quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Terceiro livro da trilogia dos Polacos

POLACOS DO BRASIL – a etnia em números e sobrenomes

Ulisses Iarochinski publica “Polacos do Brasil” um livro literalmente pesado. Com 660 páginas, pesa 1 kg e 580 gramas no formato 20,32 x 3,78 x 25,4 cm.



O livro levou anos de pesquisas para ser finalizado. Trata-se de quase uma “bíblia” sobre os imigrantes polacos no Brasil. Com ele, Iarochinski completa uma trilogia iniciada com “Saga dos Polacos”, em 2000, e seguida de “Polaco”, em 2010.

Iarochinski vem estudando e escrevendo sobre os polacos e a Polônia desde a década de 80, em jornais, revistas e livros. Também fazendo reportagens, documentários e programas na televisão e no rádio. Até peças de teatro chegou a participar, como ator, em Cracóvia. Este ano já publicou “Terras da Polônia” que se soma a outros cinco livros sobre a polonidade no Brasil.


“Polacos do Brasil é o que demandou mais tempo de pesquisa: cerca de 20 anos. “Ambicioso, quis confrontar informações, teses e livros que fui lendo ao longo dos anos. Decidi enfrentar algumas verdades sacramentadas, tais como o marco inicial da imigração no Brasil e o número efetivo de imigrantes polacos assentados no país”, confessa o escritor.

O resultado é uma obra que desvenda a presença de colônias polacas no Espírito Santo muito antes dos dois grupos que chegaram, em Brusque, e revela outras em Goiás, São Paulo e nos três Estados do Sul que nunca foram mencionadas.
Aponta que os polacos começaram a chegar ao Brasil, quando o português Pedro Álvares Cabral desembarcou em Porto Seguro, em 1500. A primazia do feito coube ao intérprete de várias línguas do oriente, Kacper, rebatizado Gaspar da Gama.
Iarochinski confirma que o polaco da cidade de Poznań, na Polônia, foi quem primeiro pisou nas areias brasileiras. Compara estatísticas e estatísticos e, principalmente, discorda de quase todos eles, salvo Jan Pitoń. A conclusão destes estudos contraria os números oficiais dos governos polaco e brasileiro sobre a representatividade numérica da etnia polaca no país.

Os polacos, seus descendentes e brasileiros que carregam algum traço de sangue de imigrantes, inclusive quem se considera de outras etnias e raças, ultrapassa cinco milhões de brasileiros.

“A pretensão era modesta no início, publicar um livro a cada dez anos, mas aí veio a pandemia e a terceira publicação foi sendo adiada. Por outro lado, permitiu encontrar listas dos primeiros assentados em colônias que estavam perdidas. Ainda faltam muitas outras relações de imigrantes polacos, mas isto é trabalho para outros escritores. “Saga dos Polacos” cumpriu e continua cumprindo esta missão de estimular novos estudos, pesquisas e publicações de outros autores. Espero que “Terras da Polônia” e “Cruz Machado” publicados, neste 2022, sirvam de estímulo para outros darem o reconhecimento que a etnia polaca merece no Brasil”, explica Iarochinski.

Para aqueles que buscam o reconhecimento da cidadania polaca e da carteira de polaco há capítulos no livro sobre grafias corretas de nomes e sobrenomes em idioma polaco.

O livro “Polacos do Brasil – a etnia em números e sobrenomes” está disponível para venda no site da amazon.com, neste link:


AUTOR


Ulisses Iarochinski é escritor, radialista, jornalista, professor, historiador, poeta, artista plástico, ator e cineasta. Nasceu em Monte Alegre, Telêmaco Borba – Paraná.

Publicou os livros:
Saga dos Polacos – a Polônia e seus emigrantes no Brasil”,
“Polaco – identidade cultural do brasileiro descendente de imigrantes da Polônia”,
“Cruz Machado – Lenda virou história”,
“Revelando o Contestado”,
“Escrevendo para falar no rádio”,
“Saci”, “José Maria Santos – Ator do Paraná”,
“Sepultados em Harmonia”,
“Lublin com Amor”,
“O Brasil de 1342 – descoberto por Sancho Brandão” e
“Terras da Polônia”.

Participou ainda com artigos nos livros:
“Polscy Brazylijczycy" da Editora da Universidade Maria Skołodowska Curie, de Lublin, Polônia e
“Modernidade em cena - 50 anos de teatro em Curitiba" da Editora Kotter.

Editora: ‎Editor Independente
Data da publicação: 23 novembro 2022
Idioma: ‎ Português
ISBN-13: ‎ 979-8353605683
Capa: cartolina comum colorida
Páginas: 660 Dimensões: ‎ 20.32 x 3.78 x 25.4 cm
Peso: ‎ 1.58 kg



domingo, 13 de novembro de 2022

NOITE DE EMOÇÃO WISŁA


Nesta noite, de sábado, não precisei ir muito longe de casa para me emocionar várias vezes.
Fui à 38.ª Feira de Santa Rita, no Pavilhão de Exposições do Parque Barigui.

Recebi convite de última hora do meu amigo, dos tempos de Cracóvia, Lourival Araújo Filho, para assistir a mais um espetáculo do grupo folclórico mais antigo do mundo, o Wisła de Curitiba, que ano que vem completará 95 anos de fundação. Nem na Polônia existe um grupo tão longevo.

Lourival é o diretor coreografo do grupo. Fez dois anos de curso de coreografia de folclore polaco na Universidade de Lublin.

E de novo, e de novo... O Wisła (Vístula em português - nome do maior rio polaco) me emocionou e emocionou a cada dança, a cada canto.

Embora brasileiras de quinta geração de emigrantes polacos, os rostos das belas moças dançarinas-cantoras do grupo me transportaram para os espetáculos de grupos folclóricos que assisti em Lublin, Rzeszów, Częstochowa, Nowy Sącz e Cracóvia.

Vi nos semblantes que elas mantêm o sorriso polaco de séculos. O mesmo sorriso nos olhos que nunca pereceu… O sorriso da esperança polaca que nenhum ódio conseguiu dizimar ao longo dos séculos.

Sorriso de guerreiros vencedores de uma nação que teima em não desaparecer.

Foi uma noite de enxugar os olhos várias vezes pela emoção da beleza, dos passos, dos trajes coloridos, do canto e das músicas polacas populares.

As duas bailarinas na dança da oferenda apresentam a cesta do pão e do sal, símbolo da hospitalidade polaca.


quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Parada de ônibus "Jovem Noiva de Cracóvia",
quadro de Piotr Stachiewicz, reprodução de Sylwester Stabryła
Foto: Barbara Gortat

Se você estiver viajando de ônibus pela região central da Polônia, poderá ter uma surpresa agradável. Treze pontos de ônibus em pequenas vilas próximas da cidade de Łódź foram embelezadas com incríveis murais de pinturas polacas clássicas. 

Estes chamados "Pontos de ônibus folclóricos" criaram uma galeria ao ar livre única, que traz a arte para as áreas rurais e constitui uma atração turística estupenda.

SÍMBOLOS DO CAMPO

"Verão Indiano", quadro de Józef Chelmoński,
reprodução de de Sylwester  Stabryła
Foto: Barbara Gortat

O ponto de ônibus desempenha um papel vital na vida das pequenas vilas polacas. Muitas vezes, é um dos poucos lugares disponíveis ao público e um ponto de concentração para a comunidade local. É também uma porta de entrada simbólica para o mundo mais amplo que se encontra além da cidadezinha.

Em 2015, Barbara Gortat, natural de Nowy Pudłów – uma pequena vila perto da cidade de Łódź, na Polônia – teve ideia de como preservar o ponto de ônibus local em ruínas. Ela o renovou e pediu ao premiado pintor Sylwester Stabryła que o enfeitasse com uma reprodução da famosa pintura polaca do século XIX "Babie Lato" (verão indiano) de Józef Chełmoński. Todo o projeto foi coordenado pela Fundação Tu Brzoza (Aqui Bétula), que visa facilitar o desenvolvimento social, cultural, artístico e ecológico.

Desde então, graças à fundação, doze outras paradas de ônibus feitas de tijolos nas proximidades de Nowy Pudłów foram embelezadas com murais impressionantes. Estes pontos constituem uma galeria exterior única. Eles exibem principalmente reproduções de pinturas clássicas polacas. Três deles são adornados com obras de arte originais. Os murais desta galeria estão ligados às tradições rurais e ao folclore. Gortat explica:

"O motivo principal da nossa galeria é significativo – as obras reproduzidas ou originalmente criadas estão enraizadas […] em símbolos do campo: o trabalho agrícola, o amor pela natureza e as tradições locais desvanecidas".

PRIMAVERA, CEGONHAS E GIRASSÓIS

"Primavera" de Jacek Malczewski,
reprodução de Sylwester Stabryła,
Foto: Barbara Gortat

As reproduções dos pontos de ônibus nem sempre são cópias exatas de seus originais. Em alguns casos, são adaptados às construções de tijolos e às vezes exibem – em certa medida – os estilos de seus criadores, que são quatro.

Como mencionado anteriormente, Sylwester Stabryła pintou a primeira reprodução da série retratando o Verão Indiano. Este célebre quadro foi originalmente criado, em 1875, pelo aclamado pintor realista Józef Chełmoński (1849-1914). Magdalena Wróblewska o descreve assim:

"Sob um céu nublado, uma garota descalça vestindo uma saia e camisa branca está deitada no chão pardo, brincando com um fio de teia na mão erguida."

Em 2018, Stabryła foi o autor de mais duas reproduções para a Fundação Aqui Bétula. Criou um mural mostrando Panna Młoda w Stroju Krakowskim (Jovem Noiva em Vestido de Cracóvia) de Piotr Stachiewicz para o ponto de ônibus em Busina. O pintor viveu de 1858 a 1938 e é especialmente valorizado por seus retratos de mulheres vestidas com trajes folclóricos tradicionais de Cracóvia.

Como o próprio título indica, Jovem Noiva em Vestido de Cracóvia é um desses retratos. Infelizmente, a data de criação desta pintura encantadora é difícil de determinar. O outro mural de ponto de ônibus de Stabryła, de 2018, foi pintado em Anusin. A obra mostra o trabalho de 1900 de Jacek Malczewski "Wiosna" (Primavera). Malczewski, que viveu de 1854 a 1929, foi um dos pintores simbolistas mais importantes da Polônia. Sua magistral "Primavera" mostra uma representação alegórica da temporada como mulher:

"Enérgica, sorridente e gorda – toda a sua pessoa evoca a vitalidade da Primavera."


"Colheita"de Włodzimierz Przerwa-Tetmajer,
reprodução de Natalia Grala,
Foto: Fundacja Tu Brzoza

Duas reproduções para "Pontos de ônibus folclóricos" também foram de autoria, em 2018, de Natalia Grala, uma pintora e artista de vitral da vila de Maksymilianów, perto de Łódź.

Em "Wólka", ela criou um mural mostrando "Żniwa" (Colheita) do pintor modernista Włodzimierz Przerwa-Tetmajer (1861-1923). Nesta tela, de 1902, o artista parece traçar um paralelo entre o poder vivificante da mulher segurando um bebê na frente e o poder nutridor da terra que produz colheitas. O outro mural de Grala, de 2018, foi pintado em um ponto de ônibus em Feliksów e apresenta "Ojczyzna" (Pátria) de Jacek Malczewski. Este belo trabalho mostra uma mulher e duas crianças com um prado florido ao fundo:

"A mulher na pintura de Jacek Malczewski é uma personificação da Polônia – uma mãe aflita procurando um lugar feliz no mundo para ela e seus filhos. […] A peça foi escrita, em 1903, quando a Polônia – dividida entre as três potências ocupantes – não figurava no mapa da Europa."

Stabryła embelezou mais três paradas de ônibus com reproduções, em 2020. Em Chropy, ele criou um mural mostrando "Na Pastwisku" (O pasto), de 1875, de Stanisław Witkiewicz, pintor realista e teórico da arte que viveu de 1851 a 1915.

Piotr Policht em sua descrição deste quadro escreve que ela mostra "uma jovem pastora descansando em um campo [rochoso] sob um céu pesado e de chumbo, voltando-se ternamente para uma de suas ovelhas".

Outro mural, de 2020, de Stabryła apareceu em Sędów, onde o ponto de ônibus local foi adornado com uma reprodução de "Kobieta z Kurą" de Julian Fałat (Mulher com uma galinha).

Julian Fałat (1853-1929) é mais lembrado como um pintor de paisagens, mas na década, de 1880, fez vários trabalhos mostrando a vida dos camponeses. "Mulher com uma galinha", por volta de 1885, parece ser uma dessas obras. Pois é um retrato maravilhoso de uma jovem segurando ternamente uma galinha fêmea.

Também, em 2020, Stabryła ornamentou o ponto de ônibus em Jeżew com dois murais mostrando pastéis do pintor e dramaturgo modernista Stanisław Wyspiański (1869-1907) o maior gênio mundial de seu tempo. Um deles é uma reprodução de "Słoneczniki" (Girassóis), de 1895.

Representação maravilhosa das flores criada como um desenho policromado para a Igreja Franciscana de Cracóvia, que foi decorada por Wyspiański.

"Quintal Rural" de Tadeusz Makowski,
reprodução de Olga Pelipas,
Foto: Barbara Gortat

O outro mural, em Jeżew, apresenta "Portret Józia Feldmana" (Retrato de Józio Feldman), de 1905, uma deliciosa imagem do filho do amigo de Wyspiański, o crítico literário e dramaturgo Wilhelm Feldman. Neste ponto, pode-se acrescentar que esta reprodução é a única da coleção "Pontos de ônibus folclóricos" cuja ligação original com o campo parece pouco clara (não que isso deva ser um problema).

Outra reprodução de 2020 para a Fundação Aqui Bétula foi criada por Olga Pelipas, formada pela Academia Estatal de Design e Artes de Karków. No ponto de ônibus em Drużbin, ela pintou um mural representando "Wiejskie Podwórko" (Quintal Rural) do pintor Tadeusz Makowski, que viveu, entre 1882 e 1932. O "Quintal Rural" foi originalmente pintado, em 1928, e nele pode-se ver uma criança parecida com uma boneca de pé ao lado de aves de fazenda.


"1928, um ano que foi um marco na carreira do artista, Makowski chegou a um estilo altamente individual de retratar seus temas, único no contexto da arte europeia. As formas generalizadas eram agora cercadas por linhas de contorno que as tornavam geométricas."


O ano de 2020, também viu a criação de uma reprodução de "Pontos de ônibus folclóricos" por Marcin Jaszczak, graduado da Academia de Belas Artes de Łódź. Seu mural apresentando "Bociany" (Cegonhas), de 1900, obra de Józef Chełmoński foi pintado em Brudnów. A magnífica "Cegonha" é descrita no site do Museu Nacional de Varsóvia:

"Uma vista primaveril do campo polaco […], ao meio-dia. Durante a pausa para o almoço, um lavrador e seu filho admiram uma multidão de cegonhas no céu."

UM BANQUETE PARA OS OLHOS

Quadro de Natalia Grala
Foto: Barbara Gortat

Três dos pontos de ônibus folclóricos foram adornados com obras de arte originais. A primeira deste trio, o ponto em Pudłówek, foi decorada por Natalia Grala, em 2016.

Dentro da construção de tijolos, ela pintou um mural mostrando dois homens vestidos com trajes folclóricos característicos da região de Sieradz, cidade nos arredores de Pudłówek. As paredes externas da parada foram embelezadas com padrões coloridos que remetem aos tradicionais "Wicinanki" (recortes de papel)  Sieradz. Curiosamente, usando a técnica do vitral, Grala estendeu esses padrões sobre as janelas do batente. Graças a Grala, o ponto de ônibus em Pudłówek tornou-se uma verdadeira festa para os olhos.

Um ano depois, Sylwester Stabryła criou um mural autoral para a fundação em Góra Bałdrzychowska. Ele embelezou o ponto de ônibus com uma cena intrigante inspirada em "Chłopi" (Os Camponeses), romance do vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, o polaco Władysław Reymont (1867-1925).

"Os Camponeses", publicado em fascículos na imprensa nos anos 1900, retrata de forma cativante a vida de uma comunidade rural localizada nas proximidades de Łódź ao longo de um ano inteiro.

O terceiro ponto de ônibus embelezado com arte original está em Rudniki. Em 2020, um mural fmostrando um "rusałka" ou uma bruxa da mitologia eslava apareceu naquela vila. Barbara Gortat comentou assim sua obra:

"Em Rudniki, Marcin Jaszczak pintou uma impressão contemporânea – um belo retrato de uma menina com uma coroa de flores na cabeça, referenciando motivos que aparecem em nossa galeria […] e em suas obras, que incluem muitos espíritos da floresta, uma ninfa e rusałka; o ponto de ônibus local foi agraciado pelo Rudniki Rusałka."

UMA LINDA TRILHA

"Rudniki Rusałka" de Marcin Jaszczak, 
Foto: Barbara Gortat

Todas as paradas de ônibus transformadas pela Fundação Aqui Bétula ainda estão  vivas. Graças aos murais de Stabryła, Grala, Pelipas e Jaszczak, as pessoas que chegam a estes pontos são colocadas diante de exposições em homenagem à arte célebre. Isso é especialmente valioso em uma área rural onde o acesso físico à arte é limitado pelo afastamento dos museus.

Os habitantes das vilas onde estão localizadas os pontos gostam muito e acham as obras muito agradáveis. Em uma reportagem de TV, de 2020, sobre seu projeto  Agnieszka Gortat, moradora de Chropy, disse o seguinte sobre seu mural local:

"A parada é muito bonita, quem passa por lá pára e tira uma linda fotografia porque não tinha visto estas obras no campo, é claro!"

No entanto, os referidos murais são uma atração não só para os transeuntes e habitantes locais. Eles também atraem turistas, por exemplo, de Łódź. Ao que parece, os passeios turísticos de bicicleta ao longo do trilho dos "Pontos de ônibus Folclóricos", que se estendem por cerca de 50 quilômetros, tornaram-se uma forma popular de os apreciar.

Para facilitar a visita aos pontos de ônibus populares, a fundação preparou um mapa especial no Google Maps que mostra todas as suas localizações. Você pode encontrá-lo aqui.

A BELEZA DO CAMPO

"O Pasto" de de Stanisław Witkiewicz,
reprodução de Sylwester Stabryła,
Foto: Barbara Gortat

A Fundação Aqui Bétula fez uma pequena pausa na criação de novos murais aos pontos de ônibus populares, mas dois serão criados este ano - permitindo que esta incrível galeria ao ar livre continue a crescer!

Para encerrar, há ainda um projeto um pouco semelhante, que foi realizado em Czarny Las. Em 2019, seis pontos de ônibus nesta vila – perto de Varsóvia – foram agraciados com reproduções impressas de pinturas de Józef Chełmoński

Vale acrescentar que este artista vivia e trabalhava na cidadezinha vizinha de Kuklówka Zarzeczna. Nas paradas de ônibus Czarny Las mencionadas, pode-se admirar cópias em grande formato de obras como "Kaczeńce" (Cravos de defunto), "Wiosna" (Primavera) ou "Polna Droga" (Estrada de chão).

Andar de ônibus pelas vilas polacas pode ser uma aventura bastante agradável. Os passageiros podem não só contemplar a beleza do campo, mas também encontrar fabulosas obras de arte!

Texto: Marek Kępa
Tradução: Ulisses Iarochinski


segunda-feira, 5 de setembro de 2022

GOVERNO DA POLÔNIA QUER 1,3 DE EUROS DE REPARAÇÃO

Varsóvia completamente destruída pelos alemães,
enquanto russos e ucranianos assistiam do outro lado do rio Vístula

Governo da Polônia quer 1,3 trilhão de Euros da Alemanha pela ocupação nazista
O anúncio foi feito nesta quinta-feira (01/09) pelo vice-primeiro-ministro polaco, Jarosław Kaczyński, do Partido Direito e Justiça (PiS), no dia em que se completam 83 anos do início da invasão da Polônia pelos alemães nazistas.

Kaczyński fez a declaração no lançamento de um relatório há muito esperado sobre o custo para o país dos anos da ocupação alemã nazista. Por cinco anos, uma equipe de cerca de 30 economistas, historiadores e outros especialistas trabalhou no documento.

"Não apenas preparamos o relatório, mas também tomamos a decisão sobre os próximos passos. Vamos pedir à Alemanha para abrir negociações sobre as indenizações", disse Kaczyński, admitindo que será "um longo e difícil caminho", mas que está otimista.

O governo polaco argumenta que o país foi a primeira vítima da guerra e nunca foi totalmente compensado pela vizinha Alemanha, que é, agora, um dos seus principais parceiros na União Europeia.

Segundo Kaczyński, é uma soma com a qual a economia alemã pode "lidar perfeitamente". Ele ressaltou que dezenas de países em todo o mundo receberam compensação da Alemanha e que "não há razão para que a Polônia fique isenta dessa regra".

"Os alemães invadiram a Polônia e nos causaram enormes danos. A ocupação foi incrivelmente criminosa, incrivelmente cruel e teve repercussões que em muitos casos continuam até hoje", disse Kaczyński. Durante a cerimônia, o presidente polaco, Andrzej Duda, afirmou que a Segunda Guerra Mundial foi "uma das tragédias mais terríveis da nossa história".

O governo federal alemão não vê nenhuma base legal para o pedido de reparação da Polônia. Berlim argumenta que a então liderança comunista polaca renunciou às reparações alemãs em 1953.

"A posição do governo federal permanece inalterada, a questão das reparações foi esclarecida", escreveu um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores em e-mail obtido pela agência de notícias Reuters.

"Há muito tempo, em 1953, a Polônia renunciou a outras reparações e confirmou essa renúncia várias vezes. Esta é uma pedra angular da ordem europeia de hoje. A Alemanha mantém sua responsabilidade política e moral pela Segunda Guerra Mundial", continua o e-mail.

O governo da Polônia, no que lhe concerne, rejeita a declaração de 1953, feita pelos então líderes comunistas do país sob pressão da União Soviética.

Berlim também justifica que todas as reivindicações relativas a crimes alemães na Segunda Guerra Mundial perderam a validade, o mais tardar, com a assinatura do Tratado Dois-Mais-Quatro, em 1990, o qual vale como "ponto final na questão da reparação".

O tratado foi assinado pela República Federal da Alemanha, a República Democrática Alemã e as quatro potências que ocuparam a Alemanha desde o fim da Segunda Guerra Mundial: Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e União Soviética e foi a base para a reunificação alemã.

O responsável do governo da Alemanha para a cooperação teuto-polaca, Dietmar Nietan, disse, em comunicado, que a data de início da Segunda Guerra Mundial "continua a ser um dia de culpa e vergonha para a Alemanha", e trata-se do "capítulo mais sombrio" da história do país.

CRÍTICAS DA OPOSIÇÃO POLACA

Antes da apresentação do relatório, o líder da oposição polaca e ex-presidente do Conselho da União Europeia (UE), Donald Tusk, criticou o projeto. Para ele, o PiS não está preocupado com o pagamento de indenizações, mas com uma campanha política doméstica.

"O líder do PiS, Jarosław Kaczyński, não esconde que quer construir apoio ao partido no poder com esta campanha anti-alemã", disse.

O deputado da oposição Grzegorz Schetyna também considera que o relatório é apenas um "jogo na política interna", argumentando que o seu país precisa "construir boas relações com Berlim".

Em 1º de setembro de 1939, a Alemanha nazista invadiu a Polônia. Dos cerca de 35 milhões de habitantes do país na época, cerca de 6 milhões foram mortos - entre eles cerca de 2,7 milhões de polacos de origem judaica.

A capital, Varsóvia, foi praticamente toda arrasada, grande parte do país foi saqueada e destruída.

P.S. E Jarosław Kaczyński não vai pedir indenização à Rússia e a Ucrânia? Os dois países também causaram muitos prejuízos humanos e materiais à Polônia.

Fontes: (DPA, AFP, Reuters, Lusa, ots)

terça-feira, 16 de agosto de 2022

TERRAS DA POLÔNIA - O NOVO LIVRO DE IAROCHINSKI

O escritor paranaense publica seu quarto livro, dos escritos durante o período da pandemia da Covid-19. Iarochinski vem há anos planejando escrever um livro sobre a História da Polônia em português. “Chegou a hora”, diz ele.

Começou com uma série de nove reportagens de página inteira no, então, Jornal do Estado, de Curitiba. Foi anos de estudos e pesquisas sobre a nação de seus ancestrais polacos. Embora não tenha no título a palavra “história”, “Terras da Polônia”, é, sim, o primeiro livro em língua portuguesa sobre a história desta nação que virou Estado em 966 d.C. com a criação do Reino da Polônia.


A capa remete à lenda dos três irmãos eslavos Lech, Rus e Czech, que encontram o grande ninho da Águia Branca. Lech resolve ficar ao pé da árvore de “Gnieszno” e fundar seu país. Rus vai para o Leste e Czech para o Sul. A águia branca se torna o símbolo da nação. Mas segundo o escritor não foi fácil manter a unidade de suas terras, “o Estado polaco ao longo de sua atribulada história teve, territórios de várias extensões e formatos diferentes. Suas terras foram invadidas, ocupadas, doadas, distribuídas, redistribuídas, recuperadas, reconquistadas e perdidas. Da república que cobria as terras europeias entre os mares Báltico e Negro ficou reduzida a 312 mil km² após 1947. Teve um pequeno ganho, em 2002, com a volta de algumas centenas de hectares devolvidos pela República Tcheca e pela União Soviética".




Publicação luxuosa com 330 páginas, coloridas, no formato 17 x 23 cm e capa dura, “Terras da Polônia” traz vários mapas mostrando a evolução e a involução dos territórios da nação polaca desde os tempos pré-históricos, passando pelas diferentes estruturas de Estado como reino, ducados e três repúblicas.

Depois da publicação do último livro “O Brasil de 1342 – descoberto por Sancho Brandão” e da invasão russa na Ucrânia, Iarochinski se viu impelido a escrever sobre as terras da Polônia. Pelo que constatou durante seus quase dez anos residindo em Cracóvia, a Polônia “é uma nação que ainda sonha com a devolução de suas regiões centenares da Volínia e da Podólia. Terras que abrigam as importantes cidades de Lwów, Tarnopol e Stanisławów, entre outras, culturalmente polacas,” assinala, Iarochinski.

O escritor lembra de uma das epígrafes de seu primeiro livro “Saga dos Polacos – a Polônia e seus
emigrantes no Brasil”
, escrita por Carl Jung:


“Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia. Nasceu num contexto histórico específico e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas. Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo que mutilá-lo.”
Do pensamento junguiano, Iarochinski procura explicar o porquê publicou de seus dois últimos livros. Segundo ele, “quis homenagear minhas origens portuguesas-mineiras e polacas-paranaenses".



E para conectar seu livro com a atualidade, o escritor, assinala a opinião do professor doutor canadense Mikhail A. Molchanov:

 
“A antiga União Soviética se baseava na colaboração dos eslavos orientais. Com a criação da união Rússia-Bielorrússia, a forma e as perspectivas da ordem pós-soviética dependeram em grande parte da posição da Ucrânia. Enquanto a reabsorção da Ucrânia pela Rússia significaria a ruína do sonho de independência do país, uma Ucrânia independente, intrinsecamente hostil ao seu vizinho oriental e apoiada nessa hostilidade pelo Ocidente, semeia discórdia entre a Rússia cada vez mais ressentida e o resto da Europa. A posição anti-russa da Ucrânia poderia realmente fortalecer aqueles que apoiam a criação de um Estado russo xenófobo, antidemocrático e internacionalmente revisionista. (MOLCHANOV. 2002, p. 4)”



Para Iarochinski, a publicação do livro, agora, pode parecer polêmica, mas é importante para se reconhecer o papel da Polônia no contexto histórico dos últimos quatrocentos anos, na Europa Central. “A solidariedade polaca que a livrou da União Soviética, em 1990, fez-se presente desde fevereiro deste ano, quando se transformou no principal refúgio dos ucranianos fugidos da invasão russa. “Solidarność” é a palavra que passou a significar Polônia”, conclui.

O livro “Terras da Polônia” está disponível para venda no site da amazon.com em:

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

POLACO É IDIOMA OFICIAL DE ÁUREA

Cidade de Áurea

Áurea, no Rio Grande do Sul, reconheceu o idioma polaco como língua oficial do município. Conforme a lei, a língua polaca deve ser usada durante cerimônias oficiais e eventos culturais. Os desdobramentos da lei municipal incluem inventário e desenvolvimento do funcionamento da língua polaca como patrimônio cultural imaterial do Brasil.

A ideia da medida partiu do arqueólogo e professor doutor Fabrício José Nazzari Vicroski, descendente de imigrantes italianos e polacos, que chegaram no Rio Grande do Sul, no final do século XIX. Sempre preocupado com suas origens étnicas, Fabrício foi estudar o idioma polaco e iniciou os estudos de arqueologia e história, em Wrocław e Cracóvia, na Polônia.

Ele diz que após voltar da Polônia, sua preocupação com a preservação do jeito de ser dos habitantes de sua cidade Natal – Áurea – aumentou. “Entrei em contato com o prof. dr. Maciej Eder, diretor do Instytut Języka Polskiego em Kraków (Instituto de Idioma Polaco da Universidade Iaguielônica de Cracóvia). Apresentei a ideia e pedi uma carta de apoio. Ele levou o assunto ao conselho científico da instituição. Resultado: votaram uma moção de apoio aprovada de forma unânime”, ressalta Vicroski (Wichrowski, no original polaco).



Tradução: O CONSELHO CIENTÍFICO do Instituto de Língua Polaca da Academia Polaca de Ciências de Cracóvia. RESOLUÇÃO n.º 5 / III / 2022 DO INSTITUTO DO CONSELHO CIENTÍFICO DA LÍNGUA POLACA DO PAN DE 29 DE JUNHO DE 2022 em apoiar os esforços da comunidade polaca no Brasil para reconhecer a coordenação da língua polaca na comunidade de Áurea no Brasil. O Conselho Científico do Pan, em Cracóvia, aprovou a resolução n.º 5/III/2022, em votação aberta para apoiar os esforços da diáspora polaca no Brasil, reconhecendo a coordenação da língua polaca no município de Áurea no Brasil. A resolução entra em vigor no dia da sua aprovação. Presidente do Conselho Científico do IJP PAN. dr hab. Halszka Górny, prof. IJP PAN.

Também a Stowarzyszenia “Wspólnota Polska” (Associações da Comunidade Polaca) enviou carta de apoio ao projeto de Vicroski, nos seguintes termos:

"... A dinâmica da atividade destas organizações fez com que hoje possamos observar e admirar o forte apego às raízes dos descendentes de emigrantes polacos, ainda que muitos deles já não falem polaco. ... Em meu nome e dos membros da Associação " Comunidade Polaca ", gostaria de expressar meu apreço pelo trabalho realizado para a diáspora polaca no município de Áurea estabelecendo a coordenação da língua polaca na cidade de Áurea no Estado do Rio Grande do Sul, juntamente com o português, língua oficial da República Federativa do Brasil, é uma expressão de reconhecimento ao seu trabalho e empenho. ... Desejo-lhe sucesso ... Por Dariusz Piotr Bonisławski. Presidente da Wspólnota Polska. Varsóvia, 11 de julho de 2022 "

Fabrício José Nazzari Vicroski

Tais apoios importantes vindos da Polônia incentivaram o professor a apresentar sua proposição à Câmara Municipal de Áurea. A iniciativa contou com o apoio entusiasmado do assessor legislativo da Câmara de Vereadores, o advogado Djonathan Waczuk que não mediu esforços para que Vicroski fosse convidado para justificar o projeto de Lei n.º XX/2022, que dispões sobre a oficialização da língua polaca no Município de Áurea, Estado do Rio Grande do Sul. Durante todo o processo de aprovação e de sanção da lei, o advogado acompanhou a tramitação. Na oportunidade concedida, o autor da proposta, entre outras palavras, salientou:


“A multiplicidade etnocultural e plurilinguística figura dentre as principais características do Brasil. Dentre os diversos povos nativos e estrangeiros que integram a Nação Brasileira, figuram os polacos, cuja diáspora é atualmente estimada em 5 milhões de pessoas. … A implantação da estrada de ferro e a criação da Colônia Erechim alavancaram a colonização na região do Alto Uruguai no início do século XX, resultando na chegada de milhares de polacos à região, originando – dentre outras localidades – o hodierno município de Áurea, no Estado do Rio Grande do Sul. … Atualmente as marcas e expressões da colonização polaca estão presentes em vários aspectos do cotidiano, perpassando pela gastronomia, arquitetura, folclore, religiosidade, artesanato, dentre outros costumes e tradições, e, obviamente, através da manutenção e transmissão do idioma trazido pelos imigrantes, bem como pelo peculiar sotaque que essa herança linguística impõe ao português atualmente falado pelos descendentes de imigrantes polacos. … o uso do idioma polaco ficasse predominantemente restrito ao ambiente familiar e privado, promovendo não somente o medo, mas também o progressivo abandono e esquecimento desse idioma. À esses fatores negativos, somam- se também a quase completa perda da capacidade de leitura em polaco – mesmo dentre os falantes do idioma – bem como recorrentes erros de grafias de sobrenomes polacos em atos notariais e de registros, resultando em grafias distintas e equivocadas mesmo dentre membros de um mesmo núcleo familiar. A cooficialização da língua polaca em Áurea se apresenta como uma oportunidade de ratificar simbolicamente a valorização e o reconhecimento do conhecimento linguístico trazido pelos imigrantes, constituindo ainda uma forma de justiça social que visa corrigir a violência linguística do passado, enaltecendo todas as formas de conhecimento, crenças e saberes populares relacionados com o idioma polaco no Brasil. Face ao exposto, anseio encarecidamente o solene recebimento e apreciação da presente demanda no plenário desta nobre casa legislativa, bem como a sua plena aprovação pelos seus representantes democraticamente eleitos pelo povo.”

Entre os artigos do projeto de lei consta do primeiro:

“Art. 1° Fica estabelecida a cooficialização do idioma polaco no município de Áurea-RS, ao lado da língua portuguesa, idioma oficial da República Federativa do Brasil. Parágrafo único: A cooficialização ocorre sem prejuízos à língua portuguesa, em consonância com os direitos linguísticos assegurados pela Constituição Federal Brasileira, em especial o disposto no Artigo 216, visando assim o reconhecimento, valorização e promoção do idioma polaco, herança linguística e patrimônio cultural imaterial relacionado com a imigração polaca no Brasil.”

Aprovado por unanimidade, o projeto de lei foi sancionado pelo prefeito Antônio Jorge Slussarek, no dia 22 de julho de 2022.


Imediatamente começou a repercussão internacional do feito. A TV Vilnius da Lituânia noticiou que naquele país “a língua polaca não tem status legal oficial, mas os polacos podem usá-la em várias situações oficiais, por exemplo, em governos locais em Vilno e na região da capital. Os opositores da validação da língua polaca na Lituânia afirmam ser uma ameaça ao Estado lituano. No entanto, as boas relações polaco-lituanas atuais criam condições para ações semelhantes às do Brasil. O idioma polaco também tem um status especial em Zaolzie, na República Tcheca. Os polacos e seus descendentes locais podem usá-lo nas repartições públicas.”

Fabrício Vicroski apresenta as cartas de apoio recebidas da Polônia, na Câmara Municipal

A TVP INFO canal de notícias da Telewizja Polska, em Varsóvia, depois da chamada “Polaco como língua oficial no Brasil” noticiou que “a língua polaca passou a integrar o grupo de idiomas oficiais do município de Áurea, no Estado do Rio Grande do Sul, ao lado do português, língua oficial da República Federal do Brasil.”

O site de notícias Enews da Nigéria disse que a Wspólnota Polska de Varsóvia informou sobre a Lei de Áurea no Brasil que a língua polaca como idioma oficial no município faz parte de uma “iniciativa maior que visa reconhecer a língua polaca como patrimônio imaterial do Brasil e, consequentemente, incluí-la na lista nacional brasileira do patrimônio cultural imaterial”.

A igreja dos polacos dedicada a padroeira da Polônia Matki Bożej Jasnogórskiej (Nossa Senhora de Monte Claro)
é a principal atração turística de Áurea

Segundo Fabrício Vicroski, autor da proposta, “A gestação do projeto de lei para a cooficialização do idioma polaco, iniciou-se em 2020, no âmbito das atividades promovidas pelo Colegiado Setorial da Diversidade Linguística do Rio Grande do Sul, estância consultiva da Secretaria Estadual de Cultura. O Colegiado conta com membros da sociedade civil representantes da língua polaca, dentre outros idiomas.”

Ouvido pelo blog iarochinski.blogspot. com, Vicroski disse que a sanção da lei em Áurea é apenas uma das etapas previstas, “que abarca também o encaminhamento de projetos similares para outros municípios brasileiros com expressivo número de habitantes com ascendência polaca”.

E conclui dizendo do simbolismo da iniciativa:

“Além da importância simbólica que o ato representa, um dos principais méritos da iniciativa deve-se ao fato de que a lei confere maior amparo legal para o desenvolvimento de ações de valorização e promoção do idioma polaco. Trata-se de conferir um suporte oficial e jurídico para tais ações. A lei pode ainda facilitar a captação de recursos públicos que podem subsidiar as ações de valorização do idioma. A iniciativa também integra um projeto maior que almeja viabilizar o tombamento da língua polaca como patrimônio cultural imaterial do Brasil, através de sua inclusão no Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Tal reconhecimento traz consigo a necessidade de viabilizar políticas públicas de preservação e promoção do idioma.”

ÁUREA
O povoamento do município de Áurea iniciou em 1906, com a vinda de imigrantes polacos. Foi inicialmente chamada de "Rio Marcelino". Em 1918, mudou o nome para "Treze de Maio". Vinte anos depois, tornou-se "Princesa Isabel", em homenagem à princesa Isabel. Em 1944 passou a se chamar "Vila Áurea", devido da Lei de libertação dos escravos negros. A Assembleia Legislativa assinou a lei estadual nº 8419, de 24 de novembro de 1987, criando o município de Áurea.

Rainha e princesas da festa nacional da Czarnina (sopa de sangue de pato)

A população é composta por descendentes de polacos que representam 92% da população, 5% de descendentes de italianos, 3% de descendentes de alemães e 3% do resultado da miscigenação. Segundo dados do IBGE de 2016, o município tem 3.725 habitantes.

Redação: Ulisses Iarochinski

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Lwów protegendo seus bens culturais

                                Lwów no século XV - quadro de de Georg Braun e Frans Hogenberg - 1625 

Como a antiga cidade polaca do Leste está tentando salvar o passado para preservar o futuro. Lwów está protegendo seu patrimônio cultural inestimável de forma decidida.

A cidade dos Leões está cuidando de seus monumentos culturais da agressão russa. Desde que a invasão russa começou na Ucrânia há meses, e os ocupantes russos estão bombardeando cidades e vilarejos ucranianos, para não mencionar os museus ucranianos, as autoridades de Lwów decidiram salvar os inestimáveis monumentos da cidade de serem completamente destruídos.

Foto: Halina Tereshchuk

O bairro armênio de Lwów é um dos mais antigos da região. A catedral armênia dos séculos 14/15 é um monumento inestimável da cultura oriental na Europa. Seus afrescos e vitrais foram restaurados e outras reformas estavam em andamento antes do início da invasão. Hoje, a equipe do museu e os restauradores enfrentam a tarefa de proteger esses tesouros culturais da agressão russa.

No pátio armênio, uma capela de madeira esculpida foi envolta em material especial. No seu interior encontra-se o altar mais antigo não só de Lwów, mas de toda a Ucrânia. Ele é composto por três figuras – Cristo crucificado, a Virgem Maria e Maria Madalena - todas montadas num encosto de madeira. O Cristo foi esculpido no século 15, e as outras duas esculturas datam do século 18. Restauradores já desmontaram o altar e encobriram as figuras.

Pátio armênio protegido de tiros. Foto: Halina Tereshchuk

Enquanto o mundo pondera se deve fechar os céus sobre a Ucrânia, Lwów está encobrindo monumentos do patrimônio mundial, de acordo com Lilia Onyshchenko-Shvets, diretora de Preservação do Ambiente Histórico da Câmara Municipal de Lwów, o velho centro histórico da cidade, uma área central de quase 150 hectares, foi adicionado à Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO em 1998.

“Os monumentos aqui datam dos séculos 13 a 20 e representam edifícios de vários períodos, estilos arquitetônicos e a mistura de nacionalidades residentes de Lwów ao longo da história, particularmente armênios, alemães, polacos (católicos e protestantes), polacos de origem judaica e rutenos".diz Lilia Onyshchenko-Shyets, e completa, “Atualmente, estamos protegendo o patrimônio do mundo, não apenas a Ucrânia, mas não podemos ter certeza de que o patrimônio mundial será suficiente para deter o inimigo”.

A Catedral Latina em Lwów protegida de tiros. Foto: Halina Tereshchuk

Nestes tempos de adversidade, Lwów também está tentando salvar centenas de vitrais, cobrindo-os com telas de proteção, alguns estão até sendo derrubados.

A cidade também está garantindo a sobrevivência de preciosas esculturas e grupos escultóricos. Operários cobriram as estátuas de Diana, Netuno, Anfitrite e Adonis que enfeitaram as bacias octogonais das fontes do mercado por três séculos. Os monumentos foram envoltos em tecido à prova de fogo, fibra de vidro e uma película especial, depois cobertos com sacolas feitas sob medida. Onyshchenko-Shyets observa que isso não salvará uma estátua de um ataque direto de mísseis, mas poderia impedir que fortes ondas de choque quebrassem uma escultura em pedacinhos.

Ao lado dessas esculturas famosas fica a Basílica da Assunção da Virgem Maria, dos séculos 14 a 18, também conhecida como a Catedral Latina. Todas as esculturas dos apóstolos ao redor da igreja já foram protegidas e o grupo escultórico do século 17 "A Sepultura do Senhor" foi coberto. Sua figura de Cristo deitado em seu túmulo foi removida durante os tempos da União Soviética e só foi restaurada em seu lugar em meados da década de 1990.

Uma escultura de um Apóstolo da Catedral Latina em Lwów, protegido de bombardeios,
Foto: Halina Tereshchuk

Todo o complexo da Catedral de São Jorge está na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO: a Catedral de São Jorge, o Palácio Metropolitano, o campanário, as casas capitulares e o jardim. Alguns de seus elementos arquitetônicos já receberam coberturas de proteção, mas as obras continuam.

No momento em que a Rússia invadiu a Ucrânia, funcionários de museus, galerias e bibliotecas de Lwów começaram a transferir obras de arte e artefatos para armazenamento seguro. Exposições do Museu Nacional na cidade também foram escondidas, deixando suas paredes vazias. Aliás, a coleção do museu conta com quase 200.000 exposições.

Roman Zilinko, pesquisador do Museu Nacional, descreveu como eles trabalharam dia e noite para remover exposições durante os primeiros dias da guerra. Ele explicou:

"Durante as duas últimas semanas desmontamos, empacotamos e guardamos todas as nossas exposições, deixando o museu praticamente nu. Possíveis riscos para os locais onde tesouros inestimáveis estão sendo armazenados também foram avaliados. As obras de arte devem ser embaladas, o que começamos a embalar assim que as explosões foram ouvidas perto de Lwów. Muito poucas das esculturas da cidade foram escaneadas e digitalizadas. No que diz respeito aos museus ucranianos, embora essa guerra já esteja acontecendo há oito anos, os funcionários do museu foram deixados sozinhos para lidar com tudo. Vários cofres e instalações deveriam ter sido preparados para situações extremas como uma guerra, mas não foram. Estamos simplesmente desmaiando de exaustão."

Todas as paredes dos museus de Lwów foram esvaziadas nas últimas semanas e todas as suas portas estão sendo fechadas neste período de invasão russa.

A Cidade dos Leões possui mais de 2.500 monumentos históricos e arquitetônicos no total. A antiga cidade polaca de Lwów espera que sua herança cultural de séculos passados seja poupada.

Click no link para o youtube para assistir a entrevista:


Autor: Halyna Tereshchuk
(Correspondente do Serviço Ucraniano da RFE/RL. Formada na Franko National University em Lwów, trabalhou como jornalista em jornais e emissoras de TV por muitos anos. Ela se juntou à Radio Liberty em 2000.)

Tradutor: Ulisses iarochinski