Polaco: as “descobertas” de Iarochinski
Cultura, Destaques / 10 de março de 2011 11:01
Texto: Marina Lukavy, da Redação
Fotos: Divulgação
Publicado na Edição 559, em 09 de março de 2011.
Cerveja, vodka, charuto e sonho são de origem polaca
Ulisses Iarochinski, que esteve em Irati na quarta-feira (23), para o lançamento do livro “Polaco – Identidade Cultural do Brasileiro Descendente de Imigrantes da Polônia”, também abordou questões como a culinária polaca adquirida por outros países e a temática ucranianos x rutenos.
Segundo Iarochinski, muitas questões apresentadas como “descobertas” são conhecidas na Polônia, mas não no Brasil. As informações são disponibilizadas em livros e publicações no idioma polaco. “Aqui no Brasil quem sabe falar polaco? É necessário que os descendentes daqui aprendam o idioma para compreender a história do país. Não inventei nada, aprendi o idioma que é muito complicado, discuti com professores, conversei com muitas pessoas e agora quero contar tudo isso”, explica o autor.
Os principais motivos apontados por Iarochinski para que houvesse a “perda” de idiomas no Brasil, foi a “Lei da Naturalização” instituída por Getúlio Vargas, em 1938, e medo da deportação para campos de concentração na Alemanha.
“A lei obrigou o fechamento de escolas de todas as etnias que ensinavam o idioma dos países dos imigrantes. Muitos também, não falavam mais sua língua de origem, porque tinham medo de ser deportados para morrer nos campos de concentração. Assim como aconteceu com Olga Benário Prestes, jovem militante comunista alemã que foi deportada para a Alemanha durante o governo de Vargas. Lá, foi executada pelo regime nazista em um campo de concentração. Então, todo esse conjunto fez com que as línguas de origem fossem se perdendo”, acrescenta Iarochinski.
Culinária polaca
Quais são os alimentos que você considera típicos da culinária da Polônia? Para Iarochinski, o charuto e o sonho são polacos. Já o tão famoso pierogi, teria origem tártara, ou seja, mongol. A palavra “pierogi” deriva de pier, uma palavra tártara. “Em 1410, na Batalha de Grunwald, a Polônia conseguiu apoio desse povo e de outras etnias que viviam no reino da Polaco e expulsaram os saxônicos, que naquele momento, ainda não eram chamados de alemães. Dai o porque, acredita-se que foram os tártaros que trouxeram para a Polônia o pierogi, que era algo simples de fazer”,completa.
De acordo com o autor, o charuto também não é árabe e sim polaco, pelo simples fato de o repolho nascer na Polônia. No Líbano, que fica no deserto ,e portanto, local onde não nasce repolho. A receita sírio e libanesa é feita com folha de parreira.
A origem do sonho foi “descoberta” por acaso, durante o período em que Iarochinski esteve na Polônia. Ele lembra que uma amiga o convidou para ir até uma confeitaria comer um doce legitimamente polaco, o pączki, mas, para sua surpresa, o pączki nada mais era do que o sonho. “Depois disso liguei para casa, pois desde criança comia sonho. Perguntei como eles tinham aprendido a fazer o doce e me contaram que haviam aprendido com uma vizinha que era polaca”, afirma.
Na Polônia, o autor trabalhou como correspondente da TV Bandeirantes e do jornal O Estado de SPaulo, mas como não era um trabalho diário, ele também passou a trabalhar como guia turístico. Certa vez, convidou três empresários portugueses para quem estava prrestando serviço de guia e intérprete, para comerem um doce tipicamente polaco, e ao chegar na confeitaria os homens afirmaram que o "sonho brasileiro", era conhecido como "Bolas de Berlim", em Portugal - e não sonho.
“Agora vem a pergunta: como na Alemanha aprenderam a fazer o sonho? A resposta é simples: Porque durante vários períodos da história, pelo menos , durante uns 600 anos, os alemães tentaram acabar com a Polônia. Isto não ocorreu somente na 2ª Guerra Mundial. Foram várias invasões e em cada uma delas, eles adquiriam a cultura da Polônia. Como é o caso do sonho, e de muitas outras coisas, que surgiram lá e que o mundo conhece como sendo alemãs ou americanas”, considera.
Neste sentido, também é assim que a cerveja ficou conhecida como alemã e não polaca. Iarochinski conta que durante suas constantes visitas a bibliotecas, descobriu que no século XI existiam cervejarias na Polônia, enquanto que na Alemanha e na Europa não existia nenhuma. A cerveja surgiu no Egito, há cinco mil anos e nesta época era feito como um fermentado de cereais. A primeira vez que se adicionou o lúpulo e se fez uma receita para elaborar a bebida que hoje se chama cerveja, foi na Polônia.
“Existiam cervejarias na Polônia há 300 anos, quando num reino da atual Alemanha foi pego a receita e a condessa do lugar baixou um decreto de que a partir daquela data a cerveja tinha que ser com aquela receita. Desde então, por causa desse decreto, todo mundo considera que a cerveja é alemã. Da mesma forma, a Rússia também se vangloria que é dona da vodka, o que é mais uma mentira, pois a vodka é polaca”, ressalta.
Ucranianos e rutenos
“Nunca existiram ucranianos, pois estes são na verdade rutenos, são da Rutênia, um povo que viveu sempre nas terras da Polônia em irmandade. Esses imigrantes que chegaram aqui e se dizem ucranianos, quando vieram para o Brasil não eram ucranianos, nem polacos, porque não existia diferença para o governo brasileiro entre polaco e ruteno. Eles tinham documentos austríacos e russos, e assim eram considerados pelas autoridades brasileiras”, destaca Iarochinski.
Conforme o autor, a afirmação é embasada no fato de que todos os ucranianos que imigraram para o Brasil, também vieram da milenar Polônia. Isso porque a Ucrânia não existia naqueles tempos, esta foi criada apenas, em 1922, pela Rússia, como República Socialista Soviética da Ucrânia e, portanto, “pertencente” aos russos soviéticos.
“A palavra Ucrânia deriva da preposição ‘U’ do idioma eslavo que quer dizer ‘aqui, de’, que é utilizada para designar quando se está com alguém, um ser animado, e de ‘kraj", que é ´país´. Em qualquer idioma eslavo com pequenas alterações, a palavra Kraj significa ‘aqui no meu país’. Essa palavra, inclusive é de um poema de um poeta polaco de 1870″, observa.
Iarochinski narra que depois da 1ª Guerra Mundial quando a Polônia conquistou a sua independência e voltou a ser uma república, os rutenos também quiseram ter o seu próprio Estado. Aquela região polaca era disputada pela Rússia, que a ocupou por 127 anos. Com o fim da primeira guerra mundial e a vitória da revolução Bolchevique, estes apoiaram os rutenos contra a Polônia e moldaram a República Socialista Soviética do “Nosso País”. “Então, estes que vieram para o Brasil nunca foram ucranianos, os filhos deles podem até ser”, considera.
Parte do povo ruteno, depois de 1922, negaram a ser chamados de ucranianos, e foram taxados pelo governo da Ucrânia, que se instalava de minoria rutena. “A Ucrânia de hoje sempre foi a Rutênia milenar e os ucranianos sempre foram rutenos. Este povo ruteno tem mais de 2 mil anos e o denominado ‘ucraniano’, apenas 87 anos de existência. Portanto, os atuais cidadãos ucranianos tanto podem ser rutenos, cossacos, bem como polacos. Pois o que define uma etnia, o pertencimento a uma nação, não é uma carteira de identidade, um passaporte ou um diploma de cidadão”, conclui o autor.