segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Varsóvia constrói o mais alto edifício da União Europeia

Já está com 75 metros de altura e sua construção ultrapassou 17 andares.
Foto: divulgação HB Reavis
Ano que vem, o maior arranha-céu da Europa, que está sendo construído em Varsóvia atingirá sua altura total.

O "Varso Tower", com o mastro do seu ponto mais alto alcançará 310 metros.

A construção das Torres "Varso" está subindo a uma taxa de um andar por semana. A previsão é que estaja pronto no próximo ano. Quando terminada todas as obras, edifício terá 53 andares e 16 elevadores. Um dos maiores "decks" de observação da Europa estará localizado no topo.

Segundo o empreiteiro, os dois prédios mais baixos desse complexo, com 81 e 90 metros de altura, devem ficar prontos em seis meses.

Foto: divulgação HB Reavis
O complexo "Varso Place" (em homenagem ao nome latino da capital - Varsóvia) está sendo construído no cruzamento da Alea (avenida) Jana Pawła II e ulica (rua) Chmielna, ao lado da Estação Ferroviária Central de Varsóvia.

Um total de três edifícios com 81, 90 e 230 metros de altura comporão o imóvel. O mais alto, chamado Varso Tower, junto com um mastro de 80 metros medirá um total de 310 metros, tornando-se o edifício mais alto da União Europeia. Irá destronar "The Shard" de Londres, que tem 309,6 m de altura, e atualmente é a instalação mais alta da UE.

Foto: divulgação HB Reavis
Um andar é construído por semana
Os blocos das três torres em construção, que estão sendo erguidos pela HB Reavis, estão se tornando cada vez mais alinhados com a silhueta da cidade. Segundo o contratante, os edifícios inferiores estarão prontos em meio ano. A torre do Hotel Varso 1 é praticamente toda envidraçada. A fachada é amplamente coberta pelo prédio de escritórios Varso 2, que chegará a sua altura final ainda este mês.

Ilustração do projeto - Foto: divulgação HB Reavis

A construção do edifício mais alto, a Torre Varso, já ultrapassou os 17 andares, ou seja, a altura de 75 metros. E continua a crescer a uma taxa de um andar por semana.

Foto: divulgação HB Reavis
A construção da Torre Varso e do resto do complexo começou oficialmente em 2016.

- "Graças a ele, todos finalmente poderão ver o Palácio da Cultura e da Ciência ... de cima. Será a instalação mais espetacular de Varsóvia. Este edifício moderno não envelhecerá e continuará sendo uma vitrine deste local", disse Marcin Chruśliński, gerente de desenvolvimento responsável pela implementação do projeto.

Duas vezes maior que o Palácio da Cultura
Ao fundo o topo do Palácio da Cultura - Foto: divulgação HB Reavis
Torre Varso foi projetada pelo estúdio internacional de arquitetura Foster + Partners e estão previstos 16 elevadores em funcionamento entre os 53 andares do edifício.

Do seu topo, a uma altura de 230 metros, os moradores e turistas de Varsóvia poderão admirar o panorama único da capital. Haverá um dos mais altos terraços de observação na Europa (duas vezes mais alto que o do polêmico Palácio da Cultura e da Ciência, presente de georgiano, presidente da URSS, Józef Stalin). O belveder estará disponível para visitação dia e noite. No 46º e 47º andar do prédio, haverá um restaurante com uma bela vista da capital polaca.

Nos dois edifícios menores de 81 e 90 metros de altura, projetados pelo estúdio de arquitetura poloaco Hermanowicz Rewski Architekci, haverá mais restaurantes e cafés, além de pequenas lojas e pontos de atendimento, como farmácia, lavanderia, farmácia, florista, quiosque e correios.

Foto: divulgação HB Reavis
Estes edifícios darão uma nova fachada ao centro da cidade ao longo da ulica Chmielna. Os dois prédios de escritórios vão "cair em cascata" de um pódio comum de vários andares com uma fachada com pedras na cor bege. Telhados verdes serão construídos em seus topos, onde os funcionários das empresas que operam em Varsóvia poderão trabalhar e descansar diariamente.


Com um total de 140.000 metros quadrados de área útil está sendo construído. E serão, principalmente, ocupados por escritórios e sedes de empresas, além de espaço para um centro médico e zona de fitness. 

O ambiente também mudará
Foto: divulgação HB Reavis
O Varso estará bem conectado. Será possível chegar até ele, a partir de qualquer ponto em Varsóvia por 30 linhas de ônibus e bondes elétricos. A estação de metro mais próxima, Rondo ONZ, fica a poucos minutos a pé, assim como a estação de ferroviária WKD.


Graças à sua localização próxima à Estação Central, os hóspedes de outras cidades polacas e até do exterior podeão chegar facilmente a ele - a viagem de trem para o Aeroporto Chopin levará apenas meia hora.

Foto: divulgação HB Reavis
Para os motoristas, há vagas para carros e motos no estacionamento de três andares sob os prédios e para os ciclistas de Varsóvia haverá 750 vagas subterrâneas e acima do solo para veículos de duas rodas, bem como vestiários e chuveiros.

A preocupação com o meio ambiente estará presente. Árvores e arbustos serão plantados em torno dos edifícios Varso, e novos gramados, vasos de flores e bancos serão criados. A vegetação também irá encorajar o visitante, ou transeunte a descansar nas passagens internas e telhados dos edifícios inferiores.

Foto: divulgação HB Reavis
A parte ocidental da ulica Chmielna terá, incluindo a superfície da rua, calçadas e estacionamentos em ambos os lados. O complexo usará tecnologias modernas que reduzem o consumo de eletricidade e água e as emissões de poluentes. O investimento deve ser concluído até 2020.

Assim ficará a vista panorâmica de Varsóvia - Foto: divulgação HB Reavis

Fonte: Onet
Texto: Piotr Halicki
Tradução e adaptação para português: Ulisses Iarochinski

Artistas Polacos na América Hispânica


Bernice Kolko e Frida Kahlo - Bernice Kolko
Foto: Fundación Zúñiga Laborde A.C. (Mexico)

A Polônia na América Hispânica pode se orgulhar do presidente da Costa Rica, Teodoro Picado Micalski e de um rei da ilha haitiana de Gonâve, Faustyn Wirkus). Mas muitos outros polacos imigraram para a região, encontrando novos costumes, oportunidades e, principalmente, climas lá. 

Como eles se adaptaram à cultura latino-americana?

Do outro lado do Atlântico
Os polacos há muito imigraram para a América Latina - e por várias razões. Os camponeses, encorajados pela propaganda, eram atraídos pela possibilidade de domar a selva brasileira ou trabalhar na ensolarada Argentina. Outros queriam escapar da opressão política na Polônia. A pesquisa científica e geográfica foram outros fatores atraentes. Os aventureiros ansiavam por aventuras exóticas, enquanto outros chegavam à América Latina por acaso. Nem todos queriam se estabelecer lá, mas o destino muitas vezes os pegava de surpresa.

No século XIX, as repúblicas coloniais se transformaram em Estados autônomos, embora permanecessem política e economicamente dependentes de Espanha e Portugal. Brasil e Argentina, os lugares com maior número de polacos naquela parte do globo, abriram suas portas para imigrantes da Europa.

Ondas significativas de emigração polaca estavam ligadas a insurreições fracassadas e guerras mundiais. Polacos de origem judaica encontraram abrigo no México e na América Central. O Peru precisava de engenheiros inovadores e os inacessíveis Andes atraíram viajantes para o Chile. Nem todos os recém-chegados prosperaram. O clima diferente, a cultura distinta e a barreira da língua impediram a rápida assimilação. O que era imaginado como um paraíso às vezes se revelava uma miragem deprimente.

Como os artistas e escritores polacos encontraram caminho sob tais condições?

Dos navios aos salões
Witold Gombrowicz, 1963, Buenos Aires, Argentina
Foto: Miguel Grinberg / Klementyna Suchanow's archive / Fotonova
Há um ditado na Argentina que os mexicanos descendem dos astecas, os peruanos dos Incas - e os argentinos simplesmente saíram de um navio.

O "Chrobry", com o escritor Witold Gombrowicz a bordo de um textos navios, atracou em Buenos Aires no meio do inverno. De acordo com a imprensa, a data foi 20 de agosto de 1939 (embora em seu romance "Transatlântico", Gombrowicz declare que foi 21 de agosto, a data de sua chegada, e no Testamento, dia 22. Os detalhes da estada na Argentina que durou 24 anos podem ser encontrados em Gombrowicz: Ja, Geniusz (Gombrowicz: I, Genius), uma biografia de 2017 do artista por Klementyna Suchanow.

O "efeito Gombrowicz", ou o impacto do escritor na literatura argentina, foi completamente analisado por Ewa Kobylecka-Piwońska em sua "Spojrzenia z Zewnątrz" (Uma visão do lado de fora). O estudioso chama a atenção para o que chama de "suspensão do contexto polaco" nas obras de Gombrowicz e sua introdução no cânone argentino - cuja evidência é encontrada em Historia Krytycznej Literatury Argentyńskiej (Uma História Crítica da Literatura Argentina).

De acordo com Kobylecka-Piwońska, a novela de Gombrowicz, "Ferdydurke", é referenciada em textos de muitos outros autores: Gombrowicz é imortalizado como o tio em "Cancha Rayada" de Germán Garcia e como Tardewski em "Respiração Artificial" de Ricardo Piglia. Copi e Aira imitam a poética do artista polaco. Herdeiros mais jovens do estilo do polaco também usaram seu cinismo para chegar a um acordo com seu próprio país. Os críticos argentinos apontam para o fato de que Gombrowicz rapidamente reconheceu a importância de Borges em sua literatura nacional e conseguiu se manter contra ele.

A fotógrafa Zofia Chomętowska chegou a Buenos Aires quando o "Campana" atracou em 18 de setembro de 1948. No caminho, ela parou em Paris - onde, assim como em casa, em Varsóvia, dirigia uma loja chamada Krynolina. De lá, ela foi para San Remo, onde abriu uma pensão. Ela foi capaz de viajar graças ao seu passaporte britânico, que recebeu como resultado de seu terceiro casamento (para a Robin Food-Barclay; eles se casaram depois de se conhecerem pouco mais de dez dias).

Quando Chomêtowska se mudou para a Argentina, ela trouxe seus filhos, irmã, sobrinho e uma Mercedes, cujo descarregamento ela capturou com sua câmera Leica. Chomętowska era fascinada por carros, mas sua maior paixão era a fotografia. O Correo Fotográfico Sudamericano incluiu-a em sua lista de excelentes profissionais recém-chegados.

Ela nunca abandonou a profissão, embora seu trabalho nunca tenha sido tão prolífico quanto na Polônia. Para sustentar a família, ela precisou criar um estúdio, onde imprimiu em plástico, vidro e porcelana. Enquanto suas fotografias preservadas em arquivos incluem as de eventos políticos oficiais, predominam os de sua própria família e os imigrantes vizinhos. Entre outros, estes apresentam os filhos de Róża Chłapowska, que mais tarde se casou com Karol Orłowski e se tornou uma figura influente na Polonia argentina.

O retorno tardio de Chomêtowska a Polônia resultou em uma exposição proeminente de suas fotografias de Varsóvia, apresentadas em Buenos Aires, Córdoba e Uruguai.

Zofia Chomętowska com sua Leica, c. 1933 © Gabriella and Piotr Chomętowski, Fundacja Archeologia Fotografii

Fotografias selecionadas por Zofia
Foto: Zofia Chomętowska
Foto: Zofia Chomętowska

Foto: Zofia Chomętowska
Foto: Zofia Chomętowska

Wiktor Ostrowski, um engenheiro polaco, fotografou e narrou uma expedição que alcançou o pico mais alto dos Alpes. Ele se estabeleceu na capital da Argentina em 1947. Em 1954, publicou um livro extremamente popular que descreve a memorável missão, que mais tarde foi publicada na Polônia como "Wyżej niż Kondory" (Mais acima das Montanhas do que o Condor).

Até o final de sua estada em Buenos Aires, em 1975, Ostrowski permaneceu um membro ativo da comunidade polaca local. Uma de suas muitas contribuições é a Biblioteca Ignacy Domeyko, que continua a operar em Dom Polski (a Casa da Polônia). Este monumento vivo da cultura polaca possui a mais rica coleção de livros polacos da América do Sul, composta por mais de 20.000 obras.

Essa instituição certamente inspirou Gabriela De Mola, dona da Dobra Robota - uma editora especializada em literatura polaca traduzida para o espanhol argentino. Quando perguntada por Tomasz Pindel sobre seu campo de interesse surpreendentemente estreito - ela não tem nenhum vínculo pessoal com a Polônia - De Mola respondeu:

- "É por causa do Gombrowicz. Eu o conheço há algum tempo. Seus livros ficam com a mente humana, como se tivessem um impacto físico sobre ela".

Esses não foram os únicos artistas polacos que encontraram inspiração na América Latina. Depois da guerra, a música polaca foi popularizada pelo coro de Chopin, liderado por Adam Dyląg. Trupes de teatro do exército executaram peças de Aleksander Fredro, Jarosław Iwaszkiewicz e Stanisław Wyspiański. A paisagem e tradições polacas foram reproduzidas em tela pelo premiado pintor Piotr Pawluczuk, e extraordinários retratos foram criados por Feliks Fabian.

Na terra natal de Frida
Auto-retrato com Macaco" de Frida Kahlo, 1943, Coleção de Jacques e Natasha Gelman de Arte Mexicana,
Fundação Vergel e Tarpon Trust © 2017 Banco de México, Diego Rivera, Frida Kahlo Museums Trust, México, D.F. / Artists Rights Society (ARS), a pátria de New York In Frida

Teodor Parnicki era conhecido por dizer que ele ainda teria escrito um romance sobre o México se ele nunca tivesse ido lá. A história de sua vida é tão fascinante quanto suas obras. Nascido em Berlim, ele cresceu na Rússia e na China, onde aprendeu bem o idoma polaco para escrever na língua. Seus melhores romances foram criados no México, no entanto, onde ele chegou em 1944 como adido cultural. Quando a guerra e a missão diplomática terminaram, ele preferiu ficar lá por mais de duas décadas.

Os romances históricos eram os favoritos de Parnicki, mas, ao contrário de Henryk Sienkiewicz, que descreveu a vida dos cavaleiros, ele escreveu sobre pensadores e poetas. Parnicki afirmou que, para completar "Tylko Beatrycze" (apenas Beatrice), ele reuniu materiais durante cinco anos. As três primeiras páginas levaram duas semanas - mas o resto do livro terminou em 24 dias. O ritmo do trabalho de Parnicki é tão surpreendente quanto sua imaginação, particularmente quando se trata de como suas obras apresentam a história polaca. Neles, o país recupera a independência após a insurreição de novembro, Zygmunt Krasiński é nomeado embaixador em Petersburg, e Adam Mickiewicz se torna ministro da educação, bem como primeiro-ministro.

Vários meses antes da chegada de Parnicki, cerca de 1.500 presos políticos polacos da Sibéria encontraram abrigo em uma desolada fazenda chamada Santa Rosa, localizada perto da cidade de León. A vizinhança é freqüentemente lembrada positivamente pelos exilados, pois eles poderiam encontrar emprego lá; eles também tinham seu próprio jornal e teatro. Outros, no entanto, percebem Santa Rosa como um campo de refugiados isolado, com disciplina rigorosa e frequente controle policial.

Este capítulo da história foi encerrado em 1946, quando a fazenda foi fechada, embora seu contrato de arrendamento tenha terminado em maio de 1947. Os polacos que perderam suas casas posteriormente se esforçaram para encontrar empregos razoáveis. A maioria dos que partiram para o Estado de Jukatan morreu devido a más condições sanitárias e ao clima desfavorável. Alguns dos antigos moradores de Santa Rosa foram levados para os Estados Unidos da América do Norte.

Entre as guerras, o México foi frequentemente tratado como uma parada temporária no caminho para os EUA. A maioria dos imigrantes da Polônia durante esse período não foi sequer considerado polaco "adequado". Em seu relatório de 1926, "W Kościołach Meksyku "(Nas Igrejas do México), Melchior Wańkowicz escreveu, com ironia:

"Todos eles - são judeus "modernos", do tipo que enchem os cinemas provinciais. [...] Um padeiro gorducho de Białystok confidencia isso a mim, enquanto escolhe cinco challas para uma señorita: "Judeus estão por toda parte."

Bernice Kolko viajou na direção oposta. O fotógrafo de Grajewo mudou-se para Chicago em 1920. Na década de 1950, ela se estabeleceu no México. Lá, ela completou seu famoso projeto dedicado às mulheres. Sua série de retratos sutis mostrando mulheres mexicanas realizando suas tarefas diárias foi capturada no meio de sua luta pelos direitos de voto, que eles conseguiram com sucesso para si mesmos em 1953. Kolko era amigo íntimo de Frida Kahlo, e foi ela quem documentou a final do artista mexicano. dias.

Em 1938, o México tornou-se um lar longe de casa para outro artista de ascendência polaca judaica - Fanny Rabel. Como Kolko, a pintora e o criador de murais estavam engajados na causa dos direitos das mulheres, mas ela fez seu nome na história graças a seus gráficos apresentando crianças mexicanas. Ela estudou na Escola de Pintura e Escultura de La Esmeralda, onde frequentou os cursos de Kahlo. Paweł Anaszkiewicz, um escultor polaco que trabalha com metal, formou-se na mesma escola em 1988.

O poeta e tradutor Edward Stachura viveu por algum tempo no bairro de Kahlo’s Blue House. Ele se descreveria como "nem francês, nem polaco nem mexicano". Seu fascínio pela cultura latino-americana, que aumentou durante sua viagem de estudos, resultou em traduções de canções astecas, contos de Juan Carlos Onnetti e poemas de Borges. Sted também traduziu a poesia polaca para o espanhol.

Edward Stachura no embarque do navio em Rotterdam, reprodução de um livro
A busca por conexões literárias entre a Polônia e o México leva à fazenda La Epifania. Durante vários anos, ela pertenceu a Sławomir Mrożek, que a descreveu em seu "Dziennik Powrotu" (Diário de Um Retorno).

Outra figura característica é Elena Poniatowska, descendente do rei Józef Poniatowski. Esta foi laureada com Prêmio Cervantes - considerado tão importante no mundo de língua espanhola como o Prêmio Nobel - está agora no processo de escrever um livro sobre a família Poniatowski. Ela reclama da falta de fontes em espanhol, nunca tendo dominado a língua polaca.

Perspectivas
Foto: Press Materials
Os chilenos aprenderam duas lições dos polacos: um em mineralogia e um em fotografia. O primeiro, conduzido por Ignacy Domeyko, que começou em 1838 e acabaria por revolucionar o ensino superior. Este último veio, 135 anos depois, quando várias gerações de fotógrafos foram treinados por Bogusław Borowicz (conhecido como Bob).

Um dos amigos de Domeyko era Adam Mickiewicz. Eles se conheceram na Universidade de Vilno, onde foram presos por seu ativismo como parte da Sociedade Philomath. O poeta polaco retratou seu amigo como Żegota na terceira parte da Eve dos antepassados. Domeyko foi forçado a deixar sua terra natal depois de participar da Revolta de Novembro. Das terras ocupadas pela Prússia, ele foi para a França, onde obteve um diploma em engenharia de mineração. No outono de 1937, ele conseguiu um cargo na Universidade do Chile.

Domeyko provavelmente não foi atraído nem por benefícios financeiros, nem pela possibilidade de viver em um país exótico. Ele queria explorar as riquezas minerais e a cordilheira - um verdadeiro paraíso para um geólogo. Ele pretendia passar vários meses no Chile, mas permaneceu por mais de cinco décadas. Ele deu aulas, começou com uma série de experimentos, após o quê, ele forneceria a teoria necessária. Em seu tempo livre, Domeyko explorou os Andes - por razões científicas, é claro.

Depois de trabalhar em uma escola secundária provincial em Coquimbo, ele se mudou para a capital ensolarada, onde encontrou emprego na Universidade do Chile. Ele logo foi nomeado reitor e permaneceria no cargo por 16 anos. Insatisfeito com seu sucesso como geólogo (embora tenha descoberto muitos recursos preciosos), ele reorganizou todo o sistema de ensino superior da instituição. Desde então, a universidade realizou pesquisas e forneceu instruções para os alunos, que assim aproveitam as oportunidades de aplicar seus conhecimentos em contextos práticos.

Bob Borowicz, o ambicioso e determinado fotógrafo de Poznań, veio ao Chile em 1951. Ele costumava dizer que o que o atraiu ali era a beleza das mulheres locais, mas ele podia estar brincando. Bob era conhecido por fazer piadas sobre tudo - até mesmo seu tempo passado em um campo de concentração nazista em Mauthausen.

Borowicz ganhou reconhecimento por seus retratos em preto e branco, além de mulheres envolvidas em várias atividades, com os rostos escondidos. Na década de 1960, documentou a pobreza, as crianças que moravam nas ruas e os mendigos que vieram à capital em busca de oportunidades de emprego. Bob recebeu vários prêmios de prestígio e adorou trabalhar como professor. Graças a ele, na década de 1970, a fotografia tornou-se um novo curso no Departamento de Belas Artes da Universidade do Chile.

Borowicz era conhecido por dizer aos seus alunos que o que importa é a capacidade de capturar o dia certo e trabalhar com luz natural, bem como estética e composição. Ele nunca aceitou fotografias com muitos detalhes, e se o modelo não tivesse uma faísca em seus olhos, ele cortaria as impressões com uma navalha.

Um dos primeiros alunos de Borowicz, Elisa Díaz Velasco, lembrou que durante as aulas, Bob era ao mesmo tempo exigente e engraçado - por exemplo, certa vez tirou as meias e os sapatos, posando com as pernas para o ar, ainda segurando a câmera. Ele morreu em 2009, e até o final, ele só tirou fotos com uma câmera analógica. Ele costumava dizer que "um humano moderno nunca é completo sem conhecer a fotografia".

Um avião em troca de uma bicicleta
Como poderia um escritor polaco, que vendeu todos os seus pertences para pagar a viagem à Guatemala (incluindo a famosa bicicleta em que ele desfilava pela França), sobreviver em um país com uma cultura completamente distinta? Andrzej Bobkowski encontrou uma solução para este problema.

Ele pegou cinco pedaços de papel carbono, uma caneta atômica e uma régua que ele gostava de mastigar, e então se trancou em seu quarto. Quando seu projeto foi concluído, ele foi para uma floresta de bambu para pegar alguns gravetos. Depois de um mês de escultura com uma faca de cozinha, o primeiro lote de aviões modelo 20-U estava pronto. Estes, ele vendeu em uma loja de brinquedos local - e é assim que seu negócio começou. Mais tarde, Bobkowski estabeleceu um clube de aeromodelismo, que competiu em eventos internacionais. O empreendimento florescente do escritor (embora nem sempre lucrativo) foi prejudicado por sua própria doença e morte.

Bobkowski não foi o único polaco que veio para a América Central motivado pelo desejo de se tornar um "vagabundo barulhento" - como explicou em suas cartas a Jarosław Iwaszkiewicz. No século 19, Gustaw Adolf Tempski - pintor, desenhista e aficionado por arte indiana - passou vários meses na Guatemala, onde Józef Warszewicz estava conduzindo sua pesquisa botânica.

Outros polacos notáveis ​​em sua história incluem Piątkowski (o primeiro nome é desconhecido), o designer e criador de um parque central, cemitério e vários edifícios públicos na capital, bem como Józef Leonard, um poliglota, poeta e professor (entre seus alunos estava o letrista nicaraguense Rubén Dario). Ambos participaram da Revolta de Janeiro, juntamente com Jan Łukasiewicz-Luka.

Mais tarde, Leonard obtém um diploma de arquitetura na Universidade de Paris, mudando-se para o Uruguai após o colapso da Comuna de Paris. Logo, Leonard tornou-se um inspetor de obras públicas em Montevidéu - onde projetou, entre muitos outros, o palácio presidencial, a avenida General Artigas, um seminário para mulheres e um hospital psiquiátrico.

Maria Rostworowska, uma notável historiadora peruana de origem polaca que escreveu monografias sobre os incas, também contribuiu para uma cultura híbrida latino-americana e polaca.

As pinturas de Krystyna Chałupczyńska são muito apreciadas na Colômbia, e a "Undivine Comedy " de Zygmunt Krasiński foi traduzida pela primeira vez na América Latina por Inez Lulueta, em colaboração com Anna Kipper.

Texto:Agnieszka Warnke
* graduada em filologia polaca e jornalismo e pós-graduada em gestão cultural.
 Tradução e adaptação para o português: Ulisses Iarochinski

terça-feira, 30 de julho de 2019

Temo o Fascismo

Participante segura cartaz com os dizeres:

“EU TEMO FASCISMO”

Foto - Kacper Pempel/Reuters
Foi durante protesto em Varsóvia contra a violência que ocorreu durante a primeira Parada do Orgulho, na cidade de Białystok, neste mês de julho. Desde então, multiplicaram-se as paradas por outras cidades da Polônia.

Mais de 30 agressores já foram presos pela polícia. Os extremistas de direita machucaram vários manifestantes da parada.

Uma revista distribuiu adesivos com os dizeres: "Zona Livre de LGBT's" e em várias cidades o slogan foi adotado e colocado em vários edifícios e casas, para dizer que ali não querem nenhuma pessoa homossexual, Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.

O principal jornal do país Gazeta Wyborcza criou grupo no Facebook com o nome de "Chcemy Polski bez nienawiści" (Queremos a Polônia sem ódio) e ao contrário da revista com seu adesivo agressivo e descabido, está distribuindo poster impressos em papel jornal com os dizeres:

NIE MA WOLNOŚCI
BEZ SOLIDARNOŚCI

Eu entrei na campanha e já tive esta foto publicada no grupo da Gazeta


Não há liberdade
sem Solidariedade

Cerca de 140 polacos residentes na Polônia já curtiram minha foto e vários outros fizeram comentários em poucas horas.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Lei da Karta Polaka está em vigor


Depois do presidente da República da Polônia, Andrzej Duda, ter sancionado, em 4 de junho de 2019, a emenda da Lei Sobre Concessão da Carta Polaca, ou Cartão Polaco (no original Karta Polaka), promulgada pelo Congresso Nacional da Polônia, em 16 de maio de 2019 e que veio a prever sua ampliação para atender também aos polacos e seus descendentes de todos os países do mundo, a Lei com suas alterações foi publicada no Diário Oficial do governo da República da Polô4a, o chamado de Dziennik Ustaw (ou Diário das Leis, ou Revista das Leis) no dia 13 de junho de 2019,  a LEI, portanto, ESTÁ EM VIGOR, como atesta seu último artigo, o de número 5:

Artigo 5 - A Lei entra em vigor 30 dias após o dia da publicação. Presidente da República da Polônia: A. Duda

Apenas para que não restem dúvidas e fique bem claro: Sancionada em 4 de junho de 2019 e publicada no Diário Oficial das Leis da República da Polônia em 13 de junho de 2019, a Lei do Cartão Polaco, ou Carta Polaca,  passou a ter validade no dia 14 de julho de 2019.

O Arquivo publicado pode ser encontrado no link do Dziennik Ustaw em seu original polaco de 13 de junho de 2019.

Aqui a tradução da Lei em vigor desde o dia 14 de julho de 2019:


DIÁRIO OFICIAL DAS LEIS
DA REPÚBLICA DA POLÔNIA

Varsóvia, 13 de junho de 2019. Item 1095
LEI de 16 de maio de 2019. Sobre a alteração da lei relativa ao Cartão Polaco, Artigo 1. Na Lei de 7 de Setembro de 2007 sobre o Cartão Polaco (Diário das Leis de 2018, números 1272 e 1669),

Alterações seguintes:

1) O preâmbulo terá a seguinte redação: "implementação das disposições da Constituição da República da Polônia na prestação de assistência aos polacos residentes no estrangeiro, mantendo as suas ligações com o patrimônio cultural nacional, cumprindo a sua obrigação moral para com os polacos que perderam a cidadania polaca devido à mudança do destino da nossa Pátria, satisfazendo as expectativas daqueles que nunca foram cidadãos polacos antes, mas que devido ao seu sentimento de identidade nacional querem obter a confirmação de pertencer à nação polaca, para fortalecer os laços que ligam os polacos à pátria e apoiar seus esforços para preservar a língua polaca e cultivar a tradição nacional, decide como segue: ";

2) No artigo 2:
a) Na Lei, no parágrafo 1 o item 3 passa a ter a seguinte redação: "3) demonstrar que é de nacionalidade polaca ou pelo menos que um de seus pais ou avós ou dos dois bisavós eram de nacionalidade polaca, de organização ou que apresenta uma certifidão confirmando ser polaco ou ser descendente de polacos e ter envolvimento ativo nas atividades para a língua e cultura da minoria nacional polaca ou descendência polaca pelo menos nos últimos três anos; "

b) Os parágrafos 2 e 3 passam a ter a seguinte redação: "2. O Cartão Polaco pode ser concedido a uma pessoa: 1) Que não tenha na data de apresentação do pedido do Cartão Polaco e no dia da concessão da Carta Polaca ou da nacionalidade polaca 2) que não tenha autorização de residência permanente sem visto em território polaco, ou 3) O status de apátrida. 3. Cartão Polaco também pode ser concedido a uma pessoa cuja origem polaca foi confirmada em conformidade com as disposições da Lei da Repatriação, de 9 de Novembro de 2000 (D.U. Diário Oficial das Leis de 2018. Item. 609 e de 1669), fornecida para demonstrar conhecimento do idioma Polaco, pelo menos no nível básico. Disposições do artigo 13 parágrafos 7 e 8 são aplicáveis ​​em conformidade. ",

c) Está suprimido o 4;

3) Na designação utilizada no capítulo 3 e no artigo 9 nos parágrafos 2 e 7 em diferentes casos, a expressão "Conselho para os Polacos do Leste" ela é substituída pela expressão "Conselho para os Polacos no estrangeiro", caso seja utilizada;

4) No artigo 9 está revogado ponto 1;

5) No artigo 13 parágrafo 3 o ponto 7 passa a ter a seguinte redação:
"7) Certifidão de uma organização da diáspora polaca ou de associação de descendentes de polacos que confirme o envolvimento ativo em atividades em benefício da língua e cultura da minoria nacional polaca;";

6) O artigo 19a passa a ter a seguinte redação:
"Art. 19-A. 1. Após a introdução pelo cônsul competente ou no caso referido no artigo 12 parágrafo 4, ou o voivoda, pode apresentar requerimento para concessão do Cartão Polaco ou prorrogação de sua validade ao cadastro referido no artigo 23 parágrafo 1, o Chefe da Agência de Segurança Interna informará as circunstâncias referidas no artigo 19 pontos 5 ou 6.

2. O cônsul competente, no caso referido no artigo 12 parágrafo 4, ou o voivoda pode, independentemente do procedimento especificado no parágrafo. 1, solicitar ao Diretor da Agência de Segurança Interna e, se necessário, a outros órgãos da administração pública, informações sobre as circunstâncias referidas no art. 19 ponto 5 ou 6, indicando as circunstâncias relevantes no caso.

3. As autoridades competentes fornecerão as informações referidas nos parágrafos 1 e 2, no prazo de 30 dias contados a partir da data de entrada do pedido do Cartão Polaco ou da ampliação de sua validade ao registro referido no artigo 23 parágrafo 1. A falta de informação dentro deste prazo será considerada equivalente à ausência de circunstâncias a que se refere o artigo 19 pontos 5 e 6.

4. O cônsul competente, no caso referido no artigo 12 parágrafo 4, ou o voivoda emite decisão sobre a concessão ou recusa de concessão do Cartão Polaco ou decisão de prorrogar a validade do Cartão Polaco, ou a recusa de prorrogar a sua validade no prazo de 30 dias a contar da data de apresentação pelas autoridades competentes das informações referidas nos parágrafos 1 e 2, ou o termo do prazo referido no parágrafo 3.'.

Artigo 2 - O procedimento nos casos relativos à concessão e anulação do Cartão Polaco iniciado e não concluído antes da data de entrada em vigor da Lei será conduzido com base nas disposições anteriores.

Artigo 3 - As disposições vigentes de implementação emanadas com base no artigo 13 parágrafo 4 da Lei alterada no artigo 1 na redação atual, permanecem em vigor até a data de entrada em vigor do direito derivado expedido com base no artigo 13 parágrafo 4 da Lei alterada no artigo 1 na redação dada por esta Lei, mas não mais do que por 6 meses a partir da data de entrada em vigor desta Lei. 

Artigo 4 - O Conselho para os Polacos do Leste, criado com base no artigo 9 parágrafo 1 da Lei mudou no artigo 1 em sua redação atual, tornando-se Conselho para os Assuntos dos Polacos Além das Fronteiras do País.

Artigo 5 - A Lei entra em vigor 30 dias após o dia da publicação.
Presidente da República da Polônia: A. Duda

quarta-feira, 24 de julho de 2019

A banalização do nazismo ou da dor do outro

27 de janeiro de 1945, prisioneiros são libertados do Campo de Auschwitz

Na sala, vó Raquel escuta, entre suspiros, Iídiche Mame” no toca-discos. Quando a música termina, olha para a neta e conta, mais uma vez, sua história – da fuga da Polônia entre as duas grandes guerras, da família e amigos que ficaram por lá e morreram nas câmaras de gás dos campos de extermínio nazista, da chegada ao Brasil. Encerra a conversa pedindo que a neta, caso tenha uma filha, dê seu nome, para que ela nunca seja esquecida.

Não esquecer é uma lembrança que acompanha as vítimas de guerras, ditaduras, genocídios e imigrações forçadas, pelo mundo. No nosso caso, judias e judeus, o jamais esquecer é recordado ainda mais fortemente no Dia de Lembrança do Holocausto, mesma data em que se homenageia o Levante do Gueto de Varsóvia, e no 27 de janeiro, Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto (ou como chamamos, Shoah). Lembramos do crime contra a humanidade que levou ao extermínio de milhões de judeus, ciganos, homoafetivos, comunistas, opositores ao nazismo, negros, deficientes e outros “indesejáveis”. Foi nesse dia, em 1945, que as tropas soviéticas (integrantes dos países Aliados, origem das Nações Unidas), libertaram o maior campo de concentração e extermínio alemão nazista, Auschwitz-Birkenau, nas cidades de Oświęcin e Brzeżinka, na Polônia.

Lembrar para jamais esquecer. E a cada ano, perguntamo-nos:

- Quem irá nos lembrar desse horror, quando os sobreviventes não estiverem mais por aqui?

Trago em mim, neta da vó Raquel, uma resposta: nós, descendentes de imigrantes e sobreviventes da Segunda Guerra Mundial. Nós somos herdeiros dessa história, trazemos impregnado em nossos genes os horrores que nossos antepassados viveram, os medos, as despedidas, as saudades. No meu caso, também pesadelos com campos de concentração.

Apesar disso, passados 74 anos do final da guerra, muitos desconhecem o que foi o Holocausto, tornando a lembrança ainda mais necessária, especialmente no momento em que se ignora a história e o conhecimento em nome de uma guerra ideológica e do ataque a quem é “indesejável” ao governo. O desconhecimento é preenchido com falsas informações e polêmicas. Nesse contexto de vale tudo, mais que esquecida, a Shoah vem sendo desrespeitada e ultrajada, assim como a história de dezenas de milhões de vítimas do nazismo, entre elas seis milhões de judeus. Tentar reescrever a história, inventando um “nazismo de esquerda” como inimigo a ser odiado – como os judeus para os nazistas -, perdoar uma dor que não lhe pertence e que não tem como ser perdoada, divulgar a homenagem a um soldado alemão que serviu ao exército nazista, apresentando-o como “sobrevivente” de guerra. Um insulto à memória das vítimas e dos verdadeiros sobreviventes!

Mas nós, que trazemos essas lembranças para que jamais esqueçamos a que ponto a humanidade pode chegar, também herdamos a esperança de que esses crimes não se repitam, seja com que população for. Por isso, é imperdoável que se deturpe, banalize ou minimize um dos maiores crimes da história em nome de um projeto de poder. E mesmo que tentem contar a história de outra maneira, não muda como ela aconteceu.

Não deveria ser humano apoiar ou desejar extermínio, mais desumano ainda é planejar para que horrores desse tipo aconteçam. Por isso, precisamos lembrar para jamais esquecer. Honrar e respeitar as vítimas, os sobreviventes, aprender com a história e, acima de tudo, estarmos alertas para que não se repita.

Fonte: Jornal do Brasil
Texto: Clarisse Goldberg
Psicóloga, integrante da Coordenação do Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Imagem não vale por mil palavras

No grupo do facebook "Telêmaco Borba memória e fotos atuais" foram publicadas duas fotos de meu albúm de família sem identificação das pessoas que estão nela.

Eu as digitalizei e coloquei há tempos na minha linha do tempo. Uma delas é a do meu pai e a outra do meu avô.

Na foto do meu pai, a pessoa que a republicou, escreveu apenas uma frase: funcionário da Klabin.
Na do meu avô: Amigos e caminhões.

As recoloco aqui para dizer que por trás de uma imagem, uma foto, há muita história que precisa de texto para ser entendida e justificada.

Sobre a foto do meu avô, o texto que poderia ter acompanhado lá no grupo é:

Bolesław Jarosiński, ao centro da foto.

"Este no centro é meu avô Bolesław Jarosiński, nascido na cidade de Wojcieszków, na Polônia, em 1905. Trabalhou como motorista destes caminhões do empreiteiro Sr. Danilo, de 1937 a 1944, participando da construção da Fábrica da Klabin em Monte Alegre.

Morreu em Castro, aos 39 anos de idade, em 1944, devido a uma extração de dente mal feita. A extração do dente infeccionou a boca e como na época não havia ainda penicilina, ele com a boca toda infeccionada, não podia comer... Assim, por causa de um dente, morreu de fome."

Sobre a foto do meu pai, este poderia ter sido o texto:

Cassemiro Iarochinski

"O funcionário da Klabin...é meu pai Cassemiro Iarochinski, conhecido pelo apelido de Karzo (ou Cassemirozinho, em polaco e é o diminutivo do nome Kazimierz, que em português é escrito como Cajo).


Karzo morreu na varanda de sua própria casa, na rua Mato Grosso, nrº 25, a menos de uma quadra da cadeia pública, na Vila Operária, em Harmonia, Monte Alegre (atual Telêmaco Borba), assassinado brutalmente pelo vizinho Nadal Banik, na manhã de 4 de agosto de 1961, com 4 disparos de garrucha.

O assassino fugiu e nunca mais foi encontrado pela polícia para ser julgado, condenado e cumprir pena de prisão. Cajo morreu aos 24 anos de idade, depois de 4 anos de casado e deixou dois filhos (eu) e meu irmão - ambos com menos de três anos de idade - e minha mãe viúva de 23 anos de idade.

Segundo informações de familiares do assassino, ele morreu nove anos depois na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, onde estaria enterrado no cemitério municipal daquela cidade gaúcha. Ao que consta de ataque cardíaco. Morreu, mas sem pagar pelo seu horrendo crime que cometeu, ao tirar a vida de um inocente e mudar completamente o futuro da esposa e dos filhos. Inocente, como ele próprio confessou numa carta enviada para a esposa e interceptada pelo delegado de polícia, onde escreveu que Cassemiro era inocente da motivacão que o levou a matar."

A responsabilidade de se publicar fotos na Internet é grande. Ainda mais, quando elas tem uma história por trás, que apenas um texto pode contar.

O que não existe de história, hein?

Então, tenho que discordar da frase que diz:

"Uma imagem vale mais do que mil palavras".

As duas fotos fazem parte de nosso álbum de família e fui eu que digitalizei e as coloquei identificadas na Internet, ....Sim! Identificadas.

domingo, 21 de julho de 2019

Cidades polacas declaradas zonas livres de LGBT

- Cidades e voivodias polacas declaram "zonas livres de LGBT" enquanto o governo aumenta o "discurso de ódio".

- O líder do partido PiS - Direito e Justiça diz que as pessoas LGBT + são uma "ameaça à identidade polaca, à nossa nação, à sua existência e, portanto, ao Estado polaco"

Manifestantes de extrema-direita enfrentam manifestantes do Orgulho gay em Poznań
Foto: Wojtek Radwanski / AFP / Getty Images)
A música pop dos anos 80 acompanhou cerca de mil ativistas envolvidos por faixas com as cores do arco-íris quando eles desfilaram na primeira Marcha dos direitos LGBT + , da cidade de Poznań, no último final de semana.

Mas a música mal podia abafar as vaias dos espectadores. Os manifestantes LGBT passaram por estandartes empunhados nas calçadas por extremistas de direita, que comparavam gays a pedófilos.

Os contra-manifestantes faziam gestos ameaçadores e outros, católicos, rezavam nas calçadas em protesto silencioso contra os gays.

A cena refletia uma tensão crescente neste país entre um movimento florecente pelos direitos LGBT  e uma reação conservadora dos extremistas de direita católicos.

 É uma tensão que o partido polaco no poder está sendo acusado de abastecer e explorar.

Antes das eleições parlamentares do PiS - Partido Lei e Justiça jogou todo o peso de seu aparato partidário numa campanha que está marginalizando a comunidade LGBT + da Polônia, dizem seus críticos.

O novo foco do partido é combater o que seus membros chamam de "ideologia LGBT ocidental" substituídos amplamente por seus gritos contra migrantes anteriores, disse Michał Bilewicz, pesquisador da Universidade de Varsóvia que acompanha a prevalência de preconceitos contra as minorias no discurso público.

Em 2015, a retórica anti-migração ajudou o partido populista de extrema-direita a chegar ao poder, segundo dados recolhidos por Bilewicz.

Mas mesmo no auge do surto na Europa, a Polônia nunca viu muitos migrantes não europeus em seu território, e a atenção pública tornou-se mais difícil de sustentar quando o fluxo para o continente diminuiu.

Nesta primavera, enquanto o PiS se preparava para as eleições para o Parlamento Europeu, seu líder, Jarosław Kaczyński, destacou outro suposto perigo estrangeiro.

O prefeito de Varsóvia, Rafał Trzaskowski, havia defendido recentemente a integração da educação sexual e das questões LGBT + nos currículos escolares, de acordo com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde.

Segundo Kaczyński, isso foi "um ataque à família" e "um ataque às crianças".

Ele chamou a “ideologia LGBT” de uma “ameaça importada à identidade polaca, à nossa nação, à sua existência e, portanto, ao Estado polaco”.

Um anúncio de campanha do Partido Direito e Justiça mostrava um guarda-chuva com o logotipo da festa protegendo a família da chuva do arco-íris.

Autoridades do partido, desde então, pressionaram para declarar cidades e até mesmo voivodias (Estados) inteiras no Sudeste conservador do país, "livre da ideologia LGBT".

Os ativistas contaram cerca de 30 declarações até agora, incluindo uma na Voivodia, onde a cidade de Kielce está localizada.

O vereador local do Partido Direito e Justiça, Piotr Kisiel, de 37 anos, rejeitou as acusações de que seu partido estava tentando provocar indignação contra indivíduos gays.

Ele disse que o partido estava apenas reagindo ao que considerou serem esforços dos ativistas para impor seus pontos de vista sobre as pessoas heterossexuais.

Aceitação de relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo está desacelerando na Grã-Bretanha, segundo relatório.

Paweł Jabłoński, assessor do primeiro-ministro Mateusz Morawiecki, observou que as declarações “livres de LGBT” não tinham “nenhum significado real em termos de regulamentos”.

Não há sugestão de que ser gay será proibido na Polônia. E uniões do mesmo sexo e adoções por casais do mesmo sexo não são legais de qualquer maneira.

"Mas a mensagem que envia é bastante simples", disse Vyacheslav Melnyk, diretor da campanha contra a homofobia, com sede em Varsóvia. "Não há lugar para as pessoas LGBT na nossa comunidade."

A mensagem foi ecoada e amplificada por setores da Igreja Católica Apostólica Romana, da Polônia, e por meios de comunicação favoráveis ​​ao governo.

Na quarta-feira, um jornal semanal conservador, Gazeta Polska, anunciou que distribuiria adesivos “livres de LGBTs” em sua próxima edição.

Os adesivos, com listras verticais em cores do arco-íris riscadas por um X preto grosso, provocaram uma resposta do embaixador dos EUA na Polônia.

"Estou desapontada e preocupada que alguns grupos usem adesivos para promover o ódio e a intolerância", twittou a ambaixadora Georgette Mosbacher. "Nós respeitamos a liberdade de expressão, mas devemos nos unir do lado de valores como diversidade e tolerância".

O editor, Tomasz Sakiewicz, rebateu: “Liberdade significa que eu respeito suas opiniões e você respeita as minhas. Nós nos opomos apenas à imposição de pontos de vista pela força. Ser um ativista do movimento gay não torna ninguém mais tolerante ”.

A liderança do Partido Direito e Justiça não respondeu a várias solicitações de comentários para este artigo. Mas membros do partido encorajaram explicitamente as declarações “livres de LGBT”.

"Acho que a Polônia será uma região livre de LGBT", disse em março Elźbieta Kruk, então candidata do Partido Direito e Justiça nas eleições europeias.


Na Voivodia de Lublin, o representante do governo local Przemysław Czarnek entregou medalhas a políticos locais que votaram a favor das declarações.

Também mantendo o conflito nas notícias, o ministro da Justiça da Polônia ordenou no mês passado uma investigação da Ikea por demitir um funcionário que expressou opiniões homofóbicas.

E o Tribunal Constitucional da Polônia, lotado de juízes favoráveis ​​do Partido Direito e Justiça - decidiu no mês passado em favor de uma gráfica que se recusou a produzir cartazes para uma Fundação LGBT +.

Jabłoński, conselheiro do primeiro-ministro, rejeitou a noção de que o governo estava buscando explorar o assunto.

Em entrevistas, mais de uma dúzia de observadores de direitos humanos, políticos da oposição e ativistas se preocuparam com o impacto de um novo foco anti-LGBT + em um país que é mais de 95% católico e onde antes muitos se sentiam desconfortáveis ​​em ser gay.

Com seus comentários "à margem do discurso de ódio", disse Adam Bodnar, comissário independente da Polônia para os direitos humanos, "o governo está aumentando os sentimentos homofóbicos".

"Desde o discurso de ódio até os crimes de ódio, é um caminho muito curto", disse Robert Biedroń, o primeiro prefeito abertamente gay do país.

Jabłoński, assessor do primeiro-ministro, disse que tais alegações foram "exageradas".

Vladimir Putin diz que a Rússia tem uma atitude "calma" em relação às pessoas LGBT +.

A Polônia está classificada entre os países mais restritivos da Europa em termos de direitos LGBT +.

As atitudes, no entanto, haviam se suavizado. Enquanto 41 por cento dos polacos disseram em uma pesquisa de 2001 que ser gay não deveria ser tolerado e não era normal, esse número caiu para 24 por cento em 2017, de acordo com o instituto de pesquisas estatais CBOS.

"Parte da sociedade está realmente ficando cada vez mais liberal e aberta", disse a ativista contra a discriminação, a polaca Joanna Grzymała-Moszczyńska.Mas, do outro lado, podemos ver a intensificação de uma narrativa homofóbica”, acrescentou ela.

O país tem sido criticado por não manter registros confiáveis ​​sobre crimes de ódio homofóbico, mas grupos de direitos humanos em toda a Polônia disseram ter notado os recentes aumentos nos ataques homofóbicos.

A vice-prefeita de Kielce, Danuta Papaj, disse que era errado os políticos nacionais ou regionais interferirem no que ela considerava um assunto primordialmente local: garantir a tolerância entre os residentes. Ela alertou para a criação de comunidades socialmente excluídas ou "guetos" sociais.

Em Kielce, a escolha desse termo pesa especialmente. Perto dali, os nazistas exterminaram judeus e outras minorias - incluindo gays - durante a Segunda Guerra Mundial. Mas a matança não parou com o fim da guerra. Dezenas de judeus foram assassinados em Kielce em um pogrom em 4 de julho de 1946.

As matanças convenceram muitos dos judeus remanescentes da Polônia que sobreviveram ao Holocausto nazista de que não havia futuro para eles no país. Bogdan Białek está trabalhando para preservar a memória do passado assombrado de Kielce. Horas antes do primeiro desfile LGBT + da cidade acontecer, o católico de 64 anos estava andando por uma casa que foi alvo do pogrom e hoje abriga uma exposição. Para ele, o pogrom de 4 de julho ilustra como estereótipos e preconceitos podem trazer o mal para as pessoas. O Partido Direito e Justiça, disse Białek, ganhou as eleições anteriores com a "gestão do medo" dos refugiados.

Mas ele argumentou que a forma como a manifestação de agora, voltada para as pessoas LGBT + era potencialmente mais perigosa. Agora, ele disse, "não é a gestão do medo, mas a gestão do ódio".

"É doloroso para mim, realmente", disse Ewa Miastkowska, 54 anos, na marcha da igualdade do último fim de semana em Kielce. A mãe de um filho gay disse que veio de Varsóvia para lutar por seus direitos em Kielce. “Eu choro a cada segundo dia. É repugnante ”, disse ela sobre o tema anti-gay do partido no poder.

Cercada por centenas de policiais, a ativista local de 37 anos, Barbara Biskup, disse que achava que o governo estava transformando pessoas LGBT + em bodes expiatórios, assim como havia feito com os migrantes. Sua esperança, disse Biskup, era que os moradores da cidade percebessem que ela e outros vizinhos gays não eram inimigos do Estado polaco.

"Espero que pelo menos alguns deles vejam que somos pessoas normais", disse ela.

Segundo testemunhas, alguns "hooligans" usavam camisetas com símbolos ultranacionalistas e outros gritavam "Não à sodomia em Bialystok!".

Os "hooligans" se lançaram contra os manifestantes e os policiais, com fogos de artifício, pedras e garrafas, segundo um porta-voz da polícia.

A marcha foi muito criticada pelas mídias católicas e nacionalistas, que organizaram cerca de 40 atos na cidade de Białystok, entre elas um piquenique familiar idealizado pelo prefeito, integrante do Partido Direito e Justiça, de extrema direita que comanda o país.

Texto: Rick Noack
Tradução e adaptação para português: Ulisses Iarochinski
Fontes: Washington Post e The Independent

sábado, 20 de julho de 2019

Aniversário do Blog IAROCHINSKI

Este blog está completando, hoje, 14 anos de existência.




Criei-o para substituir o site "Saga dos Polacos", que havia criado em 1998. Foi formas que encontrei para divulgar minhas descobertas sobre minha polaquice herdada do meu pai.

Meus textos nestes 21 anos de site e blog já foram lidos por mais de um milhão de pessoas de vários países do mundo. Além das milhares de menções em referências bibliográficas em monografias, dissertações e teses acadêmicas. Como referências em reportagens, artigos e crônicas na imprensa escrita, falada, televisada e internetada.


O site virou o livro "Saga dos Polacos - A história da Polônia e seus emigrantes no Brasil", que em novembro do ano que vêm estará completando 20 anos de seu lançamento, na Sociedade União Juventus, de Curitiba.
Nos meses seguintes, o livro foi apresentado em 25 cidades dos quatro Estados do Sul do Brasil e depositado nas bibliotecas, Pública do Paraná, Congresso dos Estados Unidos, Nacional Jagieloński da Polônia e Municipal das cidades de Castro, Ponta Grossa, Telêmaco Borba, Guarani das Missões e das universidades, Federal do Paraná, Varsóvia, Lublin e Cracóvia.

Desde que comecei a ser agredido, não só com palavras e reprimendas, mas com violência física por usar a palavra "Polacos" no título, e não o galicismo preconceituoso terminado em ÊS. Adotei como princípio a determinação de recuperar e dignificar o verdadeiro termo gentílico do povo na Polônia em português, como, aliás, o fazem os outros sete países lusófonos e 27 países hispânicos.
Sim! Fui agredido fisicamente nos lançamentos em Erechim-RS, em São Paulo e em Curitiba. E impropérios de burro, asno, traidor e várias outras ocasiões eventos.
Por isso, desde então, adotei o lema, que vai escrito na coluna lateral do espaço das publicações, que é:

"Neste blog, todos os textos apresentam tão somente as palavras ... polaco e polaca (também no plural), pois o autor está convicto que estes sejam os termos adequados e corretos para denominar o gentílico (e seus descendentes) da Polônia em língua portuguesa, como aliás, fazem os demais 7 países lusófonos ao redor do mundo. Se polaco é pejorativo para alguns, polonês é preconceituoso para outros tantos."


Já o blog, que começou com o artigo "Porque Polaco!" em 2005, passou a ter registro dos leitores apenas em 2010, pelos mecanismos do próprio hospedeiro. Em seus primeiros cinco anos ele já havia registrado 500 mil visitadas segundo dois sites de aferição, então utilizados.

Ilustração da primeira publicação

 Nos últimos 9 anos, ele ultrapassou a marca das 600 mil visualições, conforme esta ilustração com os dez textos de maior número de leitores. Estes são os países com maior número de leitores: Brasil, Estados Unidos, Polônia, Ucrânia, Portugal, Grã-Bretanha, Itália, Alemanha e Argentina.

Nestes 14 anos foram postados 2783 textos, sobre os mais diversos aspectos da cultura, arte, antopologia, sociologia, linguística,  curiosidades, história, idioma, sociedade, política, turismo e as últimas notícias do país.

Ilustração das aferições
Nos últimos dois meses os textos-reportagens mais lidos foram: "Imgrantes Polacos na Guerra do Contestado" com 6126 leitores e "Carta Polaca foi sancionada pelo Presidente" com mais de 5 mil leitores.

Durante o "Congresso dos Jovens Polacos" realizado em Curitiba com o apoio da Wspólnota Polska, Senado da Polônia e Sociedade Piłsudski de Curitiba, curiosamente o texto que voltou a ser lido foi: "Curitiba = Kurytyba" com quase 500 leitores.

Mas os três textos que são diariamente acessados, sem falhar um dia sequer, são:
- Grafia de sobrenomes polacos aportuguesados" (o campeão de visitações)
- Terminações dos sobrenomes polacos"
- Nomes polacos tradicionais - grafia e significado"

Críticos e apoiadores estão sempre sugerindo que eu me permita escrever os termos "polônico" e o galicismo terminado em ÊS, que certamente eu teria muito mais visibilidade.

Mas para quê?

No passado caçoavam (o americanismo booling), faziam chacota, tiravam sarro, discriminavam o representante da etnia, com agressões gratuitas como "Polaco - preto do avesso", "Polaco burro" e "Polaco sem bandeira".

Hoje, posso dizer que tenho uma bandeira, a da dignificação e da honra pelo correto e adequado  termo POLACO em língua portuguesa. Pois, para mim, o outro é preconceituoso e o polônico é divisionista ao taxar em cidadãos de primeira classe (por terem nascido em solo pátrio) e os demais como de segunda classe, mesmo tendo nas veias o mesmo sangue.