Foto: Ulisses Iarochinski Passei o fim de semana na bela cidade de Lublin. Como quase todas as grandes cidades polacas é difícil encontrar alojamento barato e confortável de última hora. É preciso fazer reserva com antecendência, pois senão corre-se o risco de ter que dormir na própria estação de trem. Foi assim que acabei me alojando numa casa de estudante da Faculdade de Agronomia e portanto longe do centro da cidade. Mas não tão longe assim. Como cheguei na cidade à noite, não deu muito para ver por onde estava indo o táxi. A surpresa seria no dia seguinte ao acordar, levantar-se e perguntar pelo ponto de ônibus mais próximo. O interno da escola de agronomia que atendia na recepção reagiu como se eu estivesse fazendo a pergunta mais idiota possível. Mas mesmo assim disse: ao sair vire a direita, vá até o final da rua e vire a esquerda. daí siga em frente até esta rua terminar, ali estará o ponto dos ônibus para o centro. Qual não foi o espanto quando ao chegar à parada de ônibus vi à frente a cerca de arame farpado e o grande monumento às vítimas do nazismo. Apesar de ter estado várias vezes em Lublin era a primeira vez que estava diante do campo de
Concentração de Majdanek. E curioso porque o campo de concentração alemão nazista está praticamente no centro da cidade, a apenas 4 km do
Castelo Real na cidade velha de Lublin.
Foto: Ulisses Iarochinski
Majdanek foi criado em outubro de 1941 por ordem do comandante da
SS Heinrich Himmler, quando este visitou
Lublin. Inicialmente, era um campo destinado apenas a receber prisioneiros de guerra, sob a guarda da SS e comandado por
Karl Otto Koch, até ser transformado em campo de concentração geral em fevereiro de 1943. Ao contrário de outros campos nazistas, este não era escondido em nenhum lugar remoto no meio de florestas, nem era cercado por zonas de exclusão, ficando às vistas da população civil comum de
Lublin. Seu nome deriva de um bairro da cidade chamado
Majdan Tatarski e foi dado pelos habitantes locais. O nome alemão inicial era
Konzentrationslager Lublin (Campo de concentração de Lublin). No começo das operações,
Majdanek teve 50 mil prisioneiros, elevando-se depois para 250 mil, usados principalmente em trabalho escravo para produção de munição e fábricação de armas. Entre abril daquele ano até seu fechamento em julho de 1944, o local foi transformado em campo de extermínio, com a introdução de câmaras de gás e crematórios. Foi junto com
Aschwitz, os únicos campos nazistas a usar o
Zyklon-B como gás exterminador, apesar do monóxido de carbono também ser usado nas execuções. Com a chegada do Exército Vermelho em 1944, o campo foi fechado, sendo que o crematório foi o único local que os nazistas conseguiram destruir antes da fuga, graças à rapidez do avanço das tropas libertadoras, o que transformou
Majdanek num dos mais bem preservados campos da II Guerra Mundial. Cerca de mil detentos foram evacuados, mas os soviéticos ainda encontraram milhares deles, a maioria prisioneiros de guerra, mostrando a evidência dos crimes ali cometidos pelos nazistas.
Foto: Ulisses Iarochinski Ironicamente, assim que os soviéticos tomaram posse do campo, libertaram os prisioneiros dos nazistas e o transformaram num campo da
NKVD, o serviço secreto soviético, onde prenderam milhares de integrantes da resistência subterrânea polaca da guerra. A contagem de mortos em
Majdaneck nunca foi feita com precisão devido à falta de registros. Ainda em julho de 1944, os soviéticos inicialmente superestimaram o número, anunciando a morte de 400 mil judeus, além de 1,5 milhão de prisioneiros de outros tipos. Estudiosos se baseiam no período total de funcionamento e capacidade dos crematórios para estimar quantos teriam morrido. As últimas pesquisas do departamento científico do
Museu Majdanek, citam que houve cerca de
78 mil vítimas, sendo que
54 mil delas eram judeus.