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Galeria Krakowska |
Mais de 5 milhões de ucranianos procuraram refúgio na Polônia desde que a Rússia iniciou a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022. Apesar do acolhimento, por parte dos polacos, no início do conflito no leste da Europa, a situação tem ficado insustentável. Já o Ministério do Interior e Administração da Polônia, estima que há apenas cerca de 1,5 milhão de cidadãos ucranianos.
Enquanto isso economistas do Think Tank Cenea (Grupo de Reflexões) afirmam que os refugiados ucranianos na Polônia são muito menores do que os registros do governo apresentam. É possível que existam ainda até 30 a 40% menos que os dados oficiais. Portanto, na opinião deles, a discussão política que é feita sobre esse assunto na campanha eleitoral é manipulada.
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ucranianos chegando a Polônia nas primeiras semanas da invasão russa |
O site money.pl calcula que, nos primeiros meses logo após o início da guerra, cerca de 8 milhões de residentes deixaram a Ucrânia, primeiro para os países vizinhos da UE — Polônia, Romênia e Eslováquia. Ao mesmo tempo, a agressão russa forçou a migração interna de cerca de 3,6 milhões de ucranianos. Mais de 6,8 milhões de ucranianos que deixaram o país em resposta ao início da guerra ainda vivem fora de suas fronteiras.
O que a população polaca discorda, pois são milhões de ucranianos nas ruas sem fazer nada, "só zanzando de um lado para o outro" afirma um estudante da Universidade Iaguielônica de Cracóvia. Ao certo, ninguém sabe quantos refugiados ucranianos estão vivendo na Polônia.
Segundo os refugiados o número de ataques a eles tem aumentado no país. Discurso de ódio na Internet contra refugiados tem crescido.
A população polaca começou a manifestar-se e a acusar o governo polaco de ser generoso demais com os refugiados ucranianos e, nos últimos dois anos, houve protestos na Polônia contra a abertura do mercado europeu aos cereais ucranianos, que estavam prejudicando os produtores rurais polacos.
De acordo com um estudo realizado em dezembro de 2024 pelo Mieroszewski Centre, sediado em Varsóvia, a simpatia pelos ucranianos está diminuindo bastante na Polônia.
Apenas 25 por cento dos inquiridos mantém uma opinião positiva sobre os refugiados ucranianos, 30 por cento tem uma opinião negativa e 41 por cento, dizem-se neutros nesta questão. Entre esta população inquirida, metade considerou que o apoio oferecido aos refugiados era “excessivo” e apenas cinco por cento o consideraram “insuficiente”.
Uma opinião comum, segundo o mesmo relatório, é que as expectativas destes refugiados de guerra em relação aos benefícios sociais e a salários “são muito altas”. E ainda há, entre a população local, quem afirme que os ucranianos na Polônia “se comportam com se fossem donos do lugar”, são barulhentos e desonestos.
Apesar de os polacos considerarem uma “atitude heroica” dos ucranianos perante a agressão russa e apoiarem os esforços para que a Ucrânia seja integrada na OTAN e na União Europeia, o estudo revela que os problemas quotidianos, de relação diária entre populações, têm vindo cada vez mais à tona. A população ucraniana é vista no mercado de trabalho como indolente, segundo alguns, "aproveitadores", e outros respondem que, são trabalhadores, o que a pesquisa concluiu que tal situação pode levar a que a população polaca receie a concorrência.
Ambiente entre polacos e ucranianos mudou
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Refugiados ucranianos passeiam muito na Polônia |
No início da invasão russa, milhões de ucranianos – especialmente mulheres e crianças – fugiram para a Polônia, tendo sido recebidos com bastante apoio e simpatia polaca. Naquele momento, milhares, de polacos foram para as fronteiras com comida e bens essenciais e muitos abrigaram refugiados em suas próprias casas.
Três anos depois e com a guerra na Ucrânia ainda em curso, Varsóvia continua a ser um aliado fiel de Kiev, mas internamente a relação entre polacos e ucranianos mudou
Em vésperas de eleições presidenciais na Polônia, agendada para 18 de maio, as manifestações contra o apoio do Governo polaco aos ucranianos têm aumentado e alguns candidatos tentam ganhar votos prometendo menos ajuda a estes refugiados.
“O humor da sociedade polaca mudou em relação aos refugiados de guerra ucranianos”, disse Piotr Długosz, professor de sociologia na Universidade Iaguelônica, em Cracóvia, que realizou também estudos sobre as opiniões em relação aos ucranianos na Europa Central.
“Ao mesmo tempo, é preciso lembrar que ajudar refugiados após o início da guerra era um reflexo moral natural, que se deve ajudar o próximo em necessidade. Ainda mais porque os polacos se lembram dos crimes cometidos pelos russos contra os polacos durante e após as duas guerras mundiais”.
No sábado passado, milhares de pessoas manifestaram-se em Varsóvia “contra a imigração ilegal” e contra o Governo pró-europeu de Donald Tusk. Manifestantes de todo o país, convocados por organizações nacionalistas de extrema-direita, transportavam bandeiras nacionais brancas e vermelhas e gritavam “isto é a Polônia” e “não à imigração”.
A Polônia que acolhe quase dois milhões de refugiados ucranianos e está enfrentando, segundo Varsóvia, uma onda de migração orquestrada por Minsk e Moscou.
A oposição fascista acusa ainda o Governo pró-europeu de Donald Tusk de ter “abdicado” das decisões sobre migrações a favor da Alemanha, permitindo que Berlim sobrecarregasse a Polônia com migrantes.
Em relatos à BBC, uma família ucraniana refugiada na Polónia denunciou os abusos. A filha de Svitlana adorava a escola polaca onde foi integrada quando imigraram para a Polônia.
“Ela gostou muito. Não havia abusos”, contou à publicação britânica. Mas o ambiente claramente mudou e, recentemente, a filha ouviu de um colega “volta para a Ucrânia”.
O governo da Polônia obrigou as professoras de escolas maternais e de primeiro grau a aprenderem o idioma ucraniano para poderem acolher as crianças ucranianas nas escolas. A boa vontade era imensa de integrar os pequenos a um novo mundo.
"No trabalho, muitas pessoas dizem que os ucranianos vêm para aqui e se comportam mal. E os meus amigos ucranianos dizem que querem voltar para casa porque os polacos não nos aceitam. É assustador morar aqui agora”.
Um brasileiro que vive na Polônia desde 1985 e que possui cidadania polaca, conta que já não é mais possível tratar com delicadeza os refugiados.
"Não foi uma vez nem duas, que esbarrei nas lojas chiques dos Shopping Centers da cidade com ucranianas bem vestidas e comprando produtos caros. Em duas ocasiões fui tratado rispidamente por uma ucraniana que me respondeu em idioma russo: 'Sai da minha frente. Você está me atrapalhando'. Ao que eu respondi: - A senhora está na Polônia fale em polaco, ou então em ucraniano e não russo. Afinal a senhora é ucraniana ou russa? A senhora tem dinheiro para comprar estas joias caras? - Ela colocou o dedo diante da boca e me ordenou que me calasse ".
Muitos os ucranianos, por sua vez, relatam experiências de maus tratos nos transportes públicos, chacotas nas escolas e discurso de ódio na Internet contra eles. Situação que estes ucranianos consideram estar se agravando desde que começou a campanha eleitoral à presidência da República da Polônia.
Os Estados Unidos e a União Europeia estão constantemente fornecendo ajuda militar e econômica para Kiev, mas quase nada de ajuda para a Polônia alimentar, dar escolas e moradias para os ucranianos. E isto, a população polaca se ressente, "cadê a ajuda humanitária dos Estados Unidos para que possamos alimentar os refugiados", disse outro brasileiro que vive na Polônia há 20 anos.
No início da invasão russa, a maioria dos ucranianos foi para a Polônia. O governo polaco rapidamente regulamentou seu status. Como resultado de uma lei ucraniana especial, em março de 2022, foi introduzido um status de residência especial para pessoas que fugiam da guerra, incluindo a emissão de um número de identificação ucraniano, baseado no banco de dados do Instituto de Identificação polaco PESEL.
De acordo com a lei, os refugiados tiveram acesso a cuidados de saúde e outros serviços públicos, como educação, além de benefícios e acesso ao mercado de trabalho. No total, desde o início da operação do sistema até o início de 2025, 1,9 milhão de cidadãos ucranianos foram registrados nele, mas, ao mesmo tempo, foi introduzido um sistema para remover pessoas que deixaram a Polônia ou estavam registradas em outro país da UE.
Os autores do relatório CENEA enfatizam, que desde o final de 2022, o número de refugiados ucranianos registrados na Polônia permaneceu em um nível relativamente estável, pouco menos de um milhão. No entanto, como observam, a retirada de um ucraniano do sistema exige um registro oficial de saída do território polaco na fronteira, um registro paralelo em outro país da UE ou um registro de saída do espaço Schengen por outro país. E essas formalidades nem sempre são cumpridas.
Esses números totais no registro PESEL, de mais de um milhão de refugiados, não parecem estar muito corretos. Isso distorce a discussão sobre quantos refugiados ucranianos estão na Polônia e qual o escopo de apoio que eles podem esperar do país no futuro, ou qual o nível de apoio que podem receber atualmente, afirma Michał Myck, diretor do CENEA.
Enigma do mercado de trabalho
Outros dados estão relacionados ao mercado de trabalho. Sabe-se há anos que os ucranianos são o maior grupo de imigrantes no país. E isto, desde muito tempo antes da invasão russa. Tanto é verdade que as principais associações empresariais e de pequenas empresas da Polônia há alguns anos fez o governo estender a Lei da Carta Polaca para descendentes de imigrantes polacos ao redor do mundo, preocupados que estavam com a invasão da mão de obra ucraniana. A campanha dos empresários, só do Brasil queria levar 30 mil brasileiros de origem polaca, "com sangue polaco", para trabalharem na Polônia.
As estatísticas da Zus (Previdência Social) demostram que, em 2023, havia 759 mil ucranianos registrados: 396 mil homens e 363 mil mulheres.
De 2021 a 2023, esse número aumentou para 132 mil. Pessoas que, de acordo com pesquisadores da CENEA, eram de mulheres. Referindo-se a esse número, ao total de adultos de mulheres de 18 a 59 anos (não estudantes) com Pesel-UKR - Identidade ucraniana de refugiado, os registros eram 335.000, em dezembro de 2023.
Mas esses dados contradizem os dados do relatório do NBP, segundo os quais em julho de 2024 eram cerca de 70 %. Os refugiados adultos estavam ativos no mercado de trabalho e outros 19 % procuravam emprego, o que sugere que os dados do banco de dados Pesel-UKR poderiam estar incompletos.
De onde vem a diferença? Alguns podem trabalhar em empresas, nas quais as contribuições não são pagas. De qualquer forma, segundo os pesquisadores do CENEA, essa é outra premissa confirmando sua tese.
Olhando para vários conjuntos de dados, parece que não se sabe realmente quantos refugiados da Ucrânia estão atualmente na Polônia.
Os dados sobre crianças de 7 a 17 anos nos registros escolares são mais 800 benefíciadas. Portanto, os refugiados da Ucrânia não teriam quase um milhão na Polônia, mas algo entre 600 a 700 mil.
Embora provavelmente não seja mais possível retornar ao nível de atitudes positivas para com os cidadãos da Ucrânia, que se observava na Polônia em fevereiro e março de 2022, o grau de solidariedade que prevaleceu naqueles dias deve ser um importante ponto de referência na formação das relações futuras entre os dois países. Conclui Michał Mick.
Os refugiados descritos no relatório da CENEA são apenas parte dos ucranianos na Polônia e com isso todos concordam.
Com fontes das agências de notícias internacionais e jornais locais.