domingo, 5 de agosto de 2012

Como é bom retornar a Cracóvia

Descida da colina do Przegorzaly - estrada nova asfaltada

Mesas diante dos restaurantes e cafés do Rynek

Outro ângulo da festa diária no Rynek de Cracóvia

A torta de café com amêndoas do Arlekim continua imbatível

E a Okocim Mocno - a melhor cerveja do mundo. Esqueçam Tchecas, alemãs, belgas e brasileiras.

A lua cheia iluminando a torre Zigmunt da Catedral de Wawel

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Um filho de Chełm vira livro no Brasil


“As catorze vidas de David — o menino que tinha nome de rei” é o título do livro que conta a história de David Lorber Rolnik, a partir de Chełm, cidadezinha natal no interior da Polônia, e viveu até os seus 19 anos. Quando o país foi ocupado pela Alemanha de Hitler e pela Rússia de Stalin, na Segunda Guerra Mundial, seguiu-se uma implacável perseguição aos judeus. Forçado a abandonar o lar e a família, sobreviveu a uma aktzia nazista — uma marcha mortal —, enfrentou perigos, fome, frio intenso, medo e até a morte que esteve à sua espreita muitas vezes. “Vivi o inferno e não sei como escapei”, contou anos depois, recordando aquele triste período.
O lançamento da obra será na Livraria Cultura do Shopping Curitiba, dia 9/8, às 19h. A história é contada pelos seus filhos Szyja e Blima Lorber, numa homenagem póstuma ao sobrevivente do Holocausto, reconstituindo momentos cruciais de sua vida ante a barbárie praticada pelos nazistas e também pelo comunismo de Stalin. Mostra como pessoas foram arrancadas de suas casas e de seus afazeres, maltratadas, aterrorizadas e executadas por seguir princípios religiosos, posições políticas e partidárias diversas que não se enquadravam nos padrões de uma pseudo “raça pura”. 

A narrativa biográfica também revela a personalidade do homem que não se abateu diante das desventuras enfrentadas na Europa e que atravessou meio mundo para reconstruir no Brasil seu lar e a família. 
Para a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, da USP, e coordenadora do Arqshoah – LEER, Arquivo Virtual sobre Holocausto e Antissemitismo, autora do prefácio, as recordações dolorosas de David, são “como peças de um grande quebra-cabeça, que refletem uma difícil imposição do legado às futuras gerações — a reconstrução da memória”. 
“David respira para ganhar ar entre um e outro sufoco. Sua trajetória é singular por registrar cada uma das etapas que marcaram o avanço dos nacional-socialistas em direção ao Leste europeu. As suas lembranças ajudam-nos a investir contra as políticas do esquecimento interessadas em apagar vestígios, em assassinar a memória”, diz a professora Tucci Carneiro. 
Já a jornalista espanhola Pilar Rahola, que contribuiu com textos de apresentação, destaca que os relatos são uma aventura de dor e força, de perdas e reencontros, de morte e renascimento. “Sobrevivente da tentativa de extermínio e também dos gulags soviéticos, foi maltratado e teve a morte a persegui-lo, cercando-o e o ferindo ao longo da sua vida, levando brutalmente sua família e amigos, destruindo a memória do seu ancestral povoado polaco, assassinando a alma da vida judaica europeia, e cavalgando no dorso dos dois grandes totalitarismos do século XX: o nazismo e o stalinismo”, explica ela. 
Apesar dos fatos contundentes da guerra, o livro é também uma história de amor, a de David — o menino com nome de rei tantas vezes perseguido e destinado a sobreviver — pela jovem Małka. Após desencontros causados pela guerra e suas consequências, os dois puderam, finalmente, dar continuidade às suas vidas. “As catorze vidas de David” aponta como a bondade venceu a maldade e a memória superou o esquecimento, honrando milhões de pessoas que perderam suas vozes, suas vidas. Como diz Rahola: “Esta é uma história de luz sobre as trevas e de amor sobre o ódio. A história de um ser humano que, com seu testemunho, dignifica a humanidade inteira”. 
Serviço: Título: “As catorze vidas de David - O menino que tinha nome de rei” Autores: Blima R. Lorber e Szyja B. Lorber Editora: Sêfer, SP. 2012, 304 páginas. Lançamento: 9/8/2012 às 19h Local: Livraria Cultura/Shopping Curitiba Rua Brigadeiro Franco, 2300 Piso L3 / L4 Tel.: (41) 3941-0292

P.S. Tive a oportunidade de visitar a cidade de Chełm em busca de documentos para uma família de São Paulo. Conversei bastante com pessoas no cartório da cidade, na biblioteca municipal e também na prefeitura. Um secretário municipal quando me apresentei dizendo-me de Curitiba, chamou-me até a janela, atrás de sua escrivaninha, para mostrar um edifício no outro lado da rua. "Está vendo ali? Aquela casa onde está o Banco? Pois é propriedade de um senhor que imigrou muitos anos atrás. Ele retornou não faz tempo com sua filha. Ela também é jornalista como o senhor." Perguntei então pelo nome dos dois e ele soube me responder que era Rolnik (de agricultor). Como sempre conheci o Szyja pelo sobrenome Lorber.... não atinei na hora que podia ser o sr. David, pai do amigo. O polaco judeu, como o chamou aquele secretário de Chełm (pronuncia-se Réum) ainda é muito popular em sua cidade de nascimento, lá quase na fronteira com o atual território da Ucrânia. Parabéns Szyja e Blima pelo livro.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Polacos satisfeitos com a Euro 2012

Foto: Krzysztof Miller 
81 por cento dos polacos estão satisfeitos com a organização do Euro 2012 na Polônia. A empresa de pesquisa CBOS - Centro de Pesquisa de Opinião Pública perguntou como os moradores do país avaliavam a organização do torneio, a atitude dos torcedores e dos jogadores, e a resposta foi "estamos orgulhosos". 
De acordo com a pesquisa do CBOS, a realização e a organização do torneio na Polônia e da Ucrânia foram apreciados 89 por cento dos pesquisados. Apenas 3 por cento da população teve uma opinião mais crítica sobre o evento. 
Mesmo após o encerramento do Euro 2012, 81 por cento dos entrevistados mostraram estar satisfeitos com a decisão tomada pela Polônia de organizar o torneio de seleções mais importante da Europa. Para efeito de comparação, em abril passado foi feita a mesma pergunta e o resultado mostrou que apenas 44 por cento estavam satisfeitos. 
Já em relação a participação do selecionado polaco, a pesquisa mostrou que metade dos inquiridos (49 por cento) ficaram com vergonha dos jogadores. Orgulho da seleção sentiram apenas um quarto dos inquiridos (24 por cento).
A atitude da equipe polaca, apesar das expectativas modestas, trouxe mais decepções do que sentimentos positivos. 
A enquete do CBOS foi realizado entre os dias 5 a 12 Julho de 2012, com 960 pessoas em uma amostra aleatória representativa da população polaca adulta.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Kaczka amanhã em Curitiba



PROGRAMA:
J.S. Bach (1685-1750):
 Sonata em Dó BWV 1033 Andante
 Allegro
 Adagio
 Minueto 1,2, Minueto 1 da capo

 H. Villa- Lobos (1887-1959):
- Violão Solo
- Cadência do concerto para violão e orquestra
 Estudo n° 12

F. Chopin (1810-1849):
- Variações sobre temas de Rossini H.

Villa- Lobos (1887-1959): Bachianas Brasileiras n° 5

F. Chopin (1810-1859): 
 Valsa op. 69 n° 2 A. 


Piazzolla (1921-1992) : 
 História de Tango 
- Tango 1900
- Cafe 1930 
- Nightclub 1960 
- Concert d´aujourd´hui 


Intérpretes:


Polônia
 KRZYSZTOF KACZKA


Flautista, nascido em Toruń, Polônia. Após graduação pela Musikhochschule München (Munique), sob tutela da professora Marianne Henkel-Adorján, venceu o o grande prêmio IBLA New York, fato que resultou em sua estréia como DuoArtus com Perry Schack, em Carnegie Recitall Hall, em Nova York. 
Continuou a sua formação musical fazendo pós-graduação com Irena Grafenauer na Universidade Mozarteum de Salzburg e com o principal flautista da Filarmônica de Viena, Wolfgang Schulz, na Universidade de Música e Performances Artísticas de Viena. 
Como bolsista do programa Erasmus Socrates, estudou com Pierre-Yves Artaud no Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris; estudou também com distintos artistas e professores polacos como Elżbieta Dastych-Szwarc e Grzegorz Cimoszko na Universidade de Música Frederic Chopin em Varsóvia, com Zbigniew Kamionka em Cracóvia e Cecylia Knopp em Chorzów. 
Como “Artista Residente” no Banff Centre for the Arts no Canadá apresentou-se com artistas de grande porte como Joel Smirnoff (Juilliard String Quartet), Barry Shiffman (St. Lawrence String Quartet), Chen Halevi, Eliot Fisk, Pedja Muzijevic, entre outros. 
Vencedor e finalista de vários concursos internacionais: IBLA, Australian Flute Festival Competition, Città di Barletta, Città di Padova, Haverhill, NFA Pittsburgh. 
Em 2006 foi laureado com o prestigioso prêmio Young Poland pelo Ministro da Cultura da República da Polônia. 
No mesmo ano lançou quatro CD´s para a Acte Prealabe Label. 
 Atualmente Krzysztof Kaczka é o principal flautista da Shenzhen Symphony Orchestra em Hong Kong, China.

Alemanha
 PERRY SCHACK
Violonista, nascido em 1977 em Munique, Alemanha. Após o curso universitário na Faculdade de Música e Teatro em Munique e no Mozarteum em Salzburg, concluiu seu diploma artístico e mestrado com o legendário violonista Eliot Fisk com “Summa cum Laude“ (com grande honra). 
Perry Schack ganhou seis competições nacionais e internacionais, com destaque para o Prêmio de Fomento à Cultura de Munique, International Solo Guitar Competition em Boston (EUA) e IBlA Grand Prize New York. 
Concertos solo e de câmara foram apresentados nas estações de rádio e televisão B4 Klassik, SWR und ZDF. 
Perry Schack fez concertos em renomados teatros, dentre eles o Herkulessaal em Munique e debutou, em 2008, como DuoArtus com Krzysztof Kaczka no Carnegie Hall em Nova York. 
Como solista e músico de câmara, Perry Schack foi convidado por metrópoles como Berlim, Munique, Varsóvia, Viena, Paris, Roma, Sydney, Wellington, Cingapura, Kuala Lumpur, Tóquio, Nova York e Washington D. C.. 
O DuoArtus foi fundado em 2003 e desde então a dupla tem recebido inúmeros prêmios internacionais, dentre eles o IBLA Grand Prize e a NFA Chamber Music Competition em Pittsburgh. 
Em 2008, estreou no Carnegie Hall de Nova York. O repertório da dupla abrange o universo da literatura de música para flauta e violão erudito, desde as sonatas para flauta de Bach, de Fantasia Carmen de Bizet a História de Tango de Piazzola. 
Krzysztof Kaczka e Perry Schack têm se apresentado nos cinco continentes em locais como Carnegie Hall, Wellington Town Hall, Embaixada da Polônia em Washington DC e Herkulessaal em Munique. 
A dupla já fez um concerto em Brasília no último dia 13 de julho e amanhã encerra o "tour" pelo Brasil em Curitiba na Capela Santa Maria..

domingo, 15 de julho de 2012

Dra. Władysława Wołowska Mussi morreu

médica Władysława Wołowska Mussi
A primeira filha de imigrantes polacos a receber o diploma de médica da mais antiga universidade do Brasil, Władysława Wołowska, em 1932, morreu neste sábado, em Florianópolis. 

Considerada também a primeira mulher a exercer profissão de médica no Estado de Santa Catarina, Wladysława nasceu na Colônia Muricy, município de São José dos Pinhais, no Paraná. 

Dra. Władysława morreu no Hospital de Caridade, em Florianópolis, na manhã deste sábado, vítima de complicações em cirurgias, depois de ter fraturado os dois fêmures. Ela faria 102 anos no próximo mês. O velório começou às 18h de ontem na capela mortuária do Cemitério São Francisco de Assis, no Bairro Itacorubi, em Florianópolis. 

O enterro acontece às 11h deste domingo. Ela estará no mesmo túmulo do esposo, o médico e político Antônio Dib Mussi, que havia falecido em 1959. 

Filha de imigrante polaco e de uma brasileira descendente polacos, Władysława se formou em 1932, na Faculdade de Medicina do Paraná, cujo patrono do ensino da cirurgia no Paraná é o também polaco Dr. Szymon Kossobudzki, um dos membros fundadores da Universidade do Paraná, a atual Universidade Federal do Paraná.

No ano seguinte, Władysława se casou com Dib Mussi e foi morar em Santa Catarina.Viveu anos em Laguna, cidade natal de seu marido. Depois foi morar em Órleans e finalmente Florianópolis. 

A médica trabalhou no serviço de saúde pública e clinicou até depois dos 70 anos. Władysława deixa três filhos: a professora universitária Zuleika Wołowska Mussi Lenzi, o professor universitário Carlos Wołowski Mussi e o cardiologista Mário Wołowski Mussi. E oito netos e três bisnetos. 

Ginecologista e obstetra, Dra. Władysława fez o parto de conhecidos florianopolitanos, como o desembargador aposentado Norberto Ungaretti. 

Sua irmã, dentista em Curitiba, também considerada a primeira descendente de imigrantes polacos, na mesma UFPR conta que quando ainda eram estudantes, um deputado federal paranaense e importante membro da elite curitibana da época, publicou um artigo num jornal de grande circulação em Curitiba desqualificando as duas irmãs polacas. 

Em certo trecho do artigo o conhecido colunista escreveu que era um absurdo duas representantes do sexo feminino terem a ousadia de frequentar um curso universitário, ainda mais sendo polacas da colônia. 

Os comentários do nobre jornalista deputado chegaram aos ouvidos do velho polaco. Sem falar muito bem o idioma português, o pai das duas polaquinhas foi até o jornal tirar satisfações. 

Como o famoso colunista vivia no Rio de Janeiro cumprindo seu mandato, o velho polaco foi encaminhado a sala do diretor. Este o recebeu em pé e estendendo a mão. 

Mas o polaco de Muricy ao invés de estender a mão ao diretor, cerrou os punhos e emendou um sonoro murro na cara do diretor do jornal, virou as costas e saiu pela mesma porta onde havia entrado.

sábado, 14 de julho de 2012

As lendas da Mariacka


A igreja mais famosa da Polônia é a Basílica Santa Maria, 
ou Mariacka.
Existem lendas sobre as torres.

Dois príncipes apostaram quem faria a torre mais próxima do céu. A disputa foi dura e acabou com a morte daquele que construiu a torre mais alta... ele... chegou mais cedo no céu. A segunda lenda, diz que durante a invasão tártara, um corneteiro vigiava os inimigos.
 Uma flecha alcançou seu coração antes que pudesse terminar o toque de alerta.
Desde então, a cada hora, um corneteiro reproduz o toque interrompido.
Em mais de 600 anos, apenas na segunda guerra, os cracovianos deixaram de ouvir o "hejnal" da torre.
O toque do meio-dia é transmitido diariamente pela rádio nacional da Polônia para todo o país.
Um corneteiro da torre é filho e neto de músicos que há mais de 100 anos tocam o heinal de Cracóvia.

P.S. O vídeo produzido e editado por mim está no ar na TV E-Paraná, Canal 9, de Curitiba, e no satélite, para toda a América Latina.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Aroldo Murá: Tudo para desconstruir o imigrante

Embora tardiamente, reproduzo comentário do colunista Aroldo Murá, no Jornal Indústria & Comércio, de Curitiba, sobre minha colaboração na Revista Helena, da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná.






ULISSES IAROCHINSKI: EUROPA CENTRAL

Ulisses Iarochinski: ao imigrante, justiça...
Ulisses Iarochinski, homem de espírito, filho de pai polaco, é com certeza nosso mais significativo conhecedor da contribuição do imigrante europeu ao Paraná.Houve agora, graças, uma quebra da resistência que, por anos, se observou da chamada inteligência paranaense com relação a esse cidadão do mundo.
Ulisses tem o mérito de, sendo universal, enfeixar a linha de frente dos que repõem a cultura européia (e eslava, particularmente) como essencial na formação do DNA paranaense. Há em Ulisses alguns vestígios que me fazem lembrar o meu desaparecido professor Ruy Christovão Wachowicz e o pai dele, o nunca suficientemente reconhecido professor Romão Wachowicz.
Ruy me introduziu à História do Paraná, no Curso de Jornalismo da UCP (hoje PUCPR), finais dos anos 1960/70. Grandes lições me deu ele. Uma delas: no Paraná, por escassa presença de negros, toda a carga racista (particularmente das elites de origem ibérica) foi direcionada contra os polacos. E eslavos em geral, ensinava |Ruy, em cima de pesquisa universitária que realizara.
TUDO PARA DESCONSTRUIR O IMIGRANTE
Iarochinski, bem ao contrário de certos iconoclastas que pretendem desconstruir a importância européia em nossa história (“afinal, é uma gente que veio em tempos distantes, século…”,dizem, com desdém), é uma das leituras obrigatórias em “Helena”. Se alguém duvida, aqui vai uma amostra grátis do ensaio, apenas o título:”Da Europa Central a Cruz Machado”.
Enfim, boa leitura.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Polônia tem novo treinador

Foto: Dawid Chalimoniuk
E a perda do título da Eurocopa fez sua primeira vítima. Franciszek Smuda não é mais treinador da seleção polaca de Futebol. 
O presidente da Federação Polaca de Futebol, Gregorz Lato chamou Waldemar Fornalik para a díficil missão de classificar os polacos para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. 
Como jogador, Fornalik era sólido, mas não excelente. Como treinador não ganhou ainda qualquer troféu, mas levou o time do Ruchu Chorzów a vicecampeão do país. Nesta terça-feira ele foi apresentado como o novo técnico da equipe nacional polaca. 
O contrato que Fornalik assinou se estende até o final de 2013, se conseguir a classificação, então continua até a aventura brasileira. O contrato será então prorrogado até julho de 2014. 
Nas eliminatórias 2012, o treinador já tem programados confrontos a partir de agosto. Serão na sequência, Estônia, Montenegro, Moldávia, e Inglaterra.

domingo, 8 de julho de 2012

Polônia, campeã da Liga Mundial de Vôlei


A Polônia conquistou neste domingo seu primeiro título de Liga Mundial de vôlei. Jogando em Sofia, na Bulgária, a seleção masculina polaca venceu os Estados Unidos, por 3 sets a 0, parciais de 25/17, 26/24 e 25/20. 
Os polacos nunca haviam jogado uma final da Liga Mundial e só tinham uma medalha em 22 anos de competição, um bronze, ano passado. 
Agora os polacos demonstraram grande evolução neste ano, com quatro vitórias em cinco jogos contra o Brasil, encerrando de vez a fama de fregueses dos brasileiros. Na decisão, brilhou o forte bloqueio, com 11 pontos. 
No ataque, destaque para Bartman Zbigniew, autor de 16 pontos, e Kurek Bartosz, de outros 15, sendo três de saque. O bronze da Liga Mundial ficou com Cuba, que fez um jogo equilibrado contra os búlgaros, donos da casa, vencendo apenas no tie-break, com parciais de 25/18, 19/25, 23/25, 25/23, 15/12. 
A campeã Polônia estará nas Olimpíadas de Londres 2012 no grupo da Bulgária, Itália Argentina, Austrália e Grã-Bretanha. 
No tênis, infelizmente a cracoviana Agnieszka Radwańska não conseguiu superar a norte-americana Serena Willians, na final de Winblondow 2012, seja como for a polaca foi ao ponto mais alto de sua carreira.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Polaca Radwańska na final de Wimbledon


A tenista polaca Agnieszka Radwańska está na final do mais importante torneio de tênis do mundo... o aristocrático Wimbledon! Sucesso histórico do tênis polaco. 
Embora o esporte não tenha o clamor popular do salto de esqui, o futebol e o vôlei, o tênis polaca já teve no passado uma Jadwiga Jędrzejowska, que no distante 1937, nunca esteve presente da era dos grandes Torneios Open, principalmente nos quatro do Grande Slam. 
Agnieszka Radwańska chega a esta final após ter vencido por dois sets a zero com parciais de 6:3, 6:4 a alemã Angelique Kerber. 
Atual número três do mundo, Radwanska aguarda agora sua adversária na grande decisão histórica para a Polônia, Radwańska poderá enfrentar Victoria Azarenka ou Serena Williams. 
A polaca, que nunca havia passado das quartas de final, tem chance de virar número 1 do mundo. Para tanto, precisa faturar o título e torcer pela eliminação de Azarenka na semifinal.


Resultados da polaca no torneio
3
A. Radwanska
6
6
Semifinals
8
A. Kerber
3
4
Jul 5, Completed
3
A. Radwanska
7
4
7
Quarterfinals
17
M. Kirilenko
5
6
5
Jul 3, Completed
3
A. Radwanska
6
6
4th Round
C. Giorgi
2
3
Jul 2, Completed
3
A. Radwanska
6
6
3rd Round
H. Watson
0
2
Jun 29, Completed



Aga nasceu em 06 de março de 1989 em Cracóvia. Ela já ganhou dez títulos de simples em sua carreira. Radwańska chega à final do Campeonato Wimbledon 2012, tornando-se a primeira jogadora polaca a chegar a uma Final de simples do Grand Slam
Em 2007, ela já havia se tornado a primeiro jogadora da Polônia a ganhar um título de simples da WTA, quando venceu o Nordea Nordic Light Open
Radwańska ganhou dois prêmios WTA. Aga (diminutivo de Agnieszka - Inês em português) começou a jogar tênis com a idade de quatro anos. 
Sua irmã mais nova, Urszula, também é jogadora de tênis. Radwańska tem como ídolos no esporte, Pete Sampras e Martina Hingis, que ela afirma serem como inspirações. 
Em 2009, tornou-se um embaixadora da WTA para o "Habitat for Humanity". 
Aga estuda turismo em universidade de Cracóvia.



sexta-feira, 29 de junho de 2012

As belas do futebol de Nowa Huta

A garota de julho
Seis belas torcedoras chamaram a atenção pela iniciativa para lá de ousada para ajudar o modesto Klub Sportowy Hutnik Kraków, da 4º divisão do futebol polaco, a se livrar da crise financeira. 
Elas toparam tirar a roupa para um ensaio sensual e produzir um calendário para arrecadar fundos. A aposta deu certo e o ensaio foi um sucesso. Mais de 30 mil exemplares do calendário foram vendidos desde janeiro em Cracóvia, no interior da Polônia. 
A iniciativa transformou o clube e o bairro Nowa Huta de Cracóvia em sucesso de popularidade. E conseguiu salvar o Hutnik da crise financeira. - Resolvi me exibir pois sou fã do Rutnik e queria ajudar o meu time a ganhar dinheiro. O calendário ficou famoso também em outros países. Os asiáticos também ficaram interessados. O time e a cidade ganharam em popularidade - comemorou a torcedora Alicia Kivic
O sucesso da iniciativa rendeu as seis torcedoras o convite para posarem nuas em uma revista masculina. Mas Alicia, namorada do gerente de futebol do Hutnik, Daniel Urbanek, não aceitou a proposta. 
E, sem ela no elenco, as outras torcedoras resolveram desistir da ideia. Mas para a alegria dos marmanjos de Cracóvia, as torcedoras já toparam produzir um novo calendário do Rutnik para 2013. - Sabemos que precisamos fazer coisas enormas e um pouco estranhas para chamar a atenção. E esse calendário é um pouco isso - disse Urbanek.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

O que vai restar da Euro na Polônia

Irlandeses com uniforme da seleção nos tramwaj de Poznań
O que resta após a Euro. Os irlandeses ainda estão nas mentes dos moradores da cidade de Poznań, uma das sedes polacas do torneio europeu de seleções. Na capital da voivodia da Wielkopolska, o jogo que realmente mexeu com todos foi entre italianos e croatas. 
Mas foram poucos os torcedores italianos que vieram até a cidade. Os croatas comemoraram de forma calorosa os poucos dias que passaram pela cidade. 
Os irlandeses, no entanto, ficaram duas semanas em Poznań. Pintaram a cidade de verde. Não só a área ao redor do centro. Mas também nos vários campings na periferia da cidade onde secavam as camisas verdes sobre as barraca, ou nas janelas dos pequenos hotéis. 
Nos fóruns e grupos das redes sociais na Internet, os irlandeses escreviam que estavam na Polônia, e do prazer de estar em Poznań. Eles gostaram de tudo, desde os sorridentes e solícitos moradores, da cidade velha, dos tramwaj (verdes!), cerveja e até mesmo do Kebab (saduíche turno com carne assada em espeto giratório) da cidade. 
O prefeito Ryszard Grobelny calcula que a organização da sede da copa, custou aos cofres públicos mais de 20 milhões złotych. 
O dinheiro foi empregado na área dos fãs, nos ônibus adicionais que servem o estádio, expansão de terminais de bancos, na nova estação ferroviária, na reconstrução das principais vias urbanas, reparação de calçadas no centro e na promoção da cidade. 
Os números apontam que perto de meio milhão de pessoas consumiram 156 mil canecas de cerveja, comeram 19 mil zapiekanka (sanduíches polacos com cogumelos) mil kebab. 
O sociólogo prof. Rafał Drozdowski aponta outra vantagem para a cidade: mudança na mentalidade das pessoas que tomaram as ruas para se divertir juntos com os fãs de outros países. 
Com efeito, durante o Euro, os polacos abriram-se aos outros, os poznanianos ficaram muito feliz em ajudar os fãs e visitantes da Irlanda. Muitos comentaristas esperavam que a cidade recebesse mais turistas. 
No entanto, parece que, se os três jogos da Euro, vão mudar algo em Poznań, é acima de tudo a mente dos moradores.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Uma polaquinha no Rio de Janeiro


por Marysia Wróblewska

Marysia Wróblewska, de 22 anos, ou simplesmente Mária, assistiu ao filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, na sua Polônia natal, quando concluía o ensino médio. Ficou fissurada. Obrigou namorado, familiares e amigos a vê-lo mais de uma vez.
Escolheu graduar-se pelo departamento luso-brasileiro da Universidade de Varsóvia. Passou nove meses num programa de intercâmbio universitário no Algarve, em Portugal. E decidiu viajar até o Brasil para colher material para a sua tese de mestrado sobre o filme. Ficou um mês na cidade e aprendeu de cabeça o que é "miojinho" 

RIO DE JANEIRO, DOMINGO, 21 DE JUNHO
_Quando o avião desceu abaixo do nível das nuvens, fiquei olhando e olhando e olhando pela janela. Estava apavorada. Nunca tinha visto uma cidade tão grande. Parecia um mar de luzes, com as manchas negras das poucas colinas desabitadas. 
Comparado com Lisboa, o Rio não tem fim. Venho de uma pequena localidade - 3 500 habitantes - a 45 minutos de trem de Varsóvia. 
É uma cidade-jardim inteiramente planejada (como Brasília), que nasceu há oitenta anos como refúgio de fim de semana para intelectuais da capital. 
Em Podkowa Lesna (cuja tradução seria Ferradura de Floresta) não existem edifícios, condomínios, nada disso. Há só casas particulares e vilas, cada uma com um jardim obrigatório de 1 500 metros quadrados. Adoro. 
No Rio, a imensidão do espaço com alta concentração humana parece não ter fim. Onde está o subúrbio parecido com o que eu conheço - verde, com casas baixinhas, grandes jardins, floresta por todos os lados? Tive medo de sufocar. Na minha casa, não se ouvem carros na rua, apenas o concerto de grilos. 
Só vou a Varsóvia, que tem 2,5 milhões de habitantes, para festas, pois minha cidadezinha é muito rica em programas culturais. 
No aeroporto, fui recepcionada por Mario Luis Grangeia, colega de faculdade e amigo da minha professora de português na universidade, a brasileira Ana Carolina Beltrão.
Estava acertado que me hospedaria na casa dele, nas duas primeiras semanas, para ter alguém que me explicasse como as coisas funcionam no Rio, o que posso e o que não devo fazer. Na véspera da minha viagem eu tinha assistido ao filme Última Parada 174, inspirado no documentário Ônibus 174. 
A ideia de que poderia estar num ônibus assaltado me incomodou. Quando entramos no prédio do Mario, no bairro do Catete, fiquei boquiaberta. O condomínio me pareceu um hotel de luxo. Tinha coffee shop, lugar para jogar sinuca, piscinas, minicinema, salão de festa infantil e, para adultos, campo de futebol e de basquete, salão da beleza, biblioteca, sala de reuniões!
O que mais me impressionou foi o espaço para bandas de garagem, com instrumentos disponíveis para qualquer um que quiser tocar. Impressionante como facilitam a vida aqui, pensei.
Cheguei bastante cansada do voo, com as pernas inchadas. Mario, formado em comunicação e mestrando em sociologia, trabalha no Ministério Público Federal. Ele tentou entender o que eu pretendia fazer no Brasil e se pôs a telefonar para seus amigos.
Em meia hora conseguiu combinar acho que dois ou três encontros com professores, me deu uma lista completa de nomes de pessoas que eu deveria procurar e me apresentou à caipirinha. Adorei a caipirinha, mas beber depois de dez horas no avião é a pior coisa do mundo. 

22 DE JUNHO_
Meus primeiros sustos: Supermercado - há carrinhos abandonados por toda parte, tudo meio improvisado. Na fila, ninguém parece ter pressa. O funcionário que está no caixa passa os produtos enquanto conversa com todo mundo. Quando acaba o scanning, outro funcionário põe as mercadorias em sacolas de plástico. Mas se não há ninguém para ensacar as compras, a garota do caixa faz isso sozinha (mas eu também tenho mãos!).
 Ruas - os ônibus parecem máquinas da morte. Em vez de dirigir dentro das faixas, o motorista faz o percurso na forma da letra S. Há poucas possibilidades de atravessar a rua sem correr. Pão - só de fôrma ou inchado com ar? 
Depois descobri croissants integrais com ricota, queijo minas, espinafre... Maravilhas do dia: Mercados de frutas e verduras. A maioria não conheço. É fruta, pergunto? É, é! Pode acreditar! - todo o mundo ri. O abacate tem tamanho de melão. 
Na Polônia, tem o tamanho de uma laranja, se tanto. Largo do Machado - de manhã à noite, cheio de gente, na maioria idosos, que jogam de tudo: cartas, dominó, xadrez. Só vi algo parecido em Sarajevo.
Na Polônia, como na maior parte do ano faz frio, não há esse tipo de contato. As pessoas se encontram em casa, num café, no restaurante. A rua é apenas para andar, não para sentar. Nos parques há bancos, mas não há mesas. 

23 DE JUNHO_
Fui à Universidade do Estado* do Rio de Janeiro, com a qual a minha universidade tinha acertado um intercâmbio, a partir de março de 2009. Mas a greve na UERJ parece ter dificultado o diálogo, que nunca mais foi retomado.
Quando cheguei lá, a secretaria estava fechada. Passei cinco horas tentando encontrar material de estudo nas suas várias bibliotecas. Achei o interior do prédio meio escuro. Os corredores sem fim pareciam uma prisão. Mario me ajuda muito - onde ir, a quem escrever pedindo um encontro. 
À noite, fomos encontrar amigos dele, todos muito simpáticos. Perguntaram sobre as minhas primeiras impressões. Todo o mundo quer ajudar, é incrível. Se preocupam. Quando preciso de alguma informação, a pessoa faz bem mais do que responder. 
Ela deixa o que está fazendo e me acompanha até o lugar, explica como tudo funciona e ainda acrescenta: "Qualquer problema, me busca, me pergunta, me liga." Agem como se acreditassem nos princípios da ética de Kant. Tratam o outro como um fim, nunca como um meio. Gosto disso. 
Durante a noitada, todos se puseram a comentar animadamente as novelas e um programa de humor que faz troça de figuras públicas. Mais tarde, em casa, tive a curiosidade de assistir a um bocadinho da televisão brasileira. As emoções parecem falsas, exageradas. Apresentadores riem, gritam, dizem piadas. Na Polônia isso seria falta de profissionalismo. Lá há cinismo. Aqui, há comedia, há escárnio. 
A televisão é como a rua: ruidosa. Na Polônia, a novela tenta imitar a vida normal das pessoas. Aqui vejo personagens que têm 5 mil empregadas e não sabem como se prepara macarrão porque a comida sempre já está na mesa, toda preparadinha. Estranhei os amigos do Mario debaterem tanto o tema. É verdade que muitos deles haviam feito comunicação, o que talvez explique o interesse. Mas mesmo assim... 
Na Polônia, essa faixa de pessoas tende a assistir apenas aos noticiários, nada mais. Quando querem ver um filme, vão ao cinema ou veem um dvd. Televisão é considerada um lixo que muitos optam por não ter. Já a minha geração vive muito mais na internet.
Acho que metade dos meus amigos nem tem televisão em casa. Mas todos têm banda larga. 
À tarde, fui até a Uerj para um encontro com Felix Garcia Lopez, amigo do Mario e professor no departamento de ciências humanas. A UERJ não se parece em nada com as universidades que conheço. Parece mais um exemplo de arquitetura do realismo socialista. Mesmo em Varsóvia, que sofreu bastante com a ocupação dos russos, não temos nada assim, tão monumental e, ao mesmo tempo, horroroso. O encontro com o professor correu bem. 
Ele me apresentou a uma amiga que se ocupa de antropologia visual, e me mostrou alguns números de Cadernos de Antropologia e Imagem, nos quais encontrei inúmeras informações interessantes. Combinei com a funcionária da secretaria que voltaria no dia seguinte para ver a revista com mais atenção.
Logo que cheguei, disse ao Mario que, além das atividades ligadas à coleta de material para a minha tese, também queria participar de alguma atividade bem brasileira, como aulas de samba, capoeira ou surfe. 
Por isso, antes de ir ao cinema, hoje fomos espiar uma escola de dança. As pessoas dançavam samba de salão. Liiiindo! Na Europa, a dança é frequentemente tratada como um desafio. Aqui vejo prazer e naturalidade, nada de competição. Fomos assistir a Budapeste, a adaptação do romance de Chico Buarque. Perguntei se Mario conhecia um filme chamado Garotos Incríveis (Wonder Boys). 
O personagem central é um professor de literatura e escritor em crise. Ao contrário de escritores que não conseguem escrever, o de Garotos Incríveis não consegue parar de escrever. Um dia, uma estudante que alugava um quarto na casa dele descobre um livro e começa a lê-lo. Mas a obra tem mais de 2 mil páginas e a estudante acaba adormecendo.
Acordada pelo professor, ela diz o que achou da obra: "O senhor sempre nos ensinou que para escrever bem é necessário fazer escolhas. 
Mas no seu livro não foi feita nenhuma escolha. Tudo está descrito." Pode-se dizer a mesma coisa de Budapeste. Parece que o diretor não soube fazer nenhuma escolha, e quis mostrar tudo o que está descrito no livro. Houve pelo menos três cenas de relações sexuais desnecessárias para a compreensão do filme. 
Não gostei. Observações enviadas por e-mail para meus pais: Aqui se pode comprar cigarros por unidade, em vez do maço inteiro. É a primeira vez que vejo isso. Na frente do condomínio há uma loja com galinhas, patos e outras aves vivas para vender. Fede tanto que é difícil andar por ali. Não me imagino entrando lá, comprando um dos animais expostos e matando-o para comer. 
Nas ruas e no metrô não consigo deixar de olhar para o bumbum das garotas. Eles têm um formato totalmente diferente dos nossos, mais copioso. Não que as brasileiras sejam gordas, nada disso. Apenas têm mais carne, mais músculos. E todas usam calças bem apertadas. Quando andam, parece que fazem massa com o bumbum. Muito interessante. As diferenças sociais são gritantes. 

24 DE JUNHO
_Andei a pé do Catete até o centro. Fui aos Correios, visitei o palácio de Getúlio Vargas. Queria tirar fotos, mas o Mario me alertou para ter cuidado. Infelizmente, aquilo que mais me interessa é difícil de fotografar.
Não quero parecer uma gringa que fica tirando fotos de "temas sociais". Quando estou sozinha num país desco-nhecido, fico ansiosa. Não consigo comer. Também não consigo adormecer. Por causa da fome? Da tensão? Cada experiência negativa, como o fato de a funcionária da secretaria da Uerj não estar a postos, me reduz a zero. 
Ando meio perdida. Tenho tantas coisas na cabeça que não sei por onde começar. Tudo parece muito difícil. O sentimento de fracasso me ronda. O contato com outras pessoas é difícil para mim. Gosto de ser autossuficiente, de saber. Aqui tenho de perguntar tudo a todos. A língua também não ajuda. Ou melhor, ajuda muito, mas abandonei o meu sonho de falar como carioca. Consigo imitar o sotaque, conheço regras da pronúncia, mas isso não vale nada. 
Quando falo como os jovens de Portugal, ninguém me entende. "Gajo", "fixe", "giro", "pois" aqui não funcionam. No Rio, é só "valeu", "beleza", "vem cá", "tá ligado", "falou", "cara", "legal". Aqui é posto e não bomba de gasolina, é creme de leite e não natas, é faxina e não limpeza. E todo o mundo bota tudo em qualquer lado. Não conheço nenhum verbo no português falado em Portugal que valha para tantos contextos: bota isso, bota aquilo, bota, bota... Todo o mundo bota sem parar. Cada dia aprendo palavras novas. Gosto disso. 

25 DE JUNHO
_De manhã fiz exercícios físicos. Conheço-me bem: se não fizer de manhã, há pouca chance de fazer depois. Mandei e-mails para pessoas que podem me ajudar, segundo o Mario. Depois voltei à UERJ. A secretaria estava fechada, para variar. Mas me lembrei do lugar onde Felix tinha ido buscar um exemplar dos Cadernos de Antropologia. 
Comprei alguns números, fiz cópias de outros e também consultei a revista Intersecções. Ufa, recomecei o meu trabalho. Depois fui assistir a um debate no Centro Cultural da universidade, que abriu uma mediateca no mês passado. Ali são apresentadas mostras semanais de três filmes, seguidas de debates. Eu não tinha visto nenhum dos filmes anteriores ao debate, todos sobre samba e bossa nova, mas mesmo assim quis ver como era. Assim começou o meu grande dilema de conhecimento. 
 O debate foi sobre o jeito carioca de ser. A coordenadora do projeto tinha convidado dois professores, uma psicóloga e um antropólogo. Não vou lembrar os nomes porque essa é uma das minhas grandes dificuldades no Brasil. Se alguém pode se chamar tanto Geni quanto Rosangelica, pode ter qualquer nome. Eu já tinha notado essa minha dificuldade na Polônia. Eu nunca conseguia identificar os nomes dos cineastas citados pela minha professora brasileira - só sabia do filme a que se referia quando ela comentava o seu conteúdo. 
 O debate sobre o jeito carioca evoluiu numa direção inesperada. Primeiro, os palestrantes falaram da forma como os cariocas tratam o espaço, a cidade, qual a fronteira entre público e privado. Depois, passaram a falar sobre o conceito de cidade partida e a polemizar a respeito dele. Assim começou o meu encontro com a bipolaridade do Rio. 

26 DE JUNHO
_Fui ao Museu Nacional de Belas Artes. A maior parte dos quadros é muito parecida com a arte europeia. Voltando para casa, decidi fazer uma comida típica polaca para o Mario. Escolhi placki ziemniaczane - um tipo de massa frita feita de batata ralada com cebola, farinha e ovo. É delicioso. Pode-se comer isso com creme de leite e açúcar, ou com qualquer molho salgado. 
A minha tentativa no uso de ingredientes brasileiros foi um desastre. As batatas daqui contêm muito mais água do que as polonesas. Por isso a massa ficou molhada demais, difícil de fritar. Com a massa já pronta, ainda se sentiam os pedaços da cebola meio crus. Pior ficou o molho.
O resultado final ficou tão indigesto que me envergonhei de apresentá-lo ao Mario. Mas ele insistiu em comer a coisa. Depois do jantar, ele comentou que sexta-feira era o dia em que todo mundo sai, e eu também deveria ir fazer algum programa. 
Perguntei se poderíamos ir a um baile funk. Como ele também nunca tinha ido a um, deu uns telefonemas e logo encontrou uma amiga que levaria um grupo a uma casa de funk. Ficamos de nos encontrar num bar perto do Maracanã, às dez da noite. O grupo chegou por volta das onze (um francês, dois alemães e, acho, alguns brasileiros) e nossa guia chegou duas horas depois. 
Quando perguntamos por que ela demorou tanto, explicou que Michael Jackson tinha morrido e ela teve de escrever um texto sobre ele. Começamos a discutir o papel do Michael na música pop e escolhemos também o lema da noite: nasceu preto, virou branco, morreu cinza.
Finalmente, às duas da madrugada, entramos no baile funk. O ritmo não é muito complicado. As músicas começam frequentemente com o som de tiroteio e o bumbum parece ter controle sobre o resto do corpo. A primeira coisa da qual gostei foi que todo mundo dança. Rapazes e moças, rapazes com moças, moças com moças, rapazes com rapazes.
Em Portugal, tive a impressão de que somente os estrangeiros dançavam. Era triste ver as meninas portuguesas darem dois passos à esquerda, dois para a direita, e nada mais. Zero de energia.
Tentei imitar os movimentos das brasileiras e três jovens procuraram me ensinar o que fazer. Tentei acompanhar, mas quando elas desciam até o chão, desisti - era difícil demais para mim. Quatro jovens de biquínis oncinha começaram a dançar e a cantar no palco. Parecia mais dança erótica do que qualquer outra coisa. 
Cantavam sobre o que garotas devem fazer para encontrar com quem ficar. O baile acabou às quatro da manhã. Não percebi qualquer arma, elemento absolutamente obrigatório segundo vários filmes brasileiros que vi. O chão ficou coberto de latas de cerveja. Na Polônia, vê-se algo parecido só em festivais ao ar livre. Quando o baile acabou, queria muito voltar para casa. Infelizmente, só eu. 
O resto do grupo ainda quis esticar em Copacabana. Como o Mario tinha me dito para não me separar da guia, fui junto. Cheguei em casa às 7h30 da manhã, com frio e fome. Comi os meus placki ziemniaczane, que não me pareceram tão ruins como no dia anterior. Acordei às seis da tarde. 

27 DE JUNHO
_Fomos visitar os pais do Mario, que moram pertinho, no Flamengo. A avó dele é uma portuguesa do Viseu que chegou ao Brasil já adulta. Mesmo morando há mais de cinquenta anos no Rio, ela não perdeu o sotaque português. Achei bonito. Fiquei encantada com o fato de que, finalmente, alguém entendia tudo o que eu falava. A visita me ajudou a compreender a gentileza do Mario. 
Os pais dele também são assim. Como eu trouxe pouca roupa para o Brasil, quase tudo estava sujo depois da primeira semana. A mãe do Mario notou que eu vestia uma camisa do filho e me levou ao quarto dela para escolher cinco casaquinhos. Eu não podia recusar. Saímos da casa deles com dois sacos cheios de comida, e mais um outro, só com casacos para mim. 
Também compreendi melhor o constante cuidado da família com todos. Quando o Mario era pequeno, seu avô foi assaltado ao estacionar o carro em frente à casa. Ele entregou tudo o que tinha, mas mesmo assim levou um tiro e morreu. 

 28 DE JUNHO
_Logo de manhã, Felix, que também trabalha para uma ong chamada Mundoreal, veio me buscar para irmos até a Rocinha. Fomos de carro até um certo ponto - ele, uma aluna sua, um casal de polacos hospedados em sua casa e eu. Depois subimos numa van com mais duas brasileiras da Mundoreal e no meio da excursão juntaram-se ao nosso grupo um americano e uma indiana, filha de diplomata.
Exceto o casal polaco e eu, que estávamos aproveitando a expedição para conhecer um pouco da Rocinha, os outros do grupo começariam um trabalho voluntário na favela através da Mundoreal. Visitamos uma moradora cujo filho era deficiente. Ser deficiente na Rocinha é como viver condenado, virtualmente preso nos muros da própria casa. 
Não tem como sair. As ruazinhas parecem trilhas. Não há asfalto. Há pequenos becos, tudo inclinado e com um chão furado e ondulado. Quando chove os becos se transformam em riachos de esgoto.
Na véspera da nossa visita tinha chovido. Resultado: bati perna durante seis horas, de sandálias, por esgotos e lama. O cheiro era horrível. Tive medo de tocar nas paredes das casas para me apoiar. Parece que na Rocinha o maior problema é a tuberculose. Um em cada vinte moradores tem tuberculose. Incrível! 
Na Polônia tuberculose é considerada doença do século passado. O nosso percurso nos levou à laje da loja de uma conhecida dos brasileiros. Dali vi o mais bonito panorama do Rio - Cristo Redentor de um lado, do outro as praias de Copacabana e Ipanema. Rochas, floresta e o quadro caótico das pequenas casinhas dos favelados. Quando subimos o morro, cruzamos com um jipe do Favela Tour. 
O pessoal a bordo estava vestido de roupa safári, com as máquinas fotográficas apontadas em todas as direções. À tarde fui ver a exposição "Virada Russa". Achei divertido ver no Brasil obras dos nossos vizinhos. A última sala trazia inúmeros cartazes de propaganda da era comunista, inclusive um que glorificava um plano de metas introduzido na Ucrânia. Senti algo esquisito. 
Uma das consequências da coletivização agrícola na Ucrânia foi a fome que matou cerca de 6 milhões de pessoas. O meu avô nasceu no território que depois da Segunda Guerra passou a fazer parte da União Soviética. A Polônia também ficou sob "curadoria" da URSS. 

29 DE JUNHO
_Às onze horas da manhã eu tinha encontro na Fundação Getulio Vargas com Mariana Cavalcanti, professora que trabalha o tema "favela" do ponto de vista antropológico. 
Fui parada pelo primeiro segurança por estar de chinelo de dedo. A recepcionista telefonou para a professora, avisando que eu a esperava embaixo. Pensei que a intervenção da acadêmica iria liberar a minha entrada no prédio, mas não. Mesmo desconhecendo o regulamento da Fundação, acho que a instituição deveria respeitar mais os seus colaboradores. 
Assim, a professora Cavalcanti teve de abandonar o posto de trabalho para se encontrar comigo. Fomos sentar num bar. Senti-me estúpida. A conversa com a professora foi útil e ela aprovou o meu projeto de tese. Ao nos despedirmos, ainda perguntou se eu tinha tempo para um encontro com uma colega sua, a quem também tinha enviado e-mail. Em cinco minutos apareceu a autora de uma análise da série televisiva Cidade dos Homens. 
Ela se mostrou menos entusiasmada com o meu tema. "Eu sou da velha escola", disse-me. "Você deveria se concentrar mais na análise do próprio filme Cidade de Deus." Fiquei um pouco triste porque o que mais me interessa no filme são as reações a ele. À tarde fui ver um dos cartões postais do Rio - peguei o teleférico e subi o Pão de Açúcar. Me surpreendi com o tanto de brasileiros que estavam ali - imaginei que era coisa mais de turistas. 

30 DE JUNHO
_Passei o dia na frente do computador listando os livros que preciso ler, artigos, autores, lugares onde encontrar tudo. No fim da tarde, decidi assistir à abertura de um colóquio sobre o tema "Cinema, Tecnologia e Percepção. Novos diálogos". Saí de casa já atrasada. 
Verifiquei o caminho no Google Maps, mas mesmo assim, só depois de andar por um bom tempo, é que percebi estar na direção errada. Pensei que o Museu de Arte Moderna fosse perto da minha casa e acabei no parque do Flamengo ao anoitecer. A palestra já tinha começado quando cheguei, e era em francês. Depois de meia hora, estava cansada. A língua de conferências é muito hermética. Mesmo em polaco, quando não se sabe bem o tema, acho difícil seguir o rumo de uma palestra. 

1 E 2 DE JULHO
_Fui a outro colóquio no Museu de Arte Moderna. Me ocupou o dia inteiro. Foi uma experiência ótima, com participação intensa do público. Percebi o quanto o cinema está vivo. A literatura é uma arte tão consagrada ao longo dos séculos que, para não dizer platitudes, tem que se estudar anos a fio. Só com um grande conhecimento da história da literatura clássica é possível comentar e avaliar a produção mais atual. 
Já o cinema, ainda está fresco. É mais acessível e o seu desenvolvimento não travou. Ivana Bentes falou de Google Street View e de Google Art. Normalmente, nesse tipo de colóquios, quando o tema central é literatura, fala-se de obras clássicas. Mas Google Art? No intervalo das conferências tentei falar com a palestrante. Apresentei-me e mencionei que a tinha contatado por e-mail. Ela é autora de uma das mais contundentes críticas ao filme Ci-dade de Deus, e por isso eu queria muito ouvi-la. 
Ela me explicou que estava em final de semestre e pediu para lhe enviar outro e-mail. Enviei. Não recebi a resposta. É que eventos assim não são muito propícios para conversas. No dia seguinte tentei a mesma coisa com outra professora. Não consegui. Cada palestrante era logo cercado por amigos, fãs, estudantes, e desaparecem na multidão. Mas o dia não foi totalmente perdido. 
Falei com outros dois professores que até hoje me mandam e-mails com dicas e artigos do meu interesse. Estranho o fato de todos pedirem para serem tratados por você. Quanta cordialidade! Na Polônia, e sobretudo em Portugal, as pessoas são hiperatentas a títulos. 
Na universidade é sempre: Estimado sr. doutor/professor. Já nas aulas da minha professora brasileira no Algarve, podíamos tratá-la pelo primeiro nome. À tarde fui com o Mario a uma roda de samba de um amigo dele. O convite de cinco linhas avisava com humor: "Nós somos mesmo ruim." Era num barzinho bem simples mas lotado. Quase todos da turma eram advogados ou mulheres de advogados. Tocavam instrumentos e cantavam aos altos brados. E sambavam. Como sambavam!
Gostei de ver gente que passa a vida numa ocupação séria, sai do trabalho, vai a um bar e descarrega a energia. É nessas horas que se nota uma imensa diferença entre brasileiros e os polacos. Na Polônia, as pessoas também saem, mas nem sempre estão prontas para desfrutar o tempo livre. Reclamamos muito. 

3 DE JULHO
_Recebi resposta de um jovem da Central Única da Favela (Cufa), João Xavier, que eu havia contatado para que me falasse de sua experiência de aprender cinema no bairro Cidade de Deus. Combinamos de nos encontrar. Me programei para assistir a alguns filmes do festival CineCufa. Assisti a sete curtas. Puro horror. A maioria dos filmes cabia em uma de duas categorias: clichê de gêneros televisivos ou documentário amador. 
Muitos enredos sobre meninas que ganham o pão com o corpo, ou de amores infelizes. A linguagem era copiada de novelas. Na segunda categoria, os realizadores não mostravam o mínimo zelo em tornar o filme compreensível. Vi também duas coisas interessantes. A primeira era uma animação, Flor na Lama. Combinava a participação de atores com a animação tradicional e digital. Não imitava. 
O segundo chamava-se Baianinho, uma comédia sobre um rapaz de Salvador que chega a São Paulo para encontrar trabalho. O filme era bom pela montagem, narrativa (finalmente algo com início, meio e fim) e fina ironia. Depois fui encontrar meu contato, João, na livraria do Centro Cultural Banco do Brasil. Ele tem 26 anos. Formou-se em história na puc. Vive na Baixada Fluminense, em São João de Meriti. 
Por dois anos estudou na Cufa, na Cidade de Deus. Estava empolgado com os preparativos da festa de sétimo aniversário do Mate com Angu, o cineclube de São João de Meriti do qual é cofundador. Faz rap e foi enviado à Europa pelo governo para promover a cultura brasileira. Não come carne, não fuma nem bebe. Quando perguntei por quê, ele disse: "Entrei para uma igreja que mudou a minha vida e parei." "Não diga!", me espantei. "Tenho mulher e seis filhos." "Não pode ser!" "E na igreja, acreditou?", perguntou, rindo. João gosta de fazer piadas. Nos despedimos na entrada do metrô. 
Combinamos ir juntos no aniversário do seu cineclube. Voltei para casa contente. Ele me pareceu ser a pessoa certa para o que eu queria explorar - ligado ao cinema, representante de "lá", uma ponte entre o discurso acadêmico e a vivência pessoal. 

4 DE JULHO
_Conforme o combinado, cheguei às cinco e pouco da tarde na estação de metrô da Pavuna, a última na zona norte. João chegou atrasado. Entramos no carro e fomos até Nova Iguaçu. 
Como a festa de aniversário só começava às 19 horas, atravessamos a rua e sentamos num bar tão sujo e cinzento que me lembrou a era comunista na Polônia. Minha geração associa o comunismo à cor cinza, à sujeira, ao descuido com o corpo e o espaço. As cidades eram cheias de migrantes das zonas rurais que pouco sabiam de higiene. 
Pela linha oficial, roupas coloridas eram vistas como ousadas e de mau gosto. Todo o mundo devia se vestir igual, para assim manifestar igualdade e fraternidade. A mesa em que sentamos cheirava a urina.
Pouco a pouco se juntaram a nós mais cinco ou seis brasileiros, uma venezuelana, uma espanhola, uma inglesa e eu, polaca. À exceção da venezuelana, que tinha vindo ao Brasil como turista, as outras, como eu, vieram complementar alguma pesquisa de tese. 
Na festa tive uma conversa bacana com o João. Estávamos com fome e fomos comprar alguma coisa para comer. "Oi, meu irmão, você sabe onde se pode comer algo a essa hora?", perguntou João a um gari. Depois me explicou: "Olha, é assim que se deve falar com as pessoas da rua. Você tem de ser humilde." "Quer dizer que ao tratar alguém de 'senhor' sou mal-educada?" "Mal-educada, não. Mas a forma 'senhor' pode apontar para uma distância social." Essa coisa de "tu", "você" e formas mais formais é um verdadeiro caos para mim.
Não devo tratar professores por "senhor professor", para criar uma relação mais amigável. Não posso tratar as pessoas na rua de "senhor", porque se sentem ofendidas pela minha relação superior? Na Polônia só se tratam as pessoas por tu/você quando se tem intimidade plena. 
Por outro lado, todo o mundo aqui chama o taxista de "moço" e ninguém vê nenhum problema. Para mim, é uma designação que mostra desprezo e desrespeito com o taxista. 
É como ignorar a dignidade de quem desempenha determinado ofício, e apontar para a sua utilidade como empregado. Tenho dificuldade de usar o termo "moço" no meu linguajar. 

5 DE JULHO
_Domingo calmo. De manhã fui com o Mario a um passeio pelo Aterro e depois à casa dos pais dele. Lá, comemos o melhor prato do mundo - bacalhau com natas (creme de leite). Que delícia! Normalmente não aturo o cheiro desse peixe, mas bacalhau com natas... podia comer uma vez por semana até o fim da vida. Em seguida fui até o Museu da República assistir a um debate sobre "A Constituição de 1988: a voz e a letra do cidadão". João seria um dos palestrantes. 
O debate foi interessante. As informações que mais me chocaram tinham a ver com ações da polícia. Um dos debatedores lembrou ter aberto, na Espanha, uma palestra sobre segurança pública mostrando a foto de um Caveirão do BOPE, sem maiores explicações.
Na frente do carro blindado os policiais haviam pintado os dizeres: "Sai da frente, vim buscar a sua alma." Alguém da plateia levantou-se: "Mas é inadmissível que traficantes tenham carros assim!" "Esse é um carro da polícia", esclareceu o palestrante. 
 Outro dado que me chocou foi o número de pessoas mortas por policiais. Mais de mil por ano no estado do Rio, talvez 1 400. O Rio está em guerra. É uma ideia incômoda, mas pouco a pouco me habituei ao fato de que tenho de aceitá-la para entender esta cidade. Voltei para casa pensativa. 
Era o terceiro dia de festa junina no condomínio do Mario. Em geral, não sou muito fã de festas populares, mas é sempre bom ver o que se faz nestas ocasiões em outros países. Alguns elementos se repetem mundo afora. 
Sempre há comida tradicional, especialmente doces. Sempre há música pouco sublime. Sempre há muito barulho. A atitude dos participantes também é parecida mundo afora: comer, beber, não pensar. Para mim, festas populares são como a televisão. A única diferença é que, quando se vê tevê, as pessoas comem sentadas em frente à tela. 

7 DE JULHO
_Passei quase o dia todo na Uerj, dessa vez com grande proveito. Encontrei alguns dos livros da minha lista e fotocopiei toneladas de papel. Livros no Brasil são tão caros que eu nunca poderia comprar todos de que preciso. 

9 DE JULHO
_O grande dia chegou. Finalmente tive um encontro com o professor Paulo Jorge Ribeiro, um dos mais ativos defensores do filme de Fernando Meirelles. Apresentei-me, expliquei mais uma vez o que fazia no Rio e por que escolhi Cidade de Deus como o eixo da minha tese de mestrado.
As primeiras palavras do professor Ribeiro foram: "Meu Deus, falas como uma portuguesa!" Falamos do filme e ele me perguntou o que achava do Brasil- e se estava gostando da estadia. "Claro que gosto, mas é difícil", respondi. Comecei a explicar a confusão que sentia em relação ao Rio depois de assistir a tantas palestras. "Não é verdade que a miséria é sempre igual", observou o professor Ribeiro. "Trata-se de uma hipocrisia. 
A miséria, no Brasil, é muito diferente da miséria em Mumbai. E na Europa? Vocês têm algo parecido com o que temos aqui?" Respondi que não e falei das minhas dificuldades de entender o Rio como um organismo. Cidade partida ou unida? As pessoas se veem, como ouvi de um antropólogo na Uerj, ou se ignoram, como sustenta João? "Você vai ouvir ainda muitas opiniões totalmente contraditórias", ele disse. "No Brasil nada é. Tudo é." Saí do gabinete do Paulo Ribeiro ainda mais confusa. 

12 DE JULHO
_Nos últimos dias passei a maior parte do tempo comprando livros. Em matéria de compras sou pouco feminina. Odeio comprar roupa - ah, esses espelhos cruéis nos provadores das lojas! Mas livros são outra coisa e no Rio perdi qualquer mesura. Vi tanta coisa interessante que não consegui fazer uma seleção, e o resultado foi oneroso: gastei mais de 350 reais para despachar 17 quilos pelo correio. 
 Hoje Mario me apresentou à sua bicicleta e dei pulos de alegria. Fiz o primeiro dos meus passeios em duas rodas. Segundo o Google Maps, rodei quase 25 quilômetros do Catete até o Leblon, ida e volta. Visitei duas livrarias e um sebo. Foi a primeira vez que vi Copacabana à luz do dia. Cheguei no shopping do Leblon cansada e suada.
As minhas pernas estavam sujas de graxa da bicicleta e minha cara estava vermelha como uma beterraba. Senti-me um pouco intimidada. Estava num lugar muito mais luxuoso do que os shoppings que conheço na Polônia. 
Não que nossos centros comerciais sejam sujos ou malcuidados, apenas não há tanta ostentação no ambiente. As pessoas vão ali para comprar, por isso há pouco espaço para sentar, e quando há, são bancos ou cadeiras, e não sofás de couro. Os banheiros são humildes, sem grandes invenções nem estilo. No do Leblon, o espaço me lembrou a recepção de um hotel de várias estrelas. 

13 DE JULHO
_Falta só uma semana para o meu regresso à Europa. Tenho de me esforçar para conseguir fazer tudo. Quando não estou em bibliotecas, escrevo o trabalho para a disciplina "Cinema e outras artes". Para completar meus créditos ainda preciso escrever um artigo de quinze páginas. Mario viajou para participar de um congresso em Santiago e fiquei sozinha em casa. 
Comecei a alugar filmes brasileiros. Todos os dias vejo um. Normalmente depois das minhas sessões de cinema doméstico falo com João. As conversas desembocam em temas mais abstratos como identidade ou sentido da vida. "Você conhece Todorov, o linguista?", perguntou João um dia desses. "É autor de um livro chamado O Homem Desenraizado. Ele cresceu numa ditadura socialista, mas teve uma formação acadêmica na França. Por mais que sua cabeça tenha se tornado francesa, mantém as raízes búlgaras. No fim, não se considera nem uma coisa nem outra. 
Talvez não tenha percebido que ele é, na verdade, a ponte." "E você, também se considera uma ponte?", perguntei "Não: acho que sou um tijolo da ponte. Um entre centenas ou milhares de pessoas que conseguem circular pelos dois mundos." "E você se sente bem nesse papel?" João começou a rir. E disse: "Ser desenraizado é desconfortável. A diferença entre a situação de Todorov e o Brasil é que aqui vivemos na mesma cidade, no mesmo país, na mesma língua, o que evidencia as diferenças de classe. Pobres e ricos são diferentes em qualquer lugar, mas aqui as diferenças são gritantes. 
Ao mesmo tempo em que vivemos em condições parecidas com as da África, posso morar numa favela horrível e ter um laptop. Somos livres e temos o direito ao consumo." Quando eu morava em Portugal, pensava: Meu Deus, nunca estive num país tão parado. Aqui nada acontece de novo, comparado à Polônia. Mas o Brasil, comparado à Polônia, é como um trem-bala. O Brasil está vivo. 

17 DE JULHO
_A minha estadia no Rio está para acabar. Hoje teve o jantar de despedida com João, pois ele viajaria no dia seguinte. Em frente ao restaurante, testemunhei uma cena perturbadora. 
No chão da rua, um garoto de mais ou menos 10 anos estava tendo uma convulsão. Havia pessoas em volta, e ninguém fazia nada para ajudá-lo. Eu queria chamar uma ambulância, mas uma mulher interveio: "Ele está fingindo. Treme assim todos os dias para roubar dinheiro de quem se aproxima." Eu não sabia se devia ou não acreditar naquela senhora. Quando saímos do restaurante, o menino não estava mais ali. 

18 DE JULHO
_Kasia e Bartek, o casal polaco que eu tinha conhecido durante a expedição à Rocinha, voltaram ao Rio depois de uma viagem ao Paraguai e a vários cantos do Brasil. Combinamos de ir ao Jardim Botânico no domingo. A flora brasileira é tão estupenda! Uma árvore no meio da rua faz tanta sombra que a pessoa fica arrepiada. 
Por isso, do Jardim Botânico eu esperava uma exuberância caótica, mas fiquei decepcionada - a natureza tão organizada, as plantas com tanto espaço para crescer. não tinham de competir entre si, lutar para ter luz. Sim, eram majestosas, mas "bem comportadas", sem a vitalidade louca que eu imaginava. Kasia e Bartek contaram que a aventura paraguaia deles tinha sido horrível. 
O Brasil, em comparação, lhes parecia a Europa. No Paraguai, muitas vezes o único táxi disponível era uma charrete. "Aqui, nos sentimos muito mais seguros", disseram. 

20 DE JULHO
_Penúltimo dia no Rio. Me deu vontade de fazer algo especial, diferente. Kasia me convenceu de que deveríamos mudar nosso visual para surpreender todo mundo na Polônia. Ela pesquisou na internet tranças artificiais estilo rastafári, e optamos pela técnica anunciada como "miojinhos": apliques de plástico presos com elástico ao cabelo natural, dividido em trancinhas. Nos encontramos na estação de metrô Uruguaiana às 9 horas, e Kasia explicou que o procedimento todo duraria umas cinco horas. Entramos numa rua onde se viam várias placas anunciando miojinhos. 
Optei por fios de cor meio marrom, meio ruivo. Kasia escolheu fios mais grossos, pretos. As nove horas seguintes foram de horror. O problema é a dor. A pele do couro cabeludo fica em brasas à medida que os elásticos vão sendo apertados. A nossa pele estava tão esticada que mal podíamos piscar os olhos. Voltei para casa, me olhei no espelho e desandei a chorar. Mal consegui dormir de tanta dor de cabeça. O menor toque no couro cabeludo era um suplício. 

21 DE JULHO
_Cheguei com fome no aeroporto. Comprei meu último mate (um mês de Brasil foi suficiente para me tornar totalmente dependente do mate natural) e pão de queijo. Depois entrei numa loja e me dei de presente um par de havaianas com a bandeira brasileira. 
No saguão de embarque, estranhei o péssimo inglês dos funcionários de várias companhias aéreas. Alguns anunciavam os voos com sotaques tão fortes que eu mal entendia do que se tratava. Além disso, faziam chamadas quase ao mesmo tempo. Quando decolamos, me pus a chorar. O Rio havia se tornado uma cidade para onde vou querer voltar sempre. Melhor não pensar nisso. 

23 DE JULHO
_Os Wróblewski percorreram 1 400 quilômetros de carro para me encontrar em Portugal. Minha irmã de 14 anos foi logo gritando: "Meu Deus, Mária, o que você fez na cabeça?" 

 20 DE SETEMBRO
_Faz dois meses que voltei do Brasil para casa. Reencontrei meu namorado, tratei de quase todas as formalidades na minha universidade, voltei a praticar ioga e comecei a organizar o meu jardim. Revi a maioria dos meus amigos e repeti umas 100 vezes a minha aventura brasileira. 
Tudo aqui ainda me parece conhecido, parado, morto. Sempre tive muito orgulho da minha cidade na Polônia, por ser um lugar onde todos participam ativamente da organização de eventos culturais.
No Brasil comecei a ver as coisas sob outra ótica. Em Podkowa Lesna realizamos muita coisa, mas só para o nosso próprio interesse. 
Na nossa vizinhança há aldeias de baixa renda com gente que mal consegue sobreviver com o dinheiro da sua produção agrícola e minioficinas. Quando me lembro do dinamismo do cineclube Mate com Angu, me dou conta do quanto a minha cidade é fechada. Jamais olhamos em direção aos que moram à nossa volta. Nas aldeias da -vizinhança não há cartazes anunciando nossos concertos. 
Em vez de trazer as crianças do campo e lhes mostrar o quanto a vida tem a oferecer, não partilhamos nada do que temos de graça. Recebo e-mails dos amigos, professores ou outras pessoas que encontrei no Brasil. Leio livros que estavam à minha espera. Participo de eventos que têm por tema a cultura do Brasil. Ouço rádios cariocas, roubo filmes brasileiros da internet. Quando a saudade aumenta, vejo fotos de satélite do Rio. 
É só concluir minha tese de mestrado, ganhar algum dinheiro, e estou de volta.

 * Correção em relação à versão impressa da revista.