sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Governo polaco compra quadro símbolo de Cracóvia

A Dama e o Arminho, um dos quatro retratos femininos conhecidos de Leonardo da Vinci é a obra mais famosa exposta na Polônia.
Nesta quinta-feira, o quadro passou para as mãos do Estado através de um acordo secreto.


Após negociações que correram em sigilo entre o Ministério da Cultura e a Fundação Czartoryski, terminaram em cerimônia de transmissão, no Castelo Real em Varsóvia.

O quadro foi comprado em Milão, no final do século XVI, pelo filho da rainha Isabel Czartoryska, esposa do último rei polaco August Poniatowski.

Em um anúncio, o ministério se refere à “solução definitiva do estatuto da coleção da família Czartoryski”. Mas o próprio ministro de Cultura, Piotr Glinski, falou em “compra”. “A quantia pela qual o Estado polaco compraria esta coleção (…) não teria nada a ver com seu preço de mercado, seria várias vezes menor”, declarou Glinski à rádio pública. O montante não é conhecido, mas a imprensa polaca calcula que seja 230 milhões de euros (mais de 1 bilhão de reais).

Esta coleção, uma das mais antigas e ricas da Europa, foi fundada em 1801 pela rainha Elżbieta Czartoryska para reunir e conservar obras de arte polacas e europeias quando seu país estava invadido e ocupado pelos Reinos da Rússia e Prússia e Império Austríaco, que derrubaram o reinado de seu marido.
O valor real da coleção, que contém milhares de objetos, entre eles o óleo Paisagem com o Bom Samaritano, de Rembrandt, é quase impossível de se calcular e pode ultrapassar muitos bilhões de euros.

Desde a queda da União Soviética, a coleção pertence à Fundação Czartoryski, fundada e presidida por Adam Karol Czartoryski, e tem sua residência oficial no Museu Czartoryski de Cracóvia. Com esta compra o quadro de Da Vinci que é um dos símbolos da cidade de Cracóvia vai mudar de cidade. O que desagrada em muito os cracovianos.
O governo quer garantir que a coleção nunca saia da Polônia, uma possibilidade que existe, enquanto pertencer à fundação que será um dia controlada pelos herdeiros de Adam Karol, de 76 anos, os quais nasceram no exterior e guardam poucos laços com seus ancestrais. “A intenção do ministro da Cultura é mantê-la na Polônia para as gerações futuras”, disse o ministério por email.

A negociação secreta com o Estado gerou fortes tensões com o conselho de administração polaco da Fundação, que reagiu renunciando. “O conselho não participou nas conversas, não teve nenhuma influência na redação do contrato nem na decisão sobre o futuro da instituição após sua venda ao Tesouro Público, nem na determinação do seu preço de venda que, segundo o que diz a imprensa, está longe do valor real” da coleção, lamentou o presidente que acabou por renunciar ao cargo, Marian Wolkowski-Wolski.

Fonte AFP

P.S. Mais uma das trapalhadas no governo de extrema direita que venceu as últimas eleições por ampla maioria da população do país. 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Polônia mais dividida que nunca


A sociedade polaca está profundamente dividida após um ano do partido nacionalista e ultraconservador Direito e Justiça no poder, uma força populista e cujas reformas foram questionadas pelas instituições europeias.

O Partido Direito e Justiça (PiS) ganhou as eleições gerais de outubro de 2015 com a primeira maioria absoluta da democracia moderna polaca, graças, especialmente, ao apoio de idosos, população rural, grande parte do clero católico, trabalhadores de baixa formação e, em geral, ao descontentamento com a globalização.

A partir daí, o partido pôs em prática uma agenda que combina uma economia social com um rançoso tradicionalismo, alinhado com políticas nacionalistas, se distanciando de Bruxelas e com uma clara oposição para acolher refugiados.

Embora seus partidários aplaudam suas medidas, o número de críticos aumentou até o ponto em que toda a oposição se uniu em um único bloco contrário ao governo da primeira-ministra Beata Szydło, que é liderado pelo presidente do PiS, Jarosław Kaczyński.

"A Polônia está doente e sofre com a falta de democracia", afirmou o líder do Comitê em Defesa da Democracia (KOD), Mateusz Kijowski, um movimento popular que nasceu há um ano para lutar contra o Partido Direito e Justiça e que conta com cerca de 8 mil integrantes, fundamentalmente profissionais liberais, professores e empresários.

O KOD organizou ao longo deste ano várias mobilizações contra as políticas do PiS e, em maio, com apoio do bloco opositor, conseguiu reunir cerca de 240 mil pessoas na capital Varsóvia naquele que é considerado o maior protesto desde a queda da Cortina de Ferro, embora o núcleo duro de eleitores do PiS também tenha protagonizado vários atos de apoio ao Executivo.

Kaczyński gosta de insistir que protagoniza uma espécie de "contrarrevolução cultural" para conter a influência da União Europeia, que, na opinião do político, solapou as tradições polacas e a cultura de seu país, e acusa os liberais de terem vendido a pátria aos interesses europeus.

Essa "contrarrevolução cultural" é especialmente incômoda para coletivos urbanos, europeístas, partidários da igualdade de gênero, do aborto, ambientalistas, defensores do casamento gay e, sobretudo, os que são favoráveis ao acolhimento de refugiados no país.

Mas o Direito e Justiça não fica apenas nas palavras e iniciou uma série de reformas que causaram temor em Bruxelas, especialmente a do Tribunal Constitucional e a nova lei dos meios de comunicação, que, segundo a oposição, submete os veículos de informação públicos ao controle do governo polaco.

A reforma do Tribunal Constitucional, que deixou praticamente paralisada esta instituição e impossibilita que ela controle de forma efetiva as políticas do Executivo, mereceu as críticas não só da Comissão Europeia (CE), mas dos Estados Unidos e de instituições internacionais.

A Comissão Europeia abriu em fevereiro uma investigação sobre esta polêmica reforma que poderia concluir com a suspensão do direito de voto europeu a Polônia como sanção, se for confirmado que a mesma infringiu os padrões democráticos e de direitos humanos da UE.

As políticas do PiS também trazem preocupação aos empresários locais, enquanto os investidores estrangeiros se sentem ameaçados por um governo que declarou prioritário promover os interesses nacionais, com impostos especiais para os setores dominados pelo capital estrangeiro.

A presidente da Confederação de Empresários Polacos (Konfederacja Lewiatan) e ex-ministra da Indústria, Henryka Bochniarz, reconheceu "o risco de que a Polônia seja percebida como um país antieuropeu, antiquado e fechado" pelo "patriotismo econômico" do atual governo, que gera "incerteza" entre os empresários.

Fonte: EFE
Nacho Temiño.