quarta-feira, 7 de junho de 2023

Polônia superpotência?

A Polônia é constantemente vista com indiferência.


Em que pese, todas as contribuições que já ofereceu ao mundo em várias áreas. O mundo permanece em silêncio quando a
notícia é sobre a Polônia. Televisões e imprensa do mundo todo preferem falar da gravata do presidente americano, ou dos escândalos da família real britânica, do que dos esforços polacos para acolher milhares de refugidos ucrânianos. Preferem silenciar que desde que a União Soviética caiu, por um esforço, concretamente dos polacos, o país vem experimentando um crescimento econômico espantoso.

Sim! Indiferença, desconhecimento, ou apagamento intencional.

Pois, quem não se lembra da famosa “Mesa Redonda” de Gdańsk de Lech Wałęsa, dos operários e mineiros da Polônia que deram um cheque-mate em Moscou?

O mundo prefere anunciar o fim da URSS como decorrente da queda do muro de Berlim. Nada mais cabotino

Olhassem com mais atenção para a Polônia, notariam que últimas três décadas, o país vem se transformando no que alguns especialistas chamam de a próxima grande superpotência do continente europeu. Antes da pandemia, a economia polaca vinha crescendo inabalavelmente por 28 anos consecutivamente, segundo dados apresentados pelo jornal inglês Financial Times, em 2019, sobre a situação financeira do país.


E outro jornal inglês, o The Telegraph, publicou num artigo agora no mês de maio último, que “em nenhum outro lugar do império soviético, o poder popular prevaleceu de forma tão triunfante quanto na Polônia. A terra das causas perdidas, tornou-se a vanguarda da liberdade e da prosperidade.”

Não bastasse isso, economia da Polônia emergiu fortemente, após o auge da pandemia da covid-19, de acordo com dados da London School of Economics.


Há poucos dias, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE divulgou a lista com os 34 países de maior crescimento do PIB - Produto Interno Bruto no primeiro trimeste de 2023.

Na lista, em primeiro lugar apareceu a Polônia com um crescimento de 3,90%. Superou a China que cresceu 2,2% e o Brasil, em terceiro, com uma subida de 1,90%, no período entre janeiro e março.



Alguns atentos economistas dizem que “A Polônia é a garota-propaganda de uma transição bem-sucedida”, como Beata Javorcik, economista-chefe do Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento. Ela, acrescentou ainda que “em 30 anos, a Polônia passou de um país que sofria escassez, em quase todos os setores, para um que está entrando no clube dos países ricos”.

Mesmo assim, ainda não foi convidada para fazer parte do G7, nem do G20. Outro observador atento do crescimento polaco é o o líder do Partido Trabalhista britânico, Keir Starmer, que usando dados do Banco Mundial, previu que, com seu crescimento médio anual de 3,6%, a economia da Polônia vai ultrapassar a da Grã-Bretanha, até o final da década, conforme relatado pela “Sky News”, em fevereiro de 2023. O jornalista Daniel Johnson do “The Telegraph” escreveu, agora em maio, que:

“Em seu caminho atual, a Polônia está a caminho de se tornar mais rica que a Grã-Bretanha até 2030, graças a um milagre econômico pós-comunista. O país se tornou um foco para indústrias voltadas para o futuro, como fabricação de baterias e tecnologia.Varsóvia está usando essa força econômica para transformar o país em uma formidável força de combate para se proteger contra o lobo russo à porta. Sua disposição de enfrentar Moscou também conquistou aliados entre muitos países vizinhos. Enquanto a Alemanha e a França se confundem em relação à sua resposta à guerra na Ucrânia, a estrela da Polônia está em ascensão.”

Não é só na área econômica e de investimentos que a Polônia tem crescido. A sociedade polaca que, desde 2015 vem dando suporte ao PiS - Partido Direito e Justiça do líder Stanisław Kaczyński, de extrema-direita, que comanda a Presidência da República e a Chancelaria do Primeiro-Ministro, tornou-se um país xenófobo e intolerante. Chegou ao ponto de várias cidades proibir a entrada e a moradia de pessoas LGBT+ em seus municípios. No período da pandemia da Covid-19, o arcebispo de Cracóvia, desobedecendo as recomendações da OMS - Organização Mundial da Saúde, organizou procissões durante a semana santa sem máscaras. “Deus há de nos proteger”, teria dito e escrito o arcebispo da mesma Cúria, onde o Papa João Paulo II foi um dia o cardeal metropolitano.



Ainda esta semana, o Tribunal de Justiça da União Europeia - TJUE condenou a Polônia, num acórdão em que se pronunciou sobre um processo movido pela Comissão Europeia contra o Estado-membro por fazer uma reforma da justiça, em 2019, que viola o direito da UE.

Segundo a Comissão Europeia, o sistema judicial polaco implantado pelo governo do PiS, viola diversas disposições do direito da UE. O governo da Polônia em sua defesa alegou que a reforma era necessária para eliminar as influências da era comunista e combater a corrupção.

A reforma judicial condenada pela UE aumenta os poderes da seção disciplinar do Supremo Tribunal para punir magistrados em função do conteúdo dos seus vereditos. As sanções incluem a redução do salário, a suspensão temporária das funções e o cancelamento da imunidade para permitir o início de um processo penal contra o juiz em causa.

O TJUE anunciou claramente que "as medidas adotadas pelo legislador polaco são incompatíveis com as garantias de acesso a um tribunal independente e imparcial, previamente estabelecidas por lei", dando razão ao órgão executivo da UE.

Mas, ao lado de abrigar milhões de refugiados ucranianos que fugiram desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Polônia está se tornando uma das maiores forças bélicas da Europa, prestes a superar Grã-Bretanha, França e Alemanha. Também “a Polônia liderou o esforço de impor duras sanções contra a Rússia e apoiar a Ucrânia com forte assistência política, econômica e militar”, escreveu Arndt Freytag Von Loringhoven, em artigo para o Jornal Politico.

Żeleński e Morawiecki

A Polônia tem sido um importante não só na ajuda humanitária aos ucranianos como também à Ucrânia, de acordo com Loringhoven. A Polônia deu 300 de seus próprios tanques de guerra para seu vizinho. As autoridades polacas foram das primeiras a viajar para
Kiev.

Na iminência da guerra se estender ao seu território, a Polônia quer armar um exército imbatível. “O exército polaco deve ser tão poderoso que não precise lutar apenas devido à sua força”, disse o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki, na véspera do dia da independência da Polônia, ano passado.

A invasão da Ucrânia fez o governo da Polônia estabelecer a meta de aumentar suas forças armadas de 150 mil para 300 mil soldados, até 2035. Comparando com sua vizinha a Oeste, a Alemanha que possui 170 mil soldados.



Estimulado pela guerra vizinha e pelo medo crescente de que a Polônia um dia possa estar na mira de um Kremlin que busca retornar aos dias em que o império russo se estendia até o rio Vístula, o governo polaco está determinado a se armar - e rápido.

A Polônia passou a gastar algo próximo a US$ 10 bilhões em sistemas de artilharia Himars fabricados nos EUA, que se mostraram eficazes no conflito ucraniano-russo. Isto, só para dar apenas um exemplo dos planos de investimento bélicos.

Além disso, a Polônia está comprando uma frota de aeronaves F-35 Lightning II e 116 tanques Abrams, para substituir os caças MiG da era soviética e os tanques T-72 que o governo polaco decidiu doar à Ucrânia.

Os gastos com defesa subiram para 4% do PIB este ano. Era 2,5% no ano passado. Estes valores são mais do que o dobro daqueles dispendidos pela França, Alemanha, Itália e Espanha, e significativamente maiores do que os da Grã-Bretanha, que planeja atingir apenas 2,5%, em 2030.


A Polônia fez pedidos de 1.000 tanques de batalha K2 da Coréia do Sul e 250 novos tanques M1A2 SEPv3 Abram dos EUA. Isso transformará a Polônia no proprietário da maior força de tanques da Europa, superando a frota da Grã-Bretanha de 227.

Sua artilharia será reforçada pela chegada de 600 K9s, 18 lançadores HIMARS com 9.000 foguetes e 288 sistemas K239 Chunmoo MRL da Coreia do Sul. Mais de 1.000 veículos de combate de infantaria Borsuk fabricados na Polônia transportarão tropas polacas para a batalha, enquanto a cobertura aérea virá de 96 helicópteros AH-64E Apache comprados dos EUA e 48 aeronaves de combate FA-50 agora encomendadas da Coréia do Sul.



Também estão em andamento conversas sobre a construção de uma "enorme fábrica de armas" em colaboração com a Inglaterra, para ajudar a produzir e consertar equipamentos e armas destinados à Ucrânia.  “É de fundamental importância aumentar os níveis de segurança o mais rápido possível para a Polônia. Só podemos fazer isso criando um exército forte. Forte o suficiente para impedir qualquer agressor em potencial de decidir atacar”, disse Mariusz Blaszczak, ministro da Defesa polaco.

A Polônia planeja gastar cerca de 85 bilhões de libras esterlinas até 2035 em armas, e o orçamento de defesa, deste ano, alcança um recorde de 97 bilhões de złotych (18 bilhões de libras esterlinas) e mais 24 bilhões de libras esterlinas fora do orçamento que estão incluídos. 

As pretensões polacas não visam apenas dissuadir a Rússia, que compartilha uma fronteira terrestre em Kaliningrado, mas também pressiona a Alemanha a aumentar seu peso na aliança.

A fronteira russa-polaca fortemente armada e fortificada em Kaliningrado, é um alerta de como essa terrível história terminou, há 78 anos. Este pedaço russificado foi recentemente reforçado com armas nucleares. Ali, é o lar da frota russa no inverno e que existe para ficar de guarda no Báltico, principalmente, contra a Polônia.

O presidente polaco Andrzej Duda lançou no início deste mês o que chamou de “ofensiva diplomática”. Quer visitar líderes ocidentais para “aumentar a conscientização em vários cantos do mundo sobre o que está acontecendo aqui, em nossa região, sobre a natureza da bárbara agressão russa”.

Presidentes Duda e Żeleński

Por outro lado, é visível o papel da educação nos resultados polacos. O sistema de ensino polaco está entre os cinco ou seis primeiros entre 38 países da OCDE em leitura, matemática e ciências, bem acima de países mais ricos, como Grã-Bretanha, França ou Alemanha. Isso estabelece as bases para um crescimento econômico forte e continuo no futuro.

O sucesso de hoje tem sua origem, em grande parte, nas reformas de livre mercado do ministro da economia Leszek Balcerowicz durante o período imediatamente pós-1989. Balcerowicz era o homem com um plano – um novo tipo de plano – para abolir a economia planificada dos últimos 40 anos imposta por Moscou.

O Plano Balcerowicz foi um choque acelerado de alto risco que abriu os negócios polacos para o mercado global. Até o início da pandemia, a Polônia ostentava o maior período de crescimento ininterrupto do mundo: 28 anos.

Outra forma que poderia explicar esta mudança espantosa na Polônia é o viés histórico. Os alemães assassinaram 2,7 milhões de polacos de origem judaica na Segunda Grande Guerra Mundial, além outros 3 milhões de polacos católicos, protestantes e ciganos que também foram mortos. Uma grande parte da população foi deslocada durante e após a Segunda Guerra Mundial por decisão de Józef Stalin e os líderes ocidentais.

No último sábado, 4 de junho, data que comemora as primeiras eleições livres da Polônia desde a década de 30, marcou uma nova fase na vida da nação polaca. O país parece estar dividido neste momento. Mais de meio milhão de pessoas saíram às ruas das cidades da Polônia para protestar contra o partido que está há 8 anos no poder e quer se manter ali. O partido governante Direito e Justiça (PiS), está contando fortemente com os eleitores rurais em sua tentativa de ser reeleito para um terceiro mandato consecutivo no próximo outono.

As previsões para se tornar uma grande potência mundial pode sofrer um revés por causa da política nacional. Acusações de minar o estado de direito e supressão do debate público foram levantadas no partido de extrema-direita, enquanto um ar de paranóia paira sobre a política do país há algum tempo. A oposição liberal, liderada por Donald Tusk, o ex-presidente do Conselho Europeu e ex-primeiro ministro da Polônia, e seu partido PO - Plataforma Cívica consideram o PiS meramente a cabala católica reacionária de Kaczyński, hostil à União Europeia e às instituições da democracia polaca, incluindo o judiciário independente e a imprensa livre.

A ironia de que o estado de direito polaco está ameaçado sob um partido que se autodenomina Direito e Justiça não passa despercebida a muitos cidadãos polacos. A confiança no atual governo é de apenas 34,2%. O que foi comprovado nas manifestações do dia 4 de junho.

Apesar de sua história conturbada, a Polônia, hoje, é uma democracia vigorosa. Os polacos têm razão em se orgulhar de sua república e de suas forças armadas. Mas não deve haver lugar para paranóia. Os polacos não necessitam ver a Polônia como vítima ou como mártir. 



Qualquer que seja o caminho da política polaca é difícil ignorar o fato de que Varsóvia é a força que está batendo às portas da Europa e do mundo e, por isso, não pode ser escondida, silenciada, ou passar desapercebida pela mídia mundial.

Está na hora das televisões brasileiras pararem de falar sobre o mundo sob a visão exclusiva de seus correspondentes de Nova Iorque e Londres. O mundo está querendo ver “in loco”, o que se passa na Europa Central, sem o filtro da OTAN, UE e Washington.

Texto: Ulisses Iarochinski
Fontes: Gazeta Wyborcza, The Telegraph, Daily Digest e outras

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Silésia, uma terra polaca

Silésia histórica total

Silésia assim traduzida para português é grafada no idioma polaco como Śląsk, no próprio dialeto silesiano como Ślůnsk. Mas como ela sofreu, invasões, ocupações e intervenções alemãs, ela é chamada em alemão de Schlesien. Parte da Silésia histórica também fica na atual República Tcheca e, por isso, em tcheco é grafada como Slezsko.

Atualmente a Silésia é uma importante zona industrial tanto da Polônia, quanto da República Tcheca. No entanto, nos últimos anos depois das mudanças políticas ocorridas em 1989, a região tem sofrido enormes restruturações econômicas que implicam o fechamento de dezenas de minas de carvão, base energética, principalmente da Polônia.

Katowice

O nome latino Silésia, segundo algumas teorias, teria derivado dos silingos, um povo vândalo que supostamente viveu ao sul do mar Báltico ao longo dos rios Elba, Odra e Vístula, no século II.

Quando os silingos se deslocaram da região durante o período de migrações bárbaras, eles deixaram provas de sua civilização para trás. As mais evidentes provas são os nomes de lugares, adotados pelos eslavos como Śląsk, do proto-polaco Śląžsk, a partir do vândalo antigo Siling-isk (terra).

Esses povos passaram a ser conhecidos desde então como silesianos (forma latinizada do nome em polaco Ślężanie), mesmo que eles tivessem pouca coisa em comum com os silingos.

Opole

Achados arqueológicos dos séculos VII e VIII também descobriram antigas áreas amplamente habitadas, protegidas por um grande sistema de fortificações no oeste e no sul. A falta de um sistema semelhante no norte e no leste supõe que a noção de Silésia era parte de um grande Estado habitado por antigas tribos eslavas.

Witold Hensel, em “Les origenes de I’Etat Polonais” assinalou que, “a situação geográfica dos proto-eslavos demonstra que eles tinham por vizinhos ao Noroeste os saxônicos, a Sudoeste as tribos proto-célticas, ao Sul as tribos ilirianas e em parte proto-tracianos, ao Nordeste os proto-baltos, a leste os ugro-fineses, a Sudeste as tribos proto-tracianas e mais tarde iranianas”.

Plínio, o Velho, escreveu, em 79 d.C., que a faixa de terra entre o estuário do rio Vístula e o mar Negro era chamada de Cítia. Este povo tinha origem persa. Em meu livro, "Terras da Polônia", escrevi que:

Entre os anos 350 a 150 a.C., os celtas chegaram à região meridional polaca ocupando a região de Oeste a Leste. A maioria dos celtas se fixou no que, hoje, é o Sul da Polônia. Outros dois grupos celtas se estabeleceram nas terras da Silésia. Um deles, fixou-se na margem esquerda do rio Odra, ao Sul da atual cidade de Wrocław, e que incluía ainda o Monte Ślęża. O segundo grupo ficou ao redor das terras altas de Głubczyce. Estes grupos ficaram naquelas regiões durante o período de 400 a120 a.C. Sepulturas e locais celtas importantes de Głubczyce foram investigados em Kietrz e nos arredores de Nowa Cerekwia. O grupo do Monte Ślęża foi assimilado pela população local. Já o de Głubczyce migrou para o Sul. Descobertas recentes incluem assentamentos celtas em Wrocław e Wojkowice, onde um túmulo bem preservado do século III a.C., de uma mulher com braceletes de bronze e ferro, broches, anéis e correntes foi encontrado. (IAROCHINSKI, 2022)

Grande parte da Silésia é relativamente plana, embora o sul seja montanhoso. Está localizada em uma faixa que corre ao longo de ambas as margens do rio Odra, em seus trechos superior e médio, apesar de que se estende para o leste até a bacia superior do rio Vístula. A região também inclui muitos afluentes do Odra, incluindo o Bóbr (e seu afluente o Kwisa), o Barycz e o Nysa Kłodzka.

As Montanhas Sudetas percorrem em sua maior parte do extremo sul da região, embora no extremo sudeste alcancem as Montanhas Beskydy e as montanhas Beskid da Morávia, que pertencem à cordilheira dos Cárpatos.

Historicamente, a Silésia era limitada a oeste pelos rios Kwisa e Bóbr, enquanto o território a oeste do Kwisa ficava na Alta Lusácia (anteriormente Milsko). No entanto, como parte da Alta Lusácia foi incluída na província da Silésia em 1815, em alemão Görlitz, o Niederschlesischer Oberlausitzkreis e áreas vizinhas são consideradas partes da Silésia histórica.

Wrocław

Estas terras, juntamente com a voivodia polaca da Baixa Silésia e partes da voivodia de Lubusz, compõem a região geográfica da Baixa Silésia.

A Silésia passou por uma extensão semelhante no seu extremo leste. Ela estendia-se apenas até ao rio Brynica, que o separava de Zagłębie Dąbrowskie, na região da Małopolska (Pequena Polônia). 

Para a Polônia, a Silésia (Śląsk) é entendida como cobrindo toda a área ao redor de Katowice, incluindo Zagłębie. Assim, o nome Silésia (Województwo Śląskie) para a voivodia (correspondente a Estado) que cobre esta área.

A palavra Śląsk em polaco se refere exclusivamente a esta área também chamada de Górny Śląsk ou Alta Silésia. Daí, o porquê, a Dolny Śląsk, refere-se a Baixa Siléia. A histórica Alta Silésia também incluía a região de Opole (atualmente voivodia de Opole) e a terra silesiana, que fica na atual República Tcheca.

A Silésia tcheca consiste em uma parte da região da Morávia e do distrito de Jeseník, na região de Olomouc.

Assim, a Silésia polaca como um todo está dividida em três voivodias: Baixa Silésia cuja capital da Voivodia é a cidade de Wrocław, a Silésia cuja capital da Voivodia é Katowice, e ainda a voivodia de Opole, cuja capital tem o mesmo nome, fica entre as duas atuais regiões chamadas de Silésia.

A Baixa (Dolny) assim chamada é porque ela é uma região de planície, embora esteja mais ao norte-oeste do território.

Bielsko Biała

Enquanto, a Silésia - Górny - de Góra (montanha) Alta - está mais ao sul-leste. Embora tenha planície é, principalmente, uma região de montanhas.

Por ali para a cordilheira europeia chamada Cárpatos. Ela passa pela Alemanha, passa pela República Tcheca, Polônia onde recebe o nome de Sudetas, passa pela Eslováquia, Hungria e a atual Ucrânia.

Na Polônia, a cadeia de montanhas recebe dois nomes: Beskyde, na Voivodia da Silésia e Tatras, na Voivodia da Małoposka.

A chamada Silésia meridional (sul) nada mais é do que a região chamada apenas de Silésia (ou Alta Silésia), porque está justo ao sul-leste da Baixa Silésia.




A Baixa Silésia está no norte-oeste, portanto, atualmente existem duas Silésias, assim chamadas, devido à divisão administrativa realizada pela Polônia, em 1 de janeiro de 1999, quando foram criadas 16 novas voivodias, substituindo as 49 existentes desde 1 de julho de 1975, a que está ao Sul (meridional) é a Silésia (apenas assim, sem adjetivo de baixa ou alta).

Montanhas Beskydy

Texto: Ulisses Iarochinski

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Lublin, a primeira cidade republicana do mundo

Lublin não confundir com Dublin. Por favor, não!

Lublin é uma cidade histórica da Polônia e aquela com D é uma cidade irlandesa.

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Há tempos, desde que comecei este blog há quase 18 anos (está prestes a completar a maioridade no próximo 25 de julho), venho pensando escrever aqui sobre esta cidade onde as nações do Reino da Polônia e Grão-Ducado da Lituânia resolveram criar a Primeira República do mundo pós-idade média. E isto, no efervescer do Renascimento, em 1.º de julho de 1569.

"O acordo foi aceito em 28 de junho, assinado em 1.º de julho de 1569 e finalmente ratificado pelo rei polaco, em 4 de julho de 1569. O artigo 3 da confirmação da União de Lublin por Sigismundo II Augusto afirmava que o Reino da Polônia e o Grão-Ducado da Lituânia são um corpo inseparável e indiferente, bem como indiferente, mas uma Comunidade Comum, que de dois Estados e nações aboliu e uniu em um povo. Como resultado, foi criado um Estado conhecido na historiografia como Comunidade Polaca-Lituana - com um monarca comum, brasão, Sejm, moeda, política externa e de defesa - um tesouro, administrações, exército e judiciário separados foram preservados."

Quadro "União de Lublin" do pintor polaco Jan Matejko
retrata o momento da assinatura da criação da República das Duas Nações 

Mas para esclarecer qualquer confusão com a cidade irlandesa e a diferença de apenas duas letras aqui está a origem e significado dos dois nomes:

Segundo o "Słownik etymologiczny języka polskiego" (Dicionário etimológico da língua polaca) de autoria do linguista polaco Aleksander Brückner em sua página 302, Lublin:

"Lublin od imienia Lubla = Lubrza; kilka luboszynów, ciekawych dlatego, że kronilarz czeski, stary Koźma (r. 1120), wymyślił z Luboszyna czeskiego mylnie nazwę kobiecą Luboszy, Libuszy i imniemaną córkę Krolową za Przemysła wydał. Ależ Lubosza było imię męskie (jak panosza, junnosza). Mądrość średniowieczna i Lublin (nasz mistrz Wincenty) i.t.d "

Tradução: "Lublin do nome Lubla = Lubrza; vários Luboszyns, interessante porque o cronista tcheco, o velho Koźma (r. 1120), erroneamente cunhou do tcheco Luboszyn o nome feminino Lubosza, Libuszy e a suposta filha da Rainha de Przemysław. Mas Lubosza era um nome masculino (como panosza, junnosza). Sabedoria medieval e Lublin (nosso mestre Wincenty) etc." 

O nome da cidade aparece em fontes desde 1228, logo na sua forma moderna como tendo origem no nome pessoal Lubla. Este seria formado a partir do antigo nome pessoal polaco Lubomierz, formado a partir dos verbos lubić mais mieć e significando aquele que ama a paz.

No início da Dinastia Piast, a igreja de São Nicolau e uma estrutura defensiva de madeira foram edificadas na Colina do Castelo. No século XII, Lublin pertencia às terras de Sandomierz e, mais amplamente, à região da Pequena Polônia.

A primeira menção escrita de Lublin é de 1198. A cidade foi fundada segundo os preceitos da lei medieval de Magdeburg, sob o reinado de Bolesław - o Casto, por volta de 1257.

Em latim, ela foi chamada de Lublinum e a capital irlandesa tem origem na palavra "Dubhlinn" (também grafada Duibhlinn e Dubh Linn), cujo significado é "Lago Negro"

Em 1341, Casimiro III - o Grande, obteve uma vitória sobre os tártaros na Batalha de Lublin. Um ano depois, ele concedeu alvará regulador à cidade, que a circundava por muralhas.

Em 2 de fevereiro de 1386, durante um dos primeiros Sejms (Câmara) Gerais em Lublin, o lituano Jagiełło foi eleito rei da Polônia, por ter contraído matrimônio com a Rei Jadwiga (Santa Edvirges).

Em 1392, já com o nome polaco de Władysław (Ladislao) Jagiełło concedeu a Lublin o direito de armazém, pelo que ao longo dos anos a cidade se tornou um importante centro comercial. Responsável pela troca de mercadorias entre a Coroa do Reino da Polônia e o Grão-Ducado da Lituânia.

Em 1420, Andrzej, o bispo de Kiev, trouxe as relíquias da Santa Cruz para a igreja dominicana em Lublin.

Em 1474, Kazimierz Jagiellończyk estabeleceu aqui a capital da recém-criada voivodia de Lublin.

Sua origem está numa vila localizada na rota comercial que saía da área do Mar Negro, existente desde o século 6.

Do século 10 ao século 15, Lublin pertenceu a voivodia de Sandomierz.

Na Primeira República Polaca (de 1569), a cidade foi um importante centro administrativo, comercial e cultural.

A cidade começou a declinar e empobrecer no século 17 e assim continuou no século 18. 

Como resultado das ocupações estrangeiras e divisão do território da Polônia, Lublin passou a ser domínio austríaco e depois sucessivamente do Ducado de Varsóvia e do Reino da Polônia (domínios russos).

No final do século XIX, Lublin foi incorporada pela Vistula Railway à rede ferroviária russa, período que voltou a crescer e assumir papel mais industrial. Sua forma urbana também mudou.

Na Primeira e na Segunda Guerras Mundiais, foi vítima da economia predatória e do Holocausto.

Terminada a II Guerra Mundial e a mudança de sistema, Lublin desenvolveu-se rapidamente. Durante este tempo, a população mais do que triplicou. O ambiente acadêmico da cidade foi fortalecido. Várias fábricas foram instaladas e novos bairros residenciais foram construídos.

A vontade de escrever sobre Lublin cresceu quando escrevi meu primeiro romance, ambientado nas cidades de Lublin, Cracóvia e Łódź e dei o título de "Lublin com Amor", meio que plagiando Woody Allen que deu o nome para seu magnífico filme "Roma com Amor", por ser um palíndromo (diz-se de ou frase ou palavra que se pode ler, indiferentemente, da esquerda para a direita ou vice-versa.) Embora meu título não possa ser lido inversamente, ele corresponde exatamente a história que contei no meu livro (à venda no site da amazon.com).


Muito provavelmente, em breve, a versão em seriado (seis episódios) poderá ser vista nos festivais, salas de cinema, streaming do mundo inteiro.

 E finalmente chegou o dia de apresentar esta cidade que aparece na capa e contracapa do meu romance pintada por um autor desconhecido na idade média.

A CIDADE E SEUS ENCANTOS

Ela é a capital da voivodia e do poviat (cidade) e metrópole da região mais ao Leste da Polônia. A nona maior cidade da Polônia em população com 334.681 habitantes (dados de 30 de junho de 2021). Lublin está localizada a cerca de 170 km de Varsóvia, perto da fronteira de terras históricas: Małopolska (Pequena Polônia) e Rutênia Polaca (que incluía a Terra de Sanok, a Terra de Przemyśl, a Terra de Chełm, a Terra de Bełsk, a Terra de Halych e a Terra de Lwów, e a cerca de 100 km da fronteira com o território da atual Ucrânia).

O centro histórico da cidade

Uma bela cidade velha, um castelo diferente, um centro cultural moderno construído sobre ruínas, conjuntos habitacionais de vanguarda, um hospital ferozmente laranja que se eleva sobre a cidade. Há muitas surpresas arquitetônicas, culturais, históricas e espaciais que surpreendem.

A maior cidade polaca a leste do rio Vístula possui 20% de sua população formada por estudantes de suas inúmeras universidades. De acordo com um relatório do Instituto Econômico Polaco, Lublin é a quinta cidade mais acadêmica da Polônia depois de Varsóvia, Cracóvia, Wrocław e Poznań. Ao mesmo tempo, é uma das dez cidades da Polônia que detém o título de Monumento da História.

O centro velho de Lublin é um dos mais pitorescos da Polônia. Com muitos edifícios de quatro, oito séculos atrás. Os mais antigos foram erguidos já no século 13. Muitos foram construídos em 1317, quando Lublin recebeu direitos de cidade.

Um grande incêndio acabou causando uma transformação arquitetônica significativa na década de 1670, aqueles prédios medievais destruídos no incêndio foram substituídos por outros em estilo renascentista.

No século 17, as muralhas foram derrubadas para alargar a área urbana. Restaram apenas os Portais de Cracóvia e da Grodzka, além da Torre Gótica.

Antes da Segunda Guerra Mundial, obras de restauração estavam sendo realizadas. Quase 70% da cidade velha consistia em edifícios históricos originais. Uma exceção entre os centros históricos polacos destruídos durante o Holocausto.

Por isso é comum ainda recantos pitorescos da cidade, como a ulica (rua, pronuncia-se ulitssa) Ku Farze, um quase túnel, ou galeria.

Foto: Wojciech Pacewicz - agência PAP

Outro local no bairro mais antigo de Lublin é a Praça Po Farze, criada na década de 1840 após a demolição da igreja paroquial de São Miguel Arcanjo. Templo católico que existia desde o século 13.

A primeira edificação importante da cidade, era uma igreja gótica, e foi demolida, segundo o clero, porque tinha perdido fiéis para a catedral. Ela deixou de ser frequentada.
Durante as ocupações austríaca e russa não havia dinheiro suficiente para reparações, reforma e restauração.

Mas na década de 1930, as fundações da igreja medieval foram desenterradas e examinadas por arqueólogos. Em 2002, foram expostas e iluminadas, devolvendo à cidade esta relíquia do passado e transformando-a num curioso espaço público.

Foto: Wojciech Kozioł - Forum

O bairro judeu de Podzamcze desapareceu da cidade na Segunda Guera Mundial. Em 1939, os polacos de origem judaica constituíam um terço da população da cidade. Os alemães nazistas assassinaram a maioria deles. Muitos morreram no campo de extermínio em Belzec. As moradias do bairro foram totalmente destruídos.

Já no período socialista, imposto pela URSS, foi tomada a decisão de erguer novas casas no bairro judeu destruído. Aos pés do castelo de Lublin foi criada uma praça semicircular (que ainda serve de parque de estacionamento), rodeada por edifícios ao estilo da cidade velha. Pequenos vestígios do bairro judeu podem ser encontrados hoje nas ruas Lubartowska, Kowalska, Furmańska e Cyrulicza.


Foto: Marek Bazak

O memorável castelo de Lublin tem vista para a cidade velha tem um largo portão encimado por dois machados metálicos. Isto porque, ele é o resultado da reconstrução do edifício que se encontrava em ruínas, na década de 1820.

Havia uma muralha defensiva na colina do castelo desde o século 13 que foi ampliada primeiro no estilo gótico, depois no estilo renascentista. No entanto, não recuperou seu esplendor depois de ser destruído durante a invasão sueca. Pensaram em demolir aquelas ruínas, mas entre 1823 a 1826 decidiram reconstruí-lo para servir como uma prisão.

O prédio neogótico não entrou bem na história: logo após sua reconstrução, tornou-se um local de detenção para os participantes do Levante de Janeiro, depois para os revolucionários; no período entre guerras, ativistas comunistas foram trazidos para cá e, durante a guerra, membros da resistência.



O Departamento de Segurança (Urząd Bezpieczeństwa – UB) administrou uma prisão excepcionalmente severa entre 1944 e 1954 para prisioneiros políticos contrários ao controle stalinista. Muitas sentenças de morte foram executadas ali.

Mas finalmente, uma decisão sábia. Em 1957, o castelo ganhou nova função: tornou-se a sede do Museu Nacional.

E desde então, este belo e estranho castelo, além da sua coleção de escultura e pintura (pode ver a pintura União de Lublin de Jan Matejko), o museu possui valiosa coleção de moedas, medalhas e objetos militares.

Durante a reconstrução do castelo no século 19, uma torre gótica e a antiga capela do castelo foram incorporadas à sua nova ala. Pinturas históricas bizantino-rutenas do século 15 foram descobertas sob o pano de fundo da capela. O minucioso processo de pesquisa e restauração durou da década de 1970 até o final da década de 1990. Hoje, ele constitui um dos monumentos mais valiosos da arte medieval na Polônia.

O período mais doloroso da cidade foi monumentalmente comemorado em 1969, num dos bairros muito próximos ao centro da cidade, o Campo de concentração e extermínio alemão nazista de Majdanek, foi erguido o Monumento à Luta e ao Martírio.

Um impressionante e extenso complexo que incluiu os antigos barrações do campo, abriga a composição espacial e escultórica projetada pelo arquiteto e escultor Wiktor Tołkin e pelo construtor Janusz Dembek.

Sim! Eu estive lá várias vezes.

Abre-se com um portão-monumento abstrato, e atrás dele estende-se a chamada Estrada da Homenagem e da Memória, que conduz ao Mausoléu, uma enorme cúpula contendo as cinzas do crematório que existiu neste local. Este relicário monumental é decorado com uma inscrição reveladora: "Nosso destino é um aviso para você".


E finalmente, nos arredores, da cidade, o Parque Etnológico Skansen - Museu ao Ar Livre de  Lublin - localizado no vale do rio Czechówka, com uma rica arquitetura, exposições e  preocupação com o patrimônio imaterial da região Lubelska, mostra a diversidade cultural da voivodia.

Reúne objetos da vida anterior nas vilas rurais polacas e palácios dos senhores feudais. Também preserva o conhecimento sobre costumes, rituais, tradições e trabalho cotidiano de pessoas que viveram no passado.



A exposição é dividida em setores que refletem a paisagem e a diversificação etnográfica da região de Lublin: do planalto de Lublin, ácaros (aranhas, escorpiões), região do rio Vístula, da região da Podlaska (Podláquia - sob a floresta) e região do rio Bug, setores feudais e súditos.


Construções como um moinho de vento de Zygmuntów - o primeiro objeto que foi transferido para o Museu. Além disso, no segundo setor mencionado há uma igreja greco-católica de Tarnoszyn.



O objeto principal do setor feudal é a mansão do século 18 de Żyrzyn (com os interiores dedicados à nobreza proprietária de terras de classe média) localizada quase no centro da exposição e cercada por um jardim pitoresco.


A paisagem encantadora das regiões do rio Vístula e da Podláquia incentiva a caminhada e o descanso perto da água.

A natureza do Museu não só cria uma paisagem harmoniosa como também é um elemento vital que enriquece a exposição a céu aberto.

O modelo de vila rural da década de 1930, é encantadora.

Pode-se visitar no museu exposições de cabeleireiro, ferraria, cozinha judaica, correios, tabacaria, cervejaria, casa do prefeito e três oficinas: carpinteiro, sapateiro e sapateiro.

O complexo da igreja católica romana tem uma igreja de Matczyn, o presbitério de Żeszczynka.


Visitando este museu etnológico a impressão é a de que o tempo acabou de parar. Pode se tornar uma chance de vivenciar uma jornada especial e conhecer o passado.

Texto: Ulisses Iarochinski
Com informações e fotos de várias fontes.

terça-feira, 25 de abril de 2023

Sułoszowa a famosa da foto

Em vermelho, a vila polaca com a rua mais longa do país

Semanas atrás publiquei uma foto, no meu Facebook, e reproduzida no Instagram, de uma zona rural do Sul da Polônia. Horas depois levei um susto: nunca uma foto minha no Facebook desde que entrei na rede, em 2005, teve tantas curtidas.

Este foi o texto que escrevi acompanhando a foto:

Zona rural da Polônia.

A reforma agrária ocorrida no país mudou a paisagem. Ao lado das estradas foram divididos lotes retangulares. As casas construídas às margens das estradas estão na frente das terras cultivadas. Em sua maioria, os sítios (ou fazendas) foram divididos com 2 hectares cada. Esta foi a primeira imagem que vi da janela do avião que sobrevoava a terra do meu avô quando cheguei na Polônia, em 1995.

E esta foi a foto:


São exatas 328 curtidas, 66 comentários e 366 compartilhamentos do dia 19 de março até hoje 25 de abril. O número de compartilhamentos superou as curtidas. Nos comentários, até apareceu ignorantes comentando bobagens como:

"passando pra lembrar que lá tanto o naz--- quanto o comunismo são crimes (pois para eles, ambos são igualmente terríveis)"

Ou esta, fora de contexto: 

"Sai fora, petista. Isso não foi reforma agrária. Vai mentir mais?"

Esta então foi mais longe na ignorância:

"arrancaram toooooodas as arrrrvoooores também!!!! Na verdade, literalmente está o mundo todo com a cabeça na lua!!!!!!sem árvores, sem floresta sem bichos sem rios...fim da humanidade!!!!"

Não resisti e tive que esclarecer esta parva:

Não! A Polônia é conhecida pela preservação das árvores, como nenhum outro país no mundo. A Polônia possui muitos bosques e florestas. Inclusive a única floresta primária intacta do continente europeu está na Polônia. Bielowieża é seu nome e também a única a abrigar uma manada nativa de 500 bisões.


Claro, tenho absoluta certeza que não foi minha postagem nem os compartilhamentos que de repente colocaram a vila rural de
Sułoszowa na lista das fotos e reportagens mais vistas e reproduzidas dos últimos dias. Mas a verdade é que não é só esta vila polaca, com esta particularidade de todas as casas serem ao longo de ruas ou estradas vicinais, rodovias do território da República da Polônia.

Mas já que a repercussão maior é a do vilarejo localizado na voivodia (Estado) da Małopolska (Pequena Polônia), no distrito de Olkusz, no município de Cracóvia, conto que já em 1595, a vila, então pertencente ao município de Proszów era propriedade de Stanisław Szafraniec, um oficial do exército polaco. Nos anos de 1975 a 1998, a pequena vila pertenceu administrativamente à voivodia de Cracóvia. Em 2013, a vila tinha 5.805 habitantes.



Geograficamente, Sułoszowa (pronuncia-se suúchóvá) está localizada no planalto de Olkusz, a 26 km a noroeste do centro da cidade de Cracóvia. A parte sul de Sułoszowa, está Pieskowa Skała, faz parte do Parque Nacional Ojcowski.

As nascentes do rio Prądnik estão localizadas na vila, em seu curso inicial é chamado Sułoszówka.

Ela ganhou esta notoriedade na Internet por constatarem que uma das ruas (estrada) mais longas da Polônia - ela se estende por cerca de 9 km ao longo da estrada desde o n.º 773 Sieniczno - Wesoła perto de Słomniki.




Antes da Segunda Guerra Mundial, a vila tinha 6.000 habitantes e o comprimento dela era estimado em 14 km., ou seja, ela até diminuiu nas últimas décadas.

Além de sua impressionante paisagem e atrações históricas, Sułoszowa também é um local de visitação constante, por ser a rota “Via Regia”, que por ela, já que liga a antiga capital polaca ao santuário da Czarna Madono (Madona Negra) de Jasna Góra (Monte Claro) na cidade de Częstochowa (pronuncia-se tchenstórróva) onde está o quadro milagroso de Nossa Senhora de Częstochowa.

Estátua de São João Nepomuceno no alto de um bloco calcário

Sułoszowa  faz parte de um modelo de assentamento agrícola muito comum da Polônia. Um país onde não se fala a gíria brasileira "agronegócio", por lá ainda chamam de agricultura e de pecuária. E agricultor e pecuarista não é negociante, mas aquele que enfrenta sol, chuva e principalmente a neve gelada.


A agricultura da Polônia é o principal motor econômico do país. O país possui a sexta maior economia da União Europeia. Com uma tradição agrícola muito forte, que se debate com desafios que não são estranhos e onde surgem oportunidades.

A contribuição da agricultura para o PIB é muito superior à média europeia. As áreas rurais constituem 93% do território polaco e abrigam cerca de 40% da população do país. O setor agrícola é um importante componente do potencial econômico do país, contribuindo com 7% do valor do PIB. É ainda empregador de quase 20% da população ativa. As exportações de produtos agro-alimentares chegam a cerca de 12% do total de exportações. O setor de carnes também possui grande relevância. Produtos como aves e suínos compõem as exportações do país.

Capela moderna

Dados de 2021 mostram que a Polônia aumentou sua produção total de trigo, centeio, grãos mistos, triticale, milho de cevada e aveia de 2020 a 2021, de acordo com um relatório do Serviço de Agricultura Estrangeira do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

A produção totalizou 33,3 milhões de toneladas. A safra de grãos de inverno atingiu 19,5 milhões de toneladas, um aumento de 13% em relação ao ano anterior, e a safra de grãos da primavera é estimada em 9,5 milhões de toneladas, um aumento de 21% em relação a 2019-20.

A produção de trigo aumentou 9% em relação a 2019-20 e atingiu 12 milhões de toneladas. A área plantada e área colhida para trigo permaneceu quase a mesma do ano de mercado anterior, em 2,5 milhões de hectares.

A IGREJA

A paróquia do Sagrado Coração de Jesus em Sułoszowa foi fundada, em 1315, de acordo com o historiador Jan DługoszA igreja paroquial foi mencionada em 1325–1327.


Stanisław Szafraniec, meados do século 16, transformou em uma igreja calvinista. O atual edifício de tijolos é dos anos de 1933 a 1939. Igreja afiliada de Nossa Senhora Rainha da Polônia, construída em 1984–1989. Há também uma capela do Castelo de Pieskowa Skała dedicada a São Jorge desde 1661. O castelo é o principal ponto turístico da região.

O CASTELO

O castelo foi construído no século XIV. Sua principal tarefa era proteger a estrada que ligava Cracóvia à região da Silésia. O castelo inferior ficava no lugar do atual pátio renascentista. O Castelo Superior estava localizado próximo a uma rocha de difícil acesso.



Em 1377, o castelo foi doado à família Szafraniec, como compensação pelos ferimentos sofridos em um confronto com os cortesãos do rei. O castelo permaneceu com ela até 1608, quando morreu o último membro da família Szafraniec. Durante este tempo, o castelo foi ampliado várias vezes. Até que tomou uma forma semelhante à atual. Devemos a reconstrução do castelo em estilo renascentista a Stanisław. Entretanto, durante a invasão sueca, o castelo foi invadido e parcialmente destruído.


Pátio interno do Castelo

CLAVA DE HÉRCULES

Maczuga Herkulesa é um montículo de calcário de 30 metros próximo ao castelo de Pieskowa Skała. Seu nome, em polaco, significa "porrete (ou clava) de Hércules", devido ao seu formato.




A topografia cárstica de rocha solúvel caracteriza todo o parque. A área é conhecida por suas formações rochosas, embora Maczuga é a mais famosa. Além dos pedregulhos de calcário, existem numerosos penhascos, ravinas e mais de 400 cavernas na área.


Estrada que passa por Sułoszowa era o antigo caminho real do Castelo de Wawel, em Cracóvia, até o mosteiro de Montes Claros, em Częstochowa.

Texto: Ulisses Iarochinski