quinta-feira, 18 de novembro de 2021

A presença polaca no Brasil é de séculos

Historiadores afirmam que o primeiro polaco a chegar ao Brasil foi Krzysztof Arciszewski, comandante da invasão holandesa, em 1629.

Erraram todos os que escreveram isto!

Ele não foi o primeiro a chegar. Antes dele, no dia 22 de abril de 1500, na expedição de Pedro Álvares Cabral chegou Kacper. Um polaco de origem judaica da cidade de Poznań.

Conhecido como Gaspar da Gama, ele era um intérprete de línguas do Oriente que o navegador Vasco da Gama havia capturado em Gôa. Aprisionado, Kacper se converteu ao cristianismo e adotou o nome do poderoso padrinho.

Kacper de Poznań foi levado para Lisboa por Gama. Frequentador assíduo da corte portuguesa, ao ponto se tornar amigo do Rei Manoel I. Amizade que o fez ser escolhido para integrar a expedição de Cabral.

Na verdade, o tal Gaspar (nome aportuguesado) nascido na Polônia tem sua presença anotada em diversos estudos. Entretanto, historiadores parecem querer esconder sua presença e pior sua origem polaco-judaica.

Eduardo Bueno é um dos poucos que registram o tradutor de várias línguas: “Além de mestre João, outro personagem intrigante a bordo era Gaspar da Gama, ou Gaspar da Índia, que Vasco da Gama julgara ser um espião árabe e capturara em Gôa, na Índia. Gaspar, na verdade, era um judeu polaco, de caráter errante, que vivera na Índia 30 anos antes. Aprisionado por Gama, terminou por conquistá-lo. Converteu-se ao cristianismo, adotou o nome de batismo do poderoso padrinho e foi levado para Lisboa. Passou a circular pela corte com desenvoltura, tornou-se íntimo de D. Manoel e embarcou como intérprete na viagem de Cabral.”

Gaspar da Gama foi um dos quatro primeiros homens da expedição a pisar em solo brasileiro antes que o comandante Pedro Álvares Cabral. O português ordenou a descida em terra firme do experiente Nicolau Coelho, que estivera na Índia com Vasco da Gama, do intérprete Gaspar da Gama (o polaco-judeu da Índia) - que além do árabe, falava dialetos hindus da costa do Malabar  - e o terceiro intérprete da frota que tentou falar com os "índios" sem sucesso foi Gonzalo Madeira de Tânger, Marrocos,
além de um escravo de Angola.

O polaco Kacper de Poznań participou, em 1502, de outra expedição para a Índia na esquadra comandada por Vasco da Gama. Retornou de novo a Índia, em 1505, com a expedição de Francisco de Almeida. Participou na Índia em expedições dos portugueses que tentaram conquistar Ormuz, em 1508, e Calicute, em 1510, época em que alguns supõem que ele tenha morrido.

Os portugueses conseguiram reunir, assim, a bordo de um escaler, homens dos três continentes conhecidos até então e capazes de falar seis ou sete línguas diferentes.

Assim que, o comemorado Krzysztof Arciszewski pelo poeta curitibano Paulo Leminski foi o segundo polaco a pisar em solo brasileiro e não o primeiro. Arciszewski nasceu em 1592, em Śmigiel, vila da cidade de Kościan, na voivodia da Wielkopolska (Grande Polônia). Śmigiel fica a aproximadamente 52 km a Sudoeste de Poznań.

Arciszewski foi contratado pela Companhia das Índias Ocidentais holandesa e nessa condição ele desembarcou no Nordeste brasileiro, em 1629, juntamente com os invasores holandeses. Acabou voltando a Holanda e algum tempo depois retornou ao Brasil em 1634. Derrotou o governador da Bahia, saiu-se vitorioso na Batalha de Porto Calvo, em 1638, e fez a tomada do Arraial do Bom Jesus.

Enviado a Holanda retornou pela terceira vez ao Brasil, em 1639, mas desta vez entrou em conflito com o príncipe Maurício de Nassau, o mesmo que tinha levantado uma estátua de Arciszewski, em homenagem às suas vitórias contra os portugueses, em Recife. O polaco foi preso a mando de Nassau e enviado a Holanda definitivamente. Na Europa, escreveu poesias sobre o Brasil, além de relatos e mapas topográficos sobre as batalhas em que se saiu vencedor. Faleceu na Polônia, na cidade de Gdańsk, em 1656.

Em 1631, foi a vez do Padre Wojciech Meciński, que aportou no Recife. Alguns grafam seu nome em português como Alberto. Ele nasceu em 1601, em Osmolice, uma vila no distrito administrativo de Gmina Strzyżewice, na cidade de Lublin, voivodia Lubelska, no Leste da Polônia. Ele era padre da Congregação dos Jesuítas.

O navio em que ele viajava para Gôa, na Índia foi desviado do curso e acabou em Pernambuco. Meciński desenhou um mapa de Pernambuco e uma descrição da capitania. Acabou morrendo em Nagazaki, no Japão, como mártir, depois de ser torturado, em 23 de março de 1643.

Séculos mais tarde, em 1826, chegou o capitão do exército, Edward Kacper Stepnowski, que ao que tudo indica é o primeiro polaco a se estabelecer no Paraná.

Figuram ainda Robert Trompowski (1829, Santa Catarina), Andrzej Przewodowski (1839, Bahia), Piotr Czerniewicz (1839, Rio de Janeiro), Florian Roswadowski (1850, trabalhou na construção do teatro do Rio de Janeiro), Hieronim Durski (1851, um dos fundadores de Joinville) e Karol Mikoszewski (1865).

Assim que, comemorações são apenas convenções criadas com o intuito de valorizar muitas vezes seus parentes, a si próprios e a comunidade, isto, em detrimento de outros e de outras localidades mais apropriadas para tais eventos.

Estas informações preliminares vem a pretexto das comemorações dos 150 anos da imigração polaca em Curitiba realizadas no último dia 30 de setembro e que prosseguiram nos meses de outubro e novembro.

Eventos semelhantes aos que também aconteceram dois anos atrás em Brusque e que foram chancelados como sendo 150 anos da imigração polaca NO Brasil.

Comemorações que estão sendo tratadas como Do Brasil equivocadamente, pois elas ignoram por completo indivíduos e outros grupos chegados bem antes ao país, como os já citados.

Os eventos deste ano, na capital paranaense, parecem ter sido corrigidos e estão sendo chamados de polacos de Curitiba, mas ainda assim se equivocam ao referirem ser estes polacos os primeiros a chegar à própria capital paranaense e ao Paraná.

Sim!

Monumento aos 150 anos dos polacos em Curitiba, no Pilarzinho - Foto: Daniel Castellano

Porque estas famílias de 1871 não foram as primeiras a chegarem a Curitiba e tampouco ao Paraná. Os festeiros ignoraram a existência de Edward Kacper Stepnowski, que chegou no Rio de Janeiro, aos 33 anos, solteiro, em 1826.

Stepnowski antes de vir ao Paraná, naquele mesmo ano foi lutar na Província Cisplatina, no posto de capitão de 1ª linha dos lanceiros do 6º Regimento de Cavalaria do Exército Imperial Brasileiro.

Em 1836, Stepnowski foi trabalhar na catequese de índios do vale do Rio Ribeira. Seu nome aparece como proprietário de terras na Freguesia de Santa Ifigênia (atual rua), na estrada do Piquiri, na cidade de São Paulo.

Segundo o jornal da província de São Paulo “A Phenix”, de 1840, Kacper Edward Stepnowski foi reformado como Capitão do Exército, em 20 de setembro de 1838.

Após casar com Tereza Maria das Candeias adquiriu terras na Vila de Castro, em 1858. Ali, nasceram seus filhos João Aureliano (1841) Ulisses Alberto (1848),  Sofia Maria (1851) e Josefina (1857). Stepnowski adquiriu terras em Votuverava (Rio Branco do Sul) na Ribeirinha. Descendentes de Stepnowski ainda habitam a região de Apiaba e Socavão, em Castro.

Stepnowski, sim! É o primeiro polaco do Paraná!

Se aceitamos que uma única pessoa imigrante não é um marco, mas que um grupo de pessoas é, então, preciso se basear nos estudos e pesquisas de Jan Pitoń, padre polaco que pesquisou durante anos no Brasil e na Polônia sobre chegada e estatísticas da imigração polaca no Brasil. Pitoń foi pároco em algumas igrejas do Sul do Brasil e reitor da Missão Católica Polaca no Brasil e um incansável pesquisador da etnia. Descobriu colônias de imigrantes polacos até em Goiás.

Pitoń em suas publicações afirmava que o primeiro grande grupo de imigrantes polacos do Brasil chegou a província do Espírito Santo, em 1847, e que era formado por 120 famílias polacas vindas da Prússia Oriental e da Silésia, regiões então invadidas e ocupadas pelos saxões-alemães.

Então!

Considerando os estudos de Pitoń, os tais anos de comemoração forçosamente teriam de aumentar para “174 Anos da Imigração Polaca no Brasil", com este grupo grande comprovadamente estabelecido no Espírito Santo.

Tudo, pois, é uma questão de conveniência ou convenção e até de ideologia.

Outro grupo que precedeu as famílias de Brusque, consideradas equivocadamente como as primeiras a pisar em solo brasileiro, foi o de Hieronim Durski. Polaco da Wielkopolska, então com 26 anos de idade, veio junto com sua esposa Pelagia Wiktoria (24 anos), a filha Joanna (7 anos), o filho Juliusz (4 meses (alguns autores dizem que possuía 12 anos), a sogra Ełżbieta Włostowska-Wieczerski e outros oito polacos. O professor e músico chegou em Joinville, em 1851, como está comprovado pela lista de passageiros do navio Emma & LouiseDurski é um dos cinco primeiros imigrantes a se estabelecer no que viria mais tarde ser a principal cidade de Santa Catarina.

Durski pouco tempo depois se estabeleceu na então Colônia Dona Francisca. Viveu alguns anos ali, antes de transmigrar, primeiro para a cidade da Lapa e depois para Curitiba, em 1866. Esteve lecionando, em 1868, em Palmeira, em 1870, em Campo Largo. Alguns biógrafos de seu filho Juliusz - considerado célebre fotógrafo brasileiro da segunda metade do século 19 - teria se mudado para Sorocaba-SP, com seus pais, em 1875. O biógrafo assinala que Júlio (adotou o nome em português quando se naturalizou brasileiro) Wieczerski Durski:

"Exerceu a profissão de fotógrafo na cidade de São Paulo em 1876, com ateliê estabelecido à Rua do Ouvidor, através da sociedade “Photographia Allemã”. Executou trabalhos em Sorocaba a partir de 1878, em parceria com o sócio Leuthold. Em 1879, fotografou a Fábrica de Ferro de São João do Ypanema. As fotografias foram apresentadas na Exposição de História do Brasil, da Biblioteca Nacional, em 1881, ano em que se estabelece em Sorocaba com ateliê próprio: a “Photographia de Julio W. Durski”.

Mas a verdade é que, o pai Jerônimo Durski, estava na na capital paranaense, em 1876, onde fundou a primeira escola de ensino no idioma polaco do Brasil, na Colônia Órleãns.


Durski e sua família, portanto, são os primeiros polacos de Santa Catarina e de Curitiba.

Assim colocado, as comemorações de polacos NO Brasil deveriam ser de “195 Anos de Imigração Polaca no Brasil” ou “163 Anos de Imigração Polaca em Castro” e de "155 Anos de Imigração Polaca em Curitiba".

Entretanto, é preciso registrar e aceitar que chegaram 320 famílias polacas, em 1857, em Santa Cruz do Sul - no Rio Grande do Sul.

E com isto, temos mais comemorações equivocada. Sim! Porque os gaúchos comemoram como marco inicial da imigração polaca no Rio Grande do Sul, as 26 famílias polacas assentadas na Colônia Conde D'Eu, na linha Azevedo Castro, atual município de Carlos Barbosa, no ano de 1875.

Portanto, o grupo de Brusque e Curitiba não pode ser considerado como sendo o marco inicial da imigração polaca NO Brasil. Na verdade, este grupo é o quinto e não o primeiro de imigrantes polacos no Brasil.

A pergunta que emerge destas informações é:

- Qual a razão da comissão de notáveis de 1971, em Curitiba, convencionar o centenário da imigração polaca no Brasil?

Seus integrantes não sabiam da existência dos grupos do Espírito Santo, de Santa Cruz-RS e de Joinville?

Talvez não! Mas preferiram assumir os dois grupos da Colônia Príncipe Dom Pedro e Itajahy. Mas pelo menos um integrante da comissão sabia: o padre vicentino Jan Pitoń. Contudo, parece que foi voto vencido. Os demais, preferiram eleger o grupo de 16 famílias que chegou ao Porto de Itajaí, Santa Catarina, em agosto de 1869.

Grupo este composto por 16 chefes de família e mais três solteiros veio no navio Victoria do comandante Redlisch, que trouxe aqueles colonos desde o porto de Hamburgo, na Confederação Alemã, com escalas em Antuérpia na Bélgica e no Rio de Janeiro.  

Eram 80 polacos provenientes da região da Silésia Meridional polaca. Eles vinham da vila rural de Biała Góra, em Stare Siołkowice, cidade de Popielów, na Voivodia de Opole. Os pais destas famílias eram:

Franciszek Pollak (família composta por 7 pessoas), Mikołaj Wós (3 pessoas), Bonawentura Pollak (6 pessoas), Tomasz Szymański (4 pessoas), Szymon Purkot (4 pessoas), Filip Kokot (3 pessoas), Michał Prudło (4 pessoas), Szymon Otto (5 pessoas), Dominik Stempki (3 pessoas), Kacper Gbur (5 pessoas), Balcer Gbur (9 pessoas), Walenty Weber (6 pessoas), Antoni Kania (2 pessoas), Franciszek Kania (5 pessoas), a Mãe de Franciszek e Antoni Kania (2 pessoas), Andrzej Pampuch (7 pessoas), Józef Purkot ( solteiro), Julianna Wós (solteira) e Stefan Kachel (solteiro). 

Os 35 adultos e 45 crianças foram instalados na colônia abandonada Sixteen Lots (16 lotes) denominadas Colônia Príncipe Dom Pedro e Itajahy, na foz do Ribeirão das Águas Claras, na região do atual município de Brusque.

No ano seguinte, em 1870, chegaram mais famílias vindas da mesma Stare Siołkowice (a tradução aproximada deste nome para português é "Velho Local de Assentamento"). Eram compostas de 54 adultos com muitos filhos.

Os pais e chefes de família deste segundo grupo eram:

Fabian Barcik, Grzegorz Hyla, Bernard Fila (4 pessoas), Baltazar Gbza, Leopold Jeleń, Andrzej Kawicki, Marcin Kempki, Błazej Macioszek, Walenty Otto, Wincenty Pampuch, Paweł Polak, Marcin Prudlik, Jozéf Purkot, Jozéf Skroch, Tomasz Szajnowski, Ignacy Miłek (6 pessoas), Jakub Nalewaja (7 pessoas), Anna Gbur (4 pessoas), Karol Bera (6 pessoas), Paulina Elne, Bartosz Szyk, Maria Purkot (4 pessoas), Katarzyna Kokot (6 pessoas), Karolina Stefan (2 pessoas), Elżbieta Wosch (2 pessoas), Ester Prudło (2 pessoas), Suzzana Nabrzeka (4 pessoas), Maria Kania (2 pessoas), Róża Atan (3 pessoas), Maria Ludwika (3 pessoas), Maria Róża (2 pessoas), Maria Prodlingrz (4 pessoas), Anna Wósch (8 pessoas), Walter Gartich (2 pessoas), Józef Riff (2 pessoas) e August Waldera.

No total, somando os dois grupos de famílias são mais de 180 pessoas, sendo 80 adultos e mais de 100 crianças.  

O que confirma esta quantidade é um requerimento guardado pelo IHGPR - Instituto Histórico e Geográfico do Paraná de Sebastian Edmund Wós Saporski, datado de 12 de agosto de 1870, ao governador do Paraná:

“Ilmo. e Exmo. Snr. Presidente do Paraná. Temos a liberdade d’enviar à Vossa Excellencia Ilma. a inclusa lista das famílias Polacas, oitenta pessoas, que emigrão no anno passado para o Brasil e forão mandados a sua presente residencia Colonia de Brusque na Província de Santa Catarina, para que pudesse-lhes ser concedida a muito humilde pedida d’elles o transporte d’essa Província para a do Paraná. P. q. Vossa Excellencia ilma. se digne servir. Curitiba, em 12 de Agosto de 1870. Seb. E. Saporski. Despacho: Indeferido. Palacio da Presidencia do Paraná, 25 de outubro de 1870. A.E. Leão. Officios-1870, vol. 16 APEP.”  

Aquele primeiro grupo de 16 chefes de família e três solteiros tinha embarcado em:

- 10 junho 1869 - Embarque no navio Victoria, no porto de Hamburgo.
- 21 junho 1869 - Nascimento em alto mar de Jan N. Wosch.
- 03 julho 1869 - Nascimento em alto mar de Stefan Szajnowski
- 11 agosto 1869 - O navio Victoria aportou em São Francisco do Sul - SC
- 25 agosto 1869 - Batizado de Stefan Szajnowski, na Colônia Príncipe Dom Pedro
- 09 setembro 1869 - O navio Victoria segue até o Porto de Itajahy - SC
- 12 novembro 1869 - Nascimento de Izabella (Ełżbieta) Kokot na Colônia Príncipe Dom Pedro
- 06 dezembro 1869 - Anexação da Colônia Príncipe Dom Pedro à Colônia Itajahy.

Um relato da viagem foi escrito por uma das passageiras e recuperado por Maria do Carmo R. Krieger Goulart:

“10 de junho de 1869. Hoje faz dois meses que embarcamos no navio Victoria, no Porto de Hamburgo. O cansaço pela longa viagem marítima deixou-nos debilitados. No navio a comida era boa. Serviam sardinhas, carne duas vezes por semana e, todos os dias, café pela manhã e chá pela tarde. Conhaque, vinho, limões e remédios foram de grande utilidade na travessia do Oceano Atlântico. Só não havia remédio para o cansaço da longa viagem.”

No ano seguinte, 1870:

- 04 janeiro 1870 - Nascimento de Julianna Gbur
- 29 agosto 1870 - Nascimento de Zofia Mocko
- 11 outubro 1870 - Falecimento de Jan Otto, filho de Szymon Otto.

No ano que chegou o segundo grupo algumas datas devem ser assinaladas:

- 26 abril 1871 - Nascimento de Piotr Purkot
- Julho 1871 - Transmigração de 34 famílias para Curitiba
- 30 de setembro de 1871 – Chegada a Curitiba.

Também deve ser ressaltado que foram estes polacos que trouxeram consigo os instrumentos para o que seria a base da atual indústria têxtil catarinense. Devendo, portanto, serem considerados os verdadeiros país da indústria têxtil catarinense.

Krieger Goulart registrou os nascimentos e óbitos dos primeiros polacos daqueles dois grupos nascidos em solo brasileiro:

“em 12 de novembro de 1869, nasceu Izabella Kokot na Colônia Príncipe Dom Pedro, em Brusque-SC. Izabella seria, portanto, a primeira polaca nascida no Brasil. No ano seguinte, em 04 de janeiro, nasceu a segunda polaca, Julianna Gbur, que morreu 53 dias depois. No mesmo ano, ainda em Brusque, nasceu a terceira polaca, Zofia Mocko. O primeiro menino polaco, Piotr Purkot, nasceu, em 26 de abril de 1871.”

Nos registros de óbitos da Igreja da Colônia Príncipe Dom Pedro e Itajahy estão os falecimentos de Jan Otto, com um ano e cinco meses, no dia 11 de outubro de 1870, filho de Szymon Otto e Rozalia; Małgorzata, filha de Ignacy Miłecki e Suzzana Kubiś, em 21 de dezembro de 1870. Já em 2 de Janeiro de 1871, faleceu a terceira polaca, Marianna Stempka; em 3 de janeiro, Jan Purkot; em 14 de janeiro, Małgorzata, filha de Jan Miłecki e em 26 de fevereiro, Julianna Gbur.

Todos foram enterrados no cemitério da colônia.

Os recém chegados polacos ao se defrontarem com a selva densa, coberta de robustos pinheiros, acreditaram ter chegado ao paraíso. A primeira atitude foi erguer suas casas com os troncos daquelas belas árvores.

A alegria se transformou em tristeza rapidamente. A inexperiência com a floresta sub-tropical, a desorientação agrícola, o abandono do governo brasileiro foram causa de profundas decepções e frustrações.

Toda a dor dos primeiros imigrantes foi relatada em cartas aos parentes da distante Polônia, infelizmente apreendidas e censuradas pelas autoridades prussas de ocupação.

O jovem polaco que havia chegado anos antes a Santa Catarina, Sebastian Wós, e que acrescentou ao seu nome Edmund Saporski encontrou um padre também polaco como ele, Antoni Zieliński, que tinha chegado antes ao Brasil e era pároco em Blumenau.

Os dois sensibilizados com as dificuldades daqueles polacos buscaram informações sobre outras terras. Souberam, então, alguma coisa sobre a província vizinha do Paraná. As intenções da mudança dos polacos correram logo pelas ruas de Blumenau, onde os chefes, alemães, viam a presença dos polacos como possibilidade de os transformar em escravos brancos.

Quando os dois líderes polacos solicitaram transferência para os campos de Curitiba, receberam sonoros e enérgicos: não!

Saporski não desanimou!

Viajou até o Paraná, acompanhado de sua mãe adotiva (uma senhora alemã que havia conhecido no navio a caminho do Brasil e Argentina). O jovem Sebastian queria conhecer a outra província e solicitar diretamente ao presidente (governador) do Paraná a transmigração de seus patrícios. Foi lhe oferecido, então, terras na vila de Palmeira.

Saporski não gostou das terras áridas do segundo planalto e pior, segundo ele, as terras eram muito longe da capital.

Voltando a Curitiba, Saporski conversou com o vice-presidente da Província, Ermelino de Leão, que,  no entanto, pouco pode fazer, pois o presidente Venâncio José de Oliveira Lisboa, ao contrário das expectativas, queria fundar uma colônia bem longe de Curitiba, em Assunguy.

Além disso, alguns habitantes da cidade quando souberam das pretenções do polaco, ficaram contra. Chamavam-no de forasteiro embusteiro.

Imigrantes alemães já estabelecidos no Pilarzinho, ciosos de sua cômoda posição e de seu privilegiado monopólio de serem os únicos fornecedores de produtos hortigranjeiros de Curitiba temiam a concorrência dos novos colonos e por isso se posicionaram contra.

Saporski voltou frustrado a Santa Catarina, mas nem por isso, menos esperançoso de seus propósitos. Ele tinha que tirar seus patrícios de perto do imigrantes alemães.

Meses depois, Saporski finalmente conseguiu a aprovação da transmigração. Não foi fácil, mas o governo da província acabou financiando parte das despesas de transporte e assentamento dos polacos de Brusque.

O transporte foi feito de navio até Paranaguá e em carros de boi pelo também imigrante João Hey. Por este feito e outros atos ao longo de sua vida, Saporski foi reconhecido como o Pai da Imigração Polaca no Brasil.

Aqueles polacos ao chegarem ao Paraná foram inicialmente alojados em algumas das chácaras existentes em Curitiba. Alguns ficaram na Chácara Holleben, outros na Chácara de B., Schmidt e Meister.

O governo do Paraná pagou 725 francos, enquanto Saporski outros 48 francos pelas despesas de transporte de Santa Catarina para o Paraná.

Não demorou muito para todos serem reassentados na Colônia do Pilarzinho, distante 5 km do centro da cidade. A cada família foi destinado um lote. Tudo feito de conformidade com a Lei e regulamentado pela Câmara Municipal. Naquela época não existia prefeitura, nem prefeito. O presidente da Câmara era a principal autoridade da cidade.

Aqueles imigrantes de cabelo louro, pele rosada e olhos claros e exóticos para os curitibanos foram os primeiros de milhares que no entender de Bento Munhoz da Rocha Netto, ex-governador do Paraná,  realmente mudaram a face da terra dos Pinheirais. Depois desta gente loira e corajosa, o Paraná nunca mais foi o mesmo:

“Em nosso planalto frio, de pinheiro, campo e erva-mate, está integrada, como uma realidade iniciada em 1871, a colonização polaca. A colônia polaca faz parte da paisagem com sua apresentação típica. Com a igreja, o cemitério ao lado e casa do vigário. O colono polaco adaptou-se. Teve problemas como sempre existem e seria impossível que não existissem na migração de um meio muito diferente do de origem. Por ser o Paraná, dos três Estados do Sul do Brasil, a região que atraiu, em maior número, o imigrante polaco, quando este Estado amanhecia e se expandia, esboçando e fazendo adivinhar a realidade futura, ainda longínqua, a colônia polaca plantou um marco na evolução desta terra. Não se pode pensar o Paraná sem a figura do imigrante polaco e as contribuições que ele trouxe. Houve, assim, uma identificação do polaco com o Paraná(...) Este Estado pensou ter o monopólio dessa imigração. De fato, o Paraná ficou dono do polaco. Podemos dizer aqui: o polaco é nosso. Confirmando a tese de Gilberto Freyre, da assimilação regional, como caminho para a assimilação nacional, criou o tipo específico do polono-paranaense, como integrante do continente cultural brasileiro. Ao contrário do resto do país, aqui o sobrenome polaco não soa estrangeiro. Apesar de sua frequente dificuldade de grafia, o sobrenome de origem polaca é uma versão que se compreende e da qual os paranaenses luso-brasileiros se habituaram e avaliam como sendo coisa genuinamente paranaense (...).”

Durante o período da imigração, o Paraná ficou bastante conhecido na Polônia. Os agentes de emigração apresentavam o Estado como tendo sido escolhido por Deus. Era tal a esperança pela Canaã brasileira que os polacos começaram a acreditar na lenda quase divina que dizia mais ou menos assim:

“O Paraná até então estava encoberto por névoas e que ninguém sabia de sua existência. Era uma terra em que corria leite e mel. Então a Virgem Maria, madrinha e protetora da Polônia, ouvindo os apelos que o sofrido camponês polaco lhe dirigia, dispersou o nevoeiro e predestinou-lhe o Paraná. Tal decisão a Virgem Maria comunicou ao Papa, o qual, sensibilizado pelo destino da cristandade polaca, convocou todos os reis e imperadores da terra, para sortear a posse de tal território.Por três vezes consecutivas foi tirada a sorte, e sempre o Papa era o contemplado. Então o papa solicitou ao Imperador brasileiro que distribuísse essas terras aos polacos, para que a tivessem à fartura e ali pudessem viver felizes, expandindo o seu cristianismo. (Folhetos de propaganda do governo Brasileiro na Polônia).”

Para o Paraná já tinham vindo imigrantes de outras nacionalidades. Eram argelinos, franceses, suíços, alemães, ingleses e irlandeses. Mas estes imigrantes logo se dispersaram e muitos voltaram para suas nações de origem. Somente a partir de 1871, com a chegada daqueles polacos a Curitiba, o processo de colonização com imigrantes europeus começou a dar resultado.

O Império trazia aqueles imigrantes de seus países de origem custeando a viagem da Europa ao Brasil e sustentava-os até que pudessem se manter com os frutos da terra.

O primeiro, a conscientemente, apostar nos polacos foi o presidente de Província, Adolfo Lamenha Lins (1875-1877) que oferecia as seguintes condições aos imigrantes:

“Medidos e demarcados os lotes de terras de cultura nos arredores da cidade, traçadas as estradas, entrega-se um lote a cada família, com uma casa provisória, regularmente construída. Ao colono maior de dez anos, dá-se como auxílio de estabelecimento vinte mil réis. Cada família recebe mais 20 mil réis para a compra de utensílios e sementes. Logo que o colono se estabelece é empregado na construção de estradas do núcleo, recebendo ferramenta necessária e cessa então a alimentação por conta do governo. Em cada núcleo, funda-se uma escola e edifica-se uma capela, com exceção daqueles que por muito próximo da cidade dispensam esta construção. Além do trabalho nas estradas do núcleo, encontra o colono, serviço nas obras públicas gerais. Estabelecidos por esta forma, ficam os colonos entregues à sua própria iniciativa e somente obrigados a pagar do regulamento de 1867, a sua dívida ao governo. Esta dívida, pelo que respeita aos gastos feitos desde a chegada do colono a esta Província, ainda não excedeu a 500 mil réis para cada família de 5 pessoas, termo médio, incluído preço das terras e está garantido pelo valor real do lote, casa e acessórios. Achando na cidade pronto mercado para o produto de sua lavoura e fácil consumo de lenha, hortaliças e pequenas indústrias, o colono pode em tempo breve libertar-se dessa dívida para com o Estado e habilitar-se a desenvolver a sua lavoura.”

Contudo, esta dívida nunca foi cobrada aos imigrantes.

O presidente da província acreditava que os descendentes destes imigrantes, seriam a mão-de-obra tão necessária para povoar os sertões do Paraná. Numa fase inicial, eles seriam assentados ao redor da Capital e formariam o chamado “cinturão verde” de abastecimento alimentício da população.

Lamenha Lins propunha e executava.

No curto período de seu governo conseguiu instalar com sucesso as colônias de Santa Cândida, Órleãs, Dom Pedro, Dom Augusto, Thomaz Coelho, Lamenha, Santo Inácio e Riviere.

O PILARZINHO
Com o fim da Guerra do Paraguai, a Câmara Municipal de Curitiba preocupada com os combatentes brasileiros que começaram a voltar, propôs, em 11 de agosto de 1870, a criação de uma Colônia Municipal no local chamado de Pilarzinho, com o intuito de conceder terras aos soldados do Império. Eis alguns de seus artigos:

"Art. 1º - É destinada uma área não inferior a meia légua quadrada nos terrenos do patrimônio da Câmara Municipal de Curitiba, no quarteirão do Pilarzinho, a margem esquerda do Bariguy, que terá por limites, por um lado - tomando como ponto de partida o mesmo rio Bariguy - a linha divisora entre os terrenos de patrimônio municipal e os de propriedade municipal e os de propriedades particular dos moradores da Caxoeira, para os colonos que quiserem nela fundar espontaneamente estabelecimentos agrícolas.
Art. 7º. - Os colonos que se estabelecerem na referida área ficam isentos do foro municipal dentro do primeiro ano, assim como dos emolumentos do título de aforamento perpétuo que se lhes conceder. As primeiras concessões de lotes foram feitas para 24 Voluntários da Pátria."

Em seguida, em 1871, os demais lotes foram doados para os 80 chefes de família de imigrantes polacos transferidos da província de Santa Catarina.

As idéias de Lamenha Lins de formar um “cinturão verde” em torno de Curitiba favoreceu a instalação das diversas colônias no decorrer dos anos seguintes. Por ordem cronológica, os polacos foram assentados nas colônias que atualmente são bairros da cidade:

- 1871 (novembro) - Pilarzinho,
- 1873 - Abranches,
- 1875 - Santa Cândida,
- 1876 - Nova Polônia (compreendia as colônias Lamenha, Santo Inácio, Órleãns, Dom Pedro, Mossunguê, Dom Augusto),
- 1877 - Rivière (hoje, Ferraria em Campo Largo),
- 1878 - Murici, Zacarias, Inspetor Carvalho e Coronel Accioly.

Também foram criadas as Colônias de Serrinha, em Contenda; Thomaz Coelho e Guajuvira, em Araucária.

PRIMEIRAS TERRAS
O documento que registra oficialmente a chegada daqueles famílias é um atestado da Câmara Municipal:

“Câmara Municipal da Cidade de Curitiba, attesta, a requerimento de Sebastian Edmund Saporski, o seguinte:
1.º que existem estabelecidas no rocio desta Capital as trinta e duas famílias polacas, constantes da relação apresentada, ocupando alguns lotes de terrenos da colônia Pilarzinho e outros terrenos que requereram a esta Câmara e obtiveram por carta e fóro;
2.º que as mesmas famílias polacas são dedicadas ao trabalho, excellentes lavradores e muito morigerados;
3.º que não consta a esta Câmara tivessem estas famílias recebido quaisquer favôres ou adiantamentos pecuniários do Gôverno para estabelecimento.
 
Paço da Câmara, 15 de outubro de 1873 Eu Ignácio Alves Corrêa, secretário o subscrevi. O presidente da Câmara municipal, ass. Antônio Augusto Ferreira dos Santos."

INIMIGOS
Os novos colonos, a princípio, foram rechaçados por pessoas que não aceitavam a presença deles. Para dar crédito às suas posições acusavam os polacos de arruaceiros e vagabundos.

O principal motivo, no entanto, era devido ao fato dos polacos terem recebido auxílio da Câmara Municipal e isto, foi considerado uma injustiça para com os antigos assentados, já que nunca tinham sido contemplados com as mesmas regalias.

Entretanto, parece, a causa principal da rejeição e das maledicências, eram conflitos ocorridos na Europa, pois os ataques partiam dos granjeiros germânicos já estabelecidos no bairro desde 1863.

A secular desavença polono-germânica aflorou mais uma vez, e desta vez, do outro lado do Atlântico. Os Schaffer, os Wolf e os Mueller temiam ameaça aos seus negócios de lenha, leite e verduras.

Os polacos sem o saberem já haviam sido convertidos em concorrentes dos saxônicos. Este desentendimento acabou produzindo até uma obra literária, publicada na Polônia com o título de “Bitwa Pilarzinho” (Guerra do Pilarzinho).

A situação somente melhorou quando, em 1875, começaram a chegar imigrantes italianos. Professando uma mesma religião católica, os polacos se aproximaram dos italianos, afastando-se ainda mais dos protestantes saxônicos.

PRIMEIRO POLACO CURITIBANO?
Sob o número 414, nos registros de nascimento da velha Igreja Matriz de Curitiba, está assinalado o que pode ter sido o nascimento do primeiro polaco nascido em solo curitibano:

“Aos vinte e oito dias do mês de Outubro de mil oitocentos e setenta e um, nésta Matriz de Curitiba, batizei e puz os santos oleos no inocente Jan, nascido a seis d’este mês, filho legítimo de Grzegorz Hylla e de Maria..., Polacos. Foram padrinhos Fabian Barcik e Rozalia Pampuch, também Polacos e fregueses desta Paróquia. Do que fiz este assento. O Vigário Agostinho M. de Lima.”

No mesmo livro, mais adiante, o registro 415 apontava:

“Nascimento de Ursula, a 27 de Outubro de mil oitocentos e setenta e um, filha legítima de Fabian Barcik e Edwirges Purkot, polacos...”

Junto a Jan e Ursula, Leopold filho de Filip e Eżbieta Purkot são os primeiros curitibanos etnicamente polacos.

A CURITIBA QUE EU SOU
Uma série de reportagens publicada no Jornal do Estado, em Curitiba, no período de 18 a 23 de agosto de 1987, pelo autor deste texto, tentava explicar as influências dos imigrantes e em particular dos polacos no comportamento curitibano:

PARTE 1
Curitiba da província. Curitiba da metrópole. Curitiba marcante...Curitiba arrogante...Curitiba sorriso. Dos campos de cerração de antes, aos campos industriais de agora. Uma Curitiba que cresce, que se transforma...mas que permanece. Dos olhos azuis das crianças das antigas colônias, ao breu dos esgotos das favelas de hoje. Dos vastos pinheirais que a circundavam aos imensos arranha-céus de concreto e aço que a inunda. Das antigas famílias imperiais, ao entrelaçamento das famílias raciais. Curitiba...dinamismo...serenidade. Curitiba...a busca da evolução com tranqüilidade.

A Curitiba que eu sou, pretende ser um painel de permanências e de mudanças e sobretudo desmistificar uma série de conceitos e preconceitos através de seus pensadores e sua gente. Viver em Curitiba é instigar aqueles que a constróem e irritar àqueles que não a conhecem.

“Quem uma vez viu o rosto da esperança, não o esquece jamais. Importa que esta Curitiba, de tantas manhãs de cerração, de duas ou três nevadas por século, consiga manter a boa qualidade de vida, neste Brasil tão nosso, dos imigrantes, filhos de polacos, italianos e alemães, semeadores, que aqui plantaram seus sonhos de esperança. Neste Paraná de todos os cantos do Brasil, que aqui definiu nossa vocação, pelo trabalho árduo, de celeiro da Nação(...) As cidades devem ser como espelhos. A gente olha o espelho e nele se reconhece. Há pessoas que podem não gostar da imagem que se reflete no espelho da cidade. Importa que todos se reconheçam na cidade que querem herdar e na cidade que vão deixar a seus filhos...quem já viu o rosto de Curitiba, cheia de esperanças, não vai esquecê-lo, vai lutar para que permaneça(...) Curitiba dos mineradores e tropeiros dos séculos dezessete e dezoito, começou a mudar por volta de 1870 quando começaram a chegar as levas de imigrantes europeus. O rosto da cidade mudou. Das antigas casas baixas aos sobrados alemães é um salto. A catedral de estilo português foi demolida e em seu lugar foi erguida a atual, de estilo alemão, construída totalmente pelos imigrantes que dominavam o comércio local. Já no início do século XX as feições da cidade não eram mais portuguesas, mas um misto de eslava-germânica-italiana”.

As palavras são do memorialista Rafael Greca de Macedo, que afirmava, "definir Curitiba implica em conhecer sua existência.” Para ele, declarar que Curitiba é diferente é explicar a razão e as causas desse caráter. Dessa forma, ele conta à sua maneira, a Curitiba da esperança:

“Com a fixação das colônias de imigrantes em volta da cidade, compôs-se um mosaico do mundo. Nos atuais bairros de Santa Cândida, Abranches, Barreirinha e Pilarzinho fixaram-se os polacos. Em Santa Felicidade e Colombo, os italianos. No Bigorrilho e Largo da Galícia, os rutenos. E assim por diante, os argelinos, franceses, suíços e outros vão sendo destinados a determinada região da cidade. O caso dos alemães difere um pouco dos demais imigrantes, porque sendo comerciantes e não agricultores, eles se fixaram no centro da cidade e começaram a influenciar o cultural da cidade muito antes que os outros. Como cada colônia possuía sua própria escola e igreja na língua de sua respectiva Nação, a integração se processava muito lentamente. A partir de 1940, com a Segunda Guerra, alemães e seus descendentes são perseguidos: a impressora Paranaense, no Batel, é destruída. Getúlio Vargas, por sua vez, proíbe as escolas e as igrejas das colônias de ensinarem e rezarem em seus idiomas. Os colonos iniciam a vinda para o centro da cidade. Seus filhos passam a freqüentar escolas de brasileiros. A cidade começa nova transformação.”

Segundo Rafael Greca é nesse momento, com a interação das diversas etnias que a cidade forma e solidifica seu comportamento “suis generis”. O badalado caráter tímido do curitibano nasce, segundo ele, quando “as mães polacas, italianas, ucranianas e alemãs passam a recomendar a seus filhos para terem cuidado com o que vão dizer lá fora. Acredito sinceramente que vem dessa recomendação materna, o caráter tímido e retraído dos curitibanos. Afinal, quase todo mundo aqui nasceu dentro de uma colônia.” 

Para Greca, a diferença entre nordestinos, cariocas, mineiros e curitibanos, reside justamente no fato de que, enquanto os demais brasileiros são de muito falar, de muito reivindicar, os curitibanos têm receio de reclamar, de solicitar, de pedir. A malfadada dificuldade de se estabelecer amizade com curitibano tem origem nesse caráter de gueto dos imigrantes e principalmente do polaco. O memorialista afirma que esse Brasil diferente nasceu sobretudo dos polacos. Porque sempre eles foram em maior número que as outras etnias.

Greca chega a afirmar que a característica mais forte da influência polaca é o trabalho. Ao ficarem em contato com a terra eles doaram esse comportamento diferente ao resto do país. Como para os brasileiros, de um modo geral, o trabalho não é nobre, ridiculariza-se a força de trabalho. “Pelo mesmo motivo que no Rio de Janeiro, as piadas são com os portugueses, em São Paulo com os italianos, em Santa Catarina com os alemães, aqui em Curitiba o anedotário é com o polaco. Tudo o que acontece de errado aqui é culpa de um polaco.”, sorri Greca.

Para ele, a massa trabalhadora sempre marca a característica de uma cidade e é por isso que Curitiba tem muito de sua identidade ligada aos polacos.

“Está claro que eu gosto de todas as etnias que compõem a cidade. Eu sou descendente de italianos com portugueses. Mas tenho um carinho especial pelos polacos”, diz Rafael para explicar que “quando os primeiros polacos vieram para o Brasil, eles não proviam de um Estado independente, porque este na realidade não existia. O que havia era somente a Nação. Nessa época, a Polônia estava dividida entre a Rússia, a Prússia e a Áustria. Enquanto as demais colônias tinham a quem recorrer, os polacos não tinham ninguém, sequer um consulado. Eles se sentiam desamparados numa terra inóspita, de costumes e língua diferentes. Por isso, sofreram muito. Demoram, pois, muito a se integrar. Mas, quando o fizeram, foi com tamanha força que transformaram o modo de ser da cidade e de seus habitantes.”

Na infinidade de costumes e hábitos que os imigrantes embutiram no espírito de Curitiba e exportaram para o restante do Brasil, Rafael Greca aponta algumas curiosidades:

“Muita gente não sabe, mas o costume de enfeitar pinheirinho de natal, nasceu aqui. Existe uma gravura datada de 1891, onde um grupo de mulheres enfeita uma árvore, onde está escrito: A árvore de Natal...o novo costume para celebrar a Natividade...que os alemães trazem a Curitiba. O próprio Papai Noel não era conhecido no Brasil. Bastou ele aterrissar seu trenó pela primeira vez neste país, em Curitiba, para que ele passasse a ser tradição nacional e isto não faz tanto tempo assim. Lá para cima, em Minas Gerais, Nordeste, a comemoração de Natal não existia. A única celebração no dia 25 era a missa do galo, porque festa mesmo, com presentes, era só em 6 de janeiro, Festa de Reis com direito a lapinhas e congadas. Outra coisa. Sabem porque o carnaval de Curitiba é tão sem graça? Porque aqui temos outras festas. A Hailka dos ucranianos, o Baile do Chope dos alemães, a Festa da Uva e do Vinho dos italianos e a Páscoa polaca - sem dúvida a maior das festas da cidade. As comemorações da Páscoa são mais fortes em Curitiba, que em qualquer outro lugar do Brasil. A Páscoa dos polacos é uma das festas mais belas desse país. Claro que há mais coisas em Curitiba que muito pouca gente sabe nesse país. Esse costume de comer ovos de chocolate, por exemplo, é genuinamente polaco. Coelho e ovos de Páscoa são costumes que nasceram em Curitiba e que o Brasil adotou. Como também muitas outras festas que não são conhecidas porque elas sempre viveram confinadas. O perfil curitibano não permite a divulgação de suas coisas... é o retraimento e a timidez que não deixa que as festas e sua gente se tornem mais conhecidas e populares no resto do país.”

Concluindo, Rafael Greca de Macedo faz questão de citar o ex-governador Bento Munhoz da Rocha Neto, é dele essa idéia de Paraná de todas as gentes. “Foi ele que impulsionou a fusão de todas as culturas, das colônias numa só identidade e que possibilitou essa feição européia de Curitiba”.

PRECONCEITUOSO
“O brasileiro é favorável a imigração, mas contra a pessoa do imigrante. Não acredito na existência de guetos. O curitibano sempre foi tímido”. A declaração é do professor Wilson Martins, autor do livro “Brasil Diferente”.

Para o escritor, o curitibano sempre foi um ressentido e isso em função do Paraná ser um Estado tardio. Historicamente, o curitibano sempre foi de baixa estatura, “agora todos são altos e por isso acredito que hoje a população desta cidade seja outra, que não aquela da história.” Segundo ele, na Curitiba de antes as pessoas andavam mais devagar, eram mais pacatas e por isso falavam mais pausadamente, pronunciando as vogais finais. “Somado a isso, tivemos a contribuição dos falares das várias etnias que acabaram por configurar um sotaque bastante distinguido do resto do país”, explica Martins.

Foi ele que pela primeira vez tratou de forma equânime as diversas colônias de imigrantes de Curitiba. “O que havia antes da publicação da primeira edição do meu livro, em 1955, era uma série de publicações sob o ponto de vista da respectiva etnia”.

Talvez por isso mesmo, o livro causou polêmica. Os que mais reclamaram foram os polacos por serem tratados de forma tão perjuriosa e injusta. Mas ele se defende dizendo “que culpa que eu tinha se em todos os jornais do início do século, onde pesquisei, encontrei apenas registros desabonadores da conduta dos primeiros imigrantes desta etnia?”

Segundo as pesquisas de Martins, eram corriqueiras as notas nas colunas policiais sobre embriaguez e arruaças promovidas por polacos. Mas Edwino Donato Tempski, autor do livro “Quem é o Polonês”, contesta Martins dizendo que em uma outra pesquisa bem mais criteriosa, pois foi através dos arquivos da Justiça do Paraná, para o mesmo período pesquisado por Martins, não havia nenhuma ação criminal contra os polacos.

Tempski afirma que sua pesquisa cobriu um período de 10 anos ao redor do período pesquisado por Martins. “O que esse senhor demonstrou foi um total despreparo enquanto pesquisador, foi leviano e de muita má-fé contra os polacos, denotando preconceito.”

Mais recentemente, outra etnia saiu em protesto contra o livro de Martins. Os ucranianos dizem que o livro não menciona a presença deles. “Mas realmente, nas estatísticas sobre a imigração que pesquisei, eles não existiam. Todos os ucranianos, russos, prussianos, austríacos e russos brancos entravam nos relatórios como sendo polacos”.

Talvez Martins desconhecesse o significado da palavra ruteno, e como elas se transformou em  ucraniano, pois esta denominação está presente nas estatísticas, sim.

Para Martins, a demora no protesto, talvez se deva ao fato de que os polacos passaram a ser depreciados e tratados como se fossem negros escravos que aqui se procriaram, “não dizem por aí, que polaco é preto do avesso. Pois bem, os ucranianos, para não receberem a mesma carga preconceituosa, trataram de não serem confundidos com os polacos e buscaram a distinção”.

Segundo o professor, esse preconceito não existe mais, entretanto, ele era muito forte no início da imigração. No entender dele, as antigas famílias, por serem donas da terra e terem a idéia da nobreza imperial, viam o imigrante como um ser inferior. A resposta dessas pessoas a tal tratamento foi cada vez mais o auto-isolamento.

Mas, para Martins esse isolamento não significa enquistamento, formação de gueto. O que houve, foi uma divisão da cidade por estratificação social, “ fossem imigrantes, descendentes de imigrantes, ou famílias tradicionais, os habitantes procuravam se reunir em diferentes bairros pelas posses e rendas que possuíam. Desta forma, o Batel era dos ricos, o Portão da classe média e a Vila Oficinas dos trabalhadores de baixa renda”.

Com relação a questão cultural, Martins acredita que o estigma da cidade deve muito à contribuição das etnias.

“Os alemães, por se fixarem na região urbana e se estabelecerem como comerciantes, começaram a interagir muito antes que as outras etnias. O visual da cidade mudou. De casas baixas, estilo português, passou-se para sobrados de arquitetura alemã. O fato de já virem de seu país de origem pertencendo a uma classe urbana e portanto com preocupações culturais, fez com que os alemães se destacassem na música, literatura e teatro. Outra etnia que muito contribuiu foi a italiana. Claro que muitos vieram como agricultores, mas uma parcela significativa veio composta por músicos, artistas e construtores, que trataram de difundir rapidamente seus costumes. A forte presença dos construtores italianos começa a ser notada muito cedo. O museu paranaense, que guarda muito da arquitetura renascentista foi obra de imigrante italiano”. (MARTINS, 1987).

Mais uma vez o escritor demonstra todo seu preconceito contra os imigrantes polacos. Martins desdenha a contribuição cultural polaca, dizendo:

“Já os polacos, pela sua condição agrícola, foram os últimos a se integrarem e por isso não acredito que possam ter contribuído culturalmente para a cidade. Com isso, gradativamente aquele provincianismo das primeiras famílias foi se extinguindo. Os curitibanos, com o movimento maior de pessoas e principalmente pelas viagens ao exterior foram se universalizando e percebendo que não eram superiores e tampouco inferiores aos imigrantes. Foi aí que aconteceu a homogeneização e o caráter particular da cidade. Mas isso era até 1960, ano em que fui para Nova Iorque. Depois disso passei a vir aqui apenas para as férias, por isso acredito que muita coisa tenha mudado. É só abrir os olhos e perceber”, finaliza Martins. (reportagem de página dupla publicada, em 18 de agosto de 1987, no Jornal do Estado, Curitiba - PR, Martins atualmente reside em Curitiba, cidade para onde retornou após se aposentar na Universidade de Nova Iorque).

A CURITIBA QUE EU SOU
PARTE II (trecho)
“A Mística imigrante do trabalho é o que condiciona todo o comportamento erótico do curitibano”, declara o poeta Paulo Leminski.

Segundo ele, o perfil comportamental do curitibano não muda é eterno, “É como o signo das pessoas. Uma vez nascido nele, não há como mudar. A cor dos olhos também não muda”.

Para Leminski a principal diferença entre o Brasil e Curitiba é a atitude em relação ao trabalho. “No Norte, o trabalho avilta; no Sul ele dignifica”. Isso é o que faz este indivíduo chamado curitibano ser tão diferente.

Na lógica leminskiana, essa atitude traz consequências que acabam definindo o comportamento curitibano. A principal delas é a amputação do erotismo. Quando perguntado se o número crescente de boates “for man” não estaria de certa forma modificando essa postura em relação ao erotismo, ele responde: “O curitibano é reprimido sexualmente por causa do trabalho. Ele sai de casa para o trabalho de manhã e só volta à noite para exercer seu erotismo. A culpa é da Curitiba conservadora que não permite evolução.” 

Para o poeta, “o erotismo curitibano não está solto nas ruas. Mas também, não é pelo fato de estar confinado que ele não exista. Ao contrário, é muito forte. Tanto que marca toda a sociedade”. Leminski insiste na sua tese do trabalho imigrante, “teve até um governador que usou como lema de sua gestão - Aqui se Trabalha - porque na verdade é isso mesmo que acontece, enquanto no Brasil eles cantam, o povo daqui trabalha”. 

Leminski cita o exemplo de vários adesivos que estão circulando nos pára-brisas dos carros: “Não me inveje, trabalhe!” A crença na própria tese é tanta, que ele diz estar preparando um livro, onde vai contar detalhadamente os aspectos que influenciaram este caráter. Leminski fala até numa proposta separatista: A República Trabalhista do Sul, “só assim nos livraremos do peso de ser Brasil e poderemos deixar a condição de subdesenvolvidos”.

Questionado se a migração interna que passou a ocorrer em Curitiba dos anos 80 não estaria forçando uma mudança de hábitos, ele reafirma sua opinião: “mesmo com o crescimento da cidade em termos populacionais ela não está se transformando”. Ironicamente ele afirma: “É o Brasil que está chegando nessa Europa Central aqui do Sul. O fato deles virem para cá não quer dizer nada. A cidade permanece a mesma. Ou esses cariocas, mineiros, nordestinos, paulistas e todo o resto entram na nossa ou vão acabar virando bandidos. Daí, meu caro, é caso de polícia e não de sociologia”. (reportagem publicada em 19 de agosto de 1987 - Paulo Leminski já faleceu).

A CURITIBA QUE EU SOU
PARTE IV (trechos)

O médico Edwino Donato Tempski é pesquisador e uma das pessoas mais estudiosas da imigração polaca no Brasil. Autor de alguns livros, inclusive um não publicado em parceria com Bronislau Ostoja Roguski.

Neste livro “Um século de colonização polonesa no Paraná” é possível detectar duas causas que motivaram os polacos a abandonarem suas terras e emigrarem para o Brasil. A primeira, foram as insurreições armadas que sacudiram a Polônia e as três partilhas. A segunda, foram as condições econômicas e sociais preponderantes que mantinham o povo rural no analfabetismo, na miséria e na constante fome de terra sob o jugo dos alemães (prussianos) russos e austríacos.

No mesmo livro ainda está assinalado que a presença polaca data de muito antes das primeiras levas de imigrantes do século passado. “O almirante Krzystow Arciszewski participou na qualidade de coronel de artilharia e perito engenheiro militar da expedição holandesa de 1629. Dirigiu a tomada das fortalezas do Arraial e de Nazaré e do assalto a Porto Calvo, em Pernambuco. Em 1634, ele escreveu a Elegia, na qual pela primeira vez em língua polaca é mencionado o Brasil. Em versos, ele narra os episódios das batalhas contra os espanhóis. Esse canto, desconhecido por muito tempo, foi publicado, em 1848, pela Biblioteca de Ossolinski, em Lwów”.

Sobre o comportamento arredio do polaco nas suas relações com a população curitibana, Tempski, afirma:

“o slogan do governo daquela época era - governar é povoar - e agindo assim fixaram as primeiras levas de imigrantes no interior, em locais inóspitos e sem qualquer comunicação com a cidade. Colocaram aqueles pobres em lugares sem um mínimo de apoio. Era como se dissessem - Já lhes demos a terra, agora se arranjem- . O governo não realizou obras que viabilizassem as conexões das colônias com os centros urbanos. Devido a isso, os imigrantes ficaram isolados, sem poder manter intercâmbio cultural com os brasileiros. Para citar apenas um exemplo desse desleixo, conto sobre a escola primária da Colônia Santo Inácio, bairro onde está hoje o Parque Barigui. Somente 50 anos após a fixação do primeiro polaco nesta colônia é que foi levantada a primeira escola. Numa total falta de consideração para com aqueles brasileiros que ali nasceram.”

No entanto, segundo o historiador, bastou a consecução do plano rodoviário paranaense na década de 50 para que a integração das colônias com os grandes centros se efetivasse de maneira imediata. Estava assim confirmado que os polacos só não se integraram antes porque não havia estradas. A expansão do rádio, TV, telecomunicações em geral uniu finalmente esses indivíduos, que já eram brasileiros, ao seu próprio país. 

“Como se percebe, muito do comportamento do imigrante foi imposto pelas condições em que foram fixados. Vale destacar também o fato de em sua origem, estes seres humanos terem vivido num sistema feudalista. Um sistema que impunha limites ao indivíduo. Para eles, o mundo compreendia a aldeia do suserano. Não havia, portanto, sentimento de nação. Tal isolamento foi transportado para as colônias no Brasil, junto com estes imigrantes, solidificando o comportamento isolacionista do imigrante polaco em relação aos habitantes da cidade.”

A tão criticada hospitalidade curitibana se deve as restrições motivadas por reminiscências de episódios históricos, de lutas e disputas que ocorreram entre as nações de origem dos imigrantes que compõem Curitiba. São fatos que aconteceram há séculos e que infelizmente continuam fomentando essas recíprocas restrições de entrelaçamento e influenciando toda a cidade.

“Essa situação de animosidade entre polacos e alemães decorre das lutas em solo europeu há séculos, Da mesma forma, entre polacos e ucranianos, o distanciamento aconteceu em função da expansão do cristianismo. Durante este período, as duas nações se colocaram um posições antagônicas, uma seguindo Roma e outra os Ortodoxos de Bizâncio. (...) Após um século de colonização polaca no Paraná, verifica-se que a contribuição dessa etnia no desenvolvimento econômico, cultural e social do Estado tem sido notável. As novas técnicas agrícolas trazidas pelos polacos e implantadas em solo paranaense - por eles desbravado e amainado, influíram decisivamente para o aprimoramento da agricultura estadual. O comércio e a indústria recebeu a parcela de colaboração dos polacos. Na igreja, João Falarz, Ladislau Kula, Isidoro Mikosz afirmaram a vocação religiosa na terra dos pinheirais. Na magistratura, Segismundo Gradowski e João Grabski resplandeceram a notável tendência dos descendentes pelas letras jurídicas. Na Medicina Szymon Kossobubzki e, enfim, em todas as atividades dinâmicas, o elemento de ascendência polaca se faz presente”. (Reportagem publicada em 21 de agosto de 1987. Ao todo foram 6 reportagem de páginas duplas inteiras sobre o perfil curitibano durante uma semana de agosto de 1987 - Tempski também já é falecido).

O PAPA POLACO EM CURITIBA
O Cardeal de Cracóvia, Karol Wojtyła e agora Papa João Paulo II, esteve em Curitiba em 5 de julho de 1980. Aqui, na terra dos pinheirais, ele se encontrou com os descendentes da sua querida Polônia. Em sua homília no Centro Cívico, para mais de um milhão de pessoas, ele disse diretamente aos corações dos polacos e descendentes:

“Alegro-me muito deste encontro de hoje com os meus patrícios na longínqua terra brasileira de Curitiba. E agradeço por isso a Deus. Para esse encontro tivestes o direito, vós aqui presentes e todos os quais a quem representais, tive para ele o direito também eu, como filho desta terra das margens do Vístula com a qual estamos unidos em diferentes graus de procedência com lanços de sangue e para este encontro tinha direito justamente esta terra nossa Pátria. Muitos de vós, com certeza, nunca viram talvez, a algum lugar que tenha dela e da sua história, uma noção um tanto opaca. Mas isto não muda o fato, de que lá descendem alguns, já procedem por muitas gerações, mas que lá estão as raízes, isto representa uma ligação, uma dentre muitas, mas no entanto, válidas, como um mistério ao vosso coração, isto é uma prova pessoal que não somente diz sobre o milenar passado, mas também sobre o que está em vós e que vos forma, o que de alguma maneira decide que sois e não outros, mas também é o vosso dever ser o que sois. O que precisa crescer e demarcar a linha de vossa vida, esta mais profunda realidade, está inscrita em vosso coração e é mistério da Cruz de Cristo. Estou aqui diante de vós como um conterrâneo, mas estou também como sucessor de São Pedro e pastor da igreja universal. Estou pois, como especial testemunha de cristo e sua Cruz. O mistério da Cruz e Ressurreição gravou-se profundamente na história de nossa Pátria, sabemos pois pela maravilhosa Providência Divina, entramos como nação na arena da História do mundo, justamente pelo Santo Batismo. (...) Desde o início, os acontecimentos passageiros da vossa Pátria e Nação teceram-se com a história da Salvação e esta é a chave desta história e do coração humano que compôs esta história e continua a compor.”

Após o retorno a Roma, o Papa concedeu entrevista ao mais importante jornal católico de Cracóvia, o Tygodnik Powszechny, onde respondeu a seguinte pergunta:

- Jornal: “Como em todos os países do mundo, também no Brasil, sobretudo em Curitiba, encontrou-se Vossa Santidade com gente da Polônia. De que modo olha o Papa desta Nação, para esta antiga comunidade de emigrados da Polônia para o Brasil?”
- Papa: “Sobre este assunto poderia falar muito e também dizer pouco. Primeiro é preciso admitir que eles são um dos grupos emigrados da Europa. Um dos grupos mais numerosos. Sobretudo em Curitiba, no Estado do Paraná. Teria sido oportuno os notar a todos. A todos dedicar especial atenção. Entre os grupos étnicos numerosos recordados, além dos polacos, nos lembramos dos italianos, dos alemães, dos ucranianos. No Brasil há ainda tantos outros e não provêm só do nosso continente. Há negros da África e asiáticos. (...) pelo que diz respeito aos que são originários da Polônia - ou melhor, aos brasileiros com essa origem - eles conservam de maneira bastante evidente sua própria identidade, a própria singularidade. Entre eles está viva a recordação do difícil princípio”.

NOVA POLÔNIA
A Câmara Municipal de Curitiba para facilitar a administração da zona agrícola que formava o cinturão verde da cidade, criou em 1892, o distrito Nova Polônia.

O distrito compreendia a região onde hoje são os bairros de Campo Comprido em Curitiba e Ferraria no município de Campo Largo.

A decisão de criar o distrito se deveu ao grande número de imigrantes polacos assentados nas colônias da região. No ano seguinte, 1893, em função do grande número de habitantes, inclusive imigrantes italianos, foi instalado um cartório na antiga Estrada do Mato Grosso (atual rua Eduardo Sprada (Edward Sprada - em polaco).

O distrito de Nova Polônia existiu durante 46 anos, sendo extinto em 1938.

Este Sesquicentenário, portanto, é tão somente a comemoração da chegada daqueles dois grupos de imigrantes Polacos, em 1871 em Curitiba. E não no Paraná, e também Não no Brasil.

A presença polaca no Brasil como assinalada vem de muito longe, vem desde o 22 de abril de 1500.

Vem da chegada de muitos agrupamentos em décadas anteriores em outras partes do país e que confirmam que os polacos já estavam em solo brasileiro há muito mais que 150 anos apenas, chegadas,  das quais são testemunhas Hieronim Durski, Sebastian Wos, Antoni Zieliński, Robert Trompowski, Santim Languski, Adrzej Przewodowski, Piotr Czerniewicz, Augustyn Lipiński, Józef Warszewicz, Florian Roswadowski, Karol Strtyński, Fedor Ochsz, Jan Sztolzmann, Karol Mikoszewski e o pioneiro de Castro: Edward Kacper Stepnowski.

Parabéns às comemorações, aos bravos imigrantes polacos, a Polônia, ao Brasil e a principalmente a Kurytyba, a única cidade latinoamericana que possui uma grafia em idioma polaco!

Texto: Ulisses Iarochinski (Jarosiński, em polaco) 

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Filme paranaense "O Armário Mágico" falado em polaco

Filmagens de cenas dos atores Renato Novaes (Zigmunt) e Ulisses iarochinski (pan Chełmicki)

O filme longa-metragem "O Armário Mágico" conta a história de dois amigos improváveis: um velho e solitário imigrante polaco, Zygmunt, e um menino judeu chamado Milo.
Desde que foi deixado por seus pais sob a guarda de Zygmunt, escondido no sótão de uma velha casa em um pequeno vilarejo no Norte do Paraná, esperando pacientemente a volta deles.

Lá fora, dias sombrios assolam o mundo durante a Segunda Guerra Mundial e os moradores descendentes de alemães decidem colocar em prática um hediondo plano de expulsar violentamente todos os judeus da vila paranaense.



Mas será que os nazistas tupiniquins serão capazes de descobrir o esconderijo de Milo?

O elenco é formado pelos atores: Renato Novaes, André Hendges, Iuri Saraiva, Cris Carniato, André Anelli, Charles Paraventi, Gabi Spaciari, Ulisses Iarochinski, Sérgio Abreu, Rafael Pereira da Silva, Lucca Arusa, Andressa Phamela e Guilherme Verde.

Cris Carniato e Iuri Saraiva

Renato Novaes, Cris Carniato, Gabi Spaciari, Iuri Saraiva e o menino Rafael Pereira da Silva

Projeto realizado com verba de incentivo à cultura - Lei Municipal 9.160/2012 – Prêmio Aniceto Matti Audiovisual - Secretaria da Cultura de Maringá. 

Uma produção Diamante Filmes e Script Doctor Productions em associação com Studio Lance.

Direção: Érico Alessandro e Eliton Oliveira.
Assistentes de Direção e Logger: Beatriz Martins e Frederico Favoreto
Roteiro e Produção Executiva: Eliton Oliveira.
Direção de Fotografia: Edison Fattori.
Assistente de Câmera e Foquista: Ivan Duarte (Zera)
Montagem: Elton Júnior, Eliton Oliveira e Érico Alessandro
Direção de Produção: Siandre Camacho.
Produtor Associado: Elton Júnior.
Assistentes de Produção e Elétrica: João Pedro Jacomin e Lucas Andrade.
Cenografia e Direção de Arte: Marcelo Rocha Loures.
Assistente de Arte: Gustavo (Guz)
Figurinista: Renata Sanches
Assistente de Figurino: Heloisa (loh) Goulart Matos
Maquiagem e Caracterização: Quezia Tofoli
Som Direto: Elton Júnior
Gaffer: Ricardo Barros (carioca)
Assistente Gaffer: Lucas Roman Bulgarao
Trilha Sonora: Studio Lance 
Color Grading: Incitefx
Equipe Técnica

Reportagem da TVP-Telewizja Polska através de seu canal internacional TVPolonia com o ator brasileiro-polaco Ulisses Iarochinski e o repórter Oskar Płonka.


texto: Ulisses Iarochinski

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Mais um Santo polaco canonizado


No domingo, 12/09/21 o cardeal polaco Stefan Wyszyński foi beatificado em Varsóvia com o rito presidido pelo prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, em representação do Papa. São João Paulo II era sido seu amigo, "um bom pastor", assim o havia definido.

A vida do cardeal Wyszyński está entrelaçada com a história conturbada e difícil da Polônia durante os anos de domínio soviético e o florescimento do sindicato dos trabalhadores "Solidarność".

Sua beatificação, inicialmente prevista para 7 de junho de 2020, acabou ocorrendo no domingo, 12 de setembro último. O processo da Causa sofreu uma reviravolta em 2018, quando o conselho médico da Congregação para as Causas dos Santos reconheceu a recuperação milagrosa de uma freira de 19 anos, que sofria de câncer de tireoide.

PERSONAGEM PROEMINENTE

Nascido em 1901, desde jovem sacerdote revelou ser um ativista social, especialista em ciências sociais católicas e criador, entre outros, da Universidade Cristã dos Trabalhadores com sede em Włocławek e o editor do "Ateneum Kapłańskie" (O Ateneu sacerdotal), uma revista de alto nível.

Graças a essas iniciativas bem sucedidas, Papa Pio XII o nomeou bispo de Lublin em 1946. Dois anos depois foi nomeado primaz da Polônia, metropolita de Gniezno e Varsóvia.

Por 33 anos conduziu de fato a Igreja na Polônia, ocupando o cargo de presidente da Conferência Episcopal. Era legado pontifício (na ausência do núncio) e tinha poderes especiais que havia recebido da Santa Sé após o falecimento em 1948 de seu predecessor, o cardeal August Hlond. Esses poderes especiais permitiam-lhe ter jurisdição nas ex-terras alemãs atribuídas à Polônia e cuidar dos católicos no território da União Soviética. Em janeiro de 1953, ele foi nomeado cardeal.

A sua vida foi inegavelmente marcada pela prisão de 1953 a 1956. Ao escancarar as portas da prisão o seu: "Non possumus!", foi pronunciado diante da tentativa dos comunistas de assumir o controle das nomeações na Igreja.

Sem acusação, julgamento ou sentença, ele foi preso. Três anos nos quais o cardeal Wyszyński traçou um programa de renovação moral da nação polaca. Os pilares deste programa foram a consagração da sociedade à Mãe de Deus (Os Votos da Nação em Jasna Góra, em 1956) e, em seguida, o programa da Grande Novena, que incluía nove anos de pastoral e de oração antes do milésimo aniversário do Batismo da Polônia em 1966. A novena foi acompanhada pela peregrinação de uma cópia da imagem da Nossa Senhora Negra de Częstochowa por todas as dioceses polacas.

ENTREGA TOTAL À MARIA


Um dos traços mais característicos da espiritualidade do cardeal Wyszyński era sua devoção mariana, que tinha um caráter decididamente cristológico. Isso se expressava, entre outras coisas, no slogan que costumava repetir: "Soli Deo per Mariam". Nele, também era muito presente a disposição de perdoar seus perseguidores.

Quando Bolesław Bierut, presidente do país e perseguidor da Igreja morreu, Wyszyński imediatamente celebrou uma Santa Missa pela alma em sua capela particular. Em seu testamento ele escreveu:

“Considero uma graça o fato de ter podido testemunhar a verdade como prisioneiro político pelos três anos de reclusão e ter podido me proteger do ódio dos meus compatriotas que governam o país. Tendo consciência dos erros que eles cometeram contra mim, eu os perdoo de coração por todas as calúnias com as quais eles me honraram.”

AMIZADE COM WOJTYŁA


Wyszyński é para Karol Wojtyla um irmão mais velho na fé, um exemplo de coragem e firmeza interior que muito influenciou a formação do futuro João Paulo II. “Ele é um pilar para a Igreja de Varsóvia e um pilarpara toda a Igreja da Polônia”, escreveu ele numa mensagem por ocasião da sua morte em 28 de maio de 1981. Foi Wyszyński que ordenou Wojtyła padre e depois à cardeal por ordem do Papa.

O Papa estava hospitalizado após o atentado na Praça de São Pedro e enviou aos funerais o secretário de Estado, cardeal Agostino Casaroli. Duas figuras - Wojtyla e Wyszyński - que tornaram grande a Igreja polaca e que hoje como Santos continuarão a guiá-la.

Fonte: Vatican News
Texto: Benedetta Capelli
Cidade do Vaticano

sábado, 4 de setembro de 2021

Polônia declara estado de emergência

A Polônia declarou estado de emergência em duas regiões da fronteira com a Bielorrússia.

A declaração foi dada dois dias atrás, na quinta-feira, após um grupo de imigrantes não documentados tentarem entrar ilegalmente na Polônia. O governo em Varsóvia atribuiu ao país vizinho a grave situação. Acusação que é referendada pela União Europeia. Tanto o país como a UE afirmam que o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, está encorajando centenas de imigrantes a cruzarem o território polaco. Concordam que esta é uma forma de pressão do governo ditatorial bielorrusso para forçar a União a retirar as sanções que impôs ao país.

Alexander Lukashenko

A ordem de emergência – a primeira na Polônia desde o fim do regime soviético – proíbe reuniões e limitou os movimentos das pessoas numa faixa de terra de 3 Km ao longo da fronteira comum ao dois países, que vigorarão pelo menos nos próximos 30 dias. Polícia polaca e veículos blindados foram vistos na área nos últimos dias.

“A atmosfera é geralmente violenta, há soldados uniformizados e armados em todos os lugares, isso lembra-me a guerra", disse a moradora Marta Anna Korzenec da cidade fronteiriça polaca de Krynki.

Recorde-se que, antes destes episódios, a Polônia começou a construir uma cerca de arame farpado na semana passada para conter o fluxo de imigrantes de países como o Iraque e o Afeganistão – refugiados que a Europa espera receber a qualquer momento. Mas não por essa rota: segundo os especialistas, esses refugiados deverão tentar entrar na Europa pela Turquia.

Citado por vários jornais, o ministro das relações exteriores da Bielorrússia, Vladimir Makei, culpou “os políticos ocidentais” pela situação nas fronteiras e assegurou que o seu país “sempre honrou todos os compromissos”.

Já o porta-voz da presidência polaca disse que a situação na fronteira é “difícil e perigosa. Sendo a Polônia responsável pelas suas próprias fronteiras, mas também pelas fronteiras da União Europeia, devemos tomar medidas para garantir a segurança da Polónia e da União”.

Nos últimos meses, milhares de migrantes - a maioria deles procedentes do Oriente Médio - cruzaram a fronteira da Bielorrússia para os Estados-membros orientais da União Europeia: LetôniaLituânia e Polônia.


Por outro lado, ativistas dos direitos humanos que se encontram na região acusaram as autoridades polacas de negarem atendimento médico adequado a imigrantes retidos na fronteira. Varsóvia contra-argumenta que a responsabilidade é do governo ditatorial da Bielorrússia.

A disposição proíbe todos os não residentes de entrarem na área fronteiriça e obriga os moradores a levarem seus documentos de identidade, além de impor limites rigorosos na cobertura midiática na região.

Centenas de refugiados afegãos e iraquianos já estão sendo atendidos em centros comunitários em várias cidades da Polônia. Mantidos em quarentena e sendo vacinados contra o CoronaVírus. Escolas já estão se preparando para receber os filhos dos refugiados para o ano letivo que se inicia em outubro.

A Polônia mobilizou 2.000 soldados na fronteira nos últimos dias e está construindo uma cerca de arame farpado para impedir a passagem dos migrantes, o que provocou protestos de organizações não-governamentais.

A oposição acusa o partido no poder, Direito e Justiça (PiS, de extrema-direita), de usar essa questão como uma forma de obter o apoio eleitoral de quem é contra a imigração.

MENINO AFEGÃO


Um menino de 5 anos que foi retirado do Afeganistão morreu em um hospital na Polônia depois de comer fungos venenosos. O irmão dele está em estado grave, anunciaram seus médicos nesta quinta-feira.

Os meninos chegaram na Polônia em 23 de agosto com a família e estavam em quarentena em um centro de imigrantes em Podkowa Leśna, perto de Varsóvia.

Os dois meninos e a irmã deles, de 17 anos, foram hospitalizados em 26 e 27 de agosto. A menina recebeu alta alguns dias depois.

Segundo o portal de notícias OKO.press (olho da imprensa), o pai dos meninos, um contador, trabalhou para o exército britânico durante anos e a família foi retirada pelo exército polaco a pedido da Grã-Bretanha.

Um porta-voz do Escritório de Imigração, que administra os centros de imigrantes na Polônia, disse no início da semana que cinco pessoas haviam solicitado atendimento médico por problemas no estômago, mas que não relataram terem ingerido fungos.

O porta-voz também negou uma matéria da imprensa segundo a qual as crianças comeram os fungos porque não estavam suficientemente alimentadas. Os imigrantes recebem "três refeições por dia", disse.

As possibilidades de que seu irmão sobreviva "são negativas", declarou o diretor do hospital CZD em Varsóvia, Marek Migdal.

"Os serviços bloqueiam o acesso dos refugiados a médicos, advogados e voluntários. Eles violam a constituição polaca, a Convenção de Genebra e a Convenção Europeia dos Direitos Humanos. Em tal situação, é necessário tomar todas as medidas para acabar com o sofrimento das pessoas presas em território polaco", escreveram em um comunicado ativistas que cortaram arame farpado na fronteira polaca-bielorrussa no último dia 29 de agosto de 2021.

Em Usnarzu Górny estão hospedadas 32 pessoas do Afeganistão. "Eles vivem em condições desumanas. A destruição dos emaranhados de fios de fronteira foi simbólica. Somos contra a introdução de um estado de emergência na fronteira, que impedirá as ONGs de levar ajuda aos necessitados", acrescentam os ativistas.

ATIVISTAS: NÃO NOS DEIXAMOS INTIMIDAR


Os ativistas enfatizam que pretendem lutar contra um governo pacífico, mas com firme desobediência civil.
"Nossa liberdade pessoal e as consequências das acusações contra nós são um preço que estamos dispostos a pagar em defesa de valores mais elevados, em nome da solidariedade e do humanitarismo. Não nos deixemos intimidar. Vamos lutar pelos direitos dos refugiados, porque esta é nossa causa comum e nosso comum - direitos humanos", argumentam ativistas.

As ativistas são ativas no grupo Shadow of the Mist (Sombra da Névoa) - Apoio de Base para a Greve das Mulheres. Treze pessoas assinaram a declaração. Entre eles estão, entre outros Bartosz Kramek da Open Dialog Foundation (fundação do diálogo aberto) e pessoas de organizações que ajudam refugiados.

CINCO ANOS DE PRISÃO
No último domingo, 29 de agosto, ativistas chegaram na fronteira entre a Polônia e a Bielorrússia perto da cidade de Szymaki. Armados com cordas e tesouras, correram até a faixa de fronteira, cortaram os fios, amarraram cordas a eles e esticaram um fragmento da cerca alguns metros.

Segundo a polícia, cerca de 15 metros da rede foram destruídos. Exatamente a perda foi estimada em 638 złotych. Todas as pessoas interrogadas foram acusadas de danos materiais em conexão com o chamado contravenção hooligan. Eles podem pegar até 5 anos de prisão por danos materiais. Além disso, o guarda de fronteira entrou com ações no tribunal para punir 13 pessoas por entrarem na faixa de fronteira, pelas quais elas enfrentam uma multa de até 5.000 zlotych.

O estado de emergência, introduzido na quinta-feira em 183 localidades, restringe muitos direitos civis e liberdades, incluindo liberdade dos meios de comunicação que estão proibidos de estar na zona em que é válida.

Um repórter do portal Onet, no entanto, chegou à fronteira entre a Polônia e a Bielorrússia, embora tenha assumido que pararia no primeiro bloqueio policial e contaria como é o estado de emergência na prática. " Porém, não encontramos nenhuma patrulha" ,  relata Bublewicz.

Quando seu material apareceu no portal, um porta-voz da polícia de Białystok o contatou com um pedido para comparecer à sede em Hajnówka. O jornalista deveria apresentar uma explicação e foi-lhe prometido um "acordo tranquilo".

FOI INTERROGADO NA DELEGACIA

Segundo Bublewicz, os policiais queriam apreender seu telefone, com o que ele não concordou. Os policiais também pediram à operadora que emitisse cartões de memória para as câmeras nas quais as imagens foram gravadas.

O repórter e a operadora foram acusados ​​de permanecer na área proibida e "consertar por meios técnicos" a infraestrutura da fronteira.

JORNALISTAS: É CENSURA
Imediatamente após a introdução do regulamento, membros de sindicatos associando jornalistas e trabalhadores da mídia publicaram uma posição condenando a decisão. Representantes sindicais descreveram as ações do governo como introdução de censura temporária e local. “De particular preocupação é a proibição prática de as autoridades olharem para suas mãos sobre a delicada questão dos direitos humanos”, eles escreveram em um comunicado.

Além disso, a organização não governamental internacional Repórteres Sem Fronteiras, que monitora a liberdade de imprensa no mundo, expressou hoje sua profunda preocupação com a situação na Polônia. Ela criticou a ordem para os jornalistas deixarem a área de fronteira e a introdução da censura. Em nota, ela pediu ao governo polaco que investigue a legitimidade e a proporcionalidade das medidas adotadas para restringir o trabalho dos jornalistas. “O jornalismo independente e o acesso à informação sobre os imigrantes e outras questões na área de fronteira são de interesse público”, disse o comunicado da RSF.

O GOVERNO


O primeiro-ministro Mateusz Morawiecki foi um convidado de Krzystof Ziemiec na Rádio RMF FM, onde falou sobre o estado de emergência na fronteira com a Bielorrússia e a indenização para empresas ameaçadas de perdas devido a restrições governamentais.

Quando questionado por Ziemiec se a prorrogação do estado de emergência para além de 30 dias foi considerada, o primeiro-ministro respondeu que tal cenário não era atualmente assumido, mas não poderia ser descartado. "A fronteira deve ser protegida. Não pode ser que a fronteira seja atravessada livremente por pessoas que são imigrantes ilegais. Devemos antes de mais nada proteger a fronteira", argumentou ele.

"Vamos compensar quaisquer perdas"

Morawiecki também argumentou que o plano para introduzir o estado de emergência conta com o apoio dos habitantes das aldeias e cidades fronteiriças. "Se você fosse falar com os habitantes das comunas vizinhas, veria que a maioria deles é a favor do estado de emergência", disse o primeiro-ministro.

Em resposta ao comentário que os hoteleiros e empresários do agroturismo são contra, ele garantiu ao governo que o governo iria "compensar quaisquer perdas que surgissem" com base no critério de renda.

ORÇAMENTO
Duas portarias: Do Conselho de Ministros de restrições às liberdades e direitos em relação com a introdução do estado de emergência e a do Ministério do Interior e da Administração sobre a proibição do porte de armas na área sob o estado de emergência foram publicados no Jornal das Leis na quinta-feira após as 22h.

Anteriormente, o decreto sobre a introdução do estado de emergência era em partes das voivodias de Podlaskie e Lubelskie. O estado de emergência na Polônia é por 30 dias e cobre 183 localidades sendo: 115 na voivodia de Podlaskie e 68 na voivodia de Lubelskie.

Fontes: Agências internacionais, jornais e portais polacos

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Biskupin: cidade polaca da era neolítica

Foto: Dariusz Zaród / East News

Por 2.700 anos, os restos do antigo assentamento de Biskupin permaneceram escondidos sob a água e o solo úmido. Notavelmente preservados foram descobertos na década de 1930 por um professor de escola fundamental e rapidamente se tornaram uma sensação, chamando a atenção de arqueólogos polacos e, infelizmente, também nazistas alemães.

Hoje Biskupin é visto como um site absolutamente único, que oferece uma visão única da vida na virada da Idade do Bronze e do Ferro.

O passado lendário

Uma vista do Lago Biskupin e do vilarejo de Biskupin,
foto: Wieslaw M. Zielinski / East News

Na pitoresca vila de Biskupin, no centro da Polônia, fica o que é considerado o sítio arqueológico mais significativo do país. Chamado simplesmente de Biskupin, ele contém os restos de um impressionante povoado de madeira que data do século 8 a.C.

"Biskupin é um lugar provavelmente conhecido por todos os polacos, provoca muitas associações e faz parte da nossa identidade cultural moderna. Funciona na linguagem cotidiana como sinônimo de algo do passado lendário, um certo pré-começo." (De 'Archeologia w Biskupinie 1934–1974', uma publicação de 2020 do Museu Arqueológico de Biskupin)

O assentamento de 2 hectares foi originalmente construído em uma península na costa Sul do modesto Lago Biskupin. Mas em um certo tempo, a superfície do lago subiu, fazendo com que grande parte do antigo vilarejo ficasse coberto de água e solo úmido. O que restou de Biskupin foi preservado graças à forma como a umidade conservou os elementos de madeira. Devido ao seu excelente nível de preservação, Biskupin costuma ser chamada de Pompéia polaca.

Uma visão aérea de Biskupin
foto: Wojciech Wojcik / Forum

Em 1932, o pequeno rio Gąsawka que fluía do Lago Biskupin estava sendo aprofundado como parte dos planos de irrigação. Isso resultou na queda do nível da água do lago, deixando objetos de madeira peculiares se projetando para fora do lago e chamando a atenção dos habitantes locais.
 
O diretor e o professor

Expedição Arqueológica. O professor Józef Kostrzewski está ao centro
Foto: audiovis.nac.gov.pl (NAC)

A história conta que crianças brincando junto a vacas pastando num campo à beira do lago notaram postes de madeira pontudos se projetando para cima da superfície da água. As crianças saíram dali e foram contar a Walenty Szwajcer, o professor deles na escola local.

Szwajcer foi até o local indicado pelos seus alunos para confirmar a história e examinou detidamente aqueles postes e logo entendeu que eles carregava um significado arqueológico. Originalmente, ele teve a impressão de que os postes eram os restos dos telhados das casas inundadas.

Szwajcer decidiu escrever uma carta sobre a curiosa descoberta para Józef Kostrzewski, um eminente arqueólogo e professor da Universidade de Poznań. Kostrzewski levou a mensagem de Szwajcer muito a sério, porque imediatamente viajou a Biskupin, em 18 de outubro de 1933, poucos dias depois de receber a carta.

"No outono de 1933, Walenty Szwajcer, o diretor da escola pública em Biskupin, perto de Gąsawa [...], informou-me que havia descoberto telhados de casas inundadas na península do Lago Biskupin. Ao chegar ao local, concluí que não se tratava, é claro, de casas inundadas, mas de postes cravados obliquamente no leito do lago para reforçar a linha da costa, ou um quebra-mar.." (De "Z Mego Życia: Pamiętnik" do livro de memórias de 1970 de Józef Kostrzewski.)

Kostrzewski percebeu que o local continha os restos de um antigo assentamento e estimou que deveria ter existido entre os anos de 700 e 400 a.C. Ele atribuiu a criação daquela comunidade à cultura lusaciana, ou seja, a um vasto grupo de culturas urnificadas (aquelas que colocavam as cinzas de seus mortos cremados em urnas) que viveram entre 1300 e 500 a.C. na atual Polônia, República Tcheca, Alemanha Oriental e atual Ucrânia Ocidental. Kostrzewski percebeu que os restos mortais na península do Lago Biskupin eram uma descoberta única e decidiu conduzir pesquisas arqueológicas adequadas.

Ilustrando um mito

O presidente da Polônia, Ignacy Mościcki e o professor Józef Kostrzewski observando as escavações de Biskupin, 1936
Foto: audiovis.nac.gov.pl

As primeiras escavações em Biskupin ocorreram no verão de 1934 e foram um empreendimento modesto. A expedição arqueológica ao local foi subfinanciada e consistia em apenas oito pessoas - Professor Kostrzewski, seu assistente Zdzisław Rajewski e um grupo de jovens arqueólogos. A equipe morava em três barracas montadas na península e contratou 35 trabalhadores da comunidade local para ajudar na escavação. Durante a primeira temporada de escavações, a expedição conseguiu descobrir 480 metros quadrados do antigo assentamento.

Kostrzewski e Rajewski eram bastante hábeis em popularizar seu projeto Biskupin na imprensa e a publicidade que receberam os ajudou a conseguir mais financiamento. Em 1935, eles tinham os meios para expandir substancialmente suas operações. Naquele ano, a expedição contou com 18 funcionários científicos e técnicos e foi auxiliada por cerca de 70 trabalhadores. As escavações se estenderam por uma área de mais ou menos 2.500 metros quadrados.

No final da temporada de escavações de 1935, a equipe havia descoberto pisos de casas bem preservados, ruas que corriam entre essas casas, bem como restos de um quebra-mar, uma muralha oval e uma rua circular que corria ao longo do lado interno da muralha. Também encontraram vários artefatos como tigelas de cerâmica, alfinetes de bronze e pontas de flechas de chifre.

Ficou claro para os arqueólogos que Biskupin era um antigo povoado bem organizado. Nada parecido com ele jamais havia sido encontrado em solo polaco. Graças à publicidade na imprensa mencionada, o público polaco ficou muito interessado em Biskupin. Mas o local atraiu a atenção não apenas devido ao seu significado arqueológico - Biskupin começou a desempenhar um papel político proeminente.

O presidente da Polônia, Ignacy Mościcki, na borda direita da imagem, e o professor Kostrzewski,
segundo a partir da direita, durante um passeio por Biskupin, 1936
Foto: audiovis.nac.gov.pl (NAC).

Uma narrativa foi criada, apoiada por Kostrzewski, que Biskupin era um assentamento proto-eslavo. Isso foi usado para se opor à propaganda nazista de 1930 de que certos territórios da Polônia entre as guerras (incluindo Biskupin) deveriam ser tomados pela Alemanha porque eram habitados por tribos germânicas nos tempos antigos. A suposta proveniência eslava de Biskupin poderia ser usada para refutar essa afirmação nazista.
 
"A situação política de meados da década de 1930 elevou a ideia de que a cultura lusaciana era proto-eslava ao nível de um mito nacional e o antigo assentamento em Biskupin descoberto nos anos 1934-1939 tornou-se uma ilustração chamativa desse mito." (Extraído de 'Archeologia w Biskupinie 1934–1974)

Vale a pena mencionar que, de acordo com a arqueologia moderna, simplesmente não se pode determinar qual era realmente a etnia do povo Lusaciano que habitava Biskupin. Eles certamente não eram germânicos, pois estes não estavam presentes na área de Biskupin na época da criação do assentamento. Mas eles também não eram eslavos, já que os povos eslavos só chegaram à Polônia de hoje por volta do século V a.C.

De baixo e de cima
Uma visão aérea das escavações de Biskupin, 1936
Foto: audiovis.nac.gov.pl

A importância política de Biskupin fez com que a missão arqueológica no local pudesse contar com um tratamento especial. Em 1936, as escavações foram visitadas pelo presidente da Polônia, Ignacy Mościcki, e um ano depois pelo marechal Edward Śmigły-Rydz, comandante-chefe do Exército polaco.

A expedição de Kostrzewski recebeu fundos adicionais e uma base considerável foi construída para acomodar sua equipe no local. O professor também conseguiu a ajuda de mergulhadores da Marinha Polaca.

"A pesquisa subaquática do leito do Lago Biskupin foi planejada. Os mergulhadores enfrentaram condições difíceis, pois a limpidez da água era severamente limitada e havia uma espessa camada de lodo cobrindo o leito. Apesar disso, várias construções de madeira foram localizadas, muitos chifres e objetos de osso, bem como fragmentos de vasos de cerâmica foram encontrados." (De biskupin.pl)

Até a Fábrica de Balões Militares, localizada na cidade de Legionowo, contribuiu. Foi criado um balão especial de aproximadamente 3,5 metros de diâmetro equipado com uma câmera fotográfica suspensa com temporizador. O balão foi usado para tirar incríveis fotos aéreas do local.

Foi tomada a decisão de reconstruir certos elementos de Biskupin na península. As reconstruções foram cuidadosamente projetadas em colaboração com etnógrafos e arquitetos para serem o mais plausíveis possível e, em 1937, incluíam duas cabanas, uma réplica da rua circular e fragmentos da muralha e do quebra-mar. A arquitetura recriada de Biskupin e seus vestígios desenterrados atraiu milhares de turistas. Ao todo, nos anos de 1934 a 1939, os arqueólogos pesquisaram quase mil metros quadrados do antigo assentamento.

A Segunda Guerra Mundial interrompeu o trabalho da missão arqueológica polaca no local - a Polônia ocidental, incluindo Biskupin, foi ocupada pela Alemanha nazista. Devido à sua negação da teoria nazista sobre a pré-história germânica das terras polacas, o professor Kostrzewski passou a ser procurado pela Gestapo. Ele não teve outra alternativa, senão interromper as escavações e se esconder.

Na esperança de provar que era realmente um antigo sítio germânico, os nazistas enviaram sua própria expedição arqueológica a Biskupin. Sem surpresa, sua pesquisa não forneceu os resultados esperados. Ela terminou, em 1943, com os frustrados nazistas cobrindo os muitos anos de escavações com areia e terra. No final da guerra, as reconstruções de Biskupin também foram destruídas, assim como a base da expedição polaca.

Salvando os restos mortais

Zdzisław Rajewski em uma camisa leve e o Marechal Edward Rydz-Śmigły,
segundo a partir da esquerda, em visita a Biskupin, 1937
Foto: audiovis.nac.gov.pl (NAC)

Depois que a poeira da guerra foi removida, os arqueólogos polacos retornaram a Biskupin e o trabalho foi retomado sob a supervisão do Professor Kostrzewski, que conseguiu sobreviver ao conflito. Durante o resto da década de 1940, os restos de Biskupin foram desenterrados novamente e novas escavações foram feitas. As reconstruções do antigo assentamento antes da guerra também foram reconstruídas. Depois de limpar a bagunça deixada pelos alemães, Kostrzewski se aposentou em 1950, após o que Rajewski assumiu o controle do local.

Foram feitas tentativas para preservar os restos de madeira descobertos, mas, apesar de muitos esforços, eles estavam se deteriorando devido à exposição ao ambiente seco e arejado. Uma ação drástica foi necessária e, na década de 1960, duas seções das escavações pré-guerra na parte Norte da península foram intencionalmente inundadas com água.

Eventualmente, a maioria dos elementos originais desenterrados de Biskupin foram cobertos com solo para que não se desintegrassem. No entanto, antes que isso acontecesse, cerca de 75 por cento do local foi pesquisado. Graças a isso, além do notável nível de preservação de Biskupin, o local está entre os locais mais exclusivos da arqueologia europeia:

"Obviamente, naquela época, na virada da Idade do Bronze e do Ferro ou entre os séculos 8 e 6 a.C., havia dezenas de povoados do tipo Biskupin fortificados na atual região da Wielkopolska (Grande Polônia) e em partes da antiga Alemanha Oriental. Mas apenas Biskupin foi pesquisado - aliás, apenas 75 por cento dele - e até agora não há nenhum outro sítio arqueológico de caráter semelhante que os arqueólogos teriam examinado tão bem." (De 'Odkrycie Biskupina', uma entrevista com Wojciech Piotrowski do Museu Arqueológico de Biskupin em muzhp.pl,)

Uma sociedade igualitária

As construções recriadas de Biskupin
Foto: Dawid Lasocinski / Forum

Então, o que todas as pesquisas arqueológicas em Biskupin conseguiram estabelecer? Graças à análise dendrocronológica, sabe-se que o vilarejo foi construído principalmente entre os anos 747-727 a.C. Também é de conhecimento que os seus criadores fizeram parte da cultura Lusaciana. Então, descobriu-se que a avaliação inicial de Kostrzewski do sítio era bastante precisa.

Biskupin tinha forma elipsoidal e ocupava toda a superfície da península - o povoado tinha aproximadamente 200 metros de comprimento e 100 metros de largura. Era cercado por uma muralha de 470 metros de comprimento construída com caixotes de madeira cheios de terra e areia. A muralha atingia até seis metros de altura e três metros de largura. O único portão para o assentamento ficava na seção Sudoeste da muralha. Do lado de fora, esse portão era acessível por meio de uma ponte. As partes do assentamento voltadas para o lago eram protegidas por um quebra-mar.

Dentro da muralha havia 12 ruas paralelas alinhadas com fileiras de cabanas construídas com toras de madeira. Havia 105 dessas cabanas e muitas tinham paredes de empena e construções de telhado compartilhadas. Cada cabana tinha um interior de aproximadamente 80 metros quadrados composto por vestíbulo, cômodo principal, cama grande e lareira de chão (o layout era sempre o mesmo). A cama era usada por uma família inteira, composta por até cerca de dez pessoas. Todas as ruas foram pavimentadas com toras e conectadas à rua circular que conduz ao longo do interior da muralha.

Curiosamente, a sociedade de Biskupin era igualitária:

"Biskupin é um exemplo de ausência de diferenças sociais. Nenhuma cabana era mais grandiosa que as outras, não havia templo, nos interiores não foram encontrados artefatos que sugerissem que uma cabana em particular fosse habitada por um chefe, governante ou líder tribal que fosse mais rico do que seus companheiros habitantes."

A comunidade de Biskupin contava com cerca de mil pessoas. Seus membros cultivavam e caçavam nas terras próximas ao lago e seu assentamento fortificado lhes garantiu proteção e abrigo. A certa altura (não se sabe exatamente quando), devido às mudanças climáticas, as águas do lago subiram e inundaram o vilarejo tornando a vida ali insuportável. Os habitantes de Biskupin foram forçados a abandonar sua casa à beira do lago. Todos os elementos de Biskupin que permaneceram acima da água se desintegraram rapidamente, mas as partes que foram inundadas e posteriormente cobertas com solo úmido foram conservadas pela umidade.

Caçadores-coletores e fazendeiros neolíticos

Muralha e portão de Biskupin
Foto: Tytus Żmijewski
 
Hoje Biskupin faz parte de uma reserva arqueológica dominada pelo Museu Arqueológico de Biskupin e tem o status de monumento histórico. Pode-se encontrar reconstruções na península da arquitetura do antigo assentamento, que foram construídas na década de 1970 e reformadas nos anos 2000. Isso inclui a ponte e o quebra-mar, partes da muralha, duas fileiras de cabanas e uma rua entre elas.

"Nas cabanas estão expostos móveis e equipamentos característicos da virada das Idades do Bronze e do Ferro. Na época turística, ali é possível assistir a performances, atores vestidos com trajes que remetem à época, que falam sobre como era a vida há cerca de 2.700 anos. Algumas das cabanas foram adaptadas para aulas temáticas em museus." (De biskupin.pl, ...)

Biskupin é imensamente popular entre os turistas - é visitado por cerca de um quarto de milhão de pessoas todos os anos (em épocas normais sem pandemia). Perto da península, há um pavilhão de museu que abriga uma exposição que descreve a história de Biskupin e apresenta artefatos descobertos no antigo vilarejo. Curiosamente, outros sítios arqueológicos interessantes foram encontrados perto de Biskupin e também podem ser visitados na reserva.

Eles incluem um acampamento pré-histórico de caçadores-coletores, uma vila agrícola neolítica e um antigo assentamento medieval. Ao todo, mesmo para aqueles com apenas um interesse passageiro em história e arqueologia, Biskupin é definitivamente um lugar fascinante e revelador para se visitar! 

Autor: Marek Kępa
Tradutor para o português:Ulisses Iarochinski


segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Polônia para se recordar

Tomei vários cafés neste bar Camelot, na ulica (rua, pronuncia-se ulitssa) Tomasza, em Cracóvia.
Oh! Tempo de felicidade e conexão com as origens.

Zakopane é a capital do inverno polaco...fica nas montanhas do Sul do país.
A maioria das casas da cidade são de madeira (paredes duplas)

Florestas no Sul da Polônia, região da Silésia.
Parque nacional numa região também montanhosa,
 que faz fronteira com a República Tcheca.

Sopot, cidade do Norte da Polônia, no bar Báltico. A cidade é considerada a capital do verão. A cidade é também conhecida por acolher o festival internacional da canção de Sopot, o maior a seguir ao Festival Eurovisão da Canção. É o melhor centro de animação noturna, com diversos bares abertos pela noite fora. Uma das principais atrações é o edifício retorcido Krzywy Domek.

E a minha Cracóvia ao entardecer. Ao fundo as torres são da Catedral, considerada o Panteão nacional, pois aqui estão sepultados todos os reis, heróis e santos da Polônia.
Só dois não estão aí o primeiro rei e o último.
Ao lado da Catedral está o Palácio Real que foi sede do reino da Polônia até 1569.
E às margens do rio Wisła (Vístula), que corta o país de Sul a Norte.


E esta é Varsóvia.
Praça do Castelo Real onde, ontem, estas pessoas formando um coração estavam comemorando o 1º. de Agosto de 1944, quando a população da cidade esgotada e sem as forças armadas derrotadas se revoltou e enfrentou os alemães nazistas.
A revolta conhecida como Levante de 44 durou até outubro.
Quando Hitler deu a ordem para bombardear a cidade.
O exército soviético ficou do outro lado do rio assistindo a destruição do povo e da capital polaca. Varsóvia se tornou capital em 1569, quando o rei eleito Sigismundo III (de origem sueca) transferiu sua corte junto com a capital polaca de Cracóvia para Varsóvia para ficar mais perto de sua mãe de Estocolmo.
Apesar da existência de um rei estrangeiro, a Polônia já era a primeira República
do mundo pós idade média.
Uma vez descrita como a "Paris do Norte",
Varsóvia foi considerada uma das cidades mais belas
do mundo até a Segunda Guerra Mundial.

Embaixo como ficou Varsóvia depois dos bombardeios nazistas.
E acima como os polacos a reconstruíram 8 anos depois igual era antes,
como base em quadros, pinturas e fotografias.

Igreja de Św. Mikołaj (São Nicolau) onde meus trisavôs
Jan Jarosiński e Wiktoria Jackowska se casaram
e onde meu bisavô Piotr Jarosiński foi batizado em 1880,
na cidade de Dobre, Voivodia da Mazóvia.

Igreja do Sagrado Coração, em Wojcieszków, atual Voivodia de Lublin,
onde foram batizados minha bisavó Anna Ognik-Filip, meu avô Bolesław seus irmãos Józef, Wiktoria e Maria. Também foi aqui em se casaram meus bisavôs Piotr e Anna (que imigraram e estão sepultados no cemitério municipal de Castro-PR).

Mapa da Terra de Łuków, apontando para Wojcieszków, de onde saíram em maio de 1911, meus bisavôs, avô e irmãos para o Paraná, onde chegaram em 14 de junho de 1911.



O cemitério de Wojcieszków fica na estrada para Glinne.
Foi fundado em 26/10/1887. Tinha então 4 hectares.
Um beco ladeado por árvores centenárias conduz à capela do cemitério
 situada no seu ponto central.
Logo atrás da capela, membros de famílias nobres, padres,
organistas, bem como heróis da guerra de 1939 e guerrilheiros
caíram em ações contra os ocupantes,
encontraram seu lugar de descanso final.
A segunda esposa do escritor de "Quo Vadis"
e prêmio Nobel de Literatura de 1905, 
Henryk Sienkiewicz
está enterrada aqui - Maria nascida Babskie Sienkiewiczowa.
"No cemitério em frente ao túmulo da família falecida, que abrigava 18 pessoas, pe. Izdebski fez um discurso em palavras curtas, mas solenes, caracterizando o falecido como um companheiro de vida eterno do falecido H. Sienkiewicz - o bardo da Nação, o criador de muitos romances famosos, conhecido não só na Polônia, mas em todas as nações culturais, enfatizando no final que a Terra Łuków se orgulha de ter aceitado queridos restos mortais em seu ventre."
(Gazeta Łukowska Setembro de 1925).

terça-feira, 13 de julho de 2021

Um sino polaco de 500 anos


Este grande sino foi instalado em Cracóvia, em 1520, criado em Nuremberg por Hans Behem foi pendurado em uma velha torre defensiva especialmente erguida do Castelo Real na Colina Wawel.
O primeiro som do sino foi ouvido pelos habitantes de Cracóvia em 13 de julho de 1521. Há exatos 500 anos.

O patrono do sino foi o Rei Sigismundo I - o Velho, que pretendia "chamar não apenas o Deus Altíssimo, mas também a glória da Casa Iaguielônica e o Reino da Polônia". Ao longo dos anos, o sino se tornou um dos símbolos nacionais mais importantes.

Inicialmente, o sino era denominado Magna Campana Regia (grande sino real), porque era dedicado a muitos santos - os padroeiros do rei patrocinador. Mais tarde, ele começou a ser chamado de Zygmunt, ou seja , o nome do principal santo padroeiro do rei, ou o Sino de Zygmunt, referindo-se ao fundador, ou seja, Król Zygmunt I - Stare.

O Som do Sino



Inscrição em latim gravado no Sino:

DEO OPT [IMO] MAX [IMO] AC VIRGINI DEIPARAE SANCTISQVE PATRONIS SVIS DIVVS SIGISMVNDVS POLONIAE REX | CAMPANAM HANC DIGNAM ANIMI OPERVMQVE AC GESTORVM SVORVM MAGNITVDINE ANNO data SANCTISQ REX

Esta inscrição pode ser traduzida para o português assim:

AO ÓTIMO DEUS, O MAIOR DEUS E A VIRGEM DO DEUS VIVO, SEUS SANTOS PADROEIROS, O EXCELENTE SEGISMUNDO - REI DA POLÔNIA, ESTE SINO ATRÁS DA GRANDEZA DA MENTE E DE SEUS ATOS É PRINCÍPIO PARA REALIZAR O ANO DA SALVAÇÃO 1520.

Existem duas placas abaixo da inscrição. De lado, há uma imagem de São Stanislau, no outro lado, São Sigismundo - rei da Borgonha, com armadura completa e um manto com a insígnia de autoridade real. Em ambos os lados das placas estão os brasões da República das duas Nações Polônia-Lituânia, uma águia coroada seguida da lituana. Abaixo está o nome completo de Behem em latim (e do outro lado em alemão) e seu selo (marca de artesão).

Santo Stanislau


São Segismundo

assinatura do fundidor Hans Behen

No interior da copa, sobre uma pega de ferro, está pendurado um coração com decoração gótica (canelura), suspenso por um cinto de pele bovina, que na sua parte mais grossa é constituído por doze camadas. O coração consiste em uma orelha, uma haste e uma bola que atinge diretamente o orifício, ou seja, o ponto mais grosso da taça do sino.

Há uma cauda no final, que move o coração e dá a ele a velocidade certa. O coração de Zygmunt, como um arco de violino, evoca o som deste maravilhoso instrumento chamado idiofone. O maravilhoso som de Zygmunt é uma consonância de muitos tons componentes (harmônicos), o mais baixo dos quais (a oitava inferior) é "F" na oitava maior. O tom de ataque de Zygmunt (nota de ataque, Schlagton) é o "g" na oitava menor.



É seguro dizer que Zygmunt é o rei dos sinos polacos e o governante dos corações polacos. É um instrumento que continuamente ao longo de meio milhar de anos tem vindo a ganhar os sinais dos tempos intimamente relacionados com a história não só da Polônia, mas também da Europa. Afinal, foi na época de seu nascimento que a República Iaguielônica desempenhou um papel preponderante na política dos países do centro do continente e sua influência alcançou além de seus limites.

DADOS TÉCNICOS DO SINO DE ZYGMUNT

Dimensões:
A. O diâmetro do abajur - 242 cm
B. A altura do abajur com a coroa - 241 cm
C. A altura total com a canga e o coração - 450 cm
D. A envergadura da canga de carvalho - 307 cm
E. O comprimento do coração - 219 cm

Pesos:
A. Sino de bronze - 9.650 kg
B. Culatra de carvalho com encaixes - 2.160 kg 
C. Coração de com cinto - 365 kg
D. Outros elementos - 425 kg
E. Peso total do sino com acessórios -12.600 kg

Informações do usuário :
- Unidade - 12 toneladas
- Choque de campainhas - alcance de audição g (sol) - 30 Km
- O primeiro coração original do sino era feito de ferro. Tem 218,5 cm de comprimento e pesa 323 kg. 

A primeira vez que soou em 13 de julho de 1521 foi para comemorar a festa de Santa Margarida. Cumpriu 479 anos, realizando cerca de 12 milhões de golpes durante esse tempo. No século XIX, ele rachou três vezes e foi consertado. A última vez que que foi danificado foi no Natal de 2000, quando sua quarta rachadura foi encontrada. O coração danificado foi substituído por um novo que bate desde 14 de abril de 2001.

A Festa dos  500 anos
Danças renascentistas, atores em trajes de época, jogos, grupos de dança e uma réplica do sino de Zygmunt - nesta terça-feira, 13 de julho de 2021, exatamente 500 anos depois que o som de Zygmunt soou pela primeira vez, o colorido Desfile de Zygmunt que passa pelas ruas de Cracóvia  começou às 17h00. Hora culminante da celebração deste ano do 500º aniversário do Sino de Sigismundo.

A celebração sob o lema "Sub una campana / Sob um sino" já havia começado no final de junho com concertos, visita conjunta à Torre Sigismundo e mostra especial da pintura de Jan Matejko no Castelo de Wawel. O sino também foi visitado neste domingo pelos presidentes da Polônia e da Lituânia - Andrzej Duda e Gitanas Nauseda.

"Este é um jubileu especial, esses "aniversários" acontecem somente a cada 500 anos. Encorajo os habitantes de Cracóvia e os visitantes a aproveitarem as atividades artísticas e culturais propostas no âmbito do jubileu. Que visitem Zygmunt, ouçam sua voz, vijam a obra de Matejko e performances multimídia e, acima de tudo, que se juntem à procissão dançante de Zygmunt, que em 13 de julho, exatamente 500 anos depois de Zygmunt soar pela primeira vez, percorre as ruas de nossa cidade. Eu os convido a celebrar juntos" - encorajou o prefeito de Cracóvia, Jacek Majchrowski.

PROCISSÃO E PARADA
Nesta terça às 17 o desfile colorido teve início no Barbacã, passou pela ulica Floriańska, pelo Rynek (praça principal, ulica Grodzka até o Wawel. Atores em trajes de época, dançarinos e músicos  convidaram cracovianos e convidados a comemorar todos juntos.

No desfile  estavam um show de malabarismo da Irmandade de Cavaleiros da cidade de Nowa Dęba (perto do Barbacã), cena de pantomima no estilo de comédia dell'arte realizada pela trupe Komedianty. No palco próximo à Câmara Municipal, teve um interlúdio com um texto de Bronisław Maj e uma apresentação do balé Cracovia Danza "Quando os sinos estão dançando".

O show na Praça do Mercado Principal (Rynek) levou a todos para mais perto do fascinante mundo das danças e jogos renascentistas que aconteciam no Tribunal de Wawel naquela época. As danças renascentistas se tornaram um pano de fundo colorido para a história do sino mais famoso de Cracóvia. Graças aos dançarinos, viu-se a corte de Sigismundo I, o Velho, e o fundidor do sino Hans Beham, o show também incluiu a Rainha Bona Sforza. Teve um baletto com sinos dançantes, e dançarinas com sinos nos tornozelos se apresentaram em uma animada moreska teatral. A coisa toda terminará com um final comum - o famoso cânone "Pan Jana".

o sino no alto da Torre

Um excepcional "convidado" do desfile
O concurso de dança Zygmunt parou na praça Santa Maria Madalena, onde o Conjunto de Canção e Dança "Nowa Huta" com um grupo de fios e outro de mlaskots apresentou um show de luta com ilustração musical.

A procissão, cujo roteiro foi preparado por Romana Agnel, diretora do balé Cracovia Danza, e Jerzy Zoń, diretor do KTO Theatre, e também contou com a presença de membros da Irmandade Fowler, Capella Regii, a "Krakowianie" Folk Dance Ensemble, bem como bateristas, arautos e fundidores de sinos.

Além dos artistas que apresentaram a história do sino e a atmosfera da Cracóvia do século 16, os habitantes de Cracóvia e os convidados que se juntaram ao desfile, o "participante" mais importante do desfile foi uma réplica única do Sino Sigismundo. Durante as férias de verão, a réplica em dourado será exibida em vários pontos da cidade.

Também até ao final das férias de verão, o Castelo Real Wawel acolherá a exposição "Matejko. Do grande sino", com uma exposição especial da obra de Jan Matejko "A suspensão do sino Sigismundo na torre da catedral de Cracóvia em 1521 ". A pintura para a ocasião foi emprestada do Museu Nacional de Varsóvia.

Lasers e um show multimídia
Na terça-feira à noite, a Casa de Nuremberg, em Cracóvia, apresentou eventos multimídia preparados por ocasião do aniversário. Às 21 horas, ao pé da Torre Sigismundo, aconteceu um concerto dos vencedores da competição étude - para um toque de sino. Este concurso internacional de música eletroacústica dedicado a Włodzimierz Kotoński, autor da primeira composição eletroacústica polaca e coordenado pela Associação Polaca de Música Eletroacústica, foi organizado de acordo com a ideia do prof. Marek Chołoniewski.

O espetáculo de laser "Zygmunt como farol do espaço da cidade" foi outro evento e logo após este show, foi a vez  do espetáculo multimídia "500x1". Os projetos "500x1" e "AR mobile" são conceitos de Grzegorz Biliński, implementados por alunos da Academia de Belas Artes de Cracóvia.



De 500 composições audiovisuais de um minuto - videoclipes, foi criada uma performance multimídia, apresentada no espaço ao redor de Wawel e em locais selecionados de Cracóvia. Por sua vez, "AR mobile" é uma instalação para telemóveis de Karina Gorzkowska e Maja Szerel, que esteve disponível ao público de Cracóvia de 9 a 13 de Julho, e no próximo 17 de Julho também será apresentada aos habitantes de Nuremberg.

Fontes: Catedral de Wawel e Jornal Gazeta Wyborcza
Tradução e redação para o português: Ulisses Iarochinski