quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Kaczyński quer reescrever história recente da Polônia

Uma batalha política sobre a história agora assombra a memória mais orgulhosa da Polônia.
Como a queda do Muro de Berlim começou em uma bela cidade portuária báltica na Polônia com o Movimento Solidariedade.


O imenso museu parece um casco de navio enferrujado e pode ser um primo distante de seu equivalente mais elegante de Belfast. O Titanic Museum lembra um navio que afundou em sua viagem inaugural. Mas a nave metafórica do Solidariedade, lançada aqui em Gdańsk, em 1980, revelou-se inafundável.

A Europa está se preparando para o 30º aniversário da queda do Muro de Berlim, ocorrida em 9 de novembro de 1989, e a revolução pacífica que reformulou o continente.

O lugar perfeito para começar a jornada é o extraordinário Centro Europeu de Solidariedade (ECS). É um tributo adequado a como e onde tudo começou: na bela cidade da Polônia e aos bravos membros do sindicato Solidarność (Solidariedade), fundado no Estaleiro Lenin de Gdańsk.

O guia do aparelho de áudio do museu, em seu primeiro minuto, insta os visitantes a "descobrirem sobre a história e decidirem sobre o futuro".

Os visitantes que entram na exposição são mergulhados em uma recriação atmosférica dos salões dos estaleiros próximos com objetos-chave.

Primeiro: a cabine do guindaste amarelo de Anna Walentynowicz, uma funcionária de um estaleiro de Gdańsk e ativista sindical, demitida em agosto de 1980, apenas cinco meses antes da aposentadoria.
Anna Walentynowicz

Isso levou a uma greve e à segunda exposição: painéis de compensado exibindo 21 demandas de trabalhadores escritas à mão, incluindo: sindicatos livres; o direito legal de greve; e o fim da repressão de ativistas independentes.

O terceiro objeto: uma picape amarela, do tipo que foi usada por Lech Wałęsa, um eletricista de estaleiro com bigode, como um palco móvel para ganhar apoio público.

Enfrentando a fúria dos trabalhadores sem precedentes, o governo socialista de Varsóvia reconheceu o Solidariedade como o primeiro sindicato do bloco soviético. Seus membros cresceram para 10 milhões em seu primeiro ano - uma sensação em um país de 36 milhões - e a organização desafiou a ficção de que a República Popular representava os trabalhadores.

A luta surgiu depois que as promessas do pós-guerra dos líderes socialistas resultaram na queda dos padrões de vida e na crescente opressão. A revolta dos trabalhadores em 1970 foi derrubada violentamente pelo exército, com pelo menos 42 mortes.



Jaqueta perfurada à bala
Era um trabalhador de estaleiro de 20 anos de idade, Ludwik Piernicki. Sua jaqueta de couro, perfurada por balas está pendurada no museu ao lado de fotos policiais de manifestantes polacos: trabalhadores, estudantes e aposentados. Seus olhares - de medrosos a desafiadores - nos lembram das muitas faces do protesto policial contra o regime.

Companheiros carregam o corpo do jovem assassinado pela polícia, Ludwik Piernicki, pelas ruas de Gdańsk 
Varsóvia tentou de tudo para domar o Solidariedade. A lei marcial - imposta em 1981, suprimiu a organização e aprisionou seus líderes. Mas em 1989, o jogo estava em alta. Com Moscou não vendo mais a parte de trás de seu satélite polaco, a intimidação estava fora da mesa.

Uma perspectiva econômica desastrosa na primavera de 1989 levou as autoridades polacas a realizar conversas em mesas redondas de fevereiro a abril.

Eleições semi-livres se seguiram em junho. Em todo o bloco soviético, a transição para a democracia estava em andamento. Este triunfo trouxe a Wałęsa a fama mundial, o Prêmio Nobel da Paz de 1983 e a presidência democrática da Polônia.

Lech Wałęsa

Mas agora Wałęsa, uma figura complexa e muitas vezes enfurecedora, e o legado do Solidariedade estão sob ataque de Jarosław Kaczyński. Este era uma figura marginal do Solidariedade na década de 1980, mas agora é o líder de fato da Polônia, como chefe do partido governista Direito e Justiça - PiS.

Jarosław Kaczyński
Desde que venceu a eleição de 2015, o PiS (com maioria absoluta no Congresso) reformulou os tribunais, a televisão pública e o Ministério Público da Polônia, para libertá-los do que o partido vê como estruturas incrustadas de compadrio.

Os críticos descartam isso, dizendo que as reformas são para colocar as instituições públicas sob controle direto do PiS. Mas agora o inquieto Kaczyński quer mais: reformular o mito do Solidariedade fundador da Polônia moderna.

Como? Ao denegrir a transição negociada de Wałęsa para a democracia como um compromisso preguiçoso que permitiu que as figuras comunistas se apegassem ao poder e à influência, às custas dos polacos comuns que se sentem deixados de fora da transição neoliberal.

Para eles, o PiS tem um mito fundador alternativo: o desastre aéreo de Smoleńsk de 2010, que custou a vida de 96 pessoas, incluindo o irmão gêmeo do líder do PiS, o presidente Lech Kaczyński.

Com ele a bordo do avião estavam altos funcionários do Estado e importantes figuras públicas - incluindo a mãe fundadora do Solidariedade, Anna Walentynowicz.

Relatórios denominaram a queda do avião de acidente, mas o irmão gêmeo do presidente, o sobrevivente Kaczyński construiu uma contra-narrativa sobre como o avião foi abatido por russos, em conluio com seus rivais políticos. Mas para sua lenda de Smonlensk decolar, com seu falecido irmão e a Sra. Walentynowicz como suas novas figuras fundadoras, o museu Solidariedade de Gdańsk precisa ser trazido para o calcanhar da história.

O governo da Polônia cortou o financiamento do Centro quase pela metade, argumentando que seu programa educacional e instalações para as ONGs são abertamente políticos. Funcionários do centro sugerem que o problema é mais que o trabalho deles, e que não refletem, por isso mesmo, os interesses políticos do PiS.

"Ao invés de uma compreensão mais ampla da sociedade civil, a atitude do governo é: porque estamos financiando mais, devemos ser capazes de controlá-lo", diz Kacper Dziekan, da ECS.

Ele diz que a ECS vê sua missão como adaptar a mensagem do Solidariedade para o século 21. Mas sua visão de uma Polônia progressista, inclusiva e liberal está em conflito com a visão do PiS: conservadora, nacionalista, patriótica.

Mas o corte de fundos do PiS saiu pela culatra: polacos furiosos lançaram uma campanha de financiamento coletivo que substituiu a lacuna de financiamento. E agora até velhas lendas do Solidariedade voltaram para a batalha.

Bogdan Borusewicz
Bogdan Michał Borusewicz que organizou as greves de estaleiros originais, foi aprisionado e viveu durante anos na década de 1980 nos subterrâneos polacos. Em seu escritório no senado em Varsóvia, ele é magnânimo sobre como o resultado e muita atenção - e crédito - foi mudado por Lech Wałęsa.

"Eu empurrei e Wałęsa puxou", ele brinca. "Mas do começo ao fim eu estava no olho do ciclone, eu e muita gente."

Ao contrário de Wałęsa e Kaczyński, Borusewicz ficou longe das negociações da mesa redonda de 1989, e criticou o cronograma de transição como tendo sido "apressado". Mas hoje Borusewicz defende Wałęsa e descreve como “escandaloso” o que o PiS está fazendo ao tentar deslegitimar o passado.

"A história contrafactual não é história", diz o historiador de 70 anos que virou político, insistindo que os fatos da revolução do Solidariedade não estão em discussão.

“O PiS deveria ter esperado mais até morrermos e tentar mudar a narrativa histórica. O problema é que Jarosław Kaczyński tem a minha idade, então ele não pode esperar mais.”

Texto: Derek Scally
Tradução: Ulisses Iarochinski
Fonte: The Times Irish  

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

"Guerra Fria" em cartaz no Brasil

"É um poema ajudado não apenas pelas músicas, mas pela incrível fotografia e delicadeza de imagens e sentimentos".
Rubens Ewald Filho


Este é um dos filmes mais premiados deste ano, em todo o mundo. Este romance foi nomeado para 12 Eagle Awards (incluindo melhor diretor e filme) e também o European Awards (5 prêmios).

O romance após guerra é uma coprodução entre França, Polônia e Inglaterra. Este ano no Oscar, ele foi indicado a concorrer como melhor filme estrangeiro, melhor diretor e fotografia. Sem esquecer quatro indicações para o BAFTA britânico.

A história é baseada na vida dos pais do diretor do filme Pawlikowski e foi todo rodado em preto e branco, ou monocromático, o que o torna mais romântico e trágico o complicado romance entre músico (Tomasz Kot) e sua musa (Joanna Kulig).

Pawlikowski foi também premiado como melhor diretor no Festival de Cannes.

Dados importantes: o romance entre os principais personagens foi inspirado na vida real de seus pais, que romperam o casamento algumas vezes chegando a se mudarem de uns pais para outro. O filme é dedicado a esses seus “pais”, inclusive usando os nomes reais dos protagonistas.

Este foi o primeiro filme de língua polaca desde 1990 a ser exibido no Festival de Cannes (bem depois de outros polacos como Polański e Kieślowski). O sucesso foi tão grande que teve uma ovação de 18 minutos.

Importante: os personagens principais foram baseados na vida real de uma famosa escola e grupo folclórico polaco que se chamava Zespól Pieśni i Tanca Mazowasze (no filme o sobrenome foi mudado para Mazurek).

Foi assim que Tadeusz e Mira se casaram e depois da guerra se mudaram para o interior onde procuraram cantores e dançarinos folclóricos. Eles também compuseram a canção Dwa Serduzka, Cztery Oczky são as que servem de motivação para o filme.



Joanna Kulig fez antes também um papel de cantora em outro filme de Paweł Pawlikowski , chamado "Ida". A influência dela foi tentar ficar parecida com a atriz americana Lauren Bacall

Outra informação importante: Paweł chamou para o grupo dançarinos do grupo Mazowsze (que ainda estava ativo até hoje) que ilustrava a sociedade e polaca da época.

O Mazowsze além de um grupo folclórico de canto e dança também é uma escola. E está para as danças folclóricas de todo o mundo, como o Bolshoi russo está para as danças clássicas.  Os estudantes moram na própria escola, numa cidadezinha nos arredores de Varsóvia.

O filme era para ser feito a cores (se reparar bem, apenas a cena em que a Joanna canta há certo tom de cores). Todos os números de Jazz foram executados por Marcin Masecki. Este foi o único filme do Oscar deste ano que foi indicado como melhor diretor e não apenas filme.

Conclusão artística: tantos elogios, tanta repercussão para um filme musical e de amor. Só que é muito mais. Certamente é um dos poucos filmes recentes da Polônia corajoso o suficiente para questionar o passado e colocar o amor mais importante do que se sacrificar pelo comunismo stalinista. É um poema ajudado não apenas pelas músicas, mas pela incrível fotografia e delicadeza de imagens e sentimentos. Não perca.

Paweł Pawlikowski - Foto: Mario Anzuoni/Reuters
"Guerra Fria" fala de paixão sob o stalinismo
Luiz Carlos Merten, O Estado de S. Paulo

Foi no fim do ano passado. Quando conversou com o Estado, pelo telefone, o diretor polaco Paweł Pawlikowski estava em Los Angeles para promover "Guerra Fria" entre os votantes da Academia.

Indicado pela Polônia, o longa – em cartaz nos cinemas – terminou entre os cinco indicados que disputam na categoria de melhor filme em língua estrangeira, na premiação de domingo, dia 24.

Pawlikowski, que já venceu o Oscar por "Ida", concorre pela segunda vez. É sinal de prestígio, mas, dessa vez, trombando com "Roma", do mexicano Alfonso Cuarón, que também está na disputa, será mais difícil.

É curioso que ambos estejam concorrendo não apenas com filmes pessoais, mas autobiográficos.

“A história de um casal que não consegue viver junto nem separado já é antiga no meu imaginário. Me persegue há muitos anos e, na verdade, é a história de meus pais. E porque mexe com coisas que são muito profundas e até dolorosas para mim, eu queria, mas não sabia como abordar um tema tão pessoal. Foi uma longa caminhada. Cada filme me aproximava do meu objetivo. E creio que a solução veio com Ida, com sua narrativa elíptica. Deixei de pensar num roteiro construído como encadeamento de causas e efeitos, mas como uma sucessão de momentos fortes, emotivos e plásticos, com o mínimo de palavras e o máximo de ambientação. Atirei-me com paixão, a paixão de meus pais, mas nunca me senti tão inseguro num set. O tempo todo me perguntava se daria certo. Estava assumindo um risco.”

Há alguns anos, Pawlikowski quase contou essa história, mas disfarçada. “Seria um filme sobre os poetas Sylvia Plath e Ted Hughes. Eles também se amavam, e brigavam, e Sylvia se matou quando Ted a abandonou. Era uma história parecida com a de meus pais, mas seria uma grande produção hollywoodiana, com astros e estrelas, e eu senti que não teria espaço para o tipo de intimismo que queria criar. Desisti. Veja que, no filme, dei os nomes de meus pais aos personagens, Wiktor e Zula, diminutivo de Zuzanna. O problema é que, quanto mais me aprofundava na história, menos entendia as motivações de meus pais. O que ajudou foi o contexto histórico, o stalinismo, o folclore. O background deu consistência e coerência à dupla.”

A música vira personagem. “Demorei meses pesquisando as músicas do filme. São canções folclóricas em versões de jazz. O próprio jazz tem um significado. Era sinônimo de decadência no stalinismo, e por isso mesmo foi sempre associado, na Polônia, a contestação e resistência.” O plano-sequência, na cena do check-point, não é só tecnicamente brilhante.

“Como todo o filme, foi muito pensado. Metaforiza a dificuldade de decidir. Filmei em seis meses, que é muito tempo. Achava a história pesada. Foi na hora, no set, ao filmar o fim, que tive o insight de fazer Zula dizer aquela frase. Faz toda a diferença na relação do filme com o público. E prova que improvisar também pode ser bom.”

Guerra Fria (Cold War)
Polônia, França, Inglaterra, 2018.
Direção de Paweł Pawlikowski.
Roteiro e direção de Paweł, colaboração de Janusz Głowacki e Piotr Borkowski.
Atores: Joanna Kulig, Tomasz Kot, Borys Szyc, Agata Kulesza, Cédric Kahn, Jeanne Balibar.

O filme está em cartaz em Curitiba, esta semana, numa das salas do Cinema Itaú Cultural, do Shopping Cristal, nos horários de 15h40, 17h40 e 21h40.

Jovens polacos cada vez mais direitistas

Foto: TV Republika
Partidos conservadores e de direita receberam apoio de dois terços do eleitorado jovem nas últimas eleições gerais na Polônia.

Defendendo valores pós-materialistas, juventude anseia por tradição e segurança.Nas comemorações do centenário de independência da Polônia, em novembro último, os espectadores se depararam com uma cena incomum: jovens marchando por Varsóvia, com o corpo enrolado em bandeiras brancas e vermelhas e cantando o Hino Nacional polaco.

Somente uma marcha patriótica ainda poderia atraí-los para as ruas. Porque quando os mais velhos se manifestam contra a política conservadora do governo, os mais jovens ficam em casa. Eles defendem valores conservadores e votam em partidos de direita.

A guinada para a direita da geração mais jovem na Polônia não é uma tendência temporária nem uma expressão de protesto. Ele representa uma nova autoimagem que cresceu com a política dos últimos anos. Os jovens polacos se voltam para valores pós-materialistas, que foram desprezados durante um longo tempo. Eles anseiam pela Igreja, por tradição e segurança.

Nas eleições gerais de 2015, a guinada para a direita da geração mais jovem foi percebida pela primeira vez. Dois terços de todos os eleitores com idade entre 18 e 29 anos votaram em partidos à direita do centro do espectro político. O extrema-direita PiS, atualmente no poder, angariou 27% de seus votos.

Outros 21% foram para o novo movimento populista de direita Kukiz'15, e 17%, para a legenda antissistema Partido da Liberdade. As eleições regionais de outubro confirmaram o padrão: o PiS conquistou o maior número de votos dessa faixa etária, e também o Kukiz'15 continuou a contar com esse apoio.

Os jovens não só votam nos conservadores e direitistas, mas também pensam dessa forma. Isso foi demonstrado num estudo publicado em novembro pelo Instituto de Opinião e Pesquisa - IQS. Os cientistas entrevistaram poloneses sem filhos e na faixa dos 16 aos 29 anos de idade.

"Nos últimos três anos, os jovens poloneses se voltaram para valores ainda mais conservadores", resumiu a psicóloga social Marta Majchrzak, uma das coautoras do estudo. "Eles confiam em autoridades, sonham com o casamento e têm orgulho de serem cidadãos polacos." O estudo classificou apenas 9% dos entrevistados de "cosmopolitas" e "abertos à alteridade".

Esquecendo o socialismo
A atitude conservadora da geração mais jovem pode ser explicada pelas reformas econômicas após o fim da União Soviética. Polacos com menos de 30 anos já não se lembram do socialismo. Eles cresceram numa época em que seus pais montaram seus próprios negócios.

O sucesso econômico passou a vir em primeiro lugar, com o Ocidente como ideal. Os pais prometiam aos filhos que sua nova Polônia logo se tornaria um membro igualitário da União Europeia (UE) e que iria se desenvolver até estar em pé de igualdade com os vizinhos alemães.

Mas logo as promessas foram seguidas de decepção. Sob o partido liberal de centro-direita PO, que governou o país de 2007 a 2015, a economia cresceu, mas não a segurança econômica dos mais jovens. O desemprego juvenil aumentou até atingir o pico de mais de 27%, em 2013.

Aos jovens polacos restaram contratos temporários de emprego, com salários menores que o esperado. Após ainda terem ajudado o PO a vencer a eleição de 2007, eles se afastaram do partido nos anos seguintes e votaram em nacional-conservadores, que lhes prometeram uma política mais voltada para o lado social.

De acordo com o estudo do IQS, a geração mais jovem vê o país como um enclave seguro, que a protege das incertezas do mundo. Três em cada quatro entrevistados disseram ser contra o acolhimento de refugiados. Quase um terço afirmou que abriria mão da liberdade pessoal em prol de mais lei e ordem.

Isso não significa, no entanto, que os jovens polacos estejam se afastando dos valores democráticos. "Esta geração não é de forma alguma de extrema direita", aponta Henryk Domański, sociólogo e diretor do Instituto de Filosofia e Sociologia da Academia de Ciências de Varsóvia. "Os jovens poloneses são apolíticos, por esse motivo os votos para os partidos mais radicais pesam mais".

Isso também foi demonstrado na eleição regional no fim do ano passado: a principal disputa eleitoral ocorreu entre PO e PiS. Desde 1990 não se viam tantas pessoas votando: o comparecimento eleitoral foi de 51%. Mas apenas 37% dos eleitores entre 18 e 29 anos foram às urnas.

"Um partido de direita como Kukiz'15 só conseguirá se beneficiar de forma temporária do conservadorismo dos jovens", afirma Domański. O sociólogo recorda os partidos antissistema Ruch Palikota (Movimento Palikota) e o Samoobrona (Autodefesa), que conseguiram conquistar a preferência do eleitorado jovem alguns anos atrás. Politicamente, ambas as legendas já não têm, há muito, mais nenhuma importância.

Domański disse estar convencido de que os jovens polacos permanecerão leais ao conservador PiS nas eleições do ano que vem. Além disso, aqueles com menos de 30 anos deverão continuar conservadores.

Atualmente, vê-se crescer uma geração de jovens na Polônia, cujos pais emigraram para países do Oeste da UE em busca de melhores salários. Os chamados "euro-órfãos" cresceram longe dos pais ou mães duranre meses. Eles também anseiam por tradição e segurança.

Tradução: Nossa Polonidade, Nosso Orgulho
Uma outra Pesquisa
A pesquisa do CBOS (Centro de Pesquisa e Opinião Social) mostra claramente que os jovens polacos na faixa etária dos 18 aos 24 anos estão se tornando mais direitistas em seus pontos de vista do que esquerdistas e bem mais que as pessoas que viveram os tempos do comunismo.

Tradução: Os pontos de vista políticos declarados dos entrevistados de 18 a 24 anos acabou em segundo plano. Médias móveis centralizadas de três meses. Esquerdista (18-24 anos) - Direitista (18-24 anos),  (total)

De novo a tradição, cultura e história polacas, simplesmente a polonidade se torna mais fria para os jovens.

A ideologia esquerdista está experimentando um declínio total de sua existência na Polônia.  A pesquisa tenta admitir que cada vez mais os jovens polacos estão levando a vida a sério, além de "serem capazes de distinguir entre ideologias que levam à destruição da tradição e dos valores daqueles que a valorizam", opina o redator do site da Telewizja Republika (de extrema-direita).

O redator da Republika afirma que não é surpreendente que a pesquisa do CBOS mostre que a ideologia de direita está se tornando um pão diário para a maioria dos jovens polacos.

Apelando de forma nada jornalística, o redator da TV Republika afirma que "com certeza", o poder do atual governo de extrema-direita contribui para a mudança ideológica dos jovens, "porque pela primeira vez desde 1989 temos 100% de um governo da Polônia, que não é de escravos de russos, nem de alemães! Há também jovens que consideram a fé católica algo importante, e não apenas para avós e avós".

______________
Fontes: Rádio Deutsche Welle (Estatal alemã)  e Telewizja Republika

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

O significado da palavra Tatra

Foto: National Geographic
As montanhas mais belas da Polônia: Tatras

Os Tatras são um setor da cadeia de montanhas Cárpatos, nas fronteiras da Polônia com a República Tcheca e Eslováquia. Os Cárpatos da fronteira com a República Tcheca tem o nome de Beskide (em polaco Beskidy; em tcheco e eslovaco, Beskydy; em ucraniano, Бескиди)

Mas na fronteira com a Eslováquia os Cárpatos ganham o nome de Tatra. E também na fronteira entre a Ucrânia e a Hungria, já que até 1945 toda a região pertencia para a Polônia.

Ao longo dos séculos foi recebendo os nomes de "Tritri" (em 1086) "Tatry" (em 1255), no século XIV em húngaro foi chamado de "Thorholl" (1256), "Thorchal", "Tarczal" ou "tutur", "Thurthul" que com esta denominação poderia significar poderia Inferno.

O poeta polaco Adam Mickiewicz usou o nome Tatry e Krępak de forma intercambiável, exatamente como cem anos antes Spener fazia o mesmo.

Em 1790, Baltazar Hacquet escreveu que os eslavos chamavam aquelas montanhas de Tatari ou Tatri, querendo dizer que o nome tinha relação com as hordas de Tártaros (mongóis) que invadiram a região várias vezes.

De acordo com o professor de etimologia de Jan Michał Rozwadowski o nome Tatry (do antigo idioma polaco Tartry deve ser combinada com o celta "tertre", que significa Colina.

Assim, as Montanhas Tatra teriam originalmente significado colinas.

Os picos mais altos das montanhas Tatras e suas denominações no idioma polaco

Da justaposição das palavras "Tertre Tatras", o poeta Norwid a escreveu assim.

Alguns autores também sugerem que a origem da palavra poderia ser dácia ou trácia. No início dos Tatras do século XIX foram chamados Karpat (ou seja, montanha mais alta coberta de neve) com a versão Dacko-iliryski "Karpe" que significa rocha em língua polaca antiga, preservada na forma de, por exemplo "karp", que significa "afiada", ou "es - carpa", ou seja, encosta da montanha.

E que também dá o nome à espécie de peixe muito abundante da região que é a carpa, que ao contrário do que muitos pensam não é só húngara, mas também é eslocava, ucraniana e polaca.

No lado polaco, uma cidade se destaca por ser considerada a capital do inverno da Polônia: Zakopane (que em polaco antigo significa encoberta), além das localidades de Kościelisko, Poronin, Biały Dunajec, Bukowina Tatrzańska, Białka Tatrzańska, Murzasichle, Małe Ciche, Ząb, Jurgów e Brzegi.

No lado eslovaco se destaca a cidade de  Wysokie Tatry.

Nos Tatras estão localizados  25 Albergues (Hostel em inglês e Schronisko em polaco), sendo 9 na Polônia e 16 na Eslováquia.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Origem da palavra Wawel


A famosa colina de Wawel, em Cracóvia, onde estão três lugares históricos dos mais importantes para a Polônia: o castelo real, a catedral metropolitana e a caverna do dragão, tem uma denominação muito conhecida em todo o mundo, não só na Polônia, mas também em Curitiba, que abriga um edifício com este nome.

Mas pouco se comenta, ou quase ninguém sabe explicar o que realmente significa esta palavra. Muitas explicações já foram tentadas, mas ninguém ainda chegou a um veredito final.

Para alguns Wawel tem origem no eslavo antigo, ou proto-eslaco "Wąwel". Cuja pronúncia em polaco seria "vonvél". Seu significado: Ravina. Esta ravina teria no passado distante dividido a colina cracoviana em duas, ou mais partes.

Outros argumentam que a palavra significa "protrusão dos pântanos" que circundava a colina. E protrusão por sua vez significa: movimentação, ou deslocamento. No caso movimentação do pântano que circundava a colina em tempos passados.

Pintura a óleo de 1847 ( x50 cm) do artista Jan Nepomucen Głowacki
Já a teoria mais recente é de que "Wawel" é uma continuação regular do palavra em grego Babel, a da torre que motivou a criação dos diferentes idiomas humanos.

E que nas línguas eslavas das antigas Igrejas, a consoante B teria se convertido em W.

O castelo, catedral e demais edificações da colina estão numa altitude de 228 metros acima do nível do mar e nas margens do rio Vístula que corta a Polônia de Sul a Norte.


O castelo foi construído pelo rei Casimiro III - o Grande.  No século XIV foi reconstruído por sua filha a Rei Edvirges (Santa Jadwiga) e seu esposo lituano Jogaila.

Também na colina de Wawel estão os edifícios que foram usados pelos empregados e artesãos reais, além do clérigos como os cardeais, bispos e padres. Também estão as muralhas e torres defensivas chamadas de Jordanka, Lubranka, Sandomierska, Tęczyńska, Szlachecka, Złodziejska e Panieńska.

Em Curitiba, no coração da cidade, na praça Ozório, o médico Edwino Donato Tempski construiu um enorme edifício e lhe deu o nome de Wawel e fez colocar um mosaico no hall de entrada, no térreo, retratando a colina e o dragão símbolo das lendas da cidade de Cracóvia.


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Polônia vende carne estragada para 9 países

França e outros dez países da União Europeia busca carne estragada vendida pela Polônia e distribuída no país.

Foto: TVN24
O governo francês ainda não sabe se a carne chegou às prateleiras. A vigilância sanitária francesa encontrou 795 quilos de carne estragada polaca em nove empresas do setor agroalimentar do país.

O anúncio foi feito nesta sexta-feira (1) pelo ministro da Agricultura, Didier Guillaume. No total, 150 quilos do produto já foram recuperados nas empresas de transformação que foram ludibriadas pelo fornecedor polaco.

Segundo o ministro francês, a justiça polaca abriu um inquérito para investigar a comercialização de gado doente por um abatedouro local, que teria distribuído a carne estragada para vários países da União Europeia. “Durante o dia saberemos onde está o restante. A rastreabilidade na França funciona bem, disse Guillaume. “É uma fraude terrível, econômica e sanitária”, disse o ministro francês.

Ainda não se sabe se parte da carne chegou às prateleiras para consumo. A comissária europeia para a Saúde e Segurança Alimentar, Vytenis Andiukaitis, anunciou a realização de uma inspeção na Polônia na próxima semana e pediu às autoridades polacas que assegurassem o respeito às normas europeias.

A inspeção veterinária no país anunciou nesta quinta-feira (31) que 2,7 toneladas de carne de bois doentes, provenientes de abatedouros clandestinos, foram exportadas para dez países europeus além da França: Finlândia, Hungria, Estônia, Romênia, Suécia, Espanha, Lituânia, Portugal e Eslováquia.

Vídeos chocantes
Um repórter do canal de televisão polaco TVN24, que passou três semanas em um abatedouro em Kalinowo, no norte, traz imagens chocantes de animais doentes, puxados com uma corda pelo pescoço, dentro de um caminhão. Em seguida, os vídeos exibem carcaças e pedaços de carne visivelmente impróprios para consumo.

Segundo o Ministério da Agricultura polaco, trata-se de um incidente “isolado”. As autoridades eslovacas também descobriram pelo menos três carregamentos de carne de boi importados da Polônia, que estariam associados ao caso.

Foto: TVN24
As autoridades sanitárias portuguesa ja apreenderam, no país ibérico, a totalidade do lote de carne, com 99 quilos, vindas da Polônia que foi encaminhado para destruição, após ter sido divulgado que carne de gado bovino doente vindo daquele país tinha sido exportado para vários países europeus.

A operação das autoridades portuguesas seguiu-se a um comunicado da Rede de Alerta Rápido, que integra o sistema de Segurança Alimentar da União Europeia (RASFF - Food and Feed Safety Alerts | Food Safety).

O alerta dizia da detecção de um lote de carne de vaca sem condições para entrar na cadeia de consumo, com origem na Polônia, e tendo como destino um atacadista em Portugal.

A Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) apresentou já o relatório da situação às autoridades europeias, segundo informou ao final da manhã de ontem, o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.

Na Polônia
O chefe do departamento de veterinária, Paweł Niemczuk, informou que a carne das vacas doentes e mortas do matadouro perto da cidade de Ostrowia Mazowiecki além dos 10 países foi para outros 20 locais na Polônia. As carnes ainda sendo retiradas do mercado.

Niemczuk quer que os frigoríficos sejam obrigados a instalar monitoramento nos locais onde animais são mortos e também os lugares onde os animais são levados para serem abatidos.

Os matadouros deveriam manter registros das operações por um período de três meses. O acesso às gravações teria que ter: a inspeção veterinária e agências encarregadas da aplicação da lei.

O diretor veterinário também informou que, num futuro próximo, as inspeções sem aviso prévio serão realizadas nos matadouros. Niemczuk informou que o abate no matadouro, mostrado no relatório do "supervisor" era ilegal, sem a supervisão da Inspeção Veterinária.

Além disso, os animais para abate foram adquiridos ilegalmente. For vendidas 2,5 toneladas de carne para o mercado interno e 9,5 toneladas foram para o exterior.

Niemczuk enfatizou que após a divulgação, o frigorífico já foi fechado e perdeu o direito de abate dos animais.

Em conexão com as informações sobre a operação do matadouro ilegal em 4 de fevereiro, especialistas da Comissão Européia virão à Polônia para investigar o abate ilegal de gado.

Fontes: RFI- Rádio França Internacional, RPT - Rede de Rádio e Televisão Portuguesa e jornal Rzeczpospolita.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Prefeito de Gdańsk é assassinado

Foto: AFP
O prefeito da cidade de Gdańsk, na Polônia, Paweł Adamowicz morreu nesta segunda-feira, após ter sido esfaqueado no coração, durante um evento de caridade neste domingo à noite.

A confirmação da morte foi divulgada pelo cirurgião Tomasz Stefaniak em um comunicado à imprensa local.

O prefeito "sofreu uma lesão grave no coração e outras lesões no diafragma e órgãos da cavidade abdominal", explicou o médico. "Não vencemos a morte", disse o ministro da Saúde, Łukasz Szumowski.

Paweł Adamowicz, de 53 anos de idade, chegou a ser operado no hospital universitário de Gdańsk, mas não resistiu ao ferimento.

O prefeito foi atacado por volta das 20h (horário local) por um rapaz, que invadiu o palco onde Adamowicz estava e após atingi-lo exibiu a faca ao público.

Momentos antes do ataque ao prefeito - Foto: Michał Kolanko
Em seguida, o agressor pegou o microfone e disse que tomou aquela atitude porque foi preso injustamente pelo governo anterior, tendo sido, inclusive, torturado.

Após o ataque ao prefeito, Stefan ficou claramente satisfeito com sua ação. "Olá, olá, meu nome é Stefan Wilmont, eu era um inocente na cadeia, eu era inocente na cadeia, o Partido da Plataforma Cívica me torturou, é por isso que Adamowicz morreu", gritou antes de ser detido pelos seguranças.

Foto: Grzegorz Mehring
Adamowicz era o prefeito há mais tempo na Polônia. Vinha sendo reeleito desde 1998. Pertencia ao PO - Partido da Plataforma Cívica, principal opositor ao governo nacional de extrema-direita que governa a Polônia atualmente.

Adamowicz participava da campanha tradicional caritativa da Polônia - Wielkiej Orkiestry Świątecznej Pomocy (Grande Orquestra da Caridade de Natal) - de arrecadação de verba para a compra de novos equipamentos para hospitais da cidade.

O assassino tem 27 anos e foi identificado pelo nome e a primeira letra do sobrenome (como de costume na Polônia) como sendo Stefan W.

O procurador-Geral da República Krzysztof Sierak já anunciou que o procurador Distrital de Gdańsk iniciou uma investigação sobre o assassinato de Paweł Adamowicz.

Stefan W. deve ouvir a acusação de homicídio, na qual ele agiu com motivações que merecem condenação especial. "Há dúvidas quanto à sanidade do acusado, por isso ele será examinado por dois psiquiatras especialistas" - disse Sierak.

 O Ministro da Justiça Zbigniew Ziobro declarou que o assassino, em 2014, foi condenado por uma série de assaltos à SKOK - Caixa da Cooperativa de Crédito e da sucursal da Crédito Agrícola, a cinco anos e meio de prisão.

Stefan W. atacou - usando um revólver as agências da SKOK "Stefczyka" e SKOK "Piast" além do Credit Agricole. Seus roubos foram calculados em 15 mil złotych (próximo de 15 mil reais). Durante o julgamento, ele se declarou culpado.

Anteriormente, ele também tinha atacado um policial. "Ele acabou cumprindo outra sentença", - informou a tenente-coronel Elżbieta Krakowska, porta-voz da polícia.

A vice-prefeita Aleksandra Dulkiewicz afirmou que "todos nos perguntamos como poderia acontecer que este homem atacasse com uma faca um homem inocente. Devemos enfatizar que Adamowicz é uma pessoa aberta. Ele se encontrava com os habitantes de Gdańsk o tempo todo - este era o princípio de seu mandato. Paweł Adamowicz sempre ouviu a todos e intervinha pessoalmente se achava que alguém deveria ser ajudado." 

Seu amigo Aleksander Hall, ministro do governo do primeiro-ministro Tadeusz Mazowiecki, na presidência de Lech Wałęsa, diz que Adamowicz conseguiu vencer a eleição de prefeito da cidade tantas vezes, porque ele era completamente apaixonado por Gdańsk.

"É o resultado de seu verdadeiro fascínio para com esta cidade e seu conhecimento, combinado com seu senso visionário", argumenta.

Foto: Jan Rusek
No entanto, Paweł Adamowicz, como muitos moradores da cidade, não era um legítimo gdanskiano, pois seus pais, os economistas Ryszard e Teresa, eram de Vilno, quando em 1946, a Polônia perdeu a cidade para a Lituânia. Embora eles viessem da mesma cidade, eles se conheceram apenas em Gdańsk, onde se casaram e tiveram os filhos, Paweł e Piotr.

Paweł Adamowicz desde criança esteve interessado na vida pública e, como ele mesmo lembrava, foi despertado na introdução da Lei Marcial. "Como muitos de meus colegas, em 13 de dezembro de 1981, senti que fui chamado para servir e conspirar. Não poderia ter sido um observador por mais tempo. A Pátria exigiu ação", escreveu em seu livro.

"Quando em 2 de maio de 1982, a polícia me deteve pela primeira vez. Eu tinha menos de dezessete anos. Meus pais depois de muitas horas vagando de delegacia em delegacia, finalmente me encontraram na delgacia de Nowy Port ", ele relembra sua luta contra o governo soviético de Jaruzelski, em seu livro.

Adamowicz estudou direito na Uniwersytet Gdańsk. Durante a greve estudantil na universidade, em maio de 1988, ele foi eleito presidente do Comitê Estudantil Grevista.

Após a queda da URSS, provocada pelos operários dos estaleiros de sua cidade, ele também começou a trabalhar em meio período na Voivodia (Estado) da Pomerânia e no Clube Parlamentar Cívico. Seu chefe era Jacek Starościak, o primeiro prefeito da cidade pós-1990.

Neste mesmo ano, ele foi escolhido para ser vice-reitor no departamento estudantil da universidade Em 1998, após participar por alguns anos do Conselho Municipal (equivalente Câmara Municipal) foi eleito pela primeira vez, prefeito da cidade onde nasceu.

Quatro anos depois, em 2002, Adamowicz manteve sua posição em uma eleição totalmente democrática. Ele venceu no segundo turno, derrotando o candidato do Partido SLD, Marek Formela.
Em 2006 e em 2010, ele ganhou no primeiro turno. Em 2014 e 2018, ele precisou de mais tempo para vencer. Em 2014, ele derrotou Andrzej Jaworski, e na última eleição derrotou Kacper Płażyński (ambos candidatos do PiS - Partido Direito e Justiça dos irmãos Kaczyński, que atualmente tem o Presidente da República, o Primeiro-Ministro e maioria absoluta no Congresso Nacional).

Jacek Borowski, jornalista de Varsóvia, em sua conta no Facebook escreveu, "Stefan W., que matou Paweł Adamowicz não é um caso isolado de um animal que merece a mais severa punição e condenação. Não é uma "exceção excepcional" do além. Stefan W. é um filho de todos nós e o filho de tudo isso que foi feito, e como foi feito, neste país após a chamada "recuperação da liberdade". Ele é filho de cuspir na esquerda, glorificar fascistas, permissão para espalhar a igreja ... Ele é uma criança de 27 anos, cuja vida se encaixou completamente no tempo que se passou desde 1989... Ele é o fruto das lições religiosas nas escolas, programas "engraçados" de televisão de algum viajante do caralho, bandas de rock subitamente convertidas à santidade, funcionários do Estado usando camisetas da grife "Red is Bad", bonecas monstruosas zombando de Jerzy Owsiak e sua Grande Orquestra da Caridade de Natal, um outro milhão de pequenas incontroláveis histórias... Então, não fodam agora, que vão dar uma porrada nele, porque foram vocês quem criaram esse Mário, seus Mágicos de merda."

E nesta mesma segunda-feira, às 17 horas, o rosário foi rezado na Basílica de Santa Maria. Às 18 horas, começou manifestação ao redor da fonte de Netuno, no centro da cidade.

O mesmo ocorreu em várias outras cidades da Polônia, como Varsóvia, Szczeciń, Lublin, Cracóvia, Katowice, Olsztyń, Białystok e Toruń, onde o povo foi às ruas e igrejas católicas para guardar o luto pelo prefeito assassinado.


O presidente do Conselho Europeu da União Europeia, o polaco Donald Tusk foi ao velório do companheiro de partido.


Foto: Bartosz Bańka

Tusk foi um dos que falaram: "Caro Paweł, estamos aqui com você, seus amigos. Nós viemos aqui como um Gdańskiano. Todos se lembram de você desde a juventude. Você sempre esteve lá onde teve que mostrar uma cara boa e corajosa, onde teve que enfrentar o mal. Toda a sua vida foi baseada nisso. Para si e para todos nós, defenderemos nossa Gdańsk, nossa Polônia, a nossa Europa contra o ódio, o desprezo e a violência. Nós prometemos a você, Paweł. Tchau." 


Foto: Michał Ryniak
Tusk, assim como Lech Wałęsa também é de Gdańsk (que os ocupantes alemães teimaram em chamar de Dantzig por 150 anos). Outros famosos da cidade são o filósofo alemão Emanuel Kant, e o escritor também alemão Günter Grass , prêmio Nobel de Literatura (porque na época a cidade estava ocupada pela Prússia-Alemanha).

Na missa rezada, no centro da cidade portuária do mar Bático pelo arcebispo da cidade, compareceram vários personalidades polacas, como o ex-presidente Wałęsa, que ficou ao lado de seu desafeto político Jarosław Kaczyński.

Milhares de polacos manifestaram seu luto pelo assassinato do prefeito e seu protesto contra o ódio e a violência.

Ouviu-se uma voz forte cantar Krzyk Cyszy o (Som do Silêncio - Sound of Silence, de Paul Simon). Triste, amargurado, raivoso, maravilhoso, tocante!



Żegnaj, Pawle!
Foto: Renata Dąbrowska

Texto: Ulisses Iarochinski
Fontes: jornais Rzeczpospolita, Gazeta Wyborcza, TVN 24, AFP, Reuters.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Artista mineira coloriza fotos de prisioneiros de Auschwitz

A artista mineira Marina Amaral realizou um trabalho de restauro e colorização de fotos preto e branco que a levou a ter acesso a quase 40 mil fotos cedidas pelo Memorial e Museu de Auschwitz-Birkenau, na Polônia.

A ideia da mineira foi mostrar com cores o horror escondido nas faces dos prisioneiros do nazismo de Hitler.

Se alguém ainda crê, e pior...espalha que o Holocausto não existiu, deve ser internado num hospício ou condenado a prisão perpétua por divulgar mentiras.

O trabalho de Amaral é mais do que surpreendente é impressionante, por dar mais emoção a quem vê.

Por exemplo, a foto da menina polaca Józefa Glazowska, que aos 12 anos de idade, recebeu o número 26.886 no Campo de Concentração e Extermínio Alemão Nazista de Auschwitz, na Polônia ocupada pelos alemães durante a 2ª Guerra Mundial.


O local foi o maior campo de concentração nazista da Segunda Guerra Mundial. Lá, cortaram seu cabelo, a obrigaram a usar um uniforme listrado e a fotografaram. O preto e branco do retrato desapareceu pelas mãos da mineira Marina Amaral, que humanizou ainda mais o registro.

A artista é idealizadora do projeto Faces of Auschwitz que pretende dar cor a uma parte da história cinzenta do campo de concentração. “Eu tinha feito uma proposta ao Memorial de Auschwitz, que guarda as fotos dos prisioneiros, em 2016. Mas o pessoal ficou um pouco receoso. Só que quando eu postei a foto daquela menina de 14 anos na internet, eles viram que o trabalho era legal. Depois, até replicaram e aí consegui ter acesso ao material”, disse ela.

A menina a que Marina se refere é Czesława Kwoka, de 14 anos, prisioneira do campo de concentração, morta em 1943. O Memorial e Museu de Auschwitz-Birkenau, na Polônia, liberou quase 40 mil fotos para Marina. Até agora ela já coloriu 25. Cada retrato demora quase duas horas para ficar pronto. O trabalho é feito no Photoshop.


12 de março de 1943 | A menina polaca de 14 anos, Czesława Kwoka, nº 26947) foi assassinada em Auschwitz com uma injeção de fenol no coração. Ela foi deportada por alemães da região de Zamość como parte de seu plano de criar "espaço vital" no leste.


“É preciso fazer uma pesquisa para tentar encontrar as cores mais parecidas com a realidade. No caso das fotos do campo de concentração há uma facilidade. O uniforme é padrão, né? Para saber a cor da pele, dos olhos, dos cabelos, há documentos que descrevem as características de cada prisioneiro. No certificado de óbito também é possível encontrar esses detalhes. A gente também buscar saber de que cor era o triângulo bordado no uniforme que identificava os prisioneiros”, disse Marina.


Czesława Kwoka nasceu em 15 de agosto de 1928 em Wólka Złojecka, uma vila rural na região de Zamość. Ela chegou a Auschwitz em 13 de dezembro de 1942 em um transporte de 318 mulheres. Sua mãe Katarzyna (foto acima) também foi deportada. A mãe recebeu o número 26949 e morreu no campo em 18 de fevereiro de 1943.

Além de judeus, o campo de concentração recebia ciganos, gays, deficientes físicos e mentais, além de prisioneiros políticos. Cada “perfil” era identificado com um triângulo diferente. Marina esteve em Auschwitz este ano para conhecer o trabalho do memorial e ainda gravar um documentário sobre os registros.

O estudante Seweryn Głuszecki morreu aos 16 anos em Auschwitz
Fotos: Marina Amaral / Arquivo Pessoal
“A gente estuda, lê livros, vê filmes, mas não é nada comparado com o que a gente encontra e sente quando está lá. É horrível. É um incômodo físico mesmo. Ficamos quatro dias lá e pudemos ver a sala onde essas fotografias eram tiradas”, contou ela.

O documentário ainda não tem data de lançamento. Já o projeto Faces of Auschwitz já está na internet e vem aos poucos ganhando novas imagens.
O polaco August Kowalczyk era ator
Fotos: Marina Amaral / Arquivo Pessoal
Uma delas é de August Kowalczyk. Nascido em 1921, o polaco era ator. Trabalhava no teatro, na televisão e no cinema. Ele se alistou no Exército durante a 2ª Guerra Mundial, foi preso na Eslováquia e levado para Auschwitz. Ele foi um dos poucos a conseguir escapar do campo de concentração.

O mesmo não aconteceu com a holandesa Deliana Rademakers. Presa por ser testemunha de Jeová, ela foi deportada para o campo nazista e morreu um mês depois, em 1942.

“A foto, quando ela é colorida, acaba tocando mais as pessoas. E este trabalho é mostrar como esse período foi forte e terrível. E como essas pessoas sofreram”, disse Marina.

Deliana Rademakers foi mandada para Auschwitz por ser testemunha de Jeová
Foto: Marina Amaral / Arquivo Pessoal
Mais de um milhão de pessoas - que agora aparecem morenas, loiras, de olhos castanhos, azuis, com cicatrizes negras e feridas vermelhas - morreram no campo de concentração entre 1940 e 1945.

Fotos: Marina Amaral / Arquivo Pessoal
JANINA NOWAK
Fotos: Marina Amaral / Arquivo Pessoal
Fotos: Marina Amaral / Arquivo Pessoal
Janina foi uma das 50 mulheres que fugiram do campo de Auschwitz.

Janina Nowak era uma polaca nascida em 19 de agosto de 1917, em Będów, perto de Łódź. Ela foi deportada para o campo nazista alemão de Auschwitz em 12 de junho de 1942 e recebeu o número de prisioneiro 7615. Janina foi a primeira prisioneira do sexo feminino que escapou de Auschwitz.

Em 24 de junho de 1942, Janina escapou de um grupo de trabalho, conhecido como Kommando, que consistia de 200 mulheres polacas trabalhando perto do rio Soła, secando o feno. Depois que ela foi dada como desaparecida, os soldados da SS nazista tentaram, sem sucesso, persegui-la.

Exasperados pela perda de seus prisioneiros, as SS levaram as prisioneiras remanescentes do Kommando de Nowak de volta ao campo. Os oficiais políticos do campo interrogaram os outros membros do Kommando sobre os detalhes de sua fuga.

As mulheres, por sua vez, deixaram seus captores sem respostas. Como os oficiais do campo foram incapazes de punir Nowak por ganhar sua liberdade, a raiva deles foi imposta à suas companheiras.

Naquela noite, como punição, as mulheres do Kommando de Nowak foram forçadas a cortar o cabelo (antes eram apenas prisioneiras judias que tinham o cabelo cortado no campo).

No dia seguinte seguinte, todo o Kommando foi re-designado como uma companhia penal e enviado para um dos sub-campos de Auschwitz, chamado Budy, localizado a cerca de 6 km do acampamento principal.

As acomodações em Budy consistiam em um antigo prédio da escola, um barracão de madeira em ruínas, uma pequena cozinha e latrinas, todas cercadas por arame farpado.

As mulheres da companhia penal foram forçadas a trabalhar em condições extremamente adversas, limpando lagoas próximas, cortando juncos e cavando valas de drenagem - tudo isso foi empreendido como parte de um esquema alemão para transformar Auschwitz em um centro de pesquisa agrícola.

Poucos dias depois, o ex-Kommando de Nowak foi acompanhado em Budy por um grupo de 200 prisioneiras do sexo feminino, composto por judeus franceses e cidadãos eslovacos.

A companhia penal foi surpreendida por um grupo de kapos alemães, que brutalizaram suas acusações em nome do cumprimento das metas de produção estabelecidas por seus supervisores de campo alemães da SS.

Depois de escapar de Auschwitz, Janina Nowak conseguiu chegar a Łódz. Ela evitou as autoridades até março de 1943, quando foi presa.

Em 8 de maio de 1943, Nowak foi levada novamente a Auschwitz, onde recebeu um novo número de prisioneiro - 31529.

Em 1943, ela foi transferida para KL Ravensbrück, onde foi libertada no final de abril de 1945.

MARINA AMARAL
O trabalho repercutiu tanto que a mineira foi convidada a fazer parte do projeto “Faces of Auschwitz” que é uma colaboração entre o Museu Auschwitz-Birkenau, ela, Marina Amaral, e uma equipe de acadêmicos, jornalistas e voluntários.

O objetivo do projeto é homenagear a memória e a vida dos prisioneiros de Auschwitz-Birkenau, colorindo as fotos de registro retiradas do arquivo do museu e compartilhando histórias individuais daqueles cujos rostos foram fotografados.

Em outubro de 2018, a equipe do projeto Faces of Auschwitz viajou na companhia da mineira Marina Amaral para o Memorial e Museu de Auschwitz-Birkenau, na cidade de Oświęcin, onde está localizado o campo de concentração nº 1, na Polônia.

Marina à esquerda acompanhando as filmagens



Parte da equipe com Marina ao centro
Fazem parte do Nick Owen, Chris Anthony, Michael Frank, Marina Amaral, Beatriz Oliveira, Dr. Waitman Beorn, Maria Zalweska e o especialista do Museu de Auschwitz Witold Łysek,

Texto: Thais Pimentel, G1 Minas e Ulisses Iarochinski (com adaptações e complementos)