segunda-feira, 1 de junho de 2020

Um szlachta polaco em Jacarezinho

Andrzej Lubomirski em trajes típicos dos Sarmatas polacos
Foto: Quadro do acervo do Museu de Przeworsk
Um dos homens mais importantes da Polônia no início do século passado morreu em Jacarezinho, aos 91 anos, e está sepultado no cemitério da cidade.

Cidade de Jacarezinho - Paraná
O ano era 1953. Numa grande casa de esquina, no centro de Jacarezinho (390 km de Curitiba), um homem de 91 anos morria longe de sua terra natal. O atestado de óbito assinado pelo médico João Rodrigues Caldas indica que ele morreu de causas naturais; em decorrência da idade avançada. O corpo foi sepultado no dia seguinte, no cemitério da cidade.

Quase 70 anos depois, um jazigo chama a atenção da professora Terezinha Franco durante uma visita ao cemitério. "Eu achei estranho porque no túmulo estava escrito 'Prince André'. E 'prince' é 'príncipe' em inglês. Além disso, eu vi que ele não era daqui. Era polaco. E isso me deixou ainda mais curiosa. Eu queria saber quem era aquele homem e como ele veio parar em Jacarezinho", conta.

O homem de 91 anos, morto em 1953, cujo túmulo chamou a atenção da professora, era Andrzej Lubomirski. A palavra "prince" escrita na lápide indica a origem nobre desse polaco que nasceu em Cracóvia, no ano de 1862. Ele não só era um príncipe em seu país, como foi um dos homens mais importantes da Polônia no começo do século passado.

Nascido em uma tradicional família principesca da Polônia, Andrzej era o filho mais velho do príncipe Jerzy Henryk Lubomirski; dono das terras de Przerworsk, uma cidade no sudeste da Polônia. Seu irmão mais novo, o príncipe Kazimierz Lubomirski, foi o primeiro embaixador da Polônia nos Estados Unidos depois da Primeira Guerra Mundial; e presidente do Comitê Olímpico Polaco entre 1921 e 1929.

Assim que assumiu a condição de chefe do território de Przeworsk, em 1886, o príncipe Andrzej deu início a um processo de industrialização até então nunca visto na região. "A propriedade do Príncipe Lubomirski era formada por 15 fazendas, que davam 4.440 hectares, e era considerada uma das mais desenvolvidas da Polônia antes de 1914. Ele abriu em Przeworsk a maior fábrica de açúcar da região. Além disso, dirigia destilarias e refinarias em outras fazendas, fábrica de licores, laticínios, alvenarias, oficinas mecânicas, carpintaria, modernos moinhos a vapor e serrarias.", explica Małgorzata Wołoszyn, curadora do Museu de Przeworsk e autora de um livro sobre a história da família Lubomirski na cidade.

"Para uma região superpovoada que sofria de fome por não ter terras produtivas, o surgimento dessas fábricas foi extremamente importante. Ele deu novas oportunidades de emprego e de combate à pobreza e ao desemprego. É com justiça que ele é chamado de patrono da indústria nacional", complementa.

Usina de açúcar de Przeworsk, em 1925. Construída pelo príncipe Lubomirski, era considerada a maior da região - Foto: Zbigniew Franczukowski
Formado em Direito pela Universidade Karolina de Praga, em 1885, Andrzej não foi apenas um empreendedor. Antes mesmo da Polônia se tornar independente, ele foi Membro do Conselho Imperial Austríaco. A Galícia, região da Polônia onde estava localizada a cidade de Przeworsk, era ocupação austríaca. A nação polaca só se tornaria independente em 1918.

Em 1919, já na Segunda República Polaca, o príncipe Andrzej foi escolhido para representar a Polônia na Conferência de Paz, em Paris, como especialista em economia. Anos depois ele ocupou o cargo de deputado no parlamento polaco.

Lubomirski também contribuiu para a preservação da cultura polaca. Entre 1885 e 1943, ele foi o curador literário do Instituto Nacional de Ossolineum, um dos maiores e mais antigos centros de pesquisas científicas da Polônia; formado por uma biblioteca, uma editora, e o Museu Lubomirski.

Ele também foi membro do conselho de administração de um orfanato para meninos em Cracóvia, presidente da Sociedade dos Músicos em Lwów, e vice-presidente do Conselho da União Central da Indústria, Mineração, Comércio e Finanças da Polônia.

Em 1928 o príncipe Andrzej foi condecorado com a Ordem da Polonia Restituta (a maior honraria do país) em reconhecimento pelos trabalhos prestados em prol da educação, ciência, esporte, cultura, arte, defesa nacional e boas relações internacionais.

Instituto Ossolineum, na Polônia. Depois da Segunda Guerra Mundial, a sede foi transferida de Lwów para Wrocław. Andrzej Lubomirski foi o curador do Instituto por 58 anos.
O Terror da Guerra

Em setembro de 1939, o príncipe Andrzej, então com 77 anos, viu a Polônia ser mais uma vez invadida por uma potência estrangeira, voltavam os alemães, agora comandados pelos nazistas.

O ato foi considerado o estopim da 2ª Guerra Mundial. Dias depois, os russos, agora soviéticos, também voltaram a invadir o país.

As antigas famílias magnatas polacas tiveram suas propriedades confiscadas. As universidades, bibliotecas e igrejas foram fechadas, e o regime de terror se instalou no país que tinha reconquistado a independência havia apenas 21 anos.

Nesse período, Andrzej Lubomirski foi preso duas vezes. Uma, pelos soviéticos, em Lwów, e outra pelos alemães em Przeworsk. A historiadora polaca Bożena Figiela afirma que pouco se sabe sobre as condições em que ele permaneceu na prisão, mas o fato é que ele foi solto. "Andrzej Lubomirski recuperou a liberdade após três semanas. É possível que alguém importante tenha interferido no seu caso", explica.

Também em 1939, a filha mais velha de Andrzej, Helena Lubomirski Sierakowski foi presa pelo regime nazista junto com o marido. A filha e o genro de Helena também foram capturados. Os quatro foram torturados e assassinados. Segundo Gabriela Lubomirski Aksamit, descendente da família "Szlachertswa" (aristocracia) e que atualmente vive em Cracóvia, os corpos nunca foram encontrados. Com isso, Andrzej assumiu a responsabilidade pelos netos sobreviventes e pelas bisnetas Barbara e Izabella. Um ano depois, Eleonora Lubomirski, esposa do príncipe, morreu na França, para onde ele a havia enviado por causa da guerra.

No entanto, apesar da idade avançada e das perdas familiares, o príncipe continuou trabalhando ativamente, e se dedicou às obras de caridade. "Ele estava sofrendo dolorosamente por tudo que estava vivendo, mas logo percebeu que o destino de muitas pessoas dependia de sua provisão e energia", conta Figiela.

"Desde o início da guerra, ele foi um colaborador da Cruz Vermelha polaca. Em uma de suas propriedades foi organizada uma cozinha para atender prisioneiros de guerra, feridos e necessitados afetados pelo conflito. Dali, mais de 300 refeições foram distribuídas por dia", prossegue Figiela.

Lubomirski também fazia contínuas viagens a Cracóvia, onde ajudava a administrar um orfanato e também a Lwów e a Varsóvia, na tentativa de evitar que o Instituto Ossolineum perdesse ainda mais obras do que as que foram saqueadas pelos alemães durante a guerra. Porém, em 1943, após 58 anos como curador, ele nomeou um sucessor para o Instituto.

Andrzej Lubomirski brinca com a bisneta Izabella Sierakowska, por volta de 1940 - Foto: Museu Przeworsk
Mudança para o Brasil

Em julho de 1944, Andrzej deixou Przeworsk e partiu para Mszana Dolna, uma pequena cidade ao sul da Polônia. A guerra parecia se aproximar do fim, mas o avanço das tropas soviéticas sobre o território polaco gerava total insegurança entre os cidadãos.

Além disso, assaltos e furtos em propriedades da região tinham se tornado cada vez mais comuns durante o conflito. Ele viajou em companhia do filho, Jerzy e das netas, que o convenceram a deixar a cidade. Eles não levaram nada além de umas poucas bagagens de mão. De Mszana Dolna eles foram para Cracóvia e de lá, Andrzej partiu para a França com o filho Jerzy e sua nora.

Cidade de Mszana Dolna a 50 km de Cracóvia, na atualidade - foto: Jadwiga Gabała
Os outros sobreviventes da família Lubomirski também se espalharam pelo mundo. As bisnetas de Andrzej foram para o Marrocos, enquanto Maria, a filha mais nova foi para os Estados Unidos. A outra filha, Teresa, emigrou para o Quênia, na África. "Esse foi o destino trágico de todos os proprietários de terras, representantes da inteligência e da aristocracia na República da Polônia, em 1944. Eles foram tratados cruelmente, jogados fora de suas casas. Ninguém perguntou se eles tinham para onde ir ou onde morar. Eles usavam desesperadamente todos os conhecidos possíveis e vagavam de um lugar para outro", explica Katarzyna Ignas, diretora do Museu de Przeworsk.

Na França, os Lubomirski viveram em Menton (perto da fronteira com a Itália), onde a família tinha uma propriedade. Em setembro de 1952, aos 90 anos de idade, o príncipe Andrzej chegou ao Brasil em companhia do filho.

"Jerzy pretendia fazer negócios no Brasil, mas não obteve o sucesso esperado. Ele, então, voltou para Menton e deixou o pai aos cuidados da princesa Cecylia de Bourbon Duas Sicílias, que era sobrinha de Andrzej", conta Figiela.

Cecylia de Bourbon Duas Sicilias era filha do irmão mais novo de Andrzej, Kazimierz. Em 1932, ela se casou com o príncipe Gabriel de Bourbon Duas Sicílias, em Cracóvia.

Gabriel, que era tio de Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança (neto da princesa Isabel e chefe da Casa Imperial Brasileira), trouxe a família para viver no Brasil no final da década de 1940. Anos depois, ele comprou terras em Jacarezinho, onde se estabeleceu como agricultor, seguido pela família Imperial Brasileira, que viveu na cidade por 14 anos.

Casa onde a princesa Cecylia de Bourbon viveu em Jacarezinho-PR.
Documentos apontam que foi nessa casa que o príncipe Andrzej Lubomirski morreu, em 1953
Foto: Fabiano Oliveira
Lubomirski viveu menos de um ano em Jacarezinho. Idoso e recluso, quase ninguém na cidade o conheceu. Dom Bertrand de Orleans e Bragança, filho de Dom Pedro Henrique e atual príncipe imperial do Brasil, vivia em Jacarezinho na época e disse ter pouquíssimas lembranças do magnata polaco. Lembra-se apenas de que havia um motorista suíço que sempre acompanhava e cuidava de Andrzej. Trata-se, provavelmente, de Usai Giovanni. Foi ele quem declarou o óbito do príncipe no cartório de registro civil da cidade. Seu nome também aparece nos arquivos da prefeitura, onde está a matrícula do túmulo de Andrzej no cemitério municipal.

Cemitério Municipal de Jacarezinho
Andrzej Lubomirski morreu em 22 de novembro de 1953. Um domingo, por volta das 16h. Um jornal polaco publicado em Londres, em 1954, descreveu como foram os últimos momentos do príncipe:

"Deus o salvou do sofrimento físico. Sentado em uma poltrona, ele adormeceu para sempre aos 91 anos de idade. Se eles escrevessem a história da Przeworsk, Andrzej Lubomirski certamente receberia um lugar de destaque como um homem bom e encantador, que ainda vive no coração de muitos que o conheceram."

Repercussão na Polônia

A notícia de que alguém no Brasil buscava informações sobre o príncipe Andrzej Lubomirski (morto em 1953, na cidade de Jacarezinho) ganhou as manchetes de inúmeros noticiários da Polônia, país onde o príncipe nasceu em 1862 e se destacou como uma personalidade importante no começo do século passado.

A primeira reportagem sobre o assunto foi publicada em dezembro do ano passado, logo após o Museu de Przeworsk e a Fundação Príncipe Lubomirski (com sede em Varsóvia) enviarem as primeiras informações sobre quem era o nobre polaco sepultado no norte do Paraná.

O jornal Super Nowosci 24, por exemplo, trouxe a manchete "O Túmulo de Andrzej Lubomirski encontrado no Brasil" e destacou que, após quase 70 anos, o túmulo atraiu o interesse de um jornalista brasileiro.

O portal Rzészow Eska Info (Informações Eska de Rzészow) escreveu que "A lápide de pedra não se parece nada com o túmulo de um nobre. No entanto, o jornalista brasileiro Fabiano Oliveira ficou tentado em saber quem era o príncipe Andrzej Lubomirski, nascido em 22 de julho de 1862."

Já o Nowiny24 destacou que a informação de que Andrzej Lubomirski estava sepultado em Jacarezinho já era de conhecimento dos polacos. No entanto "foi uma surpresa que alguém no Brasil, depois de tantos anos, tenha se interessando pela tumba de um príncipe da distante Polônia e se esforçado para levar essa informação à instituição de Przeworsk, a cidade de Lubomirski".

Tradução da manchete: Jornalista brasileiro encontrou no seu país o túmulo do príncipe Andrzej Lubomirski de Przework (fotos)
Os noticiários também deram informações sobre a cidade onde o príncipe viveu os últimos dias. O portal Korso24.pl explicou que "Jacarezinho fica no Estado do Paraná, no sul do Brasil. Tem cerca de 40 mil habitantes e é reconhecida por ter um dos melhores cursos de direito do país".

O site ressaltou porém, que "o príncipe de Przeworsk está enterrado em uma tumba modesta (...) um pouco negligenciada e esquecida".

Manchete do portal polaco Rzeszów Eska Info: "Jornalista Brasileiro descobre tumba do Príncipe Polaco"

Tradução da manchete: Jornalista brasileiro encontrou a tumba do príncipe polaco

Familiares contataram


À partir de 1944, os filhos do príncipe Lubomirski resolveram sair do país por causa da guerra. O patriarca Andrzej, junto com o filho Jerzy, se estabeleceu na França antes de vir para o Brasil em 1952.

A filha Tereza foi para o Quênia, na África; e a caçula Maria se mudou para os Estados Unidos. Hoje todos são falecidos.

Porém, no final de março, Anthony Potulicki entrou em contato com o jornalista brasileiro. Ele é o filho mais velho de Maria Innocenta Potulicki, a filha mais nova de Andrzej. Aos 97 anos, ele mora em Nova York e - junto com o irmão mais novo que mora no Canadá - é um dos únicos netos ainda vivos do príncipe.

Potulicki em foto de 1955
Por e-mail, recordou com carinho dos tempos em que convivia com o avô. "Como a residência de meus pais ficava perto de Lwów (hoje Lwiw Ucrânia), eu e meus dois irmãos passávamos muitos meses nas duas residências de meus avós: inverno na cidade de Lwów e verão na cidade de Przeworsk, no sudeste da Polônia. Minha última correspondência postal com meu avô data de final dos anos quarenta, quando ele estava na Bélgica", conta.

As fotos do túmulo de Andrzej também chegaram em Nairobi, no Quênia, onde Teresa Sapieha, de 72 anos, vive com a família. Ela é bisneta do príncipe, e também se mostrou emocionada ao saber mais sobre o último chefe de Przeworsk. "É incrível obter informações sobre meu bisavô. Eu e minha irmã sabíamos muito pouco sobre ele. Apenas que ele foi para o Brasil e sua esposa, minha bisavó, morreu na França. Estive no Rio de Janeiro há alguns anos; perguntei sobre ele e não obtive informações", explica.

As três bisnetas de Andrzej Lubomirski que vivem no Quênia. Teresa Sapieha (sentada no banco do jipe), Anna Joanna Sapieha (em pé na carroceria do jipe) e Maria Gabriela Sapieha. As três bisnetas de Andrzej Lubomirski que vivem no Quênia.
Nenhuma das bisnetas quenianas de Andrzej o conheceram pessoalmente. O pouco que sabem sobre ele provavelmente foi contado pelo pai delas, o príncipe Eustachy Seweryn Sapieha.

Eustachy Sewerin Sapieha
Eustachy era neto de Lubomirski e morreu em 2004. Em 2000 ele lançou uma autobiografia na qual revela traços da personalidade do avô: "Pessoas como o vovô não se conhece sempre. Ele vivia com bondade e simplicidade. Ele tinha um grande talento: foi capaz de escolher funcionários inteligentes, dedicados, e talvez o mais importante - funcionários honestos. Com uma energia inacreditável e um certo poder criativo, ele conseguiu fazer de Przeworsk uma maçã dourada. Quando ele assumiu, ela não era pobre, já era uma bela propriedade. Mas foi ele quem fez dela uma das propriedades mais desenvolvidas do país".

Princesa Paola Maria de Orleans e Bragança Sapieha. Trineta de Andrzej Lubomirski e da Princesa Isabel do Brasil
As reportagens repercutiram não só entre os familiares do príncipe, mas também entre os polacos. No portal wykop.pl alguns leitores pediram que as autoridades polacas fizessem algo em relação ao túmulo do príncipe. Um deles chegou a escrever: "Ele participou da reconstrução do país após a independência e foi premiado com a Ordem da Polônia Restituta. Isso deve ser suficiente para fazer com que a Embaixada da Polônia, no Brasil ou um museu se sintam obrigados a limpar o túmulo do homem".

Fotos

Brasão da Família Lubomirski

Túmulo de Lubomirski em Jacarezinho - Foto: Fabiano Oliveira

Lápide do túmulo em Jacarezinho - PR - Foto Fabiano Oliveira

Ficha-cartão de imigração. Ele chegou no Brasil em 1952
Foto: Fabiano Oliveira


Andrzej Lubomirski em 1930 - Foto: Museu Przeworsk


A casa onde viveu Andrzej hoje é o Museu de Przeworsk, na Polônia
Foto: Museu Przeworsk

Visita do vice-presidente da República da Polônia, Ignacy Mościński
a Przeworsk sendo recebido por Andrzej Lubomirski em 1929
Foto: Arquivo Nacional da Polônia

Cidade de Przeworsk a 206 km de Cracóvia,  37 km de Rzeszów e a 127 km de Lwów (Ucrânia), na atualidade


Noivado de Andrzej e Eleonora Husarzewska. Casaram-se em 1885 e tiveram 4 filhos
Foto: Stanisław Bizański

Eleonora e os filhos Jerzy e Helena




Texto: Fabiano Oliveira
Fonte: Blog http://abre.ai/avulsos

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Cem anos de relações diplomáticas Brasil - Polônia


O Consulado Geral da Polônia, em Curitiba, foi a primeira representação consular aberta no mundo após a Polônia recuperar a sua Independência em 11 de novembro de 1918. E os Estados Unidos do Brasil (Era o nome oficial do Brasil na época) foram o primeiro país do mundo a reconhecer a Independência da Polônia.

Neste mês de maio, os dois países estão celebrando os 100 anos de estabelecimento de relações diplomáticas. Isto porque, antes de 1822, o Brasil era uma colônia do Reino de Portugal e a República da Polônia tinha sido riscada do mapa do mundo, em 1795, pelos reinos invasores da Prússia, Rússia e Império da Áustria.

Os presidentes atuais do Brasil e da Polônia conversaram nesta quarta-feira, 27 de maio, por telefone. No momento, confirmaram o desejo de aprofundar a cooperação bilateral em prol da prosperidade de seus povos e do fortalecimento da posição internacional de ambos os países. Os respectivos ministros de relações exteriores emitiram um comunicado conjunto:

"Brasil e Polônia celebram o 100º Aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre os países.

Há 100 anos, a formalização do relacionamento bilateral reforçava os laços de amizade que uniam os povos das duas nações. A partir das últimas décadas do século XIX, fluxos sucessivos de imigrantes polacos já chegavam ao Brasil, aportando significativa contribuição ao desenvolvimento do País e dando origem à segunda maior comunidade de descendentes de polacos no mundo.

Recentemente, Brasil e Polônia têm estreitado, ainda mais, a colaboração em torno da comunhão de valores e da defesa da liberdade, da democracia e da economia de mercado. Os encontros de alto nível entre autoridades dos dois países têm sido cada vez mais frequentes, conferindo lastro político a iniciativas nos planos bilateral e multilateral. O diálogo entre os dois países tem-se intensificado em áreas como defesa, cultura, educação e esportes.

No plano internacional, Brasil e Polônia colaboram estreitamente no âmbito do “Processo de Varsóvia” e no contexto das Nações Unidas promovem iniciativas como a “Aliança para a Liberdade Religiosa” e a “Parceria para as Famílias”, que refletem o apreço mútuo pela liberdade e os valores que embasam a formação de nossas sociedades."

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Escola de Verão de Idioma e Cultura

Alunos estrangeiros em frente ao Prédio da Reitoria UJ - Collegium Novum

ESCOLA DE VERÃO DE
LÍNGUA E CULTURA POLACA
DA UNIVERSIDADE JAGUIELÔNICA
www.plschool.uj.edu.pl
Tem duas datas iniciais de cursos
- 4 de julho a 25 de julho
- 27 de julho a 15 de agosto
- O programa inclui 60 horas de aulas de idiomas e cursos de 30/15 horas sobre história, cultura e sociedade da Polônia, além de aulas culturais e de integração.
- Pequenos grupos de idiomas: 5-8 pessoas.
- Todos os níveis de proficiência linguística.
- Os cursos são ministrados por professores qualificados da Universidade Iaguielônica no ensino de idioma polaco para estrangeiros. Eles possuem vasta experiência no ensino para alunos estrangeiros, incluindo métodos on-line.
- Manual (versão em PDF) incluído no preço do curso.
- Palestras em polaco e inglês com a possibilidade de participar delas ao vivo.
- Uso de plataformas educacionais modernas para o ensino on-line.
- As horas das aulas e palestras serão adaptadas ao local de residência dos participantes para facilitar sua participação nas aulas, independentemente do fuso horário.
- No final do curso, os participantes têm a opção de fazer exames e obter diplomas finais da Universidade Iaguielônica e transferências destes com créditos de aulas / ECTS para suas respectivas universidades.
- 60 horas de curso de idioma, completado por um exame - 4 créditos / ECTS
- Palestras 30 horas - 2 créditos / ECTS
- Preço do programa: 2.490 Złotych (PLN)
Programa JULHO
Ao se inscrever no curso / teste escrito na plataforma online
- 04 de julho (sábado) / teste de nivelamento oral
- 06 de julho a 24 de julho / aulas e palestras (segunda a sexta)
- 06 de julho a 24 de julho / fins de semana - programa cultural
- 25 de julho / exame final
Palestras: 14: 30 -16: 00 (Hora da Polônia) 9: 30 - 11:00 (Hora do Brasil)
- Literatura e cultura polaca dos séculos 20 e 21
04 de julho a 24 de julho, 30 horas
Palestras: 20:30 - 22:00 (Hora da Polônia) 15: 30 - 17:00 (Hora do Brasil)
- Gramática Polaca, sessão II, 04 de julho a 24 de julho, 30 horas
Programa JULHO / AGOSTO:
Ao se inscrever no curso / teste escrito na plataforma online
- 25 de julho (sábado) / teste de nivelamento oral
- 27 de julho a 14 de agosto / reitorias e palestras (segunda a sexta)
- 27 de julho a 14 de agosto / fins de semana - programa cultural
- 15 de agosto / exame final
Palestras: 14: 30 -16: 00 (Hora da Polônia) 9: 30 - 11:00 (Hora do Brasil)
- Literatura e cultura polaca dos séculos 20 e 21
27 de julho a 14 de agosto, 30 horas
Palestras: 20:30 - 22:00 (Hora da Polônia) 15: 30 - 17:00 (Hora do Brasil)
- Gramática Polaca, sessão II, 27 de julho a 14 de agosto, 30 horas
CALENDÁRIO DAS CLASSES POR FUSO HORÁRIO
Polônia:
- Aulas de idiomas 16:30 -18: 00
- Aulas de idiomas 18: 15-19: 45
- Palestra 14: 30-16: 00 e / ou 20: 30-22: 00
Brasil
- Aulas de idiomas 11:30 - 13: 00
- Aulas de idiomas 13:15 - 14: 45
- Palestra 9: 30 - 11:00 e / ou 15: 30 - 17:00

terça-feira, 5 de maio de 2020

Eleições presidenciais indefinidas na Polônia

O vice-primeiro-ministro encarregado da organização das presidenciais na Polônia disse hoje que não acredita que as eleições possam se realizar no próximo domingo, como planejado, porque a legislação que autoriza o voto pelo correio ainda está por ser aprovada.

Jacek Sasin
Jacek Sasin disse que o Governo está considerando adiar a votação para 17 de maio ou para 23 de maio, datas sugeridas na semana passada pelo primeiro-ministro, Mateusz Morawiecki.

O Governo de extrema-direita tinha decidido manter a data das eleições, mas, devido à pandemia associada à covid-19, quer realizá-las exclusivamente com o voto popular sendo feito por correspondência.

O projeto para a legislação necessária, entretanto, apresentada pelo partido no poder, o Direito e Justiça (PiS), está no Senado, onde deverá ser votada nesta quarta-feira e seguir para a Câmara dos deputados (Sejm), para votação final.

O Senado é controlado pela oposição, que defende o adiamento das eleições.

Mesmo que a lei seja aprovada, resta muito pouco tempo para que os boletins de voto cheguem aos 30 milhões de eleitores até domingo, disse Sasin.

"A data de 10 de maio é difícil de cumprir", disse o vice-primeiro-ministro à Radio Zet. "Se a lei entrar em vigor a 07 de maio [quinta-feira], não será possível ter o processo de votação pronto".

Também o presidente da Comissão de Eleições, Sylwester Marciniak, considerou, em declarações ao jornal Rzeczpospolita, que "não é possível realizar as eleições em 10 de maio".

A Comissão foi anteriormente afastada da organização do processo eleitoral, entregue ao vice-primeiro-ministro e aos correios.

A votação final, na câmara, deverá realizar-se na quinta-feira, mas o PiS não tem ainda garantia de que a lei reúna votos suficientes. Apesar do PiS ter uma estreita maioria no parlamento, alguns deputados do partido defendem o adiamento das presidenciais.

"Se a lei do voto postal for rejeitada, podemos ter uma crise política", disse o ministro da Saúde, Lukasz Szumowski, à emissora estatal Radio 3.

O PiS apoia a reeleição do presidente em fim de mandato, Andrzej Duda, o favorito nas sondagens, cujo mandato termina a 6 de agosto.

Segundo uma pesquisa de opinião publicada há dez dias, apenas um em cada quatro polacos é favorável a organização da eleição em 10 de maio.

A realização das eleições presidenciais por correspondência tem sido contestada por numerosas organizações nacionais e internacionais.

Na semana passada, todos os ex-presidentes da Polônia e a maioria dos ex-primeiros-ministros declararam-se contra a votação numa carta conjunta publicada na imprensa polaca.

Kwaśniewski, Komorowski e Wałęsa
A eleição "não será nem geral nem justa [...] sem garantia de voto secreto e sem possibilidade de um controle cívico da integridade do seu desenvolvimento", sustentam Lech Wałęsa, ex-presidente e líder histórico do movimento Solidariedade, e os dois presidentes que o sucederam, Aleksander Kwaśniewski (esquerda) e Bronisław Komorowski (centro-esquerda), assim como os ex-primeiros-ministros Marek Belka, Jan-Krzysztof Bielecki, Włodzimierz Cimoszewicz, Ewa Kopacz, Kazimierz Marcinkiewicz e Leszek Miller.

Fontes: Associated Press, Radio Zet, Radio Rzczepospolita, Radio Polska 3

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Martírio dos padres polacos na II Guerra Mundial

São Maximiliano Kolbe - o mártir de Auschwitz

A Igreja na Polônia celebra hoje o “Dia do martírio do clero polaco durante a Segunda Guerra Mundial”.

Recorda-se o exemplo dos 861 sacerdotes polacos mortos sob o regime nazista no campo de concentração de Dachau, na Alemanha.

Um testemunho de fé vivido “até a morte”, mas também uma prova do “desejo” de viver a Eucaristia e os Sacramentos apesar da impossibilidade de fazê-lo. No “Dia do Martírio do Clero polaco durante a Segunda Guerra Mundial”, que é celebrado nesta quarta-feira (29) pela Igreja da Polônia, este é o exemplo dos 861 sacerdotes filhos da nação mortos sob o regime nazista no campo de concentração de Dachau.

O porta-voz da Conferência Episcopal da Polônia, padre Paweł Rytel-Andrianik fala sobre isso. “É o sangue daqueles mártires que nos dão o ‘fruto na fé’ até hoje, quando em plena emergência da Covid-19, somos impossibilitados de participar fisicamente às celebrações".

A entrevista
Foto: TVP.info
No dia de hoje - 29 de abril - recordamos o martírio, ou melhor, o testemunho da fé até a morte e ao mesmo tempo recordamos todos os mártires, não só de Dachau mas de todas vítimas: as vítimas dos totalitarismos, do nazismo e do comunismo.

Este é o dia da memória, do testemunho e da providência, porque aqueles sacerdotes prisioneiros em Dachau fizeram um voto: se sobrevivessem fariam uma peregrinação ao santuário de São José em Kalisz. Duas horas antes da destruição do campo de concentração, no dia 29 de abril de 1945 os prisioneiros foram libertados. Os sacerdotes interpretaram como um sinal da providência de Deus.

- Mais de 1.700 sacerdotes polacos foram deportados para os campos de concentração alemães. Quem eram e porque mais de 800 foram mortos?

Padre Paweł: Os nazistas levaram os sacerdotes para o campo de concentração em Dachau, também para outros campos de concentração polacos, simplesmente porque eram sacerdotes e eram o ponto de referência para as comunidades paroquiais. Para destruir a nação começaram exatamente pelos sacerdotes e os intelectuais do país. Estes 1.700 sacerdotes polacos fazem parte do grupo de quase 3.000 entre sacerdotes, bispos e irmãs que estavam em Dachau. E nos campos de concentração na Polônia também havia outros sacerdotes. E devemos recordar que os que estavam livres em suas casas também sofriam, tanto sob o regime nazista quanto o comunista.

- Que testemunhos permanecem da época, depois que o último sobrevivente faleceu em 2013?

Padre Paweł: Testemunhos de fé. São João Paulo II em 1995, no 50º aniversário da libertação do campo de concentração e extermínio alemão de Auschwitz, falou sobre o quanto aqueles sacerdotes, bispos e irmãs foram fiéis até o fim, dando testemunho de caridade e perdão. Falou também da dignidade de vida e justiça: sobre isso podemos recordar um mártir conhecido em todo o mundo, São Maximiliano Kolbe, que deu a própria vida por um pai de família.

Também na minha diocese de Drohiczyn há um exemplo, o sacerdote Antoni Beszta-Borowski. Seus amigos disseram que deveria fugir porque os nazistas tinham seus documentos e queriam prendê-lo ou matá-lo. Mas ele disse que não poderia deixar os seus paroquianos e os seus sacerdotes, porque se não o prendessem, prenderiam todos eles.

Quando foi capturado, algumas crianças assistiram a cena: um soldado alemão entrou na sacristia e pegou sua estola. Falou às crianças que nenhum sacerdote ficaria na cidade, rasgando a estola e jogando-a no chão. Uma senhora a juntou e guardou consigo. Anos depois, uma daquelas crianças, sobrinho do padre Antoni, na sua primeira Missa depois da ordenação sacerdotal, recebeu a estola daquela senhora.

Desde então nasceram muitas vocações naquele local. Acredito que seja um exemplo de que o sangue dos mártires leva a frutos na fé.

- Estava programado para estes dias uma peregrinação a Dachau, e adiada por causa do coronavírus. Quais são as esperanças para o futuro?

Padre Paweł: A peregrinação nacional em Dachau foi adiada para o fim da emergência da Covid-19. A comemoração tinha sido organizada em colaboração com a Conferência Episcopal alemã, e previa a participação do presidente, dos bispos locais, do clero e dos fiéis, assim como aconteceu cinco anos atrás quando foram celebrados os 70 anos da libertação do campo de concentração de Dachau.

Fonte: Vatican News
Texto: Giada Aquilino

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Começou uma onda de demissões na Polônia

Fábrica de açúcar
No último mês de março, o número de funcionários no setor corporativo diminuiu 34.000, o maior número desde 2005.

O emprego no setor empresarial, para o qual o GUS-Główny Urząd Statystyczny (Departamento Estatal de Estatísticas) inclui firmas com pelo menos 10 funcionários, totalizou uma média de 6.411.700 de empregados em março, com 34,3 mil funcionários a menos que em fevereiro. Até o momento, o maior declínio desse indicador tinha sido registrado em dezembro de 2008, no auge da crise financeira global. Naquele momento, o emprego teve 33 mil pessoas a menos.

Dado que as restrições à atividade econômica destinadas a suprimir a epidemia de coronavírus, o governo começou a introduzir em meados de março, os dados do mercado de trabalho. E o divulgado nesta segunda-feira é preocupante. Sugerem que a epidemia do Covid-19 já levou a demissões consideráveis, mesmo em empresas relativamente grandes, onde predominam contratos de trabalho com períodos de aviso prévio.


Fronteiras fechadas do país pela primeira vez desde a entrada no espaço Schengen
"Em março de 2020, algumas firmas anotaram um forte declínio no emprego médio em comparação com o mês anterior. Foi o resultado de, entre outros, funcionários se aposentando, rescindindo contratos a prazo e não prorrogando-os - o que em alguns casos poderia ter sido causado pelo medo dos efeitos da pandemia do COVID-19. Além disso, a redução da média de emprego também foi afetada por: rescisão de contrato de trabalho ou licença não remunerada. Também foi observado um fenômeno crescente de funcionários que recebem benefícios de assistência e doença, que - dependendo do tempo de sua duração, também podem ter um impacto na maneira de incluir essas pessoas na média de emprego e ao mesmo tempo na remuneração ", explica o GUS em um comunicado à imprensa.

Em termos homólogos, o emprego no setor empresarial aumentou 0,3% em março, o menor desde maio de 2010, após um aumento de 1,1% em comparação com fevereiro do ano anterior. Essa leitura é exagerada pela mudança anual na amostra de empresas (em janeiro, o Departamento Central de Estatística acrescenta à análise, empresas que no ano anterior excederam o limite de nove funcionários), mas ainda mostra que a situação no mercado de trabalho se deteriorou mais do que se poderia temer. Economistas esperavam, em média, que o emprego em março aumentasse 0,8%. Apenas três das 25 equipes analíticas participantes da pesquisa esperavam resultados mais fracos do que os reais.


O salário médio no setor empresarial aumentou 6,3% em março, em comparação co mesmo mês de 2019, após um aumento de 7,7% em fevereiro. Essa leitura está próxima das expectativas da maioria dos economistas. A dinâmica salarial anual é positivamente influenciada por, entre outros um aumento significativo (em 16%) do salário mínimo no início de 2020.

Fonte: rp.pl
Texto: Grzegorz Siemionczyk
Tradução e adaptação para o português: Ulisses Iarochinski

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Covid-19: Polônia prolonga isolamento até 26 de abril

Foto: AFP
As medidas implicam o fechamento de escolas e universidades e fronteiras que permanecerão fechadas até 03 de maio. No entanto, mantém-se o calendário eleitoral para a presidência da República.

Segundo o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, o transporte internacional de passageiros, quer por via aérea, quer por via férrea, vai continuar suspenso até 26 de abril e a maioria das empresas - exceto mercearias e farmácias - estará fechada até 19 de abril.

O prolongamento das medidas de prevenção inclui ainda a obrigação de, até 26 de abril, os restaurantes só poderem vender comida pelo serviço de distribuição (delivery).

O Governo decidiu ainda que os exames de faculdade e do 12º ano – que têm sido um motivo de preocupação de milhares de estudantes - serão adiados sem data marcada, não devendo ocorrer antes de junho, disse o primeiro-ministro.

Também os espetáculos e eventos desportivos que costumem concentrar grande número de pessoas ficam suspensos até nova ordem.

Além disso, a partir de 16 de abril, será obrigatório, nos espaços públicos da Polônia, usar uma máscara ou lenço para cobrir nariz e boca, anunciou o ministro da Saúde, Łukasz Szumowski.

Tal como o primeiro-ministro, o ministro da Saúde pediu à população que não faça grandes reuniões familiares na Páscoa.

O partido Direito e Justiça (PiS), no poder, manteve, no entanto, a data das eleições presidenciais, agendadas para 10 de maio, embora tenha decidido que a votação será obrigatoriamente feita por correspondência, ou seja,via correio, abrindo a possibilidade de a eleição durar uma semana, até 17 de maio.

Esta posição atraiu críticas ferozes da oposição, que a vê como uma tentativa de garantir a vitória do atual Presidente, Andrzej Duda, um membro do PiS, até porque a campanha dos seus rivais foi praticamente proibida, no âmbito das medidas de prevenção da pandemia.

A Polônia registou, até hoje, 5.205 casos de contaminação, com 159 mortes.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia do covid-19, já infectou mais de 1,5 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram quase 89 mil.

Dos casos de contaminação, mais de 312 mil já foram considerados curados.

Até às 17h, da sexta-feira Santa, o Ministério da Saúde da Polônia informou sobre 213 novos casos de COVID-19.

No total, nas últimas 24 horas, os testes mostraram a presença de coronavírus em mais 380 pessoas. Os novos casos confirmados dizem respeito às seguintes voivodias: Mazóvia (77), Grande Polônia (Wielkopolska) (38), Łódź (31), Podláquia (16), Podcarpatos (15), Pequena Polônia (Małopolska) (10), Lubelska (10), Baixa Silésia (9), Opolska (4), Pomerânia (2) e Lubuska (1).

O Ministério também informou que seis pacientes morreram devido a contaminação. Ele é um homem de 87 anos de Poznań, uma mulher de 69 anos de Bydgoszcz, um homem de 75 anos de Wrocław, uma mulher de 71 anos de Bolesławiec e um homem de 73 anos de Cracóvia.

Fontes: AFP, Wort, Rzeczpospolita

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Tokarczuk é criticada pela imprensa e internautas

O texto de Olga Tokarczuk, no qual a ganhadora do Prêmio Nobel compartilhou sua reflexão sobre a pandemia de coronavírus na Europa foi publicado na edição da terça-feira, dia 31 de março, do diário alemão "Frankfurter Allgemeine Zeitung". Na quarta-feira à noite, a escritora decidiu publicar a coluna do jornal inteira em idioma polaco porque começaram a aparecer citações de "fragmentos fora de contexto".

"Em conexão com a discussão em andamento em torno de minha coluna publicada no Frankfurter Allgemeine Zeitung e a controvérsia decorrente do fato de que trechos da coluna fora de contexto foram citados, decidi compartilhar todo o texto original em polaco", escreveu Tokarczuk no Facebook.

A mídia polaca se referiu ao texto de Tokarczuk no ""Frankfurter Allgemeine Zeitung" de terça-feira com severas críticas à escritora.

A Telewizja Republika em seu site avaliou que as palavras da escritora eram "surpreendentes", enquanto "Do Rzeczy" descreveu o texto como "inesperado".

"A escritora avaliou as ações da União Europeia em palavras surpreendentemente duras", disse o redator do "Do Rzeczy".

Por sua vez, o portal da o2 disse que Tokarczuk assumiu uma "posição surpreendente".

No site Polityce.pl a exclamação: "Inacreditável! Tokarczuk critica a UE no diário alemão".

O "Super Express" comentou que "Tokarczuk na imprensa alemã atinge a União".

Alguns internautas também expressaram sua indignação com as palavras da Prêmio Nobel.

Com a polêmica instalada, Olga resolveu publicar em sua página no Facebbok, a versão em polaco do artigo publicado em alemão, no jornal de Frankfurt.



TEXTO DE OLGA

Senhoras e senhores,

Em conexão com a discussão em andamento em torno de minha coluna publicada no "Frankfurter Allgemeine Zeitung" e a controvérsia decorrente do fato de serem citados seus trechos fora de contexto, decidi fornecer a você todo o texto original em polaco. Convido você a ler :)

JANELA

Da minha janela, vejo uma amoreira branca, uma árvore que me fascina e foi uma das razões pelas quais eu decidi morar aqui. A amoreira é uma planta generosa - alimenta dezenas de famílias de pássaros com seus frutos doces e saudáveis ​​durante a primavera e o verão. Agora, no entanto, a amoreira não tem folhas, então vejo um pedaço de uma rua tranquila, que raramente é atravessada por alguém caminhando em direção ao parque. O clima em Wrocław é quase verão, o sol está brilhando, o céu está azul e o ar está limpo. Hoje, enquanto passeava com o cachorro, vi duas urracas (pega-rabuda) perseguindo uma coruja em seu ninho. Nós olhamos nos olhos da coruja a uma distância de apenas um metro.

Tenho a impressão de que os animais também estão esperando o que vai acontecer.
Para mim, o mundo tem sido demais há muito tempo. Muito, muito rápido, muito alto.
Então, eu não tenho o "trauma da reclusão" e não sofro porque não conheço pessoas. Não me arrependo de fechar os cinemas, não me importo que os shoppings estejam fechados. Só me preocupo quando penso em todos aqueles que perderam o emprego. Quando descobri a quarentena preventiva, senti uma espécie de alívio e sei que muitas pessoas sentem a mesma coisa, embora tenham vergonha. Minha introversão, há muito estrangulada e abusada pelo ditado de extrovertidos hiperativos, afastou-se e saiu do armário.

Olho pela janela o meu vizinho, um advogado sobrecarregado que eu tinha visto recentemente quando ele estava saindo para o tribunal pela manhã com a toga pendurada no ombro. Agora, em um agasalho de briga folgado, ele está lutando contra um galho no quintal, ele parece estar limpando. Vejo alguns jovens passeando com um cachorro velho que mal anda desde o inverno passado. O cachorro treme de pé e acompanha pacientemente, andando devagar. O caminhão de lixo recebe lixo com muito barulho.

A vida continua e como, mas em um ritmo completamente diferente. Limpei o armário e levei os jornais lidos para o recipiente de papel. Replantei flores. Peguei a bicicleta para reparo. Eu gosto de cozinhar. As imagens da infância voltam persistentemente para mim, quando havia muito mais tempo e poderia ser "desperdiçado", olhando pela janela por horas, observando formigas, deitada debaixo da mesa e imaginando que essa era uma arca. Ou lendo enciclopédia.

Não é assim que retornamos ao ritmo normal da vida? Que o vírus não é um distúrbio da norma, mas exatamente o oposto - aquele mundo agitado antes que o vírus fosse anormal?

Afinal, o vírus nos lembrou o que negamos com tanta paixão - que somos criaturas frágeis, feitas da matéria mais delicada. Que estamos morrendo, que somos mortais.

Que não estamos separados do mundo por nossa "humanidade" e singularidade, mas que o mundo é uma espécie de grande rede na qual estamos presos, conectados com outras entidades invisíveis através de fios de dependência e influência. Que dependemos um do outro e não importa a que distância estejamos, que idioma falamos e qual a cor de nossa pele, adoecemos da mesma maneira, sentimos o mesmo medo e morremos da mesma maneira.

Ele nos fez perceber que, não importa quão fracos ou vulneráveis ​​nos sintamos, há pessoas ao nosso redor que são ainda mais fracas e precisam de ajuda. Ele nos lembrou o quão delicados nossos pais e avôs são e o quanto eles merecem nossos cuidados.

Ele nos mostrou que nossa agitada mobilidade ameaça o mundo. E ele lembrou a mesma pergunta que raramente tivemos coragem de nos perguntar: o que estamos realmente procurando?

Assim, o medo da doença nos afastou de um caminho em "loop" (cíclico) e necessariamente nos lembrou da existência de ninhos, de onde viemos e onde nos sentimos seguros. E mesmo quando éramos, não sei, como grandes viajantes, em uma situação como essa, sempre vamos para uma casa.

Assim, verdades tristes nos foram reveladas - que, no momento do perigo, o pensamento volta ao fechar e excluir categorias de nações e fronteiras. Nesse momento difícil, verificou-se quão fraca é a idéia da comunidade europeia na prática. A União desistiu adequadamente da disputa por desistência, passando decisões em tempos de crise para os Estados-nação. Considero fechar as fronteiras nacionais o maior fracasso deste tempo miserável - os antigos egoísmos e categorias de "nossos" e "estranhos" retornaram, e é com isso que lutamos nos últimos anos na esperança de que nunca mais formate nossas mentes. O medo do vírus evocava automaticamente a crença atávica mais simples de que eles eram culpados de estranhos e de que sempre traziam uma ameaça de algum lugar. Na Europa, o vírus está "em algum lugar", não é nosso, é estrangeiro. Na Polônia, todos os que retornam do exterior tornaram-se suspeitos.

A onda de fronteiras fechadas, filas monstruosas nos postos de fronteira provavelmente foram um choque para muitos jovens. O vírus lembra: existem fronteiras e estão indo bem.

Também tenho medo de que o vírus nos lembre rapidamente de outra velha verdade: quanto não somos iguais. Alguns de nós voam de avião particular para uma casa em uma ilha ou em um refúgio na floresta, enquanto outros ficam nas cidades para operar usinas de energia e estações de tratamento de água. Outros ainda arriscam sua saúde trabalhando em lojas e hospitais. Alguns ganharão da epidemia, outros perderão suas vidas. A crise que está por vir provavelmente minará os princípios que nos pareciam estáveis; muitos países não conseguem lidar com isso e, diante de sua decomposição, novas ordens são despertadas, como costuma acontecer após as crises. Sentamos em casa, lemos livros e assistimos séries de TV, mas, na verdade, estamos nos preparando para uma grande batalha por uma nova realidade que não podemos nem imaginar, entendendo lentamente que nada será o mesmo de antes. A situação de quarentena forçada e suborno da família em casa pode nos fazer perceber o que não gostaríamos de admitir: que a família está nos incomodando, que os laços matrimoniais há muito desapareceram. Nossos filhos colocarão em quarentena o vício da Internet e muitos de nós perceberão a falta de sentido e a esterilidade da situação em que se encontra a inércia e a mecânica. E se o número de assassinatos, suicídios e doenças mentais aumentar?

Diante de nossos olhos, o paradigma da civilização que nos moldou nos últimos duzentos anos está soprando como fumaça: que somos os mestres da criação, podemos fazer tudo e o mundo nos pertence. Novos tempos estão chegando.

Fonte: onet.pl e Facebook
Texto: Olga Tokarczuk
Tradução do polaco para português: Ulisses Iarochinski

segunda-feira, 16 de março de 2020

Crianças polacas vivendo como alemãs

Vítimas esquecidas: as crianças polacas raptadas pelos nazistas
Entre os numerosos crimes do nazismo está o sequestro de menores "racialmente valiosos" para serem germanizados à força. Com a infância destruída e a vida fragmentada, os sobreviventes não são reconhecidos como vítimas.

crianças polacas germanizadas - Foto: DW
Os genitores de Alodia Witaszek ainda estavam vivos quando ela foi levada embora. No outono de 1943, chegou com a irmã pequena ao "campo de cuidados juvenil" de Litzmannstadt, a cidade polaca de Łódź, onde ambas seriam "germanizadas", ficando proibidas de falar polaco.

As irmãs Witaszek foram apenas duas entre dezenas de milhares: o sequestro infantil organizado era parte da política de raças do nacional-socialismo, visando transformar em alemãs as crianças "racialmente superiores" das regiões anexadas no Oeste da Polônia.

Os juizados de menores registravam aqueles cuja aparência consideravam "ariana", representantes dos Departamentos de Saúde os submetiam a exames médicos, e os selecionados de "bom sangue" eram enviados a um lar para menores, onde tinham seus nomes germanizados e eram obrigados a aprender alemão.

Em seguida, a associação estatal Lebensborn, da milícia paramilitar SS, assumia a responsabilidade, entregando os mais jovens a famílias filiadas, e os maiores aos internatos denominados "deutsche Heimschulen" pelos nazistas. Privando as crianças de sua memória e sua identidade, elas eram "germanizadas".

O programa de sequestro infantil integrava os planos de reordenamento dos nazistas para a Europa ocupada. Em junho de 1941, o Reichsführer da SS Heinrich Himmler declarara a necessidade de arrebanhar as "crianças pequenas de raça especialmente boa das famílias polacas".

Contudo a política não foi aplicada só na Polônia: também em regiões ocupadas da União Soviética, Bielorrússia, Ucrânia e Eslovênia os filhos pequenos foram brutalmente subtraídos de suas famílias. Os filhos dos trabalhadores forçados eram afastados das mães, entregues a famílias alemãs ou maltratados nos internatos.

Na Reichsschule für Volksdeutsche (Escola do Reich para Alemães Étnicos) em Achern e no orfanato da Lebensborn de Steinhöring, ambos no sul da Alemanha, quem insistisse em falar a língua materna, em vez de alemão, era punido ficando sem refeições ou de castigo no porão.

Alodia Witaszek (esq.) ao lado memorial do antigo internato de menores em Łódź, Polônia
Mancha branca na história alemã
Passados 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, o sequestro de crianças pelos nazistas praticamente não é abordado na Alemanha: trata-se de "uma mancha branca na historiografia", condena Artur Wróblewski, jurista polaco que escreve para o portal de internet Interia. E ele quer mudar isso, juntamente com seis outros jornalistas e historiadores.

O grupo foi atrás do destino de sobreviventes como Alodia, que sofreram no próprio corpo a destruição de sua infância e, muitas vezes, de toda a vida, pela megalomania racista dos nazistas.

O resultado das pesquisas foi lançado em livro na Polônia em 2018 e, em fevereiro de 2020, em alemão, pela editora Herder, sob o título Als wäre ich allein auf der Welt. Der nationalsozialistische Kinderraub in Polen (Como se eu estivesse sozinha no mundo. O sequestro nacional-socialista de crianças na Polônia).

Quase todas as testemunhas da época que lá tomam a palavra relatam sobre a repetida procura inútil por suas próprias famílias, sobre a, em geral dolorosa, repatriação após a guerra. E narram o trauma adicional de não serem reconhecidas como vítimas.

Aos 84 anos, Hermann "Romek" Lüdeking ainda luta pelo reconhecimento de seu destino de vítima
Jornalismo investigativo a serviço da justiça
A jornalista Monika Sieradzka, que trabalha para a mídia alemã e polaca, e sua colega Elisabeth Lehmann, da emissora MDR, foram um passo mais adiante no trabalho de investigação. Após anos de pesquisas, elas reuniram vítimas do sequestro estatal para contar diante de câmeras sobre suas vidas fragmentadas, no documentário Kinderraub der Nazis. Die vergessenen Opfer (Raptos infantis dos nazistas. As vítimas esquecidas), coproduzido pela Deutsche Welle.

Hermann Lüdeking é um dos protagonistas que nunca conseguiram reencontrar suas raízes, apesar de buscas incessantes. Aos seis anos de idade, ele foi colocado num internato, e mais tarde entregue à família Lüdeking, da SS, como "material valioso, do ponto de vista racial".

A única coisa que conseguiu descobrir, pesquisando tenazmente em arquivos e documentos, foi seu nome polaco original: Roman Roszatowski, apelidado "Romek". Crescido no Sul da Alemanha, onde ainda vive, há muito Lüdeking esqueceu o idioma materno.

A associação Geraubte Kinder – Vergessene Opfer (Crianças roubadas – vítimas esquecidas) o ajudou a investigar suas raízes. Os arquivos da Lebensborn foram destruídos após a Segunda Guerra, quando, durante os Processos de Nurembergue, a entidade foi classificada como benemerente. Os juizados de menores locais não dispunham de dados sobre as crianças raptadas.

Sozinho, aos 84 anos, Hermann Lüdeking ainda luta pelo reconhecimento, também moral, como vítima – até agora, em vão. "Os alemães não querem saber de nada disso, pois lhes custaria dinheiro", comenta, amargurado. "Até hoje, Hermann, aliás Romek, se sente um estranho em 'seu' país", constata Monika Sieradzka.

Texto: Sabine Peschel
Fonte: Radio Deutsche Welle

sexta-feira, 6 de março de 2020

Auschwitz: Livro com capa de pele humana

Um objeto histórico único, com certeza. Um álbum de fotos encadernado com uma capa feita de pele humana foi adicionado às coleções do Museu Estatal de Auschwitz, na cidade de Oświęcin, na Polônia. Pesquisas feitas por especialistas do Museu indicam que a capa pode ter sido confeccionado no Campo de Concentração Alemão, em Buchenwald, na Alemanha.

Foto: Marek Lach
As coleções do Museu já possuem outro objeto muito semelhante devido à técnica de execução. Graças a isso, testes comparativos com o uso da tecnologia FT-IR foram realizados. Com o espectrofotômetro disponível no Museum Conservation Studios, foi possível determinar a composição de ambas as capas.

"A análise comparativa mostrou o conteúdo da pele humana e quantidades muito semelhantes de poliamida 6 e poliamida 6.6. O conteúdo de polímeros utilizados para a produção de fibras sintéticas é importante porque foram inventados apenas em 1935. Essas informações nos permitem determinar o tempo de criação da capa. As poliamidas durante a Segunda Guerra Mundial foram uma novidade técnica e o acesso a elas foi limitado. No Reich, fibras artificiais foram usadas para fabricar pára-quedas", disse Elżbieta Cajzer, diretora das coleções do Museu de Auschwitz.

Resultado dos testes
Segundo relatos de prisioneiros do campo de concentração alemão em Buchenwald, a pele humana era tratada como material para a produção de objetos utilitários como encadernação de livros e carteiras de bolso.

Em seu relato, o ex-prisioneiro de Buchenwald, Karol Konieczny disse: "Coloquei tudo nas capas recebidas dos colegas da encadernação do campo. Obviamente, como você pode imaginar, as capas eram feitas de peles humanas, provenientes dos "recursos" da SS. Era sobre garantir documentos de bestialidade e genocídio nazistas".

Foto: Marek Kach
"Pesquisas indicam que, com uma probabilidade muito alta, podemos concluir que os dois coletores de pó, devido à tecnologia e composição, vieram da mesma oficina de encadernação. O uso da pele humana como material de produção está diretamente associado à pessoa Ilse Koch, que, juntamente com o marido, fez um histórico vergonhoso na história como carrasca do campo de Buchenwald", acrescentou Cajzer.

O campo alemão também é lembrado por ser onde Isle Koch, esposa do comandante Karl-Otto Koch realizava experiências artísticas. Ela é conhecida pelo estranho interesse em peles tatuadas, geralmente de homens, que eram assassinados para ela poder usar o tecido na produção de objetos de decoração e souvenirs.

A crueldade de Koch e o uso que fez de pele humana em livros, tampos de mesa, luminárias e dedos como botões nas luminárias, a mulher foi absolvida no tribunal de Nuremberg.

No álbum, que foi colocado novamente na sobrecapa, como evidenciado por dobras no papelão, cortes para caber na capa de papel, havia mais de 100 fotografias e cartões postais. As imagens mostram principalmente paisagens e panoramas.

Fotos sem nenhuma relação com os horrores nazistas
A partir de informações obtidas pelos funcionários do Museu, parece que o álbum e a capa pertenciam a uma família da Baviera que, durante a Segunda Guerra Mundial, administrava uma casa de hóspedes em uma cidade termal. Presumivelmente, a capa chegou às mãos dos proprietários como presente de um membro da da guarda nazista do campo de Buchenwald.

O item, que é indubitavelmente a evidência de um crime contra a humanidade, está agora na posse do museu, cortesia feita por um doador, o Sr. Paweł Krzaczkowski. Entramos em contato com ele graças à Fundação da Coleção Pine Family.

Fonte: Museu Estatal de Auschwitz
Tradução e adaptação para o português: Ulisses Iarochinski

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Sete palavras inglesas que vieram do idioma polaco

Sete palavras do idioma inglês que você não sabia que vieram do idioma polaco. Aqui estão alguns exemplos que mostram que o trânsito nunca foi unidirecional, ou seja, o aparecimento na Polônia de termos ingleses no final do século XX e início do XXI, mas que também essas transferências linguísticas podem ser bastante complicadas.

Quer saber quais são elas? Algumas até chegaram ao português.

Foto: Piotr Baczewski

1. Gherkin

O termo americano "pickle" (no Brasil também), o Britânico "gherkin" e o polaco "ogórek kiszony", o que têm em comum liguisticamente?

O termo que os britânicos e leitores americanos chamam de "pickle", provavelmente foram emprestados de idiomas germânicos (compare-os com o alemão 'Gurke'), os quais certamente tomaram emprestada de um idioma eslavo. O idioma polaco por ser o mais próximo geograficamente, concretamente não é surpresa que o "ogórek kiszony", tradução polaca para pepino azedo, ou pepino em conserva, se encaixe na descrição do termo exportado além fronteira para o mundo anglo-saxão.

2. Mazurka

Os ritmos animados dessa popular dança folclórica polaca originária da Mazóvia foram imortalizados em todo o mundo pelo gênio da música de Fryderyk Chopin. No entanto, as chances são de que essa palavra tenha chegado ao inglês via russo, a palavra polaca original é na verdade mazurek. Considerando que Mazóvia está localizada na Polônia, não pode haver dúvida de que veio da Rússia a partir da Polônia.

3. Quark

Essa palavra do mundo da física - que denota o menor elemento que constitui nossa realidade física - parece a princípio pouco ter a ver com a Polônia. É certo que foi cunhada por James Joyce em Finnegans Wake, antes de ser reaproveitada pelo físico Murray Gell-Mann, que o considerava um nome adequado para a minúscula partícula necessária no modelo teórico em que ele estava trabalhando. Como se acredita, a palavra usada por Joyce estava ligada à palavra alemã "quark", que por sua vez é um antigo empréstimo da palavra polaca "twaróg"  (ou eslavo). A palavra polaca é traduzida para português como requeijão. Estranho? Também pensamos assim. Ainda assim, é emocionante encontrar um pedaço da Polônia lá fora, no universo frio de átomos anônimos.

4. Schlub

Uma maneira de entrar em outro idioma é a bordo de um outro. Esse contrabando foi praticado com sucesso pelos polacos quando utilizou o idioma ídiche para esse fim. O polaco (ou eslavo) está na verdade no cerne de muitas palavras em ídiche que fizeram parte do vocabulário americano-inglês, mais frequentemente aparecendo em gírias. Um exemplo é a palavra "schlub", que se refere a alguém desajeitado, estúpido ou pouco atraente. A palavra em iídiche supostamente remonta ao polaco "łób"(pronuncia-se úub)  que na verdade significa "manjedoura", por incrível que pareça.

5. Spruce

A palavra em inglês para essa árvore perene tem uma etimologia inexplicável. Embora sua conexão com a Prússia seja indiscutível (a Prússia era a área da qual a madeira serrada, assim como muitas outras mercadorias foram importadas para a Europa Ocidental pelos comerciantes hanseáticos), os estudiosos têm se esforçado bastante para dar conta das iniciais. Nossa hipótese, chame-a de etimologia popular, se você quiser, é de que a fonte possa ter sido a frase "z Prus" (da Prússia). Caso você esteja se perguntando, a palavra polaca para abeto vermelho é "świerk". E esta árvore estava no território polaco ocupado pelo Reino da Prússia até 1870 (depois deste ano pela República da Alemanha).

6. Vitamin

A palavra na forma de vitamina foi criada, em 1912, pelo bioquímico polaco Kazimierz Funk (e aí no sobrenome mais uma palavra que virou ritmo de rua nos Estados Unidos e nos Morros e quebradas cariocas). Funk foi um dos primeiros cientistas a formular o conceito das vitaminas, embora ele acreditasse erroneamente que fossem apenas aminas e, por isso, "vitais". Ainda assim, o nome polaco ficou universalmente conhecido e somos mais saudáveis por isso.

7. Vodca

Nunca saberemos qual a útima melhor fonte de vodka para o idioma inglês - muitos dizem que é do russo, enquanto outros (sim, nós, polacos) argumentam que a palavra (é "wódka", pronuncia-se vudca) e a bebida com certeza inabalável foram inventadas na Polônia. De qualquer forma, a palavra significa "pouca água" nos dois idiomas e, para o bem ou para o mal, desempenha um papel importante nas culturas culinárias e etílicas de ambas as nações - polaca e russa. Alguns tradutores para o português erroneamente traduzem como aguardente, mas não é, apenas pode ser pelo conceito alcóolico e nunca etimológico.

Fonte: Kultura.pl
Texto: Mikołaj Gliński,
Tradução e adaptação para o português: Ulisses Iarochinski

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Governo da Polônia entrega o primeiro Cartão Polaco da América Latina

Casa da Polônia, em Varsóvia, Cartão Polaco para descendentes de emigrantes da América do Sul.

A Karta Polaka para os dois primeiros descendentes de polacos da América do Sul foi entregue, neste 11 de fevereiro de 2020, na Casa da Polônia (Dom Poloni), sede da Associação "Comunidade Polaca" (Wspólnota Polska), na ulica (rua) Krakowskie Przedmieście, em Varsóvia.

A entrega dos documentos foi feita pelo ministro Jan Dziedziczak - plenipotenciário do governo da Comunidade Polaca e pelo ministro Szymon Szynkowski vel Sęk. Os primeiros cidadãos a receber as Carteiras de Polacos foram Lourival Araújo Filho - diretor artístico do Wisła Música e Dança Folclórica do Paraná e presidente da Sociedade Polono Brasileira Marechal Piłsudski de Curitiba e o estudante Gabriel Kotecki, do município de Cruz Machado - PR.

Gabriel e Lourival recebendo os diplomas e as carteiras
Em nome do Sejm (Câmara de Deputados) da República da Polônia, estiveram presentes a vice-presidente do Sejm Małgorzata Gosiewska e a deputada Anna Schmidt Rodziewicz. Também o bispo Wiesław Lechowicz, delegado da KEP-Conferência Episcopal Polaca e presidente da Comissão da Comunidade dos Polacos no Exterior.

VOCÊ ESTÁ EM CASA
"Lembre-se e encaminhe esta mensagem: a Polônia está esperando por você, a Polônia está aberta para você. Convidamos você para vir a Polônia. Vocês são polacos, são descendentes daqueles que deixaram a Polônia e têm o direito de vir ao nosso país; isso também é dado a você através do Cartão Polaco, documento confirmando que pertences à nação polaca", disse nesta terça-feira, o ministro plenipotenciário do governo da diáspora polaca e polacos no exterior, Jan Dziedziczak, durante a cerimônia de apresentação do primeiro Cartão Polaco concedido a residentes da América Latina.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a Polônia na América Latina tem mais de 2,5 milhões de pessoas (Corrigindo o ministério: são mais de 5 milhões de descendentes e polacos natos).

Jan Dziedziczak enfatizou que a cerimônia era "de natureza histórica". Segundo ele, "a Polônia também está abrindo, através deste ato legislativo, este documento para dois milhões de polacos do Brasil (corrigindo o ministro: são cerca de 4 milhões de brasileiros descendentes de imigrantes da Polônia). Obrigado - como Estado polaco - pelo que nossos polacos no Brasil fazem há mais de cem anos. Você preservou a polonidade e isso não é tão óbvio em muitos países".

"Apoiamos a comunidade polaca que vive na América Latina de várias maneiras. Esse apoio, por um lado, através de postos diplomáticos e consulares, também é apoiado por organizações não-governamentais, apoio fornecido pela Associação Comunidade Polaca, ou seja, muitos projetos culturais, muitos projetos educacionais que recebem financiamento do Ministério das Relações Exteriores, seja organizando cursos de língua polaca, ou liderando grupos folclóricos", disse o vice-ministro de Relações Exteriores, Szymon Szynkowski vel Sęk, durante a cerimônia em Varsóvia.

Sęk acrescentou que "aumentar os laços da polonidade com esses projetos, com esse apoio, também aumentou a expectativa de que a Carteira de Polaco esteja disponível para a diáspora polaca nos países da América do Sul". Segundo Szynkowski, também conhecido como Sęk, o chefe do KRPM - Gabinete do Primeiro-Ministro da República da Polônia, Michał Dworczyk percebeu esse interesse pela Karta Polaka em países onde ela não estava disponível.

"Ele conheceu esse interesse e foi um dos co-patrocinadores dessa iniciativa para abrir a possibilidade de emitir cartões polacos para pessoas que estarão ligados à polonidade em muitos países do mundo graças à emenda", disse o vice-chefe do Ministério de Relações Exteriores.

NA CASA DA COMUNIDADE POLACA
A cerimônia ocorreu na Casa Polônia por um motivo. A reunião foi organizada pelo presidente da "Associação Comunidade Polaca", Dariusz Piotr Bonisławski, que, percebendo as necessidades da comunidade polaca na América do Sul, como um dos propósitos das atividades da Associação e que há muito apóia manifestações nas áreas da educação, da cultura e também no último ano, com a realização do Congresso Mundial para a Juventude Polaca, em Curitiba.

O Congresso que foi realizado ano passado, pela primeira vez na América do Sul, teve a organização local do documentado Lourival Araújo Filho.

Lourival Araújo Filho faz sua manifestação de agradecimento
"Receber a Primeira Karta Polaka entregue  ao Brasil foi histórico e sei que significa muito, não só pra mim, mas também para pessoas que sonham em ter um documento oficial. Sei que muitos agora vão se interessar por este cartão que dá direito há alguns benefícios na Polônia", disse Araújo Filho.

Para o diretor e coreógrafo do mais antigo grupo folclórico polaco do mundo, o Wisła, e presidente da Sociedade Marechal Piłsudzki, de Curitiba, a felicidade é enorme. "Mas claro, o que mais importa é ter a clara noção de que ao tê-la passei a poder dizer que sou documentalmente polaco. Alguém pode dizer: - ah! Mas a Karta não vale como passaporte e cidadania - isso é verdade. Mas eu não tenho o menor interesse em morar em algum outro país da Europa. Absolutamente! Mas se eu quiser, venho morar na Polônia e a Karta Polaka me permite isso. E a cidadania? Calma, que um dia, se for pra ser, será!", disse ele.

Lourival é descendente de polacos pelo lado materno e já viveu e estudou na Polônia, onde fez o curso de idioma e cultura polaca da Universidade Iaguielônica de Cracóvia, curso de coreógrafos de danças folclóricas da Universidade de Lublin, e deu início ao doutorado de história (não concluído ainda), nos anos de 2003 a 2006. Ele é professor de história e já foi diretor do Instituto Paranaense de Educação além de diretor do núcleo regional de educação, em Curitiba, da Secretaria Estadual de Educação.

Lourival informou que fez a solicitação no Consulado Geral da Polônia em Curitiba, no segundo semestre de 2019, quando comprovou através de documentos que é o presidente da Sociedade Marechal Piłsudski, diretor-coreógrafo do Grupo Folclórico Wisła, que possui certificado do curso de idioma e cultura polaca da Universidade Iaguielônica de Cracóvia além de substancial relatório de realizações culturais em pról da Polônia.

Já Gabriel Kolecki é de Cruz Machado, Sul do Paraná, descendente dos imigrantes polacos que chegaram ao Pátio Velho, na maior colônia de imigrantes do Brasil, em 1911, junto com outros 5.500 indivíduos procedentes das regiões polacas invadidas e ocupadas pelo Reino da Rússia e Império Austríaco.

Gabriel atualmente é aluno-bolsista descendente de polacos, do Ministério da Educação da Polônia, e estuda na Universidade de Łódź. Em dezembro passado, de férias escolares no Brasil, Gabriel deu entrada no pedido da Karta, no Consulado Geral da Polônia, em Curitiba. Pouco mais de dois meses depois, ele é o segundo latino-americano a receber o documento.

CARTÃO DE POLACO
O cartão (ou carteira) do polaco confirma o pertencimento à nação polaca. Os candidatos ao cartão devem demonstrar sua relação com o idioma polaco - incluindo pelo menos conhecimento passivo da língua polaca, comprovar que um dos pais ou avós ou dois bisavós eram de nacionalidade (origem) polaca; ou apresentar um certificado de atividades de uma organização comunitária polaca em benefício da cultura e do idioma polaco.


Os portadores do Cartão que forem para a Polônia com a intenção de se estabelecer permanentemente receberão uma carteira de visto de residência permanente gratuitamente, receberão a cidadania polaca após um ano e, enquanto isso transcorre, poderão contar com ajuda durante o período de adaptação. Podendo ainda solicitar um benefício em dinheiro para cobrir os custos de desenvolvimento e manutenção contínua por até 9 meses, co-financiamento para alugar um apartamento e aprendizado intensivo de idioma polaco ou cursos profissionais.

CAMINHOS PARA APROVAÇÃO DA EMENDA
Até a a aprovação e sanção da emenda ano passado, o Cartão de Polaco era concedido apenas a pessoas de origem polaca que viviam em 15 países da Europa Oriental, formados ou renascidos após o colapso da URSS, que não reconhecem a dupla cidadania.

A emenda da lei do ano passado estendeu as atividades do Cartão de Polaco a todos os países do mundo e contou com o apoio decisivo da Associação Nacional dos Pequenos e Médios Empresários da Polônia, da Associação Nacional dos Empresários e Empregadores da Polônia, do ex-cônsul geral da Polônia, em Curitiba, e de um jornalista brasileiro-polaco (dupla cidadania).

LANÇAMENTO DA CAMPANHA "VAMOS TRAZER OS POLACOS DO BRASIL"
Lançamento da Campanha pela Karta Polaka, na sede da ZPP, em Varsóvia
Na foto, em fevereiro de 2019, na sede nacional da ZPP - Associação Nacional dos Empresários e Empregadores da Polônia, Cezary Kaźmierczak, presidente da ZPP, ex-deputado nacional e atual presidente Adam Abramowicz da ANMPE - Associação Nacional dos Médios e Pequenos Empresários da Polônia, o diretor Piotr Palutkiewicz da ZPP, um representante do Ministério da Relações Exteriores, o ex-cônsul geral da Polônia em Curitiba (e atual embaixador dos polacos no estrangeiro) Marek Makowski e o jornalista paranaense-polaco Ulisses Iarochinski no telão, via skype, direto de Curitiba.

A campanha chegou ao Congresso Nacional da Polônia e acabou sendo aprovada como emenda à Lei da Karta Polaka, existente desde 2007, que era apenas para polacos e descendentes de polacos dos antigos países da União Soviética, em 16 de maio de 2019. Em seguida foi à sanção presidencial pelo presidente da República da Polônia, Andrzej Duda, no dia 4 de junho de 2019.

A Lei com suas alterações foi publicada no Diário Oficial do governo da República da Polônia, o chamado de Dziennik Ustaw (ou Diário das Leis, ou Revista das Leis) no dia 13 de junho de 2019.

O chefe de gabinete do governo, Michał Dworczyk, disse que durante a tramitação parlamentar no Congresso, a Carta Polaca tinha sido originalmente preparada para ser concedida apenas para polacos que vivem além da fronteira oriental do país. "Mas em seguida, uma série de ministérios ficaram preocupados como essa lei. Temiam que sua abrangência iria afetar as finanças do Estado. Mas quero dizer que estas preocupações não existem mais."

Para maiores informações do processo e exigências para solicitação da Karta Polaka contactar os Consulados Gerais da Polônia.

Em Curitiba
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Fontes: Stowarzyszenia "Wspólnota Polska", ZPP, ANMPE, Sejm e imprensa polaca
Tradução e reportagem: Ulisses Iarochinski