quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Senado da Polônia aprova Lei para punir quem imputar aos polacos os horrores nazistas

Portão de entrada de Auschwitz - Foto: Ulisses Iarochinski
Senado da Polônia aprova lei que pune quem responsabilizar a nação polaca por crimes cometidos pelos alemães. 

Legislação prevê até três anos de prisão para quem acusar polacos de cumplicidade em crimes nazistas e usar expressão "campos de concentração e extermínio polacos".

Segundo a rádio Deutsche Welle, da Alemanha, como setores dos governos de Israel e Estados Unidos estão criticando o Congresso Polaco, a imprensa internacional está chamando a lei de Polêmica.

Manchete da Deustche Welle: SENADO DA POLÔNIA APROVA LEI POLÊMICA SOBRE O HOLOCAUSTO.

- A lei não é Sobre o Holocausto, editor!

Ela foi aprovada na madrugada desta quinta-feira (01/fevereiro) e criminaliza qualquer indivíduo que atribua ao país ou a seu povo culpa por crimes de guerra cometidos pelos alemães nazistas no território polaco.

Além de prisão deverá ser imposta multa para quem utilizar a expressão "campos de concentração e extermínio polacos", em referência aos campos de concentração erguidos no país pelo governo alemão durante a Segunda Guerra Mundial. A lei exclui punição nos casos de trabalhos de pesquisa acadêmica ou artísticos. Para entrar em vigor, o texto ainda precisa ainda ser sancionado pelo presidente Andrzej Duda.


Manchete do site brasileiro Nexo: COMO UMA LEI POLACA REABRIU O DEBATE SOBRE O HOLOCAUSTO

A iniciativa, que segundo o governo polaco tem o objetivo "defender a imagem do país", foi criticada por políticos de Israel. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, acusou Varsóvia de "querer reescrever a história".

O ministro israelense da Inteligência e Transportes, Israel Katz, acusou Varsóvia de tentar "apagar sua própria responsabilidade" no Holocausto.

"Nenhuma lei pode mudar a história. Nos lembraremos e jamais esqueceremos", disse através do Twitter o parlamentar israelense da oposição Yair Lapid.

Antes da aprovação, alguns senadores dos Estados Unidos também protestaram contra a nova lei, expressando "profunda preocupação" com os possíveis efeitos. "Expressões como 'campos de concentração e extermínio polacos' são imprecisas, suscetíveis de induzir a erros e causar feridas, mas receamos que se promulgada, a legislação afete a liberdade de expressão e o debate histórico", disse Heather Nauert, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano.

Manchete do jornal Extra, Organizações Globo: PARLAMENTARES POLACOS APOIAM PROJETO DE LEI SOBRE HOLOCAUSTO; EUA EXPRESSAM PREOCUPAÇÃO

A lei surge num contexto histórico que se iniciou quando da queda da União Soviética e que vem sendo percebido há anos pelas autoridades polacas. Toda vez que um jornalista, um escritor, uma autoridade estrangeira chama de "os campos de concentração da Polônia", a diplomacia polaca imediatamente repreende o mal intencionado, ou ignorante.

Quem não se lembra de um discurso do então presidente Barak Obama?
O presidente dos Estados Unidos e aliado da Polônia nominou os campos alemães da segunda guerra como sendo campos de extermínios polacos e teve que se retratar, após o embaixador da Polônia, em Washington cobrar veementemente o que o governo da Casa Branca se prontificou a se desculpar, através de seu porta-voz, que textualmente qualificou o incidente, ou gafe, como sendo apenas um "Deslize" do mandatário.

Os críticos da nova lei argumentam que ela pode permitir ao governo da Polônia negar casos em que a cumplicidade polaca em crimes de guerra foi provada, assim como pode minar a liberdade de expressão e o discurso acadêmico.

- Liberdade de expressão chamar os campos nazistas de polacos???

Já o partido governista da Polônia PiS - Direito e Justiça, de extrema-direita, assim como o é, o partido do chefe de governo israelense, rejeita as críticas.
Os conservadores do partido polaco afirmam que está em jogo a defesa da reputação do país e que é necessário corrigir a "linguagem incorreta" muitas vezes utilizada na forma como a história é retratada.

Durante a Segunda Guerra Mundial, mais de um milhão e meio de pessoas morreram no campo de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau, localizado na Polônia ocupada, assassinados pelo exército de Adolf Hitler. Entre aquelas pessoas estavam não só "polacos" de origem judaica, mas também padres católicos, ciganos e soldados soviéticos.

Segundo o historiador David Silberklan, do Memorial do Holocausto Yad Vashem, não havia guardas polacos nos campos situados no país. Segundo ele, na Polônia, permeada por algum sentimento antissemita, alguns de seus cidadãos teriam colaborado com os nazistas e assassinado judeus. Alegam neste sentido, como justificativa da participação polaca nos crimes, o massacre de 300 judeus pela população católica apostólica romana da cidade de Jedwabne, no leste do país.

Manchete do jornal Dia a Dia: POLÔNIA E O HOLOCAUSTO, UM DEBATE ATUAL

Até um  pastor da Igreja Batista Nações Unidas, de São Paulo, sentiu-se no direito de criticar a Polônia. Luiz Sayão é este o nome dele, afirmou que "é lamentável que o governo nacionalista polaco tenha decidido criminalizar qualquer expressão que afirme alguma responsabilidade polaca no holocausto, perpetrado pelos nazistas, na ocasião da Segunda Guerra Mundial".

E deita falação, cometendo erros de informação, dizendo que "Não se pode negar a morte de quase dois milhões de polacos na ocasião".

- Dois milhões, pastor? Qual é a tua fonte?

E Sayão, segue escrevendo sobre o que não conhece: "mas isso não exime de culpa os que colaboraram com os nazistas, nem apaga a realidade dos conhecidos pogroms".

Sayão, cita estimativas da Segunda Guerra Mundial dizendo que "são de 70 milhões de mortos (aproximadamente, 45 milhões de civis), sendo cerca de 24 milhões de russos, 20 milhões de chineses, 7,5 milhões de alemães".

Pastor! Onde estão as fontes destes impropério estatísticos? 

Foram 25 milhões de soviéticos, e não só russos.
Não foram 20 milhões de chineses, mas 15 milhões. E isto numa guerra particular com o Japão (aliado do eixo Itália-Alemanha) iniciada ainda na primeira guerra mundial. Os chineses não combateram em território europeu. E ele não apresentou as cifras corretas sobre o país que foi o mais destruído e teve 6 milhões de cidadãos polacos (não só polacos de origem judaica) trucidados pelos nazistas e pelos soviéticos (guerrilheiros ucranianos, em sua maioria). Aumentar ou diminuir cifras é manipulação ou desconhecimento. Nos dois casos é melhor não emitir opinião!

Mais uma do Sayão: "A Polônia, por exemplo, contava com a maior comunidade judaica antes da guerra, com 3,2 milhões de cidadãos. A ocupação nazista do território polaco em 1939 resultou, entre outras atrocidades, na construção de campos de extermínios como Auschwitz e Treblinka".

- O pastor e suas fontes desapareceram com mais 100 mil polacos de origem judaica nesta estatística dele.

E apenas para repetir mais um parágrafo do "entendido" evangélico de São Paulo: "A solução final organizada e executada exterminou cerca de 6 milhões de judeus , mais de um terço da comunidade judaica de todo o mundo. A perseguição e os maus tratos atingiram diversas comunidades como ciganos, eslavos, homossexuais, judeus, evangélicos e comunistas. Um dos principais mártires evangélicos do período nazista foi Dietrich Bonhoeffer (fala sério!). Entre os teólogos renomados que perderam sua posição por causa da intolerância do Führer, destacam-se Karl Barth e Paul Tillich". 

- Não, pastor! Não foram 6 milhões de judeus.

- Não repita Simon Weisenthal.

- O correto?

Foram 2.700.000 polacos de origens judaica e não 6.000.000 a morrer na Polônia.

- Pois, "aqueles judeus" também eram cidadãos polacos, e o eram não apenas por cidadania, mas porque há mil anos seus ancestrais haviam chegado na Polônia Católica, a Terra Prometida da Torá, ou como está escrito neste livro: a terra de POLIN. E continuaram chegando nos séculos seguintes, após serem expulsos da península ibérica, da península itálica, das terras saxônicas, francas e holandesas.

- A conta, pastor, só fecha com outros 3.300.000 polacos de origem proto-eslava, em sua maioria católicos romanos,  ortodoxos, protestantes, ciganos e de outras religiões.

A Rádio Moscou, agora com a denominação de Sputnik, na Internet, com toda sua "parcialidade" quando se trata das coisas da Polônia, também chama a lei de "polêmica". Informa que "apesar de uma longa discussão, a lei foi aprovada pelo Senado sem qualquer correção, como chegou à câmara superior do Congresso. A mesma punição é extendida contra propaganda da ideologia do líder ruteno Bandera e a negação dos crimes ucranianos (rutenos) na região da Volínia" polaca.

Manchete da Revista IstoÉ: POLÔNIA APROVA LEI POLÊMICA SOBRE HOLOCAUSTO; ISRAEL PROTESTA

Na imprensa brasileira, o site da Revista Isto/É reproduziu comunicado da agência Ansa, afirmando também em manchete que a Lei é "polêmica""A votação, que se estendeu pela madrugada por conta dos protestos da oposição, contou com 57 votos a favor, 23 contra e duas abstenções. O texto já havia sido aprovado na Câmara dos Deputados, durante a última semana, e agora segue para sanção presidencial".

Em outro parágrafo o jornalista da agência Ansa escreve: "O documento afirma que todos os que falarem publicamente algo, em solo polaco ou mesmo no exterior, que atribua à nação polaca ou ao Estado polaco a responsabilidade, ou a corresponsabilidade dos crimes cometidos pelo Terceiro Reich alemão ou ainda os crimes contra a humanidade, contra a paz ou outros crimes cometidos durante a guerra”.

A jornalista Maria João Guimarães, do jornal Público, de Lisboa, Portugal, que se apresenta como aquela que "Escrevi sobre o muro em Israel e o muro de Berlim. Sobre racismo em Israel, na Alemanha, na Grécia", também não se furtou a escrever sobre a lei aprovada no Senado polaco.

Ela abre sua matéria com: "O caso da Polónia é talvez o maior de todos os paradoxos do Holocausto”, escreveu o historiador Gunnar S. Paulsson. “Por um lado, dos mais de três milhões de judeus polacos que caíram nas mãos dos nazis, só sobreviveram cerca de 3%, o que põe a Polónia no fim da lista dos países europeus”, nota. “Por outro lado, na lista de países nos quais pessoas arriscaram a vida para ajudar judeus, a Polónia está no topo de todos".

Antes disso, no "bigode" da manchete Maria João, já acusa os polacos: "Se na Polónia houve milhares de vítimas dos nazis, e se houve movimentos de resistência contra o regime alemão, também houve milhares de colaboracionistas e informadores entre os polacos, e alguns levaram a cabo massacres de judeus".

Mas ela inverte as cifras dos mortos: "Na sequência da invasão e ocupação da Polónia pela Alemanha nazi – considerada uma das mais brutais da II Guerra - morreram 2,77 milhões de polacos e ainda 2,9 milhões de judeus polacos".

- Não, Maria João! foram 2.700.000 polacos de origem judaica e 3.300.000 de polacos de outras origens (em sua maioria proto-eslavos) e religiões.

A jornalista portuguesa reconhece que "Os polacos são a nacionalidade com mais cidadãos distinguidos pelo museu Yad Vashem por salvar vidas de judeus durante a guerra – 6706 cidadãos (num total de 26.513). Muitos polacos foram mortos por terem escondido judeus nas suas casas (a pena era a morte de todos os habitantes da casa). A Polónia foi também o país com o maior movimento de resistência aos ocupantes nazis. O Armia Krajowa (Exército Nacional) era a mais importante força de resistência e era leal ao governo polaco exilado em Londres, chegando a ter cerca de 300 mil combatentes depois de ter absorvido a maior parte de outros movimentos de resistência".

- Sim, Maria João. Seus dados, agora estão corretos.

Maria João, tentando aparentar imparcialidade, repete a ladainha antipolonista citando o seguidor do criador da palavra Holocausto: "O número de colaboracionistas polacos é de “muitos milhares”, diz o “caçador de nazis” Efraim Zuroff do Centro Simon Wiesenthal".

- Maria! Wiesenthal cunhou não só a palavra, como a cifra de seis milhões, subvertendo as perdas humanas polacas, como sendo exclusividade judaica.

Para encerrar este texto, lembro que em 2005, o então ministro da cultura da Polônia, Waldemar Dąbrowski, após reportagens do jornal polaco Gazeta Wyborcza, que identificou estudantes israelenses que participaram da Marcha pela Vida, em abril daquele ano, respondendo que se "Auschwitz está na Polônia, então os polacos é que tinham assassinado seu povo".

O ministro convidou então, as universidades e escolas de segundo grau de Israel a se unirem às universidade e escolas polacas a concertarem um mesmo discurso e que parassem de espalhar boatos e mentir para seus alunos sobre os campos alemães durante a ocupação da Polônia.
O jornal polaco identificou que os professores israelenses estavam ensinado uma outra versão da guerra para seus alunos. Orientavam inclusive, que durante o período que permanecessem na Polônia, não mantívessem contato com os polacos. Tudo em prol de um sentimento antipolonidade.

A partir de 2006, por iniciativa de Dąbrowski os alunos polacos, por ordem dos ministérios da educação e da cultura passaram a fazer parte da Marcha Israelense.
Os estudantes polacos começaram a fazer juntos com os visitantes israelenses, o mesmo percurso de 3 km entre Auschwitz, na cidade Oświęcin e Birkenau, na cidade de Brzezinka para lembrar os horrores que sentiram não só os polacos de origem judaica, mas todos os polacos das demais religiões e ateísmo.

Outras manchetes:
Manchete do jornal El País, Madrid, Espanha: POLÔNIA APROVA POLÊMICA LEI QUE IMPEDE VINCULAR O PAÍS AOS CRIMES DO HOLOCAUSTO

Manchete do jornal Público, Lisboa, Portugal: POLÓNIA, O MAIOR DE TODOS OS PARADOXOS DO HOLOCAUSTO

Manchete JornalI, Portugal: POLÓNIA APROVA LEI QUE TORNA ILEGAL ACUSAR O PAÍS DE CUMPLICIDADE COM OS NAZIS

Manchete da TV europeia Euronews, França: PROJETO LEI POLACO SOBRE CRIMES DA ALEMANHA NAZI SUBMETIDO AO PRESIDENTE

Manchete do jornal Tempo: PAÍSES REPUDIAM LEI QUE ISENTA POLÔNIA DA MORTE DE JUDEUS

Manchete do Destak Jornal: POLÔNIA APROVA PROJETO DE LEI SOBRE HOLOCAUSTO

Mais uma manchete da IstoÉ: LEI POLACA SOBRE HOLOCAUSTO JUDEU IRRITA ISRAEL, EUA E UCRÂNIA

- Nada mais parcial, unilateral e antijornalístico do que estas manchetes. Todas, sem exceção, procuram criminalizar a Polônia por se defender de acusações e "deslizes". E o uso da palavra Holocausto é equivocado, pois não é dele que a lei se refere.

Com: DW/IstoÉ/ RC/lusa/dpa/ap/Ansa

Ulisses Iarochinski diante do Monumento ao Holocausto no campo de concentração e extermínio alemão de Majdanek, em Lublin - Polônia

Manchetes do jornal Gazeta Wyborcza, de Varsóvia, de oposição ao atual governo da Polônia, um da após as repercussões da lei aprovada no Senado:

- PiS LÊ PESQUISAS E AVANÇA COM O ATO DO INSTITUTO DA MEMÓRIA NACIONAL. O PLANO? SIMPLES: O PRESIDENTE DUDA RAPIDAMENTE ASSINA E DEPOIS CONVERSA COM ISRAEL

- KARCZEWSKI EM UMA REUNIÃO COM DIPLOMATAS: A CO-RESPONSABILIDADE DA POLÔNIA PELO HOLOCASTO É ANTIPOLONISMO

- A EMBAIXADA ISRAELENSE ESTÁ PROTESTANDO CONTRA OS MATERIAIS INFORMATITVOS DA TVP. NÓS VIMOS LÁ AINDA MUITO MAIS

- O CONSELHO INTERNACIONAL DE OŚWIĘCIN ESTÁ PROTESTANDO SOBRE A LEI DO  INSTITUTO DA MEMÓRIA NACIONAL

Título do artigo do colunista Paweł Wroński:
- PRIMEIRO MINISTRO MORAWIECKI  ENSINA HISTÓRIA, MAS NÃO COMPREENDE O FOSSO ENTRE AS SENSIBILIDADES POLACA E JUDAICA

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