O "sibilante" (com muito chiado) idioma polaco, difícil de aprender para os estrangeiros, é um idioma eslavo ocidental do grupo de línguas indo-européias. Na Alta Idade Média, os eslavos abandonaram seus territórios entre os rios Odra e Dnieper e povoaram quase todo o Centro, Oriente e Sul da Europa. Para o Oeste chegaram até o rio Elba e deste até os rios Volga e Dzwina, no Sul, até os Bálcãs.
A criação de três grupos lingüísticos eslavos, ocidental, oriental e meridional, é o resultado desta expansão. Ao grupo ocidental, além do polaco, pertencem os idiomas tcheco e eslovaco, que apesar de se diferenciarem do polaco, possuem semelhanças tão grandes que um polaco, um tcheco e um eslovaco se entendem sem necessidade de um intérprete. Do ramo Oriental fazem parte o ucraniano, o russo e o bielo-russo. Do sulista fazem parte o búlgaro, o esloveno, o macedônio, o servo e o croata. Pode-se afirmar que o eslavo é língua mãe de quase 300 milhões de habitantes da terra e o polaco de quase 50 milhões de pessoas em vários países.
A língua polaca começou a se formar no século X. O fator decisivo foi o surgimento do Estado polaco. Em 966 Mieszko I (Miexco primeiro), príncipe da tribo dos polanos que habitava na região da Wielkopolska (Grande Polônia), foi batizado pela Igreja Católica Apostólica Romana depois de haver reunido várias tribos de cultura e idiomas parecidos que habitavam as bacias dos rios Vístula e Odra. O cristianismo trouxe consigo o alfabeto latino e o polaco, que até então havia sido um idioma apenas falado (os eslavos não conheciam a escrita), passou a ser uma língua tanto falada como escrita. A escrita, a princípio era exclusivamente latina já que provinha dos círculos eclesiásticos, de vez em quando enriquecida com nomes eslavos.
Foram conservados três documentos escritos do primeiro período de existência do idioma polaco em que foram incluídos nomes pessoais e geográficos polacos. O mais antigo deles, ”Dagome iudex”, é uma ata da entrega do ducado de Mieszko I, sob a proteção do Papa, que foi escrito entre os anos 990 e 992. Esta escritura continha, entre outras coisas, uma descrição das propriedades de Mieszko e informações sobre as localidades mais importantes: Gniezno e Cracóvia. Na bula Papal de Inocente IV, de 1136, mencionam-se 410 nomes topográficos e pessoais que parecem polacos, embora a bula de Adriano IV, de 1155, enumere 50 nomes deste tipo. A infiltração do polaco e do latim fez com que no século XIII os eclesiásticos polacos com formação latina formulassem as primeiras regras do polaco escrito.
Os primeiros textos polacos escritos são traduções de orações e sermões latinos, "polonizados" para que os fiéis soubessem a quem rezar e porque. Um testemunho daqueles tempos e das dificuldades que causava o idioma polaco e a pouca fé da população são os “Sermões Swiętokrzyskie” da segunda metade do século XIII. Outra evidência da vitalidade da língua polaca é “Salmos de David”, tradução do livro canônico do Antigo Testamento procedente da mesma época realizada a pedido da Rainha Kinga. Um dos monumentos mais antigos do idioma polaco é a “Bogurodzica” (Mãe de Deus), uma canção religiosa cuja composição está envolta em mistério. Apesar de ter sido escrito pela primeira vez no século XV, seu vocabulário arcaico, já era considerado existente "desde sempre", pois indícios apontam que teria sido inventado em algum século atrás. Possivelmente, não muitos anos depois do batizado de Mieszko I.
A partir do século XIII, os extensos textos religiosos tiveram a tímida companhia dos primeiros textos profanos. Este início histórico do idioma polaco conservado graças à escrita, consiste de duas frases: uma dita por um camponês e a outra por um rei. Ao redor do ano 1200, o abade Pedro, autor do Livro de Henrique decidiu escrever a frase de um senhor chamado Boguchwal, que ao ver sua mulher trabalhar duramente num moinho manual, teria dito: "Day ut ia pobrusa, a ti poziwai", que se poderia traduzir como: "Deixa, que eu trabalho e tu comes algo". Não se sabe se a mulher lhe contestou, pois o abade Pedro não mencionou. Em 9 de abril de 1241, durante a primeira invasão mongol, no fim da batalha de Legnica, perdida pelos polacos, Henrique - o Probo disse em desespero: "Gorze sie nam stalo" (Nos há sucedido uma desgraça).
Em 1440, Jakub Parkoszowic de Zurawica, em seu tratado sobre a ortografia polaca, escrito em latim, tentou codificar as regras do idioma polaco. Na mesma época se começou a usar o polaco para atas jurídicas e livros judiciais. Um pouco antes, em 1400, já havia sido escrito, em polaco, o primeiro poema de tema profano dedicado aos prazeres da mesa. Contudo, o primeiro verdadeiro dicionário polaco foi composto quatro séculos mais tarde. Entre os anos 1807 e 1814, em Varsóvia, foi editada uma obra de seis volumes (1200 exemplares cada) de Samuel Bogumil Linde. Em seiscentas páginas de 23 x 30 cm, o autor descreveu 60.000 palavras polacas.
O idioma polaco é uma língua reflexiva com sete casos, dois números e três gêneros. Aos verbos se aplicam categorias de pessoas, tempo, modo, voz e aspecto. A diferença em relação aos demais idiomas eslavos se dá nas vogais nasais. Também a acentuação tônica é diferente: sempre a sílaba mais forte é a penúltima sílaba (paroxítona). Nas demais línguas eslavas a tonicidade é móvel, como em russo que se acentua a primeira sílaba, bem como em tcheco e em eslovaco. A apofonia polaca consiste na transição da vogal e, precedente a uma consoante dura labiodental, em a, ou o. É muito típico da língua polaca que o radical de uma palavra tenha variantes.
Aprender a ortografia polaca é um problema tanto para estrangeiros como para polacos, sobretudo, em relação às palavras que contêm z (com ponto em cima) e rz, u e ó, h e ch, que, apesar de se pronunciarem quase igual, escrevem-se diferentemente.
A gramática e a pontuação polaca têm muitas regras e o dobro de exceções; será essa talvez a razão porque se considera o polaco um dos dois idiomas mais difíceis do mundo.
O polaco tem cinco dialetos populares básicos: chlonski (de Silésia), mauopolski (de Polônia Menor), mazowietzki (de Mazóvia), vielkopolski (de Grande Polônia) e kachubski (de Kaszuby). São ecos de antigos dialetos tribais que durante o desenvolvimento da língua polaca sofreram grandes modificações e metamorfoses. Formaram-se sobretudo longe dos grandes centros urbanos, entre habitantes de pequenas cidades e entre nobres e camponeses das vilas. Dentro de cada dialeto se distingue um grupo de “palavras básicas” e o fator que decide sua inclusão em um, ou outro dialeto são fenômenos lingüísticos típicos e repetitivos. As “básicas” diferem do idioma polaco no vocabulário, sintaxe, fonética e morfologia. Nas regiões da Mazuria, ou da Mazóvia é típico o fenômeno denominado como "mazurzenie" análogo ao sibilar (chiar) português, carioca e espanhol já que consiste em substituir as consoantes sz (sh) e cz (ch) por s (s) e c (ts). Em algumas regiões, as consoantes nasais se pronunciam sem ressonância nasal, em outras se pronuncia um y nasal no lugar de um e. As diferenças flexivas são formas abreviadas, por exemplo zrobim (faremos) e ao invés de zrobimy. Nas palavras básicas há vestígios do polaco arcaico. O melhor exemplo é o uso da terminação e no genitivo de alguns substantivos ao invés do y. Outro ponto típico deste grupo de palavras é a redução do número de terminações nas declinações. O que também diferencia este grupo do idioma polaco comum é a saturação do vocabulário com diminutivos locais, nomes relacionados com a agricultura, palavras que caíram de uso, ou palavras que nunca chegaram a ser de uso comum. Um dos dialetos, o kaszubski, é considerado, por alguns lingüistas, uma língua independente.
Um fenômeno interessante, posterior ao ano 1945, é o processo de formação de novos dialetos mistos, no Norte e Oeste do país, onde depois de terminada a II Guerra Mundial se estabeleceu gente de todas as regiões do país, transmigradas que foram. Os estrangeirismos constituem uma parte expressiva do idioma polaco. São empréstimos de outras línguas que se incrustaram na estrutura do polaco. Os mais numerosos são anglicismos (do inglês), galicismos (do francês), germanismos (do alemão), latinismos (do latim) e russicismos (do russo). A influência dos diversos idiomas depende de vários fatores. Às vezes foi a fascinação pela cultura (galicismos), às vezes os processos históricos, como a invasão e divisão da Polônia (germanismos, russicismos), ou o batismo
da Polônia (latinismos). O latim é a mais antiga influência, pois se imiscuiu no idioma polaco desde a Idade Média. Nos tempos de formação do Estado polaco e da pressão cristã, o polaco se viu afetado pelo vocabulário relacionado com religião e com os ritos, muitas vezes através do alemão, ou do tcheco (por exemplo: aniol [anjo], msza [missa]). Hoje a influência do latim se vê principalmente na nomenclatura científica. Os germanismos saturaram a língua polaca no século XIX como resultado da política germanizadora do ocupante. É difícil imaginar o polaco sem óbvios decalques lingüísticos como: czasopismo [revista] (Zeitschrift), dworzec kolejowy [estação de trem] (Bahnhof) o swiatopoglad [concepção] (Weltanschauung).
Do mesmo modo e da mesma época procede abundante russicismo. A segunda grande onda de empréstimos deste idioma ocorreu depois da II Guerra Mundial, quando a Polônia acabou ficando sob a influência da União Soviética. Dessa época datam
empréstimos como: kolektyw (Kolektyw), kolhoz (koljós), ou gulag.
O idioma francês influiu bastante na língua polaca durante o século XVIII, quando era de uso comum entre as pessoas que aspiravam ser alguém importante. O francês era então o que hoje é o inglês. Os empréstimos do francês funcionam no vocabulário referente a todas as atividades humanas: (makijaz [maquiagem], mansarda [desvio], koniak [conhaque], apaszka [cachecol]).
Nos anos de pós-guerra predomina o inglês. A partir dos anos setenta a saturação no polaco do vocabulário inglês é cada vez maior e a partir dos anos noventa, os lingüistas já não falam de “influência do inglês”, mas de uma verdadeira invasão de anglicismos.