sexta-feira, 23 de julho de 2010

Em cartaz: Semo polaco non semo fraco


Isidorio Duppa, polaco, agricultor, ingênuo e atrapalhado, após uma aventura amorosa com uma prostituta foge de casa e sai pelo mundo contando sua história. Com malícia e ingenuidade, tira gargalhadas do público e satiriza através do sotaque polaco e de músicas inspiradas na cultura polaca, a simplicidade do povo da roça.


CIARTE – Companhia Araucária de Teatro
Autor do Texto: Glaucio Karas
Diretor: Jester Furtado
Iluminação: Fabia
Sonoplastia: Glaucio Karas
Elenco: Cida Rolim, Glaucio Karas, Marcia Cris, Rick de Souza e Gustavo Souza
Duração: 50 min
Data: sextas, sábados e domingos – 21 horas – de 16 de julho a 08 de agosto
Ingressos: R$30,00 inteira e R$15,00 meia entrada
Gênero: Comédia adulta
Classificação: 12 anos

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Estádio de Cracóvia interditado

Foto: Jakub Ociepa

O atual vicecampeão polaco, Wisła Kraków (pronuncia-se víssua crácuf) não poderá jogar na terceira rodada das eliminatórias da Liga Europeia, em seu modernizado estádio na ulica Reymont.
Nesta quinta-feira, às 12 horas, vence o prazo para o envio de documentos para a UEFA. "Apesar dos esforços do investidor, o estádio ainda não está pronto para entrar no sistema de controle e acompanhamento de espectadores. A tribuna Leste, não pode cumprir ainda as exigências da lei sobre a segurança em eventos de massa. Além disso, existe ainda uma total falta de iluminação no estádio. Portanto, em função desta situação o jogo não pode ser realizado." Este é o comunicado oficial no site do Clube.
Isto significa que se o povo de Cracóvia, quiser assistir o jogo, nesta quinta-feira, terá que se deslocar até o estádio Hutnika. O mais rico time de futebol da Polônia, pode eliminar o FC Szawle com um empate, pois no jogo de ida venceu jogando na Lituânia por 2 a 0. Se o time passar, na rodada seguinte, os torcedores terão que ir na próxima eliminatória ao estádio de Nowa Huta para ver sua equipe enfrentar o clube azeri Karabakh Agdam, ou o time irlandês Portadown FC.
A construção do estádio estava programada para terminar em junho deste ano.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Lato processa torcedores

Na faixa: Na África do Sul mundial, com a gente LATO
Foto: Sławomir Kamiński

Não existe nenhuma outra instituição na Polônia, que tenha uma conotação tão negativa quanto a PZPN - Associação Nacional Polaca de Futebol. A afirmação é de Anna Szczepaniak, representante dos torcedores ante a PZPN.
Ontem, a representante da associação - S.O.S. dla Polskiej Piłki (S.O.S para o futebol polaco),sentou-se no banco dos réus no Tribunal Distrital de Lódz (pronuncia-se úudji) durante a primeira audiência do processo que move a PZPN contra a associação de torcedores SOS.
A Associação Nacional, presidida pelo craque do passado, Grzegorz Lato considerou que o site fundado pelos torcedores - www.koniecpzpn.pl tem usado ilegalmente logotipo e marca com opiniões que prejudicam a imagem e reputação da entidade nacional do futebol polaco.
O site entrou no ar logo após o fracasso da seleção nacional nas eliminatórias da última Copa do Mundo de futebol, na África do Sul. A Polônia foi derrotada por 3 a 0 para a Eslováquia.
Primeiro a Associação Nacional de Futebol tentou, sem sucesso, bloquear a página, em seguida, convocou ao Tribunal três fundadores da SOS para que o domínio Koniecpzpn.pl fosse retirado do ar.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Santa Edwiges furtada em Santos

Santa Edwiges Silesiana

A polícia de Santos, no litoral de São Paulo, vai usar as imagens de câmeras de segurança para tentar identificar o homem que furtou a relíquia de Santa Edwiges de uma igreja na cidade. O crime aconteceu no fim da tarde de domingo (18).
As imagens foram gravadas por duas câmeras. Com um paralelepípedo nas mãos, o homem entrou na igreja e foi direto até o altar. Foram três tentativas, até conseguir quebrar o vidro que envolvia a peça. Depois, colocou o relicário na cintura e saiu correndo.
Uma pessoa, que não quis se identificar e que saia do elevador e passou pelo corredor escutou o barulho. Ela se aproximou do vidro e viu o ladrão. “Ele só me olhou, enfiou embaixo da roupa e saiu correndo”.
A imagem estava na igreja desde fevereiro de 2008. Ela veio da Polônia e tem um significado importante para a Igreja Católica. “Representa uma riqueza espiritual, na fé e na tradição”, explicou o pároco da igreja, padre Samuel Fonseca.
“É uma peca grande, dourada, mas que não tem valor, não é ouro. O que tem valor é o valor sentimental. Levaram um pedacinho da santa”, disse a auxiliar administrativa Maria Regina Tanaka. Essa foi a quinta vez em sete meses que a igreja foi roubada.

São duas as santas de nome Edwiges, ambas polacas. Em idioma polaco, Jadwiga (pronuncia-se iádviga).
A primeira Jadwiga foi esposa do príncipe Henrique (Piast), quando da divisão da Polônia em principados, ainda na idade média. Reinou com o esposo em Wroclaw, capital da Baixa Silésia. Ela, no entanto, nasceu no Reino da Baviera, como princesa Edwiges de Andechs - em 1174 e morreu em Trzebnica, Polônia, a 14 de outubro de 1243 - mas é mais conhecida na Polônia pelo nome de Jadwiga Śląska (Edviges silesiana). Foi proclamada santa pela Igreja Católica em 1267. O dia 16 de outubro é dedicado a Santa Edwiges, popularmente conhecida como protetora dos pobres e endividados.
O jornalista curitibano, radicado no Rio de Janeiro, há muitos anos, Toninho Vaz, escreveu o livro "Edwiges, a santa libertária", pela Editora Objetiva, em 2005. (P.S. ...Tive o privilégio de colaborar)


Santa Edwiges rainha - Padroeira da Europa

A segunda Santa Edwiges de canonização mais recente foi a Św. Jadwiga Królowa - Santa Edwiges Rainha.
Filha do Rei Luis da Hungria e da princesa polaca Elzbieta, nasceu na Hungria em fevereiro 1374. Depois da morte do pai, a pedido da nobreza polaca, Jadwiga subiu ao trono da Polônia, em 16 outubro de 1384, coroada pelo arcebispo de Gniezno Bodzankę, como Rei e não de rainha com o título de "Hedvigis Dei Gracia Regina Poloniae, necnon terrarum Cracoviae, Sandomiriae, Syradiae, Lanciciae, Cuyaviae, Pomeraniaeque domina et heres". Tinha então dez anos de idade. Dois anos mais tarde, pelo bem da nação e da Igreja a Rei, casou-se com o Grão-duque da Lituânia, Jagiello, que correu para a mão de Jadwiga, após prometer batizar-se católico apostólico romano, juntamente com seu povo, a Lituânia, para aderir à Coroa das duas nações.
Em 1397, recebeu o consentimento do Papa Bonifácio IX para a abertura da Faculdade de Teologia da Universidade de Cracóvia. Através de sua disposição, a Rei contribuiu para a renovação da mesma universidade, que desde a morte de seu esposo é denominada Iaguielônica. É considerada a fundadora desta universidade, a mais antiga da Polônia e segunda da Europa Central e uma das mais antigas do mundo. Em suas cátedras, Mikolaj Koperniko e Karol Wojtyla receberam os títulos de doutores.
Com 25 anos, Jadwiga logo após o nascimento de sua filha, morreu em 17 de julho de 1399. Santa Edwiges Rainha é chamada de a mãe de seu povo e da Mãe das Nações.
Em 08 de junho de 1979, o Papa João Paulo II celebrou missa em honra da Rainha Edwiges, em seu túmulo, na Catedral de Wawel, em Cracóvia, confirmando sua beatificação de 08 de agosto de 1986.
Uma missa campal para quase 4 milhões de pessoas, em 2002, no Parque Blonia, em Cracóvia, o Papa João Paulo II, polaco como a Rei, a canonizou Santa Edwiges Rainha. Recentemente, a União Europeia a elevou a Santa Padroeira da Europa. Seus restos mortais estão numa capela dentro da Catedral de Wawel, em Cracóvia.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Primeira entrevista de Polanski liberto

Foto Martial Trezzini

"Um grande presente a amizade Suíça", disse Roman Polański em sua primeira entrevista após sua libertação da prisão domiciliar, segunda-feira passada, quando as autoridades suíças se recusaram a extraditá-lo para os Estados Unidos.
Quando recebeu a noticia da libertação, Polański caiu no chão. No sábado, inesperadamente ele apareceu no "resort" suíço de Montreux, onde, no festival de jazz local, estava sua esposa Emmanuelle Seigneuer. "Estou feliz de finalmente ele poder ver o meu show. Anteriormente, ele não teve ocasião", falou Seigneuer antes do espetáculo.
Polański foi entrevistado pela televisão suíça TSR. O diretor disse na entrevista que não tem nada contra e não fará nenhuma demanda contra a justiça suíça, que o prendeu 10 meses atrás, a pedido do Ministério Público dos Estados Americanos, por causa dele ter feito sexo com uma menor, 33 anos atrás. Pelo contrário, afirmou que tem uma grande amizade com a Suíça. Agradeceu ao povo de Gstaad, a estância alpina, onde permaneceu por vários meses sob prisão domiciliar na sua residência. "Eles me apoiaram. Trouxeram vinho, flores, bijuterias diversas. Ser mantido em prisão preventiva foi terrível. Mas eu nunca exigi tratamento especial, porque eu conheço muito bem sobre o futuro." Disse que quer ficar com a família e lidar com o trabalho, coisas que não conseguiu enquanto estava sob custódia. "Estou feliz!"
O diretor salientou também que ele era capaz de escapar sem problemas de Gstaad para a França. "Nunca pensei nisso a sério." Confessou.

sábado, 17 de julho de 2010

Duppa e Iarochinski na rádio AM 630

Duppa, Zélia e Iarochinski - Foto: Paulo Chaves


Vai ao ar, neste sábado, pela rádio Paraná Educativa, AM 630, das 18:00 às 19:00 horas, com reapresentação, no domingo, às 13:30, o programa "Nossa história" de lia Sell, com participação de Ulisses Iarochinski (este que vos escreve) e Isidório Duppa - o personagem do artista Gláucio Karas. O programa foi gravado, na última quarta-feira, a apresentadora iniciou a entrevista com a seguinte introdução:

Quando a imigração polaca iniciou no Brasil, não havia mais o estado polaco na Europa, somente existia a nação polaca. É que a Polônia, um dos maiores países europeus nos séculos XVI e XVII, passou a ser invadida, no século XVIII ,por seus vizinhos Rússia, Áustria e Prússia.
Pelos maus tratos sofridos e a falta de terras para cultivar, os polacos passaram, então, a emigrar inicialmente da Pomerânia e Silésia, tomadas pela Prússia, depois do centro e leste ocupados pela Rússia, no sul e sudeste pela império austro-húngara, o restante do território foi invadido pela Prússia (atual Alemanha).
Na Segunda Guerra, quando o país foi dividido ao meio e foi criado o famoso "corredor polonês", morreram seis milhões de polacos.
Pelas questões de guerra e tantas dominações, até hoje muitos emigrantes polacos pensam que são alemães, pois foram obrigados até a trocarem seus nomes.
No passado, enquanto na Polônia faltavam terras, no Brasil elas abundavam, e estavam perigosamente desocupadas. Após a abolição da escravatura, havia falta de mão de obra e acredita-se que 800 mil emigrantes foram lançados ao mercado como mão-de-obra assalariada, em busca da terra "onde corriam o leite e o mel", misticamente orientados pela Virgem de Częstochova (pronuncia-se chenstorróva).

"Nossa história" - a história contada por quem sabe" tem produção e apresentação de Zélia Sell e Guilherme Nascimento, e também pode ser ouvido pela internet acessando:


http://www.rtve.pr.gov.br/, clicando em "rádio am 630 ao vivo".

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Alerta no Báltico polaco

Foto: Damian Kramski

Embora a empresa inglesa tenha conseguido pela primeira vez conter o petróleo que vaza no golfo do mexicano dos Estados Unidos, nesta quarta-feira, o vazamento levado pelas correntes marinhas do Oceano Atlântico chegou ao Mar Báltico, nas costas da Polônia.
Quem fez o alerta foi o prof. Jan Marcin Węsławski, do Instituto de Oceanologia de Sopot, cidade balneária polaca.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

600 anos de Grunwald

Foto: Reuters

Polacos e lituanos reencenaram, nesta quinta-feira, torneios medievais entre cavaleiros comemorando o aniversário de 600 anos da histórica Batalha de Grunwald, no norte da Polônia.
O evento foi prestigiado pelo presidente eleito da Polônia, Bronislaw Komorowski, e pelo chefe de Estado lituano, Dalia Grybauskaite. Ele antecede a reencenação da batalha, que será realizada por 2 mil "cavaleiros" no próximo sábado.
A sangrenta batalha de Grunwald, ocorrida em 1410, marcou a vitória da união entre lituanos e polacos e a expulsão definitiva das terras da Polônia dos invasores cavaleiros católicos teutônicos que buscavam expandir a influência católica apostólica romana nessa região do leste europeu e extinguir cultos pagãos na Lituânia. Na época, 50 mil soldados lutaram no confronto. O mais interessante é que o rei polaco Wladyslaw Jagiello era cristão também e tinha origem lituana, pois seu pai o duque lituano, ao contrair matrimônio com a rainha polaca Jadwiga Piast se cristianizou.
"Essa vitória nos lembra o quanto podemos atingir quando estamos juntos", disse a presidente lituana Grybauskaite. Komorowski, por sua vez, disse que a batalha foi um "triunfo da tolerância sobre a força".

Deixem Polanski em paz


O diretor Roman Polanski não representa ameaça a ninguém e as acusações contra ele deveriam ser esquecidas. A afirmação é de Samantha Geimer, a vítima adolescente de Polanski em um caso de abuso sexual ocorrido há 33 anos."Chega", disse ela sobre os contínuos esforços para processar Polanski, em entrevista ao Los Angeles Times, em texto publicado hoje no site do jornal. Para ela, o caso deveria ter sido resolvido quando aconteceu.
Samantha foi proibida de discutir a determinação judicial com o diretor, mas disse que isso não influenciou sua visão dos fatos. "Eu me senti dessa forma desde o início", afirmou. Polanski admitiu a culpa por ter mantido relação sexual ilegal com ela em um acordo que suscitou controvérsia. As autoridades suíças se recusaram ontem a extraditar Polanski para os Estados Unidos.

Piloto aterrissou sob pressão

Local do acidente do Tupolev TU-154 - Foto: AP

"Se eu não aterrissar, eles me matarão".
Este é um novo fragmento de frases recuperadas na caixa preta do avião, que foi divulgado, ontem, pela TVN 24, com a voz do piloto, major Arkadiusz Protasiuk, segundos antes do acidente de 10 de abril, que vitimou 96 polacos, na floresta de Smolenski, Rússia. A televizão não deu nenhuma fonte de informação sobre a leitura dessas palavras do Major Protasiuk.
No entanto, a transcrição, revelada às autoridades, em junho passado, e que decifrou todos os últimos 70 segundos de vôo. Os últimos minutos é uma conversa com a torre e os pilotos polacos para um pouso técnico. Eles não têm comentários pessoais.
Mas o que a Polônia discute, hoje, é que "mataria" os pilotos se eles de fato não aterrissassem naquele momento?
O jornal Gazeta Wyborcza, admite que tinha esta informação antes do segundo turno das eleições presidenciais de 4 de julho último, mas que preferiu não divulga-la para não comprometer o resultado das urnas.
Segundo o Comitê Inter-Aviação, russo, às 8:16 (horário de Varsóvia), ou seja, 25 minutos antes do acidente, Protasiuk disse: "Se não aterrissarmos, vai ter rolo".

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Num bar do Kazimierz

No site do Festival de Cultura Judaica que acaba de encerrar sua 20å. edição, dia 4 último, em Cracóvia, encontrei link para "Poland Jewish Heritage Tours" e nesta página o texto abaixo da jornalista norte-americana Ruth Ellen Gruber, que esteve a primeira vez na Polônia na década de 80 do século passado cobrindo a formação do Sindicato "Solidariedade". E embora não sendo judia das práticas religiosas, como ela confessa no texto, para participar do Yom Kippur de 1980. Gruber consegue apresentar a atmosfera encontrada no bairro do Kazimierz - distrito judeu - de Cracóvia recheada de informações históricas.

Cenas desde um Café (bar) de Cracóvia



É uma manhã ensolarada, no início de julho, e estou tomando o café da manhã em um bar ao ar livre no Kazimierz, antigo bairro judeu de Cracóvia. Tenho estado sentado em cafés e em torno da rua Szeroka, a praça principal de Kazimierz, há quase 20 anos, observando os elementos paradoxais da cultura judaica na Polônia pós-comunista se desdobrando, e o próprio bairro evoluir a partir de uma zona deserta de prédios decrépitos, com algumas estrias em seus portais, na falta de mezuzahs, em uma das principais atrações turísticas da Europa judaica, uma cidade da moda, com um crescimento cada vez maior de bares, cafés em estilo judaico, pubs da moda, souvenirs kitsch e o nostálgico chic shtetl.

Como a capital histórica da Polônia Real, Cracóvia é uma das mais belas cidades da Europa central e foi uma das poucas grandes metrópoles polacas a escapar da destruição por atacado na Segunda Guerra Mundial. O Kazimierz era um centro da vida judaica e da aprendizagem, mas após o Holocausto apenas seu esqueleto arquitetônico ficou. 64.000 polacos de origem judaica (entre os mais de três milhões e meio de judeus que viviam na Polônia do pré-guerra) morreram. Contudo, sete sinagogas e pontuais casas de oração, além de lojas, casas e cemitérios sobreviveram. Após a guerra, sob o regime comunista, o Kazimierz caiu em ruínas, e só no início de 1990, o bairro começou a ter uma vida nova. Mesmo antes de Steven Spielberg vir aqui para as locações e gravações de seu filme, em 1993, "A Lista de Schindler, e também no gueto e campo de concentração da cidade de Cracóvia, no bairro de Plaszów, o Kazimierz já estava começando a redescobrir sua alma judia.

Apesar de Cracóvia ser agora o lar de algumas centenas de judeus (a própria Polônia talvez tenha apenas entre 5.000 e 15.000 judeus para uma população do país de 40 milhões de polacos), as ruas além do meu café estão lotadas com pessoas daqui para o espetáculo anual de nove dias conhecido como "Festival da Cultura Judaica". Há judeus de e de fora da Polônia: Rabinos, turistas, pessoas procurando suas histórias de família, escritores, cineastas, burocratas, filantropos, acadêmicos, músicos e artistas passeiam na praça e em torno de ruas pavimentadas com pedra. A grande maioria dos visitantes, no entanto, são polacos não-judeus que vieram para celebrar tanto a vida do polaco judeu que existiu uma vez e a cultura judaica contemporânea de que ainda está muito viva em todo o mundo. Alguns deles têm ajudado no renascimento do Kazimierz e no renascimento do interesse público pela cultura judaica em todo o país. Os recém-chegados e os frequentadores regulares, judeus e não judeus, se reúnem nos cafés que perfilam na Szeroka e em outras ruas e praças, transformando Kazimierz em uma festa de bebida, comida e conversa que migra de mesa em mesa para o café de outro bar.

Estou esperando por Stanislaw Krajewski e Monika, que estão entre os meus amigos mais antigos na Polônia, que vivem em Varsóvia e com quem me encontrei na véspera do Yom Kippur, em 1980. Naquela época, eu era uma jovem repórter americana, que estava em Varsóvia, para cobrir o nascimento do Sindicato "Solidariedade", movimento operário anti-comunista, que gerou uma revolução pacífica e foi o prenúncio do colapso do mundo soviético. Eu não sou uma judia religioso, pois raramente vou aos cultos e serviços. Mas, em Varsóvia, em que erev Yom Kippur, eu procurei uma sinagoga. A única a ser encontrada, do que antes eram centenas, foi a sinagoga Nozyk, construída, em 1902, e utilizado pelos nazistas como estábulo.

Em 1980, a sinagoga estava degradada e vazia. Minha busca me levou para uma sala próxima, onde a pintura estava descascando nas paredes, mas alguns judeus estavam reunidos para as orações. Não havia nenhum rabino: não havia na Polônia da época ainda nenhum rabino. Talvez três dezenas de pessoas, quase todos homens, quase todos idosos, ficavam se balançando sobre livros de oração. Entre eles estava um punhado de pessoas da minha idade, e um casal de crianças correndo e fazendo barulho. Alguns dos fiéis idosos tentavam repreendê-los em voz alta e eu me lembro de ter pensando: "Como você pode calá-los? Você deve incentivá-los, seja feliz que há crianças aqui entre vocês."

Após as orações, um jovem casal veio até mim, ansioso para saber quem eu era e porque eu estava lá. "É simples", eu lhes disse: "Eu sou uma jornalista americana que cobre o Solidariedade, eu sou judia, e é o Yom Kippur, então eu vim para a sinagoga. É normal." Mas o "simples" e "normal" tinha diferentes significados em seu léxico. Eles se aproximaram. "Oh, você é uma judia de verdade!" exclamaram. Isso colocou-me no local. Um judeu "real"? Afinal, eu não falo hebraico, eu não vou à sinagoga, não mantenho o kosher. "Não", eles insistiram. "Você é um judeu real, você sempre soube durante toda sua vida que você é judia. Estamos apenas aprendendo. Volte para casa conosco e nos diga o que fazer."

O casal era Staszek, Stanislaw como é conhecido, e Monika. Eles estavam entre os organizadores do "Jewish Flying University", um grupo de estudo semi-clandestino de judeus e não judeus, na Varsóvia comunista, que se reunia informalmente para aprender e ensinar o que podiam sobre o judaísmo. Isto significava saber sobre os rituais, costumes, tradições e história, mas também as memórias e as inflexões que muitas vezes são inatas, mesmo para o mais secular dos judeus que cresceu em liberdade.

Monika, artista e professora, Staszek, escritor e professor, dirigiram-se por contra própria ao redor das mesas do jardim do meu hotel, o Hois Klezmer, desconexo, uma construção com telhado pontudo, utilizado para abrigar a mikvah. Nos cumprimentamos com abraços. Monika, como de costume, usava uma saia esvoaçante e destacados brincos. Homem profundamente religioso, Staszek é um ativo em relações interconflituais e consultor da Polônia para o Comitê Judaico Norteamericano. Seus livros variam de comentários sobre a Torá para trabalhos acadêmicos de matemática e lógica, a sua área acadêmica, para os ensaios sobre a vida judaica na Polônia contemporânea, onde, cada passo em direção ao futuro é sobrecarregado pela memória do passado.

Os Krajewski e comentamos as notícias, perguntei sobre os filhos deles. Ambas as crianças haviam comemorado o bar mitzvah na sinagoga Nozyk. A mesma sinagoga que estava muito degradada para ser usada quando nos conhecemos, mas que, agora, está totalmente restaurada e funcionando. O bar mitzvah de seu filho mais novo, em 2004, foi particularmente comovente. Daniel, que tem síndrome de Down, transportou a Torá, mas ao invés de dar um discurso, mostrou quadros que ele havia pintado: a bênção de Jacó aos filhos de José, a sarça ardente, a divisão do mar, o bezerro de ouro, a quebra dos comprimidos. O último quadro mostrava toda a sua família na mesa do Sabbath, uma cena que ele conhece de toda a sua vida. Outros amigos passaram e nós conversamos. Em seguida, Monika e Staszek se desligaram. Ambos estão dando palestras ou oficinas no festival deste ano.

De certa forma, a luta pela alma de Kazimierz pode ser visto nas diferenças entre os cafés da ulica Szeroka. Espaços com desenho sobre a história judaica de Cracóvia foram os primeiros a serem abertos na praça. Mas na Szeroka, hoje, as coisas são diferentes. Há um restaurante indiano e um italiano, bem como novos bares chiques com hip hop a todo volume. Ainda assim, os críticos amam odiar a Szeroka e a sua exploração comercial como patrimônio judaico, como uma mercadoria vendável, o que para alguns é a chamada "disneylandização" da cultura e tradição judaica através de uma ênfase no estereótipo e nos artifícios.

O Hois Klezmer, onde muitas vezes eu fico, é meu local favorito em estilo judaico. Localizado em uma das extremidades Szeroka, tem o aconchego de um antigo salão velho da família, com tapetes e toalhas cobrindo mesas incompatíveis, cadeiras e sofás. Foi inaugurado pelos meus amigos Wojtek e Malgosia Ornat. Embora ambos tenham raízes judaicas, não foi levantada qualquer conexão com a família judia: Malgosia, uma mulher pequena, com olhos arregalados e cabelo loiro cortado bem curto, tinha 19 anos quando soube que sua avó materna era judia, uma história que não é incomum na Polônia.

Agora em seu 40 anos, os Ornats abriram a primeira cafeteria em estilo judaico no Kazimierz, o Ariel, em 1992. Em seguida, o café Ariel da Szeroka, era um posto avançado solitário, em meio a um terreno baldio sujo, ao lado de outros terrenos baldios e prédios vazios. Lembro-me vividamente como Wojtek e eu, sentado em uma mesa de vime, quando algumas pessoas fantasiadas chegaram um dia. O Ariel tocou em um nervo, que de alguma forma, foi ligando o comércio e liderou a criação de uma cultura de sala em estilo judaico, que agora se espalha muito além de Cracóvia. Como o primeiro a evocar (e aproveitar) a imagem literária de um mundo perdido judaica em sua decoração visual e atmosférica, o café dos Ornats "assumiu que é" judeu e tem sido importante para moldar a experiência e as expectativas dos habitantes locais e turistas, judeus e não judeus. Como uma memória de cor sépia, o "judeu" é hoje uma marca que simboliza um tempo e lugar passados, mas carinhosamente lembrado. Essa idéia brinca com a nostalgia, mas também com a imaginação: Ela representa o que algumas pessoas desejam do mundo judaico e que realmente gostaram uma vez.

Hoje, metade de uma dúzia de locais da ulica Szeroka (rua larga) apresenta um tema judaico, ou faz referência à herança judaico do Kazimierz, em seu nome, ou sinal, que por vezes são escritos em letras hebraicas, ou em seus menus, que oferecem alimentos como peixe gefilte. Há aqui também o Hotel Ester e o restaurante Noah's Ark. O The Crocodilo Street Cafe tem esse nome de um conto do escritor Bruno Schulz, que morreu no Holocausto. O Hotel Rubinstein reflete o fato de que a rainha dos cosméticos, Helena Rubinstein, nasceu aqui. O exterior do restaurante Once Upon a Time no Kazimierz é ridicularizado por ser parecido com uma fileira de lojas do período pré-guerra, com painéis que na aparência resistiram, como o anúncio da loja de carpintaria de Benjamin Holcer e da loja de armarinhos de Chajim Cohen.

Uma das razões de eu gostar do Klezmer Hois é que ele é no térreo. Há música klezmer, mas não há curiosidades kitsch à venda, ou expostas. Sem uma exploração comercial berrante num bairro cuja população judaica foi assassinada. Em vez disso, os Ornats utilizam os lucros do Hois Klezmer para manter uma editora judaica, Austeria, que publica livros de autores polacos e estrangeiros. Funcionam também como uma livraria judaica no térreo de uma das antigas sinagogas do Kazimierz, agora utilizada para exposições de arte judaica.

Hois Klezmer tem um nítido contraste com o Ariel, que ainda opera na Szeroka, muito ampliada e agora sob uma administração diferente. Com uma decoração dramática retratando leões grandes de gesso ladeando uma menorah gigante, o Ariel é o marco mais visível na praça, além da antiga Sinagoga gótica, que é agora um museu judaico. Dezenas de pinturas de rabinos cobrem as paredes: barbudo e de olhos tristes, com yarmulkes e sidecurls, lêem, prevêem tefilin, rezam e contam dinheiro. Existem também ímãs de geladeira: Estrelas de David, menorahs e desencarnados chefes judeus, alguns deles com características exageradas com direito a caricatura nazista. Certa vez perguntei a um garçom do Ariel por que isto estava à venda. Ele deu de ombros. "Eles são judeus", respondeu ele.
Para muitas pessoas, turistas e moradores, o Kazimierz se tornou um destino importante, com o Festival da Cultura Judaica, o qual foi fundado, em 1988, um ano antes da queda do regime comunista. Em 1992, o Festival já tinha crescido tanto que alguns chamaram de "Woodstock judeu". Performances ao longo dos anos tem incluído Theodore Bikel, Shlomo Carlebach, Chava Alberstein e Klezmatics. Um artista local que participa e quem vem frequentemente no Hois Klezmer, é o pianista judeu polaco Leopold Kozlowski, agora quase 90 anos, que foi tema do filme "A Última Klezmer". Atualmente, o Festival apresenta mais de 200 concertos, palestras, exposições de arte, workshops, visitas guiadas, espetáculos, exibições de filme e os acontecimentos da rua. A maioria dos eventos acontecem ao ar livre e o concerto final, chamado "Shalom na Szeroka", chama a atenção de mais de 15 mil pessoas, a maioria deles católicos polacos.

Os fundadores do festival são dois intelectuais não-judeus, Janusz Makuch e Krzysztof Gierat. Como muitos outros jovens polacos, nas décadas de declínio do comunismo, Makuch e Gierat ficaram fascinado com a história e a cultura judaica. Investigar o Holocausto judeu e outros temas foi um meio de procurar a verdade do passado de seu país e ajudar a na formação de sua identidade. Como membros do "Jewish Flying University" de Varsóvia, que procurou preencher as lacunas deixadas pela era comunista, tabus que impediam uma análise objetiva da própria história, incluindo a história milenar dos judeus na Polônia.

"Foi como a descoberta de Atlântida, de pessoas que viviam aqui e criaram sua própria cultura original e tiveram uma influência tão profunda sobre a cultura polaca", disse-me Makuch, que ainda dirige o festival, uma vez, no café do Hois Klezmer. Um homem intenso, com olhos profundos. Com uma barba, completamente escura e sobrancelhas perpetuamente levantadas para o futuro, Makuch apimenta seu discurso com palavras em hebraico e iídiche como "shalom" e "meshuga". Ele tem sido solicitado mais vezes do que ele pode se lembrar para explicar o que significa para um não-judeu executar um festival judaico para uma platéia composta principalmente de outros não-judeus. Sua resposta é muitas vezes uma descrição de um goy Shabat, que mantém viva a chama da cultura judaica.

Desde 1998, os não-judeus como Makuch, que preservam e promovem a cultura judaica e seu patrimônio, são distinguidos todos os anos na cerimônia de premiação durante o Festival, presidida pelo embaixador de Israel. Até agora mais de 150 pessoas em todo o país receberam o prêmio. Alguns, como Makuch, executores de eventos culturais judaicos, outros que simplesmente cortam a grama e fazem a limpeza de cemitérios, dam aulas, organizam pequenos museus. Alguns têm o apoio de suas comunidades, outros trabalham de forma isolada, mesmo encontrando hostilidade.

Até recentemente, os judeus foram praticamente ausentes das multidões entusiastas que se amontoam nos eventos do Festival. "Muitos pessoas do povo judeu que vem para a Polônia, voam para Varsóvia, vão direto para Auschwitz, então eu quero sair", disse-me uma vez o americano filantropo, nascido em Cracóvia, Ted Taube. "Mas, até à guerra, a Polônia tinha a mais profícua, culturalmente diversa e criativa população judaica existente em qualquer lugar, em qualquer tempo. Não podemos se dar ao luxo de relegar as pessoas para um pós-escrito na história." Embora eles ainda sejam uma minoria, mais e mais fãs e turistas judeus estão aparecendo nos últimos anos, em parte devido a excursões especiais geridas por organizações como a Fundação Taube e o American Jewish Committee.

"Eu amo isso aqui", diz-me Cantor Benzion Miller, um Hasid Bobover que vive em Borough Park, Brooklyn. Estamos instalados em poltronas na sala pouco lotada do Eden Hotel, um estabelecimento kosher inaugurado, em 1990, por um americano, Allen Haberberg, num edifício restaurado do século 15, no coração do Kazimierz. O Eden tem uma mezuzá em cada porta, dois bares e um mikvah privado na cave, Wi-Fi gratuito à Internet e um guarda-chuva ao ar livre à sombra do "Jardim do Éden".

Um homem gorducho com uma barba branca, Miller foi um motor do Festival da Cultura Judaica durante os últimos 15 anos, ambos, resultado e a realização de oficinas sobre temas que vão desde Hasidic cantado ao ritual. Miller nasceu em um acampamento de pessoas deslocadas na Alemanha, onde seus pais se conheceram após a Segunda Guerra Mundial. Seu pai, que havia perdido sua primeira esposa e filhos no Holocausto, vieram de Oswiecim, cidade a cerca de 40 km fora de Cracóvia, na qual os nazistas construíram Auschwitz. Antes da Segunda Guerra Mundial, Oswiecim foi o lar de cerca de 12.000 pessoas, mais do que a metade delas, judeus. Miller avô era um Hazan, não um cantor.

Miller sempre participa da cerimônia de Havdalah, realizada na grandiosa Sinagoga Tempel, a única sinagoga do século 19, na Polônia, que sobreviveu intacta no Holocausto. Usada pelos nazistas como um estábulo e depósito, agonizava triste até a reparação, na década de 1990, quando, com financiamento do Estado e patrocínio da World Monuments Fund, passou por uma restauração completa e agora é usada para shows e também em ocasiões religiosas. É lotada, principalmente com os polacos, o local, na Havdalah do Festival, que apresenta uma mistura de hazanut, klezmer e cantos tisch que rabinos em streimels e espectadores em trajes de verão dançam juntos nos corredores. "Eu vejo o que está acontecendo aqui, como uma continuação do que já foi; tento continuar", diz Miller.
Nos últimos 20 anos, mais atenção tem sido dada em Cracóvia, ao redescobrimento da cidade sobre a cultura judaica e promoção dela junto a um público não-judeu, através do turismo e entretenimento, ou através de várias instituições educacionais, como o Centro de Cultura Judaica ou o Museu Judaico Galicia. Mas a vida judaica contemporânea na cidade também já está recebendo um impulso.

Durante o chá no jardim do Éden, falei com o rabino Edgar Gluck, que de chapéu preto e barba rala há muito tempo, muitas vezes pode ser visto andando pelas ruas Kazimierz como um patriarca pré-guerra. Um político experiente, rabino ortodoxo, nascido na Alemanha, com 70 anos, ele divide seu tempo entre o Brooklyn e Polônia. Em Nova York, ele é conhecido como o co-fundador da Igreja Ortodoxa Hatzolah Voluntários Ambulance Corps. "Eu estava no World Trade Center, levando as pessoas para fora, com o prédio caindo", diz ele, lembrando os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

Aqui ele é o rabino-chefe da Galicia, um simbólico título honorífico dado a ele pela comunidade judaica de Cracóvia, a quem ele serve na ocasião como Hazan. Ele gasta muito de seu tempo, porém, trabalhando para a preservação de cemitérios judaicos e sepulturas em massa do Holocausto. "Em Cracóvia, agora," vai uma piada "há agora cinco rabinos para cada três judeus e 20 pareceres." Um rabino, trazido por Shavei Israel, um grupo com sede em Jerusalém que trabalha com "judeus perdidos", ao redor do mundo, é o "oficial" do rabino da comunidade judaica. Então há um rabino que executa a operação Chabad e um rabino americano do sexo feminino, que opera um pequeno grupo de reforma.

Há também o novo CCC, financiado pela World Jewish Relief da Grã-Bretanha e da Joint Distribution Committee, que ocupa um elegante edifício de cinco andares próximo da Sinagoga Tempel. Como tantas outras coisas do universo judaico de Cracóvia, a iniciativa para o JCC vem de uma fonte não-judaica na Grã-Bretanha, o Príncipe Charles, movido que foi pelo sofrimento dos pobres e judeus envelhecidos da cidade, durante uma visita de 2002. Charles voltou a Cracóvia, em 2008, para a inauguração do CCM: Vestindo um kippah, ele ajudou a aposição de uma mezuzá na porta.

"A vida judaica é mais aberta e mais segura aqui do que em qualquer outro lugar que eu estive na Europa", diz Jonathan Ornstein, o director do CCC. Eu encontrei Ornstein, de 39 anos, auto-descrito "vegetariano judeu ateu" por um cappuccino em um café no quarteirão da Plac Nowy, no pré-guerra, a praça do mercado central judeu, cujo edifício era um abatedouro de aves. A Plac Nowy, agora é um centro em expansão da vida noturna, cheia de clubes de música e bares da moda, que Ornstein prefere ao "judeu-style" dos cafés da Szeroka. "Nós temos crianças na escola de domingo jogando no pátio com o portão aberto, nós sentimos o perigo, sem medo."

Nascido em Nova York, Ornstein mudou-se para Israel quando era um jovem e se mudou para Cracóvia, há sete anos, para ensinar hebraico na Universidade Iaguielônica. A universidade tem um programa de estudos judaicos, que foi lançado na década de 1980, a sua conseqüência, é o Centro de Cultura Judaica, inaugurado em 1992, em uma casa de oração, restaurado na Plac Nowy. Ornstein rejeita a nostalgia pelo passado da cidade e visa estimular a expressão judaica contemporânea. Os quadros de avisos do CCM com anúncios para os clubes e eventos sociais: uma festa Hanukkah, este ano, durou até o amanhecer, e o grupo JCC Facebook tem mais de 360 membros. "As pessoas falam sobre Kazimierz como sendo o "quarto" antigo do bairro judeu de Cracóvia. Mas eu digo, por que ex?" diz Ornstein.
De volta ao café, no Hois Klezmer, avisto o meu amigo Konstanty (Kostek) Gebert. "Aqui é onde eu mantenho tribunal", brinca Gebert, um autor premiado e veterano do "Jewish Flying University". Como um ativista underground do Solidariedade, ele optou deliberadamente por um acento judeu como pseudónimo, ou seja, Dawid Warszawski, para escrever na imprensa dissidente. Em 1989, Gebert foi nas conversações da mesa redonda entre as autoridades comunistas e o membros do Solidariedade, que facilitou a saída pacífica do velho regime. Ele foi o editor fundador da Midrasz, um mensal cultural e intelectual judeu, e hoje dirige em Varsóvia, a base da Taube Center for the Renewal of Jewish Culture in Poland.

Além de Cracóvia, pequenas comunidades judaicas ativas são encontrados em Varsóvia, Lódz, Wroclaw e várias outras cidades polacas. Está longe de ser uma massa crítica suficientemente sólida para garantir sua sobrevivência a longo prazo. No entanto, em muitos sentidos, para ser judeu aqui e aceitar o judaísmo como uma escolha positiva de identidade é cada vez mais normal agora. Ou pelo menos muito mais normal do que era 10, 20 e, certamente, há 30 anos. "Crianças judias de hoje, na Polônia, o que mais o futuro reserva para eles, nunca vão crescer sabendo, como seus pais, que para ser judeu significava estar sozinho e vulnerável", Gebert escreveu em sua autobiografia, em 2008, "Living in the land of Ashes". Ele espera ter construído o sucesso em bases muito mais frágeis.

Ele gosta de fazer piadas sobre como, em meados dos anos 1980, disse para um par de jornalistas polacos que não pensar nos judeus na Polônia não se poderia sobreviver. Os jornalistas escritor e fotógrafo Malgorzata Niezabitowska e Tomasz Tomaszewski, estavam trabalhando em um artigo para a National Geographic e que se tornou um livro chamado Remanescentes: Os últimos judeus da Polônia. Eles pediram a Gebert como via o futuro dos judeus no país. "Eu acredito que nós somos os últimos," ele respondeu. "Definitivamente". Hoje, ele fuma seu cachimbo e endireita o seu kippah. "Ugh. Nunca fale com a imprensa!" , diz ele rindo. E festa movimenta a Cracóvia judaica de bebida e comida e a conversa continua.


Ruth Ellen Gruber tem escrito para "Chronicled Europeia" sobre as questões judaicas há mais de 20 anos. Seus livros incluem a National Geographic Jewish Heritage Travel: A Guide to Eastern Europe and Virtually Jewish: Reinventing Jewish Culture in Europe.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Suíça liberta Polanski

O jornal Gazeta Wyborcza, desta terça-feira, 13 de julho de 2010, destaca em sua primeira página com uma foto, os campeões do mundo de futebol, em desfile pelas ruas de Madrid. Mas a manchete principal não poderia ser outra:

Polanski Livre


As autoridades suíças, nesta segunda-feira, decidiram libertar o cineasta polaco Roman Polanski e não extraditá-lo para os Estados Unidos, onde poderia ser julgado pelo abuso de uma menor de 13 anos, ocorrido há mais de 30 anos. A menina, hoje uma senhora, recentemente deu declarações a imprensa americana, perdoando o cineasta.

O escritor e filósofo francês Bernard-Henri Lévy, declarou a imprensa de seu país que "Estou enlouquecido de felicidade". Amigo de Polanski, que organizou uma petição online para a libertação do mestre do cinema contemporâneo disse, que conversou com ele e este "contou-me que se sente como milhões de outras pessoas, como a certeza de que a justiça triunfou. Além disso, eu não esperava nada, pois era impossível para o homem tomar uma outra decisão".
Ontem à tarde, a ministra suíça da Justiça, Eveline Widmer-Schlumpf anunciou que não concorda com a extradição do diretor para os Estados Unidos. O motivo da recusa foi porque o tribunal norte-americano não quis dar o depoimento do promotor, que acusa Polanski de ter abusado de uma menor, 33 anos atrás, sobre a relação com a menor, às autoridades suíças.
O promotor norte-americano, em fevereiro deste ano, recebeu do advogado do cineasta uma proposta em que Polanski concordava em ser condenado a observação de 42 dias em um hospital psiquiátrico. Como se recorda, em 1978, temendo que o preconceito contra ele, pelo fato de ser estrangeiro e polaco fosse usado para condená-lo, Polanski fugiu para a Europa. O juiz norte-americano Laurence Ritterband, no entanto, decidiu condená-lo a uma prisão de longo prazo.
As autoridades suíças reconheceram que sem o depoimento do promotor Norte-americano para esclarecer como as coisas realmente aconteceram, não poderiam entregar Polanski aos Estados Unidos. "Portanto, ele é um homem livre.", disse a ministra Widmer-Schlumpf.

Outro a manifestar sua alegria foi o ministro francês da Cultura, Frédéric Mitterrand, também um amigo de Polanski. "Eu me alegro com sua esposa, filhos e a todos aqueles que o apoiaram com dignidade nestes tempos difíceis.", disse.
Também o ex-ministro da Cultura, Jack Lang reagiu dizendo: "Bravo Suíça!", seguindo manifestações semelhantes ouvidas na Polônia. Como se sabe Polanski, além de polaco também possui a cidadania francesa.
Como não poderia deixar de ser, os americanos estão decepcionados. Segundo a imprensa europeia, os suíços detiveram Polanski para apaziguar os ânimos estadunidenses. Isto porque, apesar da enorme pressão, os suíços já se recusaram a fornecer uma lista de fraudes de cidadãos dos Estados Unidos, "pois é imposto escondido em forma de dinheiro depositado no banco UBS."
O Departamento de Estado Norte-americano manifestou seu desapontamento com a decisão da Suíça e anuncia que farão tudo o que for possível para que justiça sobre o caso Roman Polanski seja feita. Segundo o porta-voz do Departamento, a decisão suíça é uma mensagem importante sobre o tratamento das mulheres e meninas. O porta-voz do cineasta, imediatamente respondeu ao colega norte-americano, afirmando que "o caso da menina de treze foi recheado com drogas e estupro. Por isso, esta recusa de se apresentar a justiça não pode ser explicada apenas por considerações formais".
A decisão suíça, porém, não resolve o problema do diretor, pois continua a ser procurado como fugitivo da justiça dos Estados Unidos. Os advogados estão de acordo, que o diretor está seguro na Suíça, porque esta se recusou a extraditá-lo, na Polônia e na França, pois nesses dois países ele têm cidadania.
A Polônia não pode extraditar seus próprios cidadãos, mas a Constituição polaca, embora não permita a extradição de cidadãos polacos, sofreu uma alteração em setembro de 2006, que possibilita o uso do mandado de detenção europeu. "De maneira geral, a Polônia não extradita seus próprios cidadãos. Mas o tratado de extradição entre os polacos e norte-americanos, diz que se Polônia se recusar a extraditar em razão da nacionalidade, os americanos podem entrar com pedido nos tribunais polacos solicitando a extradição". Comentou o prof. Tadeusz Tomaszewski, Vice-Reitor da Universidade de Varsóvia.
No final de todo este processo, o Ministro da Justiça polaco tem o poder de decisão. Mesmo que o juiz concorde com a extradição, o ministro pode dizer não. Sobre isto falou o Ministro das Relações Exteriores Krzysztof Kwiatkowski: "Qualquer pedido deve ser considerado individualmente. Segundo a Constituição não existe uma proibição absoluta contra os cidadãos polacos, desde que haja permissão dada pelos acordos internacionais. E é isto que temos acordado com os Estados Unidos. Foi com base nesse contrato bilateral que solicitamos a extradição de Edward Mazur, que se encontra foragido da justiça polaca, naquele país. Mas infelizmente, nosso pedido foi rejeitado." E acrescentou, "o fato de Polanski estar seguro na Polônia, no entanto, pode indicar também o porquê dos americanos não terem exigido ainda a extradição do cineasta polaco durante todas as visitas anteriores dele a Polônia. Se isto vier a ser solicitado ainda, nossos tribunais teriam de levar em conta que o alegado crime já foi proscrito".

Foto: Laurent Cipriani

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Casillas campeão beija repórter na boca



O goleiro Iker Casillas, do Real Madrid, beijou a repórter e sua namorada Sara Carbonero, em plena entrevista, para falar sobre a emoção de conquistar o Mundial. O jogador agradecia a família pelo título, quando começou a chorar e resolveu roubar um beijo na moça. Ela ficou, a principio completamente sem reação, em seguida tentou desvencillar-se e ao ouvir as palmas do pessoal que estava a seu redor, disse: “Meu pai!”.
Responsável direto pelo título da Espanha, com duas defesas impressionantes ante o atacante holandês Robben, o capitão da seleção espanhola, Casillas, desabou a chorar no gol de Iniesta e não parou mais, nem na cerimônia, na volta olímpica e nas entrevistas na zona livre para a imprensa. Nem mesmo no beijo na boca que deu na bela Sara de olhos verdes, ele parou de chorar.

Vivi em Madrid, onde estudei rádio e televisão, no Instituto Oficial de Radio y Televisión e conheço muito bem aquelas ruas e avenidas, aqueles palácios, praças, arcos do triunfo. Tenho na memória passeios por Cibeles, Gran Via, Moncloa, Atocha... lembro da pessoas, das vozes e da famosa Puerta de Alcalá... Arco das vitórias e conquistas do povo espanhol e também da "canción" que a estupenda e "guapa" Ana Belén canta "hermosamente con su marido Victor Manuel y que siempre me traz recuerdos inolvidables de Madrissss (que es como hablan los madrilenos como Joaquin Sabina.) Agora me recordo do primeiro domingo da minha vida em Madrid, quando no Parque del Oeste, este descolhecido cantor, até então, recebeu-me em sua cidade com a famosa canção "Pongamos que hablamos de Madrid"... de Espana Campeona". A Espanha da mesma Ana Belén em "España camisa blanca de mi esperanza / reseca historia que nos abraza / por acercarse sólo a mirarla. / Paloma buscando cielos más estrellados / donde entendernos sin destrozarnos / donde sentarnos y conversar / España camisa blanca de mi esperanza / aquí me tienes nadie me manda / quererte tanto me cuesta nada. / Nos haces siempre a tu imagen y semejanza / lo bueno y malo que hay en tu estampa / de peregrina a ningún lugar./


Como Carlos III, os campeões do mundo de futebol vão passar esta noite de segunda feira, sob sob os arcos da Puerta de Alcalá como "los conquistadores del mundo de 2010".


A deusa Cibeles de seu monumento e fonte de água, em frente o "Palacio de los Correos" tem esta visão do arco do triunfo espanhol Puerta de Alcalá.

P.S. Esta é minha pequena homenagem, sentida, a bela e inesquecível Espanha, que tive o privilégio de conhecer e viver intensamente, durante parte da minha vida.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Diplomacia: 90 anos de Brasil - Polônia


No ano de 1822, quando o Brasil conquistou sua independência, a Polônia não existia
nos mapas políticos do mundo. Nos anos de 1795 a 1918, as terras polacas se encontravam sob a ocupação dos países vizinhos – Rússia, Áustria e Prússia. A luta pela independência, realizada pelas gerações subsequentes de polacos, angariava gestos de simpatia de várias sociedades, inclusive da brasileira. O Imperador do Brasil, Dom Pedro I, durante um espetáculo em Paris encenado em prol dos participantes do levante de novembro de 1830, gritou: Vive la Pologne! Seu sucessor, Dom Pedro II, aceitou tornar-se um membro de uma associação patriótica polaca de emigração, com sede em Rapperswil, Suiça, o que hoje comprova o diploma emitido pela Société Nationale Polonaise et des Amis de la Pologne.

No ano de 1907, na II Conferência Internacional da Paz em Haia, o representante do Brasil, Ruy Barbosa, eminente advogado e político, várias vezes durante seus discursos inflamados dizia-se a favor da restauração da independência da Polônia. Portanto, não é estranho o fato de que o Brasil foi o primeiro país da América Latina que proclamou "o reconhecimento da criação da Polônia unificada e independente”. Esta posição foi apresentada em 17 de agosto de 1918, em uma nota do Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Nilo Peçanha, ao legado francês no Rio de Janeiro, Paul Claudel. Neste documento também se encontra a afirmação de que o Brasil reconhece ”juntamente com os outros países aliados, seu [isto é, da nação polaca] órgão legítimo, o Comitê Nacional em Paris, dando ao Comitê Central no Brasil, escolhido pelos polacos em eleições livres, a autoridade para representar a nação polaca e para emitir certificados de nacionalidade”.

De iure, o governo do Brasil reconheceu o Estado polaco, e mais precisamente o governo de Ignacy J. Paderewski (16 de janeiro a 9 de dezembro de 1919), no dia 15 de abril de 1919. O estabelecimento oficial das relações diplomáticas, em nível de legações, deu-se um pouco mais tarde. A entrega solene das cartas credenciais pelo primeiro representante da República da Polônia, o legado Ksawery Orłowski, às mãos do presidente dos Estados Unidos do Brasil, Epitácio Pessoa da Silva, ocorreu em 27 de maio de 1920. Por outro lado, as credenciais do primeiro legado extraordinário e ministro plenipotenciário dos Estados Unidos do Brasil, Rinaldo de Lima e Silva, foram recebidas pelo Chefe do Estado Józef Piłsudski no dia 3 de junho de 1921.

“Ao acreditar o Legado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário – falava durante a primeira destas cerimônias Ksawery Orłowski – o Governo da República da Polônia deseja provar o quão importante é para ele o estabelecimento das relações oficiais entre os dois países – relações que de facto existem entre nossos países já há mais de meio século. Há 52 anos, da Polônia, riscada do mapa político da Europa, emigraram pela primeira vez seus filhos para, no Brasil, procurar um céu mais sereno e um destino melhor do que aquele que lhes preparava o jugo dos invasores. A Polônia não parou de se interessar pelos seus filhos forçados à emigração, os quais, com a etiqueta de russos ou alemães, trabalhavam para o desenvolvimento das riquezas de vosso maravilhoso país, encontrando aqui o pão e sua outra Pátria”.

Nestas palavras ecoa a admiração para os brasileiros de origem polaca, cujos antepassados chegavam às acolhedoras terras brasileiras já na época colonial, e depois durante todo o século XIX e XX. Não é possível citar aqui todos os militares, engenheiros, médicos ou artistas que tiveram um papel significativo em vários campos da vida brasileira. Vale a pena também se lembrar dos agricultores polacos que, em busca de pão e liberdade, chegavam ao Brasil em massa desde o ano de 1869, indo residir nos estados do sul deste país.

Até o ano de 1914, lá se estabeleceram cerca de "100.000 pessoas". No período entre as duas guerras mundiais (1918-1939), à Legação da República da Polônia no Rio de Janeiro estava subordinado o Consulado Geral em Curitiba, aberto já no ano de 1919, assim como os vice-consulados da República da Polônia (funcionando inicialmente como agências consulares) em Porto Alegre e em São Paulo. À Legação do Brasil em Varsóvia estavam subordinados os consulados em Varsóvia e em Gdynia. As representações diplomáticas recebiam um apoio significativo das iniciativas sociais, as quais tinham por objetivo a popularização do conhecimento sobre ambos os países, suas culturas, sobre as relações polono-brasileiras e sobre a comunidade polaca no Brasil. No ano de 1929, no Rio de Janeiro foi criada a Associação Polono-Brasileira Cultural e Econômica sob a direção do Vice-Presidente do Brasil, Fernando de Mello Viana. Neste mesmo ano, em Varsóvia, foi criada, por iniciativa do Prof. Julian Szymański, presidente do Senado nos anos de 1928 a 1930, a Associação Polono-Brasileira Ruy Barbosa, a qual – nota bene – existe até hoje.

O ambiente de simpatia e amizade é visível na correspondência entre políticos de ambos os países e está presente também durante as primeiras visitas mútuas, acompanhadas por um suntuoso cerimonial diplomático. No ano de 1934, visitou o Brasil o Presidente do Senado da República da Polônia, Władysław Raczkiewicz, que foi recebido, entre outros, pelo Presidente do Brasil, Getúlio Vargas. Em maio de 1934, a missão militar, sob o comando do General Leite de Castro, visitou a Polônia e encontrou-se com o Marechal Józef Piłsudski. Já no ano de 1922 o mesmo Marechal condecorara o Presidente do Brasil, Epitácio Pessoa da Silva, com a Ordem da Águia Branca. Alguns anos depois, em 1935, Getúlio Vargas receberia uma condecoração similar. A mais alta condecoração do Brasil, a Cruz do Sul, receberam: em 1922, Józef Piłsudski; em 1934 o Prof. Juliusz Szymański; em 1935, o Presidente da República da Polônia, Ignacy Mościcki.

A virada entre os anos 20 e 30 do século XX constitui o tempo dos primeiros contratos
comerciais entre os dois países. O mais importante foi o acordo sobre as tarifas alfandegárias, que foi assinado em 22 de agosto de 1929 e entrou em vigor em 4 de março de 1932. Naquele tempo, a Polônia exportava para o Brasil principalmente carvão, cimento, tubos, trilhos ferroviários e zinco. Do Brasil importava café, cacau, fumo, algodão, peles de gado não curtidas e minério de ferro. O governo polaco, em face do grande desemprego nas cidades e do excesso de população no campo, encorajava a emigração ao Brasil. A esse objetivo serviu também o acordo sobre imigração assinado, em 19 de fevereiro de 1927, entre a Agência de Emigração em Varsóvia e a Secretaria do Trabalho do Estado de São Paulo. No total, no período de 1919 a 1939, da Polônia emigraram para o Brasil mais de 41 mil pessoas.

Os emigrantes eram transportados, entre outras, pela sociedade anônima polono-dinamarquesa Gdynia–Ameryka Linie Żeglugowe (GAL), que possuía sua representação também no Rio de Janeiro. A existência de uma grande comunidade polaca no Brasil foi para os pesquisadores, viajantes e escritores polacos uma inspiração para se ocuparem com os temas brasileiros. O fruto disso é uma grande quantidade de trabalhos de pesquisa, reportagens, diários, narrativas e romances que descrevem, não somente as condições de vida dos colonos polacos, mas também o exotismo, a beleza e a riqueza da natureza deste país.

Em 4 de setembro de 1939, após a invasão da Polônia pela Alemanha, o Brasil declarou sua neutralidade. Contudo, a atitude da sociedade brasileira demonstrava inequivocamente de que lado estava sua simpatia. A imprensa brasileira, que na época escrevia amplamente sobre os acontecimentos na Polônia, era muito favorável aos polacos.
“O bombardeio bárbaro da Lourdes polaca – Częstochowa”; “Agressão sem precedentes”; “A Polônia defende a liberdade e a honra” – estes são apenas alguns dos títulos do memorável setembro do ano de 1939.

Um grande sucesso da Legação no Rio de Janeiro foi a organização do Comitê de Ajuda às Vítimas da Guerra na Polônia. Este era composto por simpatizantes da causa polaca, vindos da sociedade brasileira, e os da comunidade polaca no Brasil. O comitê funcionou até o ano de 1945. Ele coletou quase 4 milhões de cruzeiros, que foram destinados a prisioneiros de guerra, à população civil na Polônia, às vítimas das deportações na Rússia e para as crianças evacuadas para a África e outras partes do mundo. Além da ajuda financeira, o Comitê enviou também várias toneladas de alimentos, roupas e remédios. O Brasil acolheu também vários fugitivos de guerra polacos, os quais somavam, aproximadamente, de 2 a 3 mil pessoas. Neste grupo encontravam-se representantes do exército, da aristocracia, de antigos círculos de governo ou ricos comerciantes judeus. A este último grupo pertencia o grande patriota polaco Stanisław Fischlowitz (1900 – 1976), descendente de uma família judia que se estabeleceu na Polônia no século XVI, ainda na época dos Iaguelões.

Em 1959, ele publicou em português a biografia de Krzysztof Arciszewski, o primeiro polaco famoso no Brasil. Em sua maioria, estes emigrantes agrupavam-se em torno da Legação ou pertenciam ao círculo liderado por Stefania Płaskowiecka-Nodari (1892-1973), uma grande filantropa polaca que morava no Rio de Janeiro. Entre os fugitivos que, em 5 de agosto de 1940, chegaram com o navio "Angola" ao Rio de Janeiro, encontravam-se grandes figuras da cultura polaca: os poetas: Julian Tuwim (1894–1953), Jan Lechoń (1899 – 1956) e a atriz Irena Eichlerówna (1908 – 1990). Eles encontraram aqui seus antigos amigos e eminentes artistas polacos que haviam chegado antes, entre outros, Jan Kiepura (1902 – 1966), Witold Małcużyński (1914 – 1977), Kazimierz Wierzyński (1894 – 1969) e August Zamoyski (1893 – 1970).
Muitos fugitivos de guerra estabeleceram-se de maneira permanente no Brasil. Zbigniew Ziembiński (1908 – 1978), famoso ator dos palcos polacos, chegou ao Rio de Janeiro em 1941 e dois anos depois dirigiu, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a peça de Nelson Rodrigues, "Vestido de Noiva", que iniciou uma ”revolução teatral” no Brasil. Após a II Guerra Mundial, ele dirigiu também espetáculos de teatro e de televisão e, alem disso, formou toda uma geração de atores e diretores brasileiros.

Um pequeno número dos colonos polacos no Brasil tomou parte das batalhas nas frentes da Europa Ocidental, nas fileiras das Forças Armadas Polacas. O recrutamento no território brasileiro foi iniciado em julho de 1940. Para a Grã-Bretanha foram transportados, até 1943, um total de 371 voluntários. Em 22 de agosto de 1942, quando o Rio de Janeiro declarou guerra a Berlim e a Roma, o Brasil, como o único país da América Latina, enviou suas tropas à Europa engolfada pela guerra. Na Força Expedicionária Brasileira, que contava com 25 mil soldados, obviamente não faltavam brasileiros de origem polaca. Em outono de 1944, eles travaram duras batalhas no norte da Itália, entre Pisa e Bolonha. Apesar de grandes baixas, eles cumpriram as tarefas que lhes foram atribuídas, entre elas, tomaram o Monte Castello, um importante ponto da defesa alemã na Península Apenina.

Nos anos de 1944 a 1989, a Polônia ficou na esfera de influência soviética, tornando-se então um país com liberdade limitada, fadado à degradação econômica e civilizacional do sistema comunista. Este fato ocasionou reflexo nas relações internacionais. Em 12 de setembro de 1945, o Brasil retirou seu apoio ao governo da República da Polônia no exílio em Londres e reconheceu o Governo Temporário de União Nacional em Varsóvia. Alguns dias depois, os governos dos dois países decidiram que as relações entre a Polônia e o Brasil iriam continuar no mesmo nível de antes da guerra, ou seja, em nível de legação. Como resultado, a Legação da República da Polônia no Rio de Janeiro reiniciou seu trabalho no verão de 1946, e a Legação do Brasil somente um ano depois. Neste tempo funcionavam os Consulados Gerais em Curitiba e em São Paulo. A partir de 1948, as representações diplomáticas polacas representavam os interesses da União Soviética, com a qual o Brasil rompeu as relações diplomáticas em outubro de 1947. Todavia, as diferenças ideológicas, assim como a guerra fria, perturbaram as relações mútuas neste período, principalmente no aspecto político.

Não obstante essas relações estavam pouco melhores nas esferas comercial e econômica. O Brasil, procurando mercados para seus produtos com o fim de realizar suas estratégias de desenvolvimento, não hesitava em assinar vários tipos de acordos, tratados e entendimentos com a Polônia comunista. Estes acordos estabeleciam um sistema de clearing para as contas do comércio exterior, baseado no equilíbrio de trocas de mercadorias sem o uso de moedas fortes. No início dos anos 60 do século XX, o pacote de acordos comerciais foi expandido pelo acordo de cooperação científica e técnica (25 de maio de 1961 e 9 de agosto de1963) e pelo acordo de cooperação cultural e científica. Este último foi assinado em 19 de outubro de 1961, por ocasião da visita oficial ao Brasil do Ministro das Relações Exteriores da República Popular da Polônia, Adam Rapacki. Antes, em 18 de janeiro de 1961, as relações entre a Polônia e o Brasil foram elevadas ao nível de embaixadas.

Neste período ocorreram também os primeiros contatos entre os parlamentos, assim
como a intensificação dos contatos entre os dois governos. Em março de 1960, a convite da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, veio ao Brasil a delegação do Sejm (a câmara dos deputados do Parlamento polaco) da República Popular da Polônia, liderada por Oskar Lange. Ela foi recebida pelo Presidente do Brasil Juscelino Kubitschek de Oliveira e pelo Vice-presidente do país e presidente do Senado, João Goulart. Em 1962, viajou à Polônia, em visita oficial, o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Francisco Clementino de Santiago Dantas. Neste mesmo ano visitou o Brasil o Ministro do Comércio Exterior da República Popular da Polônia, Witold Trąmpczynski.

Em 1964, após o golpe que deu aos militares o poder no Brasil, ocorreu um retrocesso
nas relações políticas entre os dois países, ainda que a cooperação econômica se desenvolvesse bem. Foi especialmente intensa durante os anos 70 e 80, quando as trocas comerciais alcançavam a 700 milhões de US$ por ano. Os principais produtos da exportação polaca eram enxofre, carvão, produtos químicos e navios. Na importação, entre os produtos brasileiros, predominavam os agroalimentícios (café, farelo de soja, algodão e outros), minérios de ferro, magnesita. O Brasil concedia à Polônia grandes créditos para a compra de seus produtos, o que acabou levando Varsóvia a grave endividamento. Esta foi a principal causa do impasse nas relações mútuas, embora, neste período da história das relações entre os dois países, ocorressem encontros do mais alto escalão. Em 25 de setembro de 1985, em Nova Iorque, durante a 40a. sessão da Assembleia Geral da ONU, encontraram-se o Primeiro Secretário do POUP (Partido Operário Unificado Polaco), Wojciech Jaruzelski, e o então Presidente do Brasil, José Sarney. Somente o acordo de redução de 50% e reestruturação da dívida polaca, assinado em 28 de julho 1992, e depois, no ano de 2001, o resgate, pela Polônia, da parte restante da sua dívida junto ao Banco Central (por 74% de seu valor nominal) acabaram de vez com a questão do endividamento polaco no Brasil.

Em1988 e 1989 ocorreram mudanças no sistema político dos dois países. No Brasil, o
caminho para a plena democracia teve seu ápice na Constituição de 1988. A Polônia, após libertar-se do comunismo, tomou o rumo da integração com as estruturas atlânticas e europeias. Desde o ano de 1999, ela é membro da OTAN e, a partir de 2004, da União Europeia. Pela primeira vez durante séculos, sem o perigo de guerras e partições, o país deu início a um programa audaz de reformas, logrando recuperar seu atraso civilizacional.

No primeiro período após essas transformações, aconteceu uma dramática queda nas relações comerciais mútuas, apesar do grande desenvolvimento das relações políticas. Esta fase foi iniciada pelo Presidente do Senado, Andrzej Stelmachowski, quem em abril de 1991 visitou o Brasil com uma delegação do Senado polaco. Poucos meses depois, em visita oficial ao país, veio o Ministro das Relações Exteriores, Krzysztof Skubiszewski. Já em 1995, o Brasil contou com a presença do Presidente da República da Polônia, Lech Wałęsa, sendo esta a primeira visita de nível máximo na história das relações mútuas.
No ano de 2000, no 500 aniversário do descobrimento do Brasil, aqui estiveram o Primeiro-Ministro, Jerzy Buzek, e, pouco depois, o Presidente do Senado, Maciej Płażynski. O ponto alto das relações políticas exemplares foi a viagem á Polônia do Presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, e, poucos meses depois, a visita oficial do Presidente Aleksander Kwaśniewski ao Brasil. É boa a cooperação entre os dois países em fóruns de organizações internacionais, onde ocorrem encontros de excelência.

Durante a sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro de 2007, em Nova Iorque, o então Presidente da Polônia, Lech Kaczyński, entrevistou-se com o Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Durante a Cúpula da União Europeia–América Latina em Lima, em maio de 2008, reuniram-se também para tratarem dos assuntos bilaterais e multilaterais o Presidente Lula da Silva e o Primeiro-Ministro da Polônia, Donald Tusk. Em abril de 2007, esteve em visita ao Brasil o Presidente do Senado da República da Polônia, Bogdan Borusewicz, dando continuidade ao diálogo interparlamentar.
O resultado de todas estas visitas e encontros são acordos e entendimentos, que facilitam os contatos e relações mútuas. Em 14 de agosto de 1992, entrou em vigor o acordo de cooperação cultural e científica e, em 12 de janeiro de 1998, o acordo de cooperação na ciência e tecnologia. Em 1993, foi assinado um acordo comercial que acabou com o sistema de clearing, que vigorava até então, e outorgava, para as duas Partes, a Cláusula da Nação Mais Favorecida. Em 23 de abril de 2000, passou a vigorar o acordo de tráfego sem vistos, por meio do qual os cidadãos podem viajar a ambos os países sem as formalidades supérfluas, por um período de 90 dias. Foi assinado também um acordo de cooperação técnica na área de proteção às plantas e de procedimento fitossanitário, que facilita a troca de produtos agrícolas de consumo (em vigor desde 21 de abril de 1999). Ainda aguarda ratificação o acordo de cooperação no combate ao crime organizado, firmado em 9 de outubro de 2006.

A presença da Polônia na União Europeia influiu positivamente na importação de produtos brasileiros por parte de este país, já que o mencionado organismo aplica menores taxas alfandegárias. Quanto aos produtos polacos, ultimamente também encontraram a possibilidade de um acesso mais fácil ao mercado brasileiro graças aos resultados do II Encontro União Europeia–Brasil, acontecido no Rio de Janeiro, em dezembro de 2008. Neste mesmo ano, as trocas comerciais entre os dois países atingiram cerca de 1 bilhão e 100 milhões de US$, dos quais a exportação polaca ao Brasil alcançou mais de 440 milhões de US$ e a importação do Brasil, cerca de 660 milhões de US$. O item mais importante nas importações polacas do Brasil, nos últimos anos, foram os aviões de passageiros da Embraer, comprados pela PLL LOT (Polskie Linie Lotnicze LOT).

As relações entre a Polônia e o Brasil, como se constata, possuem ricas tradições. Ambas as partes, porém, estão cientes de que as possibilidades não são ainda totalmente aproveitadas, principalmente nas áreas comerciais e de cooperação econômica. Neste sentido, um grande papel vão desempenhar agências profissionais de marketing. Para tanto, o primeiro passo foi dado pelo Brasil, que, em 22 de janeiro de 2007, abriu em Varsóvia o Centro Comercial ApexBrasil – uma filial da Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimento. Finalmente vale ressaltar que um dos pilares das relações polono-brasileiras é a comunidade polaca. Já faz muito tempo que cessou a emigração da Polônia ao Brasil, mas, ainda assim, observa-se um incremento das atividades culturais, promovidas pelos descendentes dos nossos emigrantes. Isso foi visível após a escolha do Cardeal Karol Wojtyła para exercer a dignidade de Papa, que se fez admirar mundialmente com o nome de João Paulo II, e também por sua visita ao Brasil e pelo encontro que manteve com a comunidade polaca, em Curitiba, em 5 de julho de 1980.

A ascendência polaca se tornou, sem dúvidas, um motivo de orgulho. Por iniciativa das organizações da comunidade polaca no sentido de congregar os brasileiros de origem polaca, principalmente da BRASPOL, são realizadas amplas atividades culturais e sociais. Estas preservam costumes e tradições, são responsáveis pela celebração dos feriados nacionais e religiosos, além de manter viva a língua polaca.

Autor do texto: Dr. Jerzy Mazurek - Historiador
tradução: Jaroslaw Szeptycki

P.S.1. O professor Mazurek, diretor do Museu da História do Movimento Popular Polaco em Varsóvia.

P.S.2. O Padre Jan Piton, certamente o maior pesquisador do movimento imigratório polaco, quanto a estatística de imigrantes chegados no Brasil discorda do número de 100 mil. Para Piton vieram para o Brasil 592 mil polacos, entre 1843 a 1971.

Komorowski renunciou ao mandato de deputado

Foto: Sławomir Kamiński
O Presidente eleito, Bronisław Komorowski, nesta quinta-feira, renunciou oficialmente ao cargo de presidente do Sejm (Câmara dos Deputados) e ao mandato de deputado. Pouco antes das eleições já tinha renunciado também ao cargo de presidente em exercício da República, que vinha exercendo desde a morte do falecido presidente Lech Kaczyński, em abril último.
Em seu lugar, no Sejm, assumiu o deputado mais idoso, Stefan Niesiołowski, também do PO - Partido da Plataforma Cívica. Este por sua vez convocará formalmente as eleições para um novo presidente da Câmara. Ainda hoje deve ser feita a eleição e ao que tudo indica o escolhido será o deputado e chefe do PO, Grzegorz Schetyna.
Ao mesmo tempo, o presidente do Senado, Bogdan Borusewicz, exerce a Presidência interina da República e deve ser ele a transmitir o cargo a Komorowski, como o quarto presidente da Terceira República da Polônia (A primeira república polaca é de 1453 a 1795, a segunda de 1918 a 1948 e a terceira teve início em 1990).

terça-feira, 6 de julho de 2010

Viagens internacionais do presidente eleito

Foto: Wojciech Olkusnik

O Presidente eleito Bronisław Komorowski esteve esta terça-feira, no Ministério de Assuntos Exteriores. Com o ministro Radosław Sikorski acertou entre outras coisas um calendário de visitas presidenciais no exterior.
Sikorski, após o encontro, anunciou que Komorowski, conforme o próprio prometeu na campanha, deverá primeiro visitar Bruxelas, Paris e Berlim. Perguntado sobre a viagem aos Estados Unidos, Sikorski respondeu que "com certeza esta demorará um pouco mais para acontecer".
Sobre uma ida a Moscou, Sikorski afirmou que primeiro o presidente russo Dmitrij Miedwiediew virá a Polônia.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Resultado final: Komorowski venceu

Foto: Wojciech Olkuśnik

A PKW- Comissão Nacional Eleitoral acaba de divulgar o resultado final do segundo turno das eleições presidenciais na Polônia.


Bronisław Komorowski - 53,01%
Jarosław Kaczyński - 46,99%

O índice de comparecimento nas urnas foi de 55,31%.

Bronisław Komorowski recebeu 8 milhões 933 mil e 887 votos.
Jarosław Kaczyński recebeu 7 milhões 919 mil e 134 votos.
Diferença pró Komorowski foi de mais 1 mihão 14 mil e 753 votos.

Segundo a Agência de Notícias Estatal - PAP, Komorowski venceu nas urnas espalhadas pela Alemanha, República Tcheca, Bulgária, Escócia, Irlanda do Norte, Lituânia, e parte da Itália, em Milão e Nápolis. Kaczyński venceu em Roma, Estados Unidos e Canadá.