Foram 24 dias no mar. Na viagem morreram duas crianças, Alexander Chajar, de 1 ano, de convulsão e Jan Sołdys, com 2 meses, de bronquite e nasceu a filha de Wojciech Wróblewski e Michalina Wróblewski Jaraika, no dia 6 de junho, já em águas territoriais brasileiras.
Os Wróblewski eram originários da localidade de Rodzienec em Guber Liedlecka, "capitanato" de Milanor. O atestado de nascimento não apresenta o nome da criança, mas foi assinado conjuntamente pelo Dr. Leo Mager e pela enfermeira Anna Grusovin, os mesmos que atestaram a morte das duas crianças.
Os Jarosiński faziam parte de um grupo de 194 famílias, procedentes das governadorias de Siedlce, Chełm e Lublin. Cada família era constituída em média de 6 pessoas, ou seja, estavam naquele navio 1150 imigrantes.
Após permanecerem 10 dias na hospedaria do imigrante da Ilha das Flores, na baia da Guanabara, embarcaram com destino a Paranaguá no navio costeiro Itaúba.
Era 24 de junho.
Depois de Paranaguá, subiram a Serra do Mar de trem e passaram alguns dias na Casa do Imigrante, em Curitiba, até serem encaminhados a Colônia Iapó de Castro.
A viagem desde Wojcieszków foi cansativa, penosa mas cheia de esperança. Antes de embarcarem na estação de trem de Krzywda com destino a Lublin, Viena e Trieste, tinham feito os doze quilômetros que separavam a cidade natal de Anna da estação.
Meus bisavós, Piotr (Jackowska) Jarosiński e Anna (Ognik Filip) Jarosiński, nasceram respectivamente em 10 de dezembro de 1880, em Poręby, paróquia de Dobre, proximidades de Mińsk Mazoviecki, governadoria de Varsóvia, e 15 de maio de 1878, na Stare Wieś de Wojcieszków, a cerca de 18 quilômetros de Łuków, respectivamente.
Antes de virem para o Brasil, viviam na Vila Helenów, distrito de Wojcieszków, sub-Província de Łuków, Província de Siedlce (atualmente pertencente a Voivodia de Lublin), a cerca de 150 km da capital Varsóvia, na Polônia.
Os dois, com as idades de 31 e 32 anos trouxeram os filhos Wiktoria (9 anos), Bolesław (4 anos), Józef (2 anos) e Maria (dois meses de idade). Os pais de Piotr, Jan Jarosiński e Wiktória Jackowska (de Poręby) e de Anna, Antoni Filip e Katarzyna Ognik (de Wojcieszków), ao que tudo indica ficaram na Polônia, não se sabe se vivos ou mortos, pois a insurreição de 1905 a 1907 foi bastante dura para a população da região de Łuków. Foram os camponeses desta região os primeiros a se rebelarem contra o jugo invasor dos russos.
Na Colônia Iapó, em Castro, nasceram Jan (João) e Władysław (Ladislau). Na cidade vizinha de Ponta Grossa, nasceram Angelina, Anastazia e Francisco (que morreu com alguns meses de idade).
Dificuldades com a língua portuguesa e a necessidade de se integrar ao novo país logo modificaria a grafia e a pronúncia de seus nomes para Pedro, Ana, Vitória, José, Boleslau (Boles) e Maria. Os demais filhos já podiam ser considerados brasileiros e seus nomes foram registrados em português. Os primeiros permaneceram com a cidadania polaca e nunca se naturalizaram.
Pedro, apesar de alfabetizado em polaco e russo, quando assinava seu nome em documentos, como certidões de nascimento e casamento dos filhos, alternava a grafia do sobrenome, ora em português, ora em polaco. O sobrenome Jarosiński foi ditado em polaco aos tabeliães e cartorários e estes grafaram como ouviram em português e trocaram a grafia polaca pela pronúncia. Assim Jarosiński virou Iarochinski.
Em 1956, após a morte de Piotr, foi feita tradução do seu passaporte em idioma russo para português, pelo tradutor juramentado Renato Silvio Wolf, de Curitiba.
O tradutor, grafou Pjutr (transliterou do alfabeto círilico o nome polaco Piotr) como Pedro. Em outras partes traduziu e grafou o sobrenome de três formas diferentes: Jarisonski, Jarosinski e Jarosinsk (provalemente levado pelas declinações da língua). O que facilmente se configura em pobreza de tradução.
Familiares do tradutor já falecido confirmaram que ele era apenas tradutor de alemão e nunca o tinha sido da língua russo. Os erros ficam mais evidentes, quando ele traduziu para o alfabeto latino, os nomes das localidades.
Gminno ficou sendo o nome do município, quando se sabe que a palavra município é Gmina no idioma polaco.
O passaporte foi emitido na localidade de Wojcieszków em 1 de outubro de 1906.
A vida dos Jarosiński no Brasil foi sempre muito difícil. Desde os primeiros momentos da viagem, passando pelo assentamento até suas mortes, eles sofreram toda a sorte de agruras.
Conta-se que a fome era tanta, que um dia, por desconhecimento, mataram um urubu para comer. Mas acabaram em jejum porque a carne era muito dura e porque foram alertados para a espécie da ave, que eles nunca tinham visto na Europa.
Logo que puderam, começaram a plantar arroz, feijão, mandioca, batata e milho. O produto do trabalho dava apenas para a alimentação, pois como Castro era muito pequena, e eles não tinham para quem vender. Resultado: sem dinheiro não podiam comprar outros produtos, como utensílios e roupas. Obrigavam-se a trabalhar na cidade como carpinteiros e marceneiros.
Como o trabalho na cidade começou a ser mais lucrativo, Piotr abandonou a colônia, onde a agricultura não dava o sustento que a família numerosa necessitava e foi viver na rua Coronel J. Marcondes, na Vila Rio Branco. Piotr construiu a própria casa e os móveis.
Corria o ano de 1928. Por essa época, junto com os filhos e outros polacos das colônias vizinhas trabalharam na construção da estrada de ferro Sorocaba - Marcelino Ramos. Recebiam 200 réis a hora e trabalhavam 10 horas por dia. Em Jaguariaíva, o soldo era melhor, pagavam 500 réis a hora, o que dava 5 contos de réis por dia.
Os polacos de Castro, em busca do soldo de Jaguariaíva iam a pé até esta cidade em busca do trabalho. Levavam dois dias para percorrer os quase 80 quilômetros. Cada vez mais, os polacos se afastavam da agricultura e de suas terras.
Os filhos homens de Piotr e Anna, em função da infância miserável, foram sempre pessoas revoltadas e agressivas. Quando jovens e depois como adultos buscaram trabalho como carpinteiros, marceneiros e motoristas.
Bolesław (meu avô) nasceu em 14 de janeiro de 1905 em Helenów - Wojcieszków, como a mãe.
No final dos anos 30, ele saiu de Castro e foi viver com a esposa Paulina e seus filhos em Monte Alegre, município de Tibagi (atual Telêmaco Borba).
Ali participou da construção da fábrica de papel da Klabin como motorista de caminhão e outras funções, transportando toras de madeira e outros materiais. Bóles, como era chamado pelos companheiros, trabalhava com um caminhão Chevrolet ano 41, de propriedade da empreiteira do Sr. Danilo, subcontratado das Indústrias Klabin do Paraná.
Os pais, Piotr e Anna, também tinham se transferido para a localidade, mas não se deram bem, entre outras coisas por causa da idade avançada e voltaram para Castro, onde possuíam casa própria.
Bolesław permaneceu com a esposa e os filhos. Mas aos 39 anos, após uma extração dentária foi obrigado a se medicar em Castro. A cirurgia infeccionou tanto que o impediu de se alimentar. Como não havia soro, ele acabou morrendo não só da infecção que havia tomado completamente sua boca, mas principalmente de fome.
Seis meses após o início da infecção, morreu sozinho na pequena casa que o pai construiu, especialmente, para abrigá-lo neste período angustiante. Era 21 de dezembro de 1944.
Com a morte de Bolesław, a esposa Paulina permaneceu em Monte Alegre, em Harmonia (sede da Klabin do Paraná), trabalhando como costureira para sustentar os filhos Janina, Amélia, Plínio, Vitório, Cassemiro (meu pai) e Azélia.
A primeira filha do casal, Ana, morreu aos 2 meses de idade, em Castro, e Rosa após desentendimentos com o pai, saiu de casa, para nunca mais retornar.
Piotr Jarosiński morreu em 5 de dezembro de 1955 e Anna (Babucha) atingiu os 94 anos de idade, morrendo em 20 de outubro de 1972, também em Castro.
Os netos mais velhos contam que Piotr os convidava para ir a missa toda semana. Junto levava o livrinho do novo testamento escrito no alfabeto cirílico. Piotr sempre foi muito católico e dizia, no idioma polaco, ao neto que o acompanhava, que sempre respeitasse a Deus e fosse obediente aos pais. Babucha até morrer, conservou a lucidez e o idioma polaco na ponta da língua.
Seu matador, Nadal Banik (de origem ucraniana), fugiu e nunca foi encontrado para pagar pelo crime que cometeu injustamente.
JAROSIŃSKI NO BRASIL
LISTA DO NAVIO
Adamik, Paweł - Antol, Jozéf - Babniak, Michał - Bakune, Michał - Banhowski, Bolesław - Beida, Piotr - Beik, Jozéf - Bek, Marya - Bojarczuk, Marcin - Brokopnik, Jacob - Bronikowski, Jan - Budniewski, Alexander - Burzec, Jan - Czech, Teodora - Czerwiński, Wojciech - Czupryna, Andrzej - Delezneh, Jozéf - Delczuk, Franz - Dmybruk, Stanisław - Dmytruk, Stanisław - Daniluk, Jan - Durckiak, Antoni - Eekhart, Johann (austríaco) - Feldman, Ornsk (russo) - Filewski, Jan - Framiński, Anton - Fymeszuk, Helena - Gadomski, Jan - Gadomski, Simon - Gajka, Jozéf - Gługowski, Jozéf - Gorka, Jozéf - Gortal, Andrzej - Gur, Wladysław - Halabura, Antoni - Hanak, Jan - Hange, Erdmann - Harwyłuk, Jan - Hawyłuk, Stanisław - Hawyłuk, Ludwik - Hebrawski, Michał - Herski, Antoni - Holejko, Piotr - Hrynerzk, Antoni - Hrynczuk, Jan - Hrzpernuk, Jozéf - Hrzek, Jozéf - Hubiński, Marek - Hudek, Ludwik - Hunik, Jozéf - Hukaszuk, Jgnacy - Hurko, Kondrak - Husbek, Karl (austríaco) - Jabłoński-Michał - Jachar, Janczuk - Jajac, Jan - Jamelinak, Jozéf - Jańkowski, Julian - Jańkowski, Teofil - Jarmuk, Jan - Jarosiński, Piotr - Jasarski, Julian - Jelecki, Janina - Jezdrzjewski, Stanisław - Jdrinek, Adam - Jlürzel, Johan (alemão) - Jodełka, Alexander - Jurzwik, Antoni - Jusreryński, Jacob - Jzych, Jan - Karpysz, Jgnacy - Kasiński, Sever - Kazulek, Jan - Kazubek, Jozéf - Koch, Piotr - Kocyba, Benedykt - Kocyła, Jozéf - Kogelski, Jan - Kohrioc, Jan - Komon, Karol - Kopice, Marcin - Korioł, Fedor - Korioł, Jozéf - Korioł, Marya - Korkik, Adolf (austríaco) - Korolezwk, Nikodem - Korylko, Andrzej - Koschut, Felix - Kowalewski, Felix - Kowalik, Karol - Krawczuk, Adam - Król, Tomasz - Krwiwtkowski, Jozéf - Krystał, Fedor - Krzyszłoszyk, Stanisław - Kulik, Leon - Kuriełko, Franz - Kutiewicz, Jan - Kutniewierz, - Shorupska, Stefan - Kruzniak, Wicenty - Kryk, Grzegorz - Leszczyński, Wladysław - Lewansdowski, Jan - Liszek, Andrzej - Liwgowicz, Franz - Lwzyński, Jan - Madej, Wicenty - Marciniuk, Michał - Marecki, Kazimierz - Margzal, Katarzyna - Melniczyn, Michał - Miłwra, Jozéf - Mikuc, Jan - Mitura, Alexander - Molniczyn, Andrzej - Moœcilerodzki, Michał - Muciał, Semen - Naumiak, Jozéf - Naumowicz, Joachin - Onojetek, Jgnacy - Orzechowski, Jan - Osiak, Adam - Oslapi, Wawrzyncz, Teofila - Palenczuk, Michał - Panarowski, Marcin - Partyka, Jan - Paszko, Paweł - Pasykiewicz, Jan - Patryareki, Franciczek - Pawlik,Andrzej - Pientosa, Ludwik - Pietraszek, Stanisław - Pietrowski, Tadeusz - Pola, Jan - Pokorecki, Filip - Prelack, Andrzej - Prijuk, Arseu - Pzyjmak, Jawło - Pulo, Leonard - Rakowski, Wojciek - Rejniczak, Andrzej - Rodak, Paweł - Rokicki, Jozéf - Roman, Stanisław - Rosa, Wicenty - Rymwski, Anton - Sadi, Jgnacy - Sawczuk, Jan - Seńkala, Franz - Seńkala, Michalina - Schenk, Heinrich (austríaco) - Schröller, EdwardMarya - Sobianek, Andrzej - Sobieraj, Wawrzynge - Sobiesek, Andrzej - Sołkys, Antoni - Solendrak, Antoni - Sokołowski, Andrzej - Sokołowski, Jacob - Sokołowski, Jozéf - Spil, Piotr - Spi, Grzegorz - Sryszka, Bolesław - Srzyjmak, Jurko - Stachał, Jgnacy - Staszkiewicz, Wladysław - Stefaniac, Franciszek - Stielgman, Simon (alemão) - Stypkowski, Michał - Surdykowski, Felix - Szezerka, Michał - Szezypaniuk, Jan - Szymaniuk, Jacob - Szymonka, Wojcieck - Szyplowska, Agnieszka - Szyrerzyk, Roman - Syek, Jan - Tarisk, Mathias (austríaco) - Uss, Jacob - Walewski, Alexander - Walilewski, Adam - Wasilewski, Karol - Wawrecki, Andrzej - Wesp, Hans (alemão) - Wesriczuk, Jan - Wojcieki, Anton - Wojtowiez, Stanisław - Wokyeki, Wladysław - Worchon, Władysław - Wróblewski, Wojcieck - Wsyniewski, Dmytry - Zakrzewski, Jan - Zieliński, Jgnacy.