domingo, 4 de fevereiro de 2018

Entrevista com o autor de "Cidades da Morte"

Após a aprovação do projeto de Lei, encaminhado ao Congresso Nacional, pelo IPM-Instituto da Memória Nacional (de orientação conservadora de extrema-direita), pelo Senado da República, o debate na própria Polônia acirrou os ânimos.

Jarosław Karpiński, do site "natemat" entrevistou o autor do livro "Miasta śmierci. Sąsiedzkie pogromy Żydów" (Cidades da Morte, vizinhas de pogroms judaicos), Dr. Mirosław Tryczyk, que reconhece a participação de até 500 mil polacos envolvidos na colaboração com os alemães nazistas e  em assassinatos de polacos judeus seus vizinhos.


Mirosław Tryczyk, polaco nascido em 1977, doutor em filosofia e ética, é autor de publicações históricas. Embora não seja historiador é um profundo pesquisador de questões históricas e políticas da Polônia e Europa Central. Autor também do livro "Między imperium a świętą Rosją" (Entre o Império e a Santa Rússia).


"Lembre-se que tivemos um grupo de pessoas, nesta nação polaca terrivelmente devastada, antissemitas que colaboraram com o ocupante por vários motivos e colaboraram no extermínio dos judeus. Não podemos negar isso! Não é algo pequeno! Os pesquisadores de extermínio estimam de 50.000 a meio milhão de pessoas".

Karpiński - Todo mundo já ouviu falar sobre Jedwabne, mas há mais lugares. O senhor escreve sobre isso no livro "Cidades da morte, vizinhas de pogroms judaicos".

TRYCZYK - Somente no contexto do ano de 1941, pode-se falar de dezenas de cidades onde ocorreram incidentes antissemitas, pogroms em larga escala e dezenas de assassinatos, em que morreram mais de 100 pessoas. O conhecimento sobre a onda de pogroms que varreu as antigas fronteiras do Leste após o exército alemão entrando nelas era conhecido pelos historiadores polacos. Os documentos foram arquivados a partir do ano de 45 e eram relacionados aos processos que se seguiram diante dos tribunais polacos contra esses pogroms e testemunhos encontrados nos arquivos de, entre outros, Instituto Histórico Judaico em Varsóvia e outros espalhados pelo mundo. Escrevi no livro sobre 15 lugares, entre eles, Radziłów, Szczuczyn, Jedwabne, Wąsosz, Jasionówce, Suchowola ...

Karpiński - Também sobre o assassinato de judeus em Bzury

TRYCZYK - Este crime foi uma consequência do pogrom em Szczuczyn. Quando os alemães ocuparam a região da Podlaska durante a ofensiva da URSS em 1941, eles não estabeleceram sua administração imediatamente, assim um vácuo ocupacional foi criado, os soviéticos já haviam fugido e a administração alemã ainda não estava lá. Os guardas dos cidadãos locais, os comitês de autodefesa foram estabelecidos naquele momento e passaram a assassinar seus vizinhos judeus, às vezes de inspiração alemã, às vezes completamente por autodefesa. Smarzowski em uma cena famosa do filme "Volínia" mostrou uma situação semelhante, apesar da presença de tropas alemãs, os ucranianos assassinaram polacos. No gueto de Szczuczyn, cerca de 2.000 judeus viviam lá antes que os alemães chegassem em 20 de julho de 1941, e encontraram apenas algo próximo a 370 polacos de origem judaica. A primeira questão que surgiu foi: O que aconteceu com os outros?

Mais tarde, prisioneiros do gueto foram levados para trabalhar em fazendas próximas. Jovens jovens que, após a guerra, admitiram pertencer à Democracia Nacional, chegaram a uma das fazendas de Bzury, e levaram 20 moças para a floresta, onde foram estupradas e assassinadas. Os promotores comunistas na década de 1970, no entanto, determinaram que a execução desse crime tinha sido obra alemã. Unicamente em 2001 foi comprovado que o crime foi levado a cabo por polacos católico e o Ministério Público com Instituto da Memória Nacional, referiu-se a eles como crimes de "razões raciais". Nos lugares que descrevi, nenhuma seleção foi feita, todos os polacos de origem judaica foram capturados, incluindo mulheres, idosos e crianças, foram mortos sem exceção.

Capa do Livro: Cidades da Morte, vizinhas de progroms judaicos 
Karpiński - Um monumento foi erguido no lugar dos judeus assassinados. Mas por que aconteceram nos pogroms, porque provavelmente não aconteceram só por inspiração alemã, não? e quem estava por trás deles?

TRYCZYK - As causas devem ser buscadas no trabalho ideológico realizado pelos setores nacionalistas amplamente compreendido, que semeou propaganda antissemita, principalmente na década de 1930, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial. Também participou desta campanha, o clero católico, especialmente nas regiões mais orientais do país. No geral, houve um clima bem grande contra. Já nos relatos do governador de Białystok, em Varsóvia, em 1936, há mais de 800 incidentes antissemitas, espancamentos e homicídios na destruição de propriedade. Em 1937, o mesmo.

Depois que os comunistas entraram através da fronteira em 17 de setembro de 1939, começou um julgamento de classe com os kułaków (culaques – termo pejorativo russo para camponeses relativamente ricos com grandes fazendas e que faziam uso de trabalho assalariado), com apoiantes dos democratas nacionais, dos clérigos, dos proprietários de terra (senhores feudais), mas também com pessoas do judaísmo. Lembre-se de que também havia uma ala judaica de direita. Os bolcheviques deportaram não só empresários ou comerciantes judeus, mas também membros de partidos religiosos e da direita judaica. Mas disso não se lembram nos territórios orientais da Polônia. Recorde-se que alguns polacos de origem judaica cooperaram com os bolcheviques quando deportavam patriotas polacos para o leste, o que, é claro, é verdade, mas apenas em pequena medida. De qualquer forma, esta campanha antissemita fortemente presente na Polônia desde a década de 1930 foi endereçada para as pessoas comuns mais afetadas pelo terror bolchevique e por isso mesmo, causou eventos muito trágicos.

Karpiński - O deputado Jakubiak, do movimento de Kukiz, disse: "Mostre-me pelo menos um paco salvo por um judeu. O holocausto polaco não era muito menor do que o judeu." Como o senhor se refere a essas palavras dele?

TRYCZYK - Essas palavras são extremamente tolas. Em primeiro lugar, é difícil mostrar judeus salvando polacos de uma situação em que estes mesmos judeus se encontravam escondidos e sendo perseguidos. Dizer algo neste sentido é algum tipo de aberração intelectual. É um pouco dizer como, mostre-me um ucraniano que foi salvo pelos polacos durante o massacre da Volínia. Talvez o deputado não saiba, mas os judeus foram assassinados e exterminados de uma maneira que em nenhuma outra nação, na história do mundo e da humanidade jamais ocorreu.

Família judia de Szczucin - Józef Guststein / Foto: Tryczyk M.

Na região da Podlaska, muitas vezes ouço conversas de pessoas mais velhas lembrando a guerra de que "a vida de um judeu era como uma vida de uma mosca, todos podiam vencê-la". Analogia contemporânea. Matam, hoje, pessoas em Varsóvia, na rua, querem matar, a multidão está assistindo, dezenas de pessoas dessa multidão que se juntam para bater nas outras, a maioria é passiva, outras tentam ajudar a bater e intervêm, e o deputado Jakubiak provavelmente perguntaria se a vítima da surra próxima da morte, nesta situação, tem ajuda alguém?

Além disso, não sabemos quantas vezes no cotidiano um judeu ajudou um polaco católico durante a ocupação. Há muitos exemplos de amor que nasceram entre os polacos de origem judaica que se esconderam e os polacos de outras origens, e certamente houve muitas situações durante a ocupação alemã, em que salvaram a vida uns dos outros, mas não é a única coisa a dizer, agora. Estas comparações não cabem em nenhum lugar. E é só isso. No entanto, o deputado Jakubiak tem razão nisto, de que a nação polaca também sofreu muito e sofreu enormes perdas material e de população durante a guerra. É difícil pesar o sofrimento humano, mas ninguém nega o sofrimento dos polacos. O extermínio da nação polaca também foi parte do plano para destruir as nações étnicas conquistadas.

Karpiński - Mas também havia aqueles polacos ruins, quais são as estimativas quanto a eles?

TRYCZYK - Sim, lembre-se de que tínhamos um grupo nesta nação polaca terrivelmente devastada de pessoas antissemitas que colaboraram com o invasor por diversas razões e que também colaboraram no extermínio dos polacos judeus. Não podemos negar isso. Não eram poucas. Os pesquisadores de extermínio estimam de 50.000 a meio milhão de pessoas (numa população de 35 milhões de habitantes). Em várias etapas do extermínio, porque também houve uma terceira etapa do Holocausto nos anos de 1942 e 43, que consistiu em chantagem, publicações judaicas, assassinatos e etc.. Lembramos também os infames exemplos de guerrilheiros, sob diferentes bandeiras que discutiram com judeus assim que se conheceram, escondidos nas florestas. Claro está, que você nunca pode falar sobre responsabilidade coletiva! Você não pode falar sobre nação polaca, mas apenas sobre pessoas específicas com seus nomes idetificados. O Estado polaco, no entanto, é responsável pela propaganda antissemita da década de 1930.

Karpiński - A nova lei proposta IPN-Instituto da Memória fecha a boca de pesquisadores como você?

TRYCZYK - Estou convencido de que esta lei será capaz de amordaçar a boca e os cientistas terão que pensar duas vezes antes de escreverem algo. Vou dar um exemplo. Um pogrom ocorreu em Szczuczyn. As vítimas do pogrom foram enterradas em covas da morte, onde hoje existe um prado e as vacas pastam nele. Se a comunidade em Szczuczyn quiser cercar este lugar ou colocar um monumento às vítimas ali, então, sob a nova lei, o prefeito e os moradores estariam sendo ameaçados com três anos de prisão. Uma vez que alguém do Instituto da Memória Nacional possa estar disposto a montar um monumento às vítimas do pogrom por ter destruído descaradamente os crimes nazistas. Os moradores de Szczuczyn, cujos antepassados ​​cometeram crimes, não são cientistas e artistas, e assim eles cumprem todos os requisitos para o entendimento de tenha havido crime. Tal absurdo está previsto por esta lei. A lei não atenta contra cidadãos de países estrangeiros, mas sim e, principalmente, contra polacos. O Estado polaco, proíbe-os de falar sobre o que aconteceu com suas famílias, em suas vilas e cidades, para combater o trauma que vem desses terríveis acontecimentos e que continua por gerações.

Karpiński - Por que o Senhor está tratando desse assunto?

TRYCZYK - Eu não sou judeu. Minha família vem da Podlaska. Meu avô era fortemente orientado para o nacionalismo, era um antissemita e um membro local do Partido Nacional. Conheço suas cartas, eu sei quais livros ele leu. Ele costumava ler, por exemplo, "Cavaleiro da Imaculada" ("Rycerzu Niepokalanej”). Na minha família há cartas obescuras relacionadas ao seu antissemitismo. Este foi o único motivo que me levou a tratar dos temas desse assunto.

Karpiński - Após a publicação do teu livro, o senhor foi hostilizado?

Eu conheci muito ódio na internet. Sempre acontecem situações difíceis em reuniões com leitores, às vezes, as pessoas que me atacam agressivamente aparecem. Eu fui chamado de szabes-goj (não-judeu que trabalha no sábado), um traidor para a pátria, e caluniador de seu próprio ninho. Mas desde que o livro foi lançado se realizou muitas reuniões com leitores em cidades onde existiram pogroms, também houve muitos efeitos sociais positivos. As pessoas falam sobre o que aconteceu, elas estão menos envergonhadas. Graças a isso, conseguimos encontrar, por exemplo, o túmulo de meninas judias em Bzury.

Entrevistador: Jarosław Karpiński
Tradutor: Ulisses Iarochinski

Fonte: Acesso em 4 fevereiro 2018: http://natemat.pl/228947,ilu-bylo-polskich-szmalcownikow-miroslaw-tryczyk-zbadal-pogromy-zydow

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Senado da Polônia aprova Lei para punir quem imputar aos polacos os horrores nazistas

Portão de entrada de Auschwitz - Foto: Ulisses Iarochinski
Senado da Polônia aprova lei que pune quem responsabilizar a nação polaca por crimes cometidos pelos alemães. 

Legislação prevê até três anos de prisão para quem acusar polacos de cumplicidade em crimes nazistas e usar expressão "campos de concentração e extermínio polacos".

Segundo a rádio Deutsche Welle, da Alemanha, como setores dos governos de Israel e Estados Unidos estão criticando o Congresso Polaco, a imprensa internacional está chamando a lei de Polêmica.

Manchete da Deustche Welle: SENADO DA POLÔNIA APROVA LEI POLÊMICA SOBRE O HOLOCAUSTO.

- A lei não é Sobre o Holocausto, editor!

Ela foi aprovada na madrugada desta quinta-feira (01/fevereiro) e criminaliza qualquer indivíduo que atribua ao país ou a seu povo culpa por crimes de guerra cometidos pelos alemães nazistas no território polaco.

Além de prisão deverá ser imposta multa para quem utilizar a expressão "campos de concentração e extermínio polacos", em referência aos campos de concentração erguidos no país pelo governo alemão durante a Segunda Guerra Mundial. A lei exclui punição nos casos de trabalhos de pesquisa acadêmica ou artísticos. Para entrar em vigor, o texto ainda precisa ainda ser sancionado pelo presidente Andrzej Duda.


Manchete do site brasileiro Nexo: COMO UMA LEI POLACA REABRIU O DEBATE SOBRE O HOLOCAUSTO

A iniciativa, que segundo o governo polaco tem o objetivo "defender a imagem do país", foi criticada por políticos de Israel. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, acusou Varsóvia de "querer reescrever a história".

O ministro israelense da Inteligência e Transportes, Israel Katz, acusou Varsóvia de tentar "apagar sua própria responsabilidade" no Holocausto.

"Nenhuma lei pode mudar a história. Nos lembraremos e jamais esqueceremos", disse através do Twitter o parlamentar israelense da oposição Yair Lapid.

Antes da aprovação, alguns senadores dos Estados Unidos também protestaram contra a nova lei, expressando "profunda preocupação" com os possíveis efeitos. "Expressões como 'campos de concentração e extermínio polacos' são imprecisas, suscetíveis de induzir a erros e causar feridas, mas receamos que se promulgada, a legislação afete a liberdade de expressão e o debate histórico", disse Heather Nauert, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano.

Manchete do jornal Extra, Organizações Globo: PARLAMENTARES POLACOS APOIAM PROJETO DE LEI SOBRE HOLOCAUSTO; EUA EXPRESSAM PREOCUPAÇÃO

A lei surge num contexto histórico que se iniciou quando da queda da União Soviética e que vem sendo percebido há anos pelas autoridades polacas. Toda vez que um jornalista, um escritor, uma autoridade estrangeira chama de "os campos de concentração da Polônia", a diplomacia polaca imediatamente repreende o mal intencionado, ou ignorante.

Quem não se lembra de um discurso do então presidente Barak Obama?
O presidente dos Estados Unidos e aliado da Polônia nominou os campos alemães da segunda guerra como sendo campos de extermínios polacos e teve que se retratar, após o embaixador da Polônia, em Washington cobrar veementemente o que o governo da Casa Branca se prontificou a se desculpar, através de seu porta-voz, que textualmente qualificou o incidente, ou gafe, como sendo apenas um "Deslize" do mandatário.

Os críticos da nova lei argumentam que ela pode permitir ao governo da Polônia negar casos em que a cumplicidade polaca em crimes de guerra foi provada, assim como pode minar a liberdade de expressão e o discurso acadêmico.

- Liberdade de expressão chamar os campos nazistas de polacos???

Já o partido governista da Polônia PiS - Direito e Justiça, de extrema-direita, assim como o é, o partido do chefe de governo israelense, rejeita as críticas.
Os conservadores do partido polaco afirmam que está em jogo a defesa da reputação do país e que é necessário corrigir a "linguagem incorreta" muitas vezes utilizada na forma como a história é retratada.

Durante a Segunda Guerra Mundial, mais de um milhão e meio de pessoas morreram no campo de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau, localizado na Polônia ocupada, assassinados pelo exército de Adolf Hitler. Entre aquelas pessoas estavam não só "polacos" de origem judaica, mas também padres católicos, ciganos e soldados soviéticos.

Segundo o historiador David Silberklan, do Memorial do Holocausto Yad Vashem, não havia guardas polacos nos campos situados no país. Segundo ele, na Polônia, permeada por algum sentimento antissemita, alguns de seus cidadãos teriam colaborado com os nazistas e assassinado judeus. Alegam neste sentido, como justificativa da participação polaca nos crimes, o massacre de 300 judeus pela população católica apostólica romana da cidade de Jedwabne, no leste do país.

Manchete do jornal Dia a Dia: POLÔNIA E O HOLOCAUSTO, UM DEBATE ATUAL

Até um  pastor da Igreja Batista Nações Unidas, de São Paulo, sentiu-se no direito de criticar a Polônia. Luiz Sayão é este o nome dele, afirmou que "é lamentável que o governo nacionalista polaco tenha decidido criminalizar qualquer expressão que afirme alguma responsabilidade polaca no holocausto, perpetrado pelos nazistas, na ocasião da Segunda Guerra Mundial".

E deita falação, cometendo erros de informação, dizendo que "Não se pode negar a morte de quase dois milhões de polacos na ocasião".

- Dois milhões, pastor? Qual é a tua fonte?

E Sayão, segue escrevendo sobre o que não conhece: "mas isso não exime de culpa os que colaboraram com os nazistas, nem apaga a realidade dos conhecidos pogroms".

Sayão, cita estimativas da Segunda Guerra Mundial dizendo que "são de 70 milhões de mortos (aproximadamente, 45 milhões de civis), sendo cerca de 24 milhões de russos, 20 milhões de chineses, 7,5 milhões de alemães".

Pastor! Onde estão as fontes destes impropério estatísticos? 

Foram 25 milhões de soviéticos, e não só russos.
Não foram 20 milhões de chineses, mas 15 milhões. E isto numa guerra particular com o Japão (aliado do eixo Itália-Alemanha) iniciada ainda na primeira guerra mundial. Os chineses não combateram em território europeu. E ele não apresentou as cifras corretas sobre o país que foi o mais destruído e teve 6 milhões de cidadãos polacos (não só polacos de origem judaica) trucidados pelos nazistas e pelos soviéticos (guerrilheiros ucranianos, em sua maioria). Aumentar ou diminuir cifras é manipulação ou desconhecimento. Nos dois casos é melhor não emitir opinião!

Mais uma do Sayão: "A Polônia, por exemplo, contava com a maior comunidade judaica antes da guerra, com 3,2 milhões de cidadãos. A ocupação nazista do território polaco em 1939 resultou, entre outras atrocidades, na construção de campos de extermínios como Auschwitz e Treblinka".

- O pastor e suas fontes desapareceram com mais 100 mil polacos de origem judaica nesta estatística dele.

E apenas para repetir mais um parágrafo do "entendido" evangélico de São Paulo: "A solução final organizada e executada exterminou cerca de 6 milhões de judeus , mais de um terço da comunidade judaica de todo o mundo. A perseguição e os maus tratos atingiram diversas comunidades como ciganos, eslavos, homossexuais, judeus, evangélicos e comunistas. Um dos principais mártires evangélicos do período nazista foi Dietrich Bonhoeffer (fala sério!). Entre os teólogos renomados que perderam sua posição por causa da intolerância do Führer, destacam-se Karl Barth e Paul Tillich". 

- Não, pastor! Não foram 6 milhões de judeus.

- Não repita Simon Weisenthal.

- O correto?

Foram 2.700.000 polacos de origens judaica e não 6.000.000 a morrer na Polônia.

- Pois, "aqueles judeus" também eram cidadãos polacos, e o eram não apenas por cidadania, mas porque há mil anos seus ancestrais haviam chegado na Polônia Católica, a Terra Prometida da Torá, ou como está escrito neste livro: a terra de POLIN. E continuaram chegando nos séculos seguintes, após serem expulsos da península ibérica, da península itálica, das terras saxônicas, francas e holandesas.

- A conta, pastor, só fecha com outros 3.300.000 polacos de origem proto-eslava, em sua maioria católicos romanos,  ortodoxos, protestantes, ciganos e de outras religiões.

A Rádio Moscou, agora com a denominação de Sputnik, na Internet, com toda sua "parcialidade" quando se trata das coisas da Polônia, também chama a lei de "polêmica". Informa que "apesar de uma longa discussão, a lei foi aprovada pelo Senado sem qualquer correção, como chegou à câmara superior do Congresso. A mesma punição é extendida contra propaganda da ideologia do líder ruteno Bandera e a negação dos crimes ucranianos (rutenos) na região da Volínia" polaca.

Manchete da Revista IstoÉ: POLÔNIA APROVA LEI POLÊMICA SOBRE HOLOCAUSTO; ISRAEL PROTESTA

Na imprensa brasileira, o site da Revista Isto/É reproduziu comunicado da agência Ansa, afirmando também em manchete que a Lei é "polêmica""A votação, que se estendeu pela madrugada por conta dos protestos da oposição, contou com 57 votos a favor, 23 contra e duas abstenções. O texto já havia sido aprovado na Câmara dos Deputados, durante a última semana, e agora segue para sanção presidencial".

Em outro parágrafo o jornalista da agência Ansa escreve: "O documento afirma que todos os que falarem publicamente algo, em solo polaco ou mesmo no exterior, que atribua à nação polaca ou ao Estado polaco a responsabilidade, ou a corresponsabilidade dos crimes cometidos pelo Terceiro Reich alemão ou ainda os crimes contra a humanidade, contra a paz ou outros crimes cometidos durante a guerra”.

A jornalista Maria João Guimarães, do jornal Público, de Lisboa, Portugal, que se apresenta como aquela que "Escrevi sobre o muro em Israel e o muro de Berlim. Sobre racismo em Israel, na Alemanha, na Grécia", também não se furtou a escrever sobre a lei aprovada no Senado polaco.

Ela abre sua matéria com: "O caso da Polónia é talvez o maior de todos os paradoxos do Holocausto”, escreveu o historiador Gunnar S. Paulsson. “Por um lado, dos mais de três milhões de judeus polacos que caíram nas mãos dos nazis, só sobreviveram cerca de 3%, o que põe a Polónia no fim da lista dos países europeus”, nota. “Por outro lado, na lista de países nos quais pessoas arriscaram a vida para ajudar judeus, a Polónia está no topo de todos".

Antes disso, no "bigode" da manchete Maria João, já acusa os polacos: "Se na Polónia houve milhares de vítimas dos nazis, e se houve movimentos de resistência contra o regime alemão, também houve milhares de colaboracionistas e informadores entre os polacos, e alguns levaram a cabo massacres de judeus".

Mas ela inverte as cifras dos mortos: "Na sequência da invasão e ocupação da Polónia pela Alemanha nazi – considerada uma das mais brutais da II Guerra - morreram 2,77 milhões de polacos e ainda 2,9 milhões de judeus polacos".

- Não, Maria João! foram 2.700.000 polacos de origem judaica e 3.300.000 de polacos de outras origens (em sua maioria proto-eslavos) e religiões.

A jornalista portuguesa reconhece que "Os polacos são a nacionalidade com mais cidadãos distinguidos pelo museu Yad Vashem por salvar vidas de judeus durante a guerra – 6706 cidadãos (num total de 26.513). Muitos polacos foram mortos por terem escondido judeus nas suas casas (a pena era a morte de todos os habitantes da casa). A Polónia foi também o país com o maior movimento de resistência aos ocupantes nazis. O Armia Krajowa (Exército Nacional) era a mais importante força de resistência e era leal ao governo polaco exilado em Londres, chegando a ter cerca de 300 mil combatentes depois de ter absorvido a maior parte de outros movimentos de resistência".

- Sim, Maria João. Seus dados, agora estão corretos.

Maria João, tentando aparentar imparcialidade, repete a ladainha antipolonista citando o seguidor do criador da palavra Holocausto: "O número de colaboracionistas polacos é de “muitos milhares”, diz o “caçador de nazis” Efraim Zuroff do Centro Simon Wiesenthal".

- Maria! Wiesenthal cunhou não só a palavra, como a cifra de seis milhões, subvertendo as perdas humanas polacas, como sendo exclusividade judaica.

Para encerrar este texto, lembro que em 2005, o então ministro da cultura da Polônia, Waldemar Dąbrowski, após reportagens do jornal polaco Gazeta Wyborcza, que identificou estudantes israelenses que participaram da Marcha pela Vida, em abril daquele ano, respondendo que se "Auschwitz está na Polônia, então os polacos é que tinham assassinado seu povo".

O ministro convidou então, as universidades e escolas de segundo grau de Israel a se unirem às universidade e escolas polacas a concertarem um mesmo discurso e que parassem de espalhar boatos e mentir para seus alunos sobre os campos alemães durante a ocupação da Polônia.
O jornal polaco identificou que os professores israelenses estavam ensinado uma outra versão da guerra para seus alunos. Orientavam inclusive, que durante o período que permanecessem na Polônia, não mantívessem contato com os polacos. Tudo em prol de um sentimento antipolonidade.

A partir de 2006, por iniciativa de Dąbrowski os alunos polacos, por ordem dos ministérios da educação e da cultura passaram a fazer parte da Marcha Israelense.
Os estudantes polacos começaram a fazer juntos com os visitantes israelenses, o mesmo percurso de 3 km entre Auschwitz, na cidade Oświęcin e Birkenau, na cidade de Brzezinka para lembrar os horrores que sentiram não só os polacos de origem judaica, mas todos os polacos das demais religiões e ateísmo.

Outras manchetes:
Manchete do jornal El País, Madrid, Espanha: POLÔNIA APROVA POLÊMICA LEI QUE IMPEDE VINCULAR O PAÍS AOS CRIMES DO HOLOCAUSTO

Manchete do jornal Público, Lisboa, Portugal: POLÓNIA, O MAIOR DE TODOS OS PARADOXOS DO HOLOCAUSTO

Manchete JornalI, Portugal: POLÓNIA APROVA LEI QUE TORNA ILEGAL ACUSAR O PAÍS DE CUMPLICIDADE COM OS NAZIS

Manchete da TV europeia Euronews, França: PROJETO LEI POLACO SOBRE CRIMES DA ALEMANHA NAZI SUBMETIDO AO PRESIDENTE

Manchete do jornal Tempo: PAÍSES REPUDIAM LEI QUE ISENTA POLÔNIA DA MORTE DE JUDEUS

Manchete do Destak Jornal: POLÔNIA APROVA PROJETO DE LEI SOBRE HOLOCAUSTO

Mais uma manchete da IstoÉ: LEI POLACA SOBRE HOLOCAUSTO JUDEU IRRITA ISRAEL, EUA E UCRÂNIA

- Nada mais parcial, unilateral e antijornalístico do que estas manchetes. Todas, sem exceção, procuram criminalizar a Polônia por se defender de acusações e "deslizes". E o uso da palavra Holocausto é equivocado, pois não é dele que a lei se refere.

Com: DW/IstoÉ/ RC/lusa/dpa/ap/Ansa

Ulisses Iarochinski diante do Monumento ao Holocausto no campo de concentração e extermínio alemão de Majdanek, em Lublin - Polônia

Manchetes do jornal Gazeta Wyborcza, de Varsóvia, de oposição ao atual governo da Polônia, um da após as repercussões da lei aprovada no Senado:

- PiS LÊ PESQUISAS E AVANÇA COM O ATO DO INSTITUTO DA MEMÓRIA NACIONAL. O PLANO? SIMPLES: O PRESIDENTE DUDA RAPIDAMENTE ASSINA E DEPOIS CONVERSA COM ISRAEL

- KARCZEWSKI EM UMA REUNIÃO COM DIPLOMATAS: A CO-RESPONSABILIDADE DA POLÔNIA PELO HOLOCASTO É ANTIPOLONISMO

- A EMBAIXADA ISRAELENSE ESTÁ PROTESTANDO CONTRA OS MATERIAIS INFORMATITVOS DA TVP. NÓS VIMOS LÁ AINDA MUITO MAIS

- O CONSELHO INTERNACIONAL DE OŚWIĘCIN ESTÁ PROTESTANDO SOBRE A LEI DO  INSTITUTO DA MEMÓRIA NACIONAL

Título do artigo do colunista Paweł Wroński:
- PRIMEIRO MINISTRO MORAWIECKI  ENSINA HISTÓRIA, MAS NÃO COMPREENDE O FOSSO ENTRE AS SENSIBILIDADES POLACA E JUDAICA