiego [syn], Gliwice, z dn. 8.2013 r. Maria nie jest wspominana w relacjach, jednak w relacji syna można znaleźć informację, że została aresztowana i zginęła wraz z mężem za pomoc Żydom.