quinta-feira, 1 de março de 2018

Nacionalismo põe em risco a Polônia na UE

O Jornal de New York Times publicou e o Estado de São Paulo - Estadão - traduziu e republicou no Brasil.
O texto é dos jornalistas Steven Erlanger e Marc Santora, The New York Times.

Foto: Maciek Nabrdalik - The New York Times

A União Europeia acusa a Polônia, que recentemente criou uma lei para punir quem supor que o país foi responsável pelos campos de concentração e extermínio alemão nazista em território polaco, de representar um grave risco aos valores democráticos defendidos pelo bloco.

O jovem prefeito de Sniadowo, pequena cidade no leste da Polônia, está extremamente orgulhoso do novo caminhão dos bombeiros de fabricação italiana, todo reluzente, que está ao lado daquele da era soviética. Ali perto, o diretor da escola elementar exibe novas salas de aula e um novo ginásio.


Tudo isso - mais as estradas, os painéis solares e a reforma dos sistemas de tratamento de água e esgotos, bem como os recursos para os produtores de leite - foi pago em grande parte pela União Europeia (UE), que financia cerca de 60% dos investimentos públicos polacos. Nos últimos meses, porém, o país está relutando diante do que considera ingerência política da União.

A UE acusou a Polônia de representar um grave risco para os valores democráticos, alegando que o país está enfraquecendo o princípio da legalidade ao encher os tribunais de legalistas. Os líderes ocidentais também criticaram o partido governista polaco por afastar todas as vozes que criticam a mídia estatal e restringir a liberdade de expressão com sua lei mais recente, que criminaliza toda sugestão de que a nação polaca teve parte da responsabilidade nas mortes de cidadãos polacos de origem judaica.

Uma lei polaca que limita o discurso sobre o assunto foi condenada.

A Polônia, uma nação grande, rica, militarmente poderosa e importante em termos geoestratégicos, definirá se o persistente esforço da União Europeia para absorver o antigo bloco soviético terá sucesso ou fracassará. O crescente conflito entre os países-membros originais e os integrantes mais novos da Europa Central e do Leste constitui a principal ameaça à coesão e à sobrevivência da UE.

"Aderir à Europa, sim, ma, que Europa?", perguntou Michał Baranowski, diretor do escritório de Varsóvia do Fundo Marshall para a Alemanha, observando que o apoio da Polônia ao ingresso na União Europeia é grande, mas que não existe uma profunda ligação com o Continente.

O governo polaco, que é dominado pelo Partido Direito e Justiça, por sua vez dominado pelo líder do partido, Jarosław Kaczyński, parece ter sua própria resposta à pergunta. Ele é favorável ao apoio econômico da União Europeia, mas teme que a parte que cabe à Polônia seja ameaçada caso as nações-membros usem o orçamento para pressioná-la a adotar certas reformas. O país deveria receber cerca de 9% do orçamento da UE de 2014 a 2020, aproximadamente 85 bilhões de euros, ou US$ 105 bilhões.

No entanto, as vagas ameaças de uma suspensão da ajuda monetária dificilmente levarão o governo de Kaczyński a mudar. Ele respondeu às críticas acusando Bruxelas de ditar as condições para o ingresso de novos membros.

O Partido Direito e Justiça é o maior da Polônia. Ele cresceu de quase 38% dos votos nas eleições de 2015, para cerca de 47% nas recentes pesquisas de opinião. Em grande parte, este sucesso é atribuído ao seu investimento no campo, mais pobre, e a principal parcela dos recursos para este investimento é atribuída ao apoio à União Europeia e ao acesso aos seus mercados e empregos.

Mais do que pelo dinheiro, o partido prospera graças à sua política cultural e de identidade. O partido contrapôs a Polônia católica e conservadora e seus valores da família a uma Europa Ocidental ateia e de pensamento livre.

O município de Sniadowo, um grupo de aldeias com cerca de 5.500 habitantes, reflete este apoio. Embora a população anterior à Segunda Guerra Mundial fosse constituída por 40% de polacos de origem judaica, hoje, ela é profundamente católica. As pessoas vão à igreja várias vezes por semana para ouvir apaixonados sermões políticos, e as mídias estatal e da igreja dão uma versão partidária dos acontecimentos. Em 2015, cerca de 70% dos eleitores da região apoiaram o Direito e Justiça - PiS.

"A Polônia é um país tradicionalmente católico que respeita as outras religiões", afirmou Rafał Pstragowski, 37, prefeito sem partido de Sniadowo."A população teme que o secularismo ocidental seja uma ameaça para nossa cultura tradicional", acrescentou. "Se a situação na Europa continuar caminhando na mesma direção, as pessoas acham que a crise de migração e os ataques terroristas poderão começar aqui também".

Em geral, a prioridade de Kaczyński é interna, "e para controlar o Judiciário, ele está disposto a pagar qualquer preço", disse Piotr Buras, diretor do escritório de Varsóvia do Conselho Europeu para as Relações Internacionais. "Lentamente, ele vai utilizando meios em geral democráticos, e está acumulando tanto poder que a posição do partido é inatacável".

A União Europeia advertiu oficialmente a Polônia, acusando Varsóvia de correr o risco de "provocar um rompimento grave" de seu compromisso de respeitar os valores da liberal democracia e do princípio da legitimidade. Alguns acreditam que Varsóvia e Bruxelas chegarão a um consenso. Mas isso é algo difícil de prever.

Tal fato preocupa Agnieszka Walczuk, 45, diretora da escola de ensino fundamental de Sniadowo, que lembra a escassez de suas escolhas na época do comunismo, e de seus temores pelo futuro da filha de 16 anos e do filho de 12.
"Tenho medo de que este conflito com Bruxelas possa limitar o direito de meus filhos de trabalhar e de viajar pela Europa", afirmou.
"Sei que eles não se dão conta de que não têm nada, de que deveriam poder opinar, reivindicar os seus direitos, e isso me preocupa".

Wiesława Baranowska em sala de aula recém-construída da escola primária de Sniadowo e financiada pela União Europeia. Foto: Maciek Nabrdalik - The New York Times

Fontes: NYT, Estadão
Texto: Steven Erlanger e Marc Santora
Tradução: Redação do Estadão
Adaptação de texto: Ulisses Iarochinski

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Juiz decreta detenção temporária da brasileira suspeita de matar o filho, na Polônia

Foto: Łukasz Antczak
"O juiz regional confirmou nosso pedido de prisão temporária da mulher. A prisão será cumprida na ala cirúrgica do Centro de Detenção da cidade de Bydgoszcz. A suspeito será transportada para lá quando os médicos de Przemyśl permitirem. Provavelmente acontecerá nos próximos dias. Tudo depende da saúde da mulher", disse Marta Pętkowska, porta-voz da Promotoria do Ministério Público Regional de Przemyśl.

O Centro de Deteção para Investigação de Bydgoszcz, está localizado a mais de mais de 630 km da casa da brasileira. Segundo as leis polacas, todo o suspeito é detido por um período inicial de 90 dias (três meses) para que a promotoria e a polícia possam investigar e apresentar ao juiz a acusação. O local Areszt Śledczy (Centro de Detenção) ainda não é a penitenciária (tal como conhecemos no Brasil), pois ali não ficam os já condenados, apenas os acusados sob investigação.

Se findo os três meses de detenção e a promotoria ainda não houver terminado as investigações e apresentado a acusação ao juiz é renovado o período de detenção para mais três meses.

Para o tipo de crime cometido, pelo qual está sob suspeita (em que pese a confissão), a pena é prisão perpétua a ser cumprida numa penitenciária do país.

A promotora e o juiz não informaram o porquê da detenção ser cumprida tão longe de Przemyśl.


Aspecto exterior do Centro de Detenção para Investigação
Andrea Cristina P., brasileira, enfrenta a punição da prisão perpétua. Durante a sessão desta terça-feira da promotoria realizada no próprio hospital, a mulher confessou o assassinato de seu filho, Wiktor, de 2 anos.

"A mulher deu suas explicações, mas, por causa das investigação, não revelamos seu conteúdo. A suspeita também apresentou uma moção para nomear um advogado durante o julgamento", acrescentou a promotora Pętkowska.

Andrea Cristina P. ouviu a acusação do assassinato de seu filho ainda, na segunda-feira. O drama ocorreu no último sábado em Śliwnica, perto de Przemyśl.

A mãe de 35 anos respondeu que desferiu no filho Wiktor oito golpes com uma faca no peito da criança e depois tentou se suicidar. Em seguida, incendiou o quarto onde estavam. A vida do menino não pôde ser salva. Wiktor sangrou até a morte e Andrea Cristina P. foi internada em estado grave. No momento, a vida da mulher não corre mais perigo de morte.

O Ministério Público não revelou por que a mulher matou seu filho. Sabe-se que seu marido, um polaco, não estava em casa no momento do incidente. Estava em exercícios das Forças de Defesa Territorial, nas quais ele é soldado.

O Ministério Público disse ainda que recentemente houve mal-entendidos na família. Andrea Cristina P. vive na Polônia, já há 5 anos. Ela trabalhava em uma conhecida empresa de Przemyśl que produz calçados de marca. Foi a pedido desta empresa que a mulher de 35 anos, mudou-se do Brasil para Przemyśl. Anteriormente, ela trabalhava na sede brasileira da empresa.

Fonte: rzeszow-news.pl
Tradução e redação: Ulisses Iarochinski (jornalista profissional MT-PR 1129)