quarta-feira, 1 de março de 2023

Os monumentos às Batalhas Polacas em Varsóvia


Monumento do Levante de Varsóvia dá vida aos eventos devastadores de 1944, quando a resistência polaca se impôs contra os nazistas.

O monumento de diversas peças esculpidas em bronze extremamente realista e forte representa os resistentes polacos lutando por sua cidade.

Em 1944, a resistência paralela polaca, conhecida como Armia Krajowa (Exército paisano), iniciou um ataque ofensivo contra seus ocupantes alemães em Varsóvia. Depois de 63 dias de lutas sem suporte externo, os polacos foram derrotados.


Em retaliação à ação polaca, os alemães destruíram quase o resto da cidade e deportaram seus principais cidadãos, muitos dos quais foram levados para campos de trabalho forçado e de extermínio.

Esse foi um momento extremamente importante na história polaca e comemorado de diversas maneiras em Varsóvia, mas nenhum modo é tão intenso quanto nesta praça. No topo das escadas, no lado sul da Praça Krasiński, os soldados estão rastejando cautelosamente pelas ruínas das ruas e dos prédios. Há alguns metros de distância, no nível do chão, mais figuras descem em bueiros enquanto um padre fica de guarda.



Do outro lado da rua, o panorama mostra o local onde os soldados entravam nos canais para escapar do inimigo. Veja como as figuras são extremamente realistas desse monumento gráfico, que além de transmitir o terror e a destruição da época, também mostra a solidariedade entre os soldados que colocaram tudo em jogo para salvar Varsóvia.

O monumento destaca o impacto emocional daqueles eventos, mas não fornece informações sobre sua história.
Foto: Ulisses Iarochinski

A história está contada no Museu do Levante de Varsóvia, que fica no lado sudoeste do grande monumento, perto da estação Rondo Daszyńskiego.

Outros locais impactantes são a Catedral do Exército Polaco ocalizada na frente do monumento, há diversas pinturas em seu interior representando as batalhas militares, além de outros artefatos relacionados ao serviço militar.

Porta da Catedral com quadros de bronze em alto relevo
Foto: Ulisses Iarochinski

O LEVANTE 

A Revolta, Levante ou Insurreição de Varsóvia (em polaco Powstanie Warszawskie) foi uma luta armada durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Armia Krajowa (Exército Clandestino Polaco, literalmente Exército paisano - de país) tentou libertar Varsóvia do controle da Alemanha Nazista.

Moças polacas voluntárias da Armia Krajowa, no Levante de Varsóvia 44

Iniciou em 1.º de agosto de 1944, às 17 horas, como parte de uma revolta nacional, a "Operação Tempestade", e deveria durar apenas alguns dias, até que o Exército Soviético chegasse à cidade.

O avanço soviético, no entanto, foi interrompido, mas a resistência polaca continuou por 63 dias, até sua rendição às forças alemãs em 2 de outubro. 

A ofensiva começou quando o Exército Soviético se aproximou de Varsóvia. Os principais objetivos dos polacos eram manter os alemães ocupados e ajudar nos esforços de guerra contra a Alemanha e as Forças do Eixo do Mal.

Entre os objetivos políticos secundários estava a libertação da cidade antes da chegada dos soviéticos, conquistando assim seu direito de soberania e desfazendo a divisão da Europa Central em esferas de influência sob os poderes aliados.

Os insurgentes esperavam reinstalar as autoridades de seu país antes que o Polski Komitet Wyzwolenia Narodowego (Comitê de Liberação Nacional Soviético Polaco) assumisse o controle.

Inicialmente os polacos isolaram áreas substanciais da cidade, mas os soviéticos não se aproximaram até meados de setembro. Em seu interior, uma luta aguerrida entre alemães e polacos continuava.

Em 16 de setembro, as forças soviéticas conquistaram território a poucos metros das posições polacas nas margens do Rio Vístula, não avançando mais enquanto durou a Revolta.

Isso levou a acusações de que o líder soviético Josef Stalin esperava pelo fracasso da insurreição para que pudesse assim ocupar a Polônia de forma incontestável. Embora o número exato de baixas permaneça desconhecido, estima-se que aproximadamente 15,2 mil integrantes da resistência polaca foram mortos e 5 mil gravemente feridos.

Cerca de 50 mil civis morreram, a maioria vítima de massacres conduzidos por tropas do Eixo do Mal. As perdas alemãs totalizaram aproximadamente 16 mil soldados mortos e 9 mil feridos. Durante o combate urbano, perto de 25% dos prédios de Varsóvia foram destruídos.

Após a rendição das forças polacas, as tropas alemãs destruíram sistematicamente, quarteirão a quarteirão, 35% da cidade. Com os danos provocados pela Invasão da Polônia em 1939 e o Levante Judeu do Gueto de Varsóvia, em 1943, mais de 85% da cidade estava destruída em 1945, quando os soviéticos finalmente ultrapassaram suas fronteiras.

Foto: Ulisses Iarochinski


Foto: Ulisses Iarochinski



Foto: Ulisses Iarochinski

Foto: Ulisses Iarochinski

Foto: Ulisses Iarochinski

Foto: Ulisses Iarochinski


MONUMENTO MONTE CASINO


Além deste monumento, a estátua que lembra a
Batalha de Monte Casino, na Itália, mostra que batalhões polacos também lutaram naquela célebre batalha da Segunda Guerra Mundial.

O Monumento da Batalha de Monte Cassino, em Varsóvia (em polaco Pomnik Bitwy o Monte Cassino), é o monumento, no centro da cidade, localizado em uma praça entre a ulica (rua) General Władzysław Anders e o portão do Jardim Krasiński, ao longo do eixo de entrada do Museu Estatal Arqueológico e o Arsenal do Estado.

O projeto do monumento foi elaborado pelo escultor Kazimierz Gustaw Zemła e pelo arquiteto Wojciech Zabłocki. Monumento feito de concreto armado revestido com mármore branco Bianco Carrara, cuja massa chega a 220 toneladas. Para estabilizar o solo sob a coluna de 70 toneladas, o qual é o elemento mais alto da composição, foram enterrados postes de 6 metros.

O monumento retrata um Nicolau sem cabeça com vestígios de batalha e mutilação, emergindo do pilar quebrado cercado por uma faixa. Ao pé do monumento, avista-se uma colina coberta por uma mortalha, uma figura da Mãe de Deus e capacetes espalhados. Em um pedestal de dois metros, com uma cruz visível do Monte Casino, está uma urna com as cinzas dos heróis colocada sob a mortalha. Além disso, no pedestal foram esculpidos os brasões de cinco unidades polacas que participaram da batalha.

Foram quatro as batalhas para derrotar os fascistas de Mussolini e os nazistas de Hitler no Monte Casino. A intenção era um avanço em direção a Roma.

No início de 1944, a metade ocidental da Linha de inverno estava sendo ancorada pelos alemães que dominavam os vales dos rios Rapido-Gari, Liri e Garigliano e alguns dos picos e serras circundantes. Juntos, esses recursos formavam a Linha Gustav.

Monte Cassino, uma abadia histórica fundada em 529 por Bento de Núrsia, dominava a cidade vizinha de Casino e as entradas para o Liri e vales do Rapido. Situada em uma zona histórica protegida, ela havia sido deixada desocupada pelos alemães, embora eles tivessem se instalado em algumas posições defensivas nas encostas íngremes abaixo das muralhas da abadia.

Em 15 de fevereiro, bombardeiros americanos lançaram 1400 toneladas de explosivos, causando danos generalizados.O ataque não conseguiu atingir seu objetivo, uma vez que os paraquedistas alemães ocuparam os escombros e estabeleceram excelentes posições defensivas entre as ruínas.

Entre 17 de janeiro e 18 de maio, Monte Cassino e as defesas Gustav foram agredidas quatro vezes por tropas aliadas.

Em 16 de maio, soldados do II Corpo Polaco lançaram uma das batalhas finais à posição defensiva alemã como parte de um ataque de vinte divisões ao longo de uma frente de 32 quilômetros.

Em 18 de maio, uma bandeira polaca seguida pela britânica foi erguida sobre as ruínas.

Após esta vitória dos Aliados, a linha alemã Senger desmoronou em 25 de maio. Os defensores alemães foram finalmente expulsos de suas posições, mas a um alto custo. A captura de Monte Cassino resultou em 55.000 baixas aliadas, com perdas alemãs sendo muito menos, estimadas em cerca de 20.000 mortos e feridos.

O plano para a Operação Diadema era que o II Corpo dos Estados Unidos à esquerda atacasse a costa ao longo da linha da Rota 7 em direção a Roma. O Corpo Francês à sua direita atacaria da ponte sobre o rio Garigliano originalmente criado pelo X Corpo britânico na primeira batalha de janeiro nas Montanhas Aurunci, que formavam uma barreira entre a planície costeira e o Vale do Liri.

O XIII Corpo britânico, no centro à direita da frente, atacaria ao longo do vale do Liri.

À direita, o II Corpo Polaco (3.ª e 5.ª Divisões), comandado pelo tenente-general Władysław Anders, havia aliviado a 78.ª Divisão Britânica nas montanhas atrás de Cassino em 24 de abril e tentaria a tarefa que havia derrotado a 4.ª Divisão Indiana em fevereiro: isolar o mosteiro e empurre-o para trás no vale do Liri para se conectar com o impulso do XIII Corpo e comprimir a posição de Cassino.

Esperava-se que, sendo uma força muito maior do que seus antecessores da 4.ª Divisão Indiana, eles pudessem saturar as defesas alemãs que, como resultado, seriam incapazes de dar fogo de apoio às posições uns dos outros.

Melhor clima, condições do solo e suprimento também seriam fatores importantes. Mais uma vez, as manobras de aperto do Corpo Polaco e britânico foram fundamentais para o sucesso geral. O I Corpo canadense seria mantido em reserva, pronto para explorar o avanço esperado. Uma vez derrotado o 10.º Exército alemão, o VI Corpo dos Estados Unidos sairia da praia de Anzio para interromper os alemães em retirada nas colinas Albanas

PRACINHAS
A Força Expedicionária Brasileira (FEB) enviou cerca de 25 mil soldados ao norte da Itália, onde lutaram junto do Exército Americano a fim de romperem a “linha gótica”, uma das últimas estratégias de defesa alemã.

Os integrantes da FEB e do Exército Norte-americano foram protagonistas de vitórias importantes, tomando regiões dominadas pelos nazistas. Uma delas foi a famosa tomada de Monte Castelo, combate que durou cerca de três meses, além das batalhas em Massarosa, Camaiore, Monte Prano e Castelnuovo.



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Na trilha dos chakras da Polônia

O túmulo da família von Fahrenheid em Rapa ('pirâmide' em Rapa),
foto: Wojciech Wójcik / Fórum

Em toda a Polônia, existem locais que emanam uma energia especial. Eles atraem regularmente aqueles que buscam uma experiência espiritual e os chakras da Terra.
Mesmo para aqueles que não acreditam, vale a pena visitar estes lugares milenares. Esses "lugares de poder" têm histórias fascinantes de fusão e transformação cultural.

Quanto mais velho e misterioso, melhor.

Em todo o mundo, os locais com fontes de energia espiritual são principalmente áreas que guardam relíquias de civilizações passadas, estruturas cuja finalidade ainda não foram descobertas, ou entendidas pelos arqueólogos.

Não é de admirar, então, que os locais mais famosos da Polônia datam dos tempos pré-cristãos. Esses locais da cultura eslava primitiva, em grande parte apagados pela cristianização, foram amplamente esquecidos até serem redescobertos pelos românticos no século XIX. Para eles, essas tradições desenterradas constituíam uma herança misteriosa e há muito esquecida. Citando Maria Janion:

"O estranho eslavo, ao mesmo tempo estrangeiro e familiar, é signo de uma cisão, um inconsciente reprimido, um elemento maternal, nativo e não latino."

Monte Ślęża
Estátua de culto chamada 'Urso' no topo de Góra Ślęża,
foto: Mieczysław Michalak / Agencja Gazeta

Entre as histórias do início da escravidão, que foram preservadas está a da escultura chamada "Urso", no topo do Monte Ślęża. Embora os missionários latinos não tratassem a mitologia eslava com particular respeito (para dizer o mínimo) e apagassem impiedosamente os testemunhos de crenças passadas, o santuário pagão no Monte Ślęża era um local de culto tão significativo que, no final do reinado de Bolesław Chrobry - Boleslau - o Bravo (992 a 1025), o cronista e bispo Thietmar de Merseburg notou com desgosto que "ritos pagãos desprezíveis" continuavam ocorrendo ali.

No Monte Ślęża havia um santuário aberto cercado por um banco de pedra, cheio de inúmeras estátuas de pedra - uma parte das quais permanece até hoje. A sua variedade estilística leva a suspeitar que foram criadas por etapas e por diferentes artistas. A figura grosseira e atarracada com quatro patas, considerada uma representação de um urso, tem sido associada à cultura celta e vendos (é um nome histórico para os eslavos ocidentais que viviam perto de assentamentos saxônicos) - esta última é considerada atualmente a associação mais precisa.

Embora as estátuas cerimoniais eslavas sejam frequentemente encontradas no fundo de lagos e rios, onde foram afundadas enquanto as crenças do passado estavam sendo erradicadas, o "Urso" foi preservado e permaneceu à vista. Ela foi encontrado perto da vila de Strzegomiany (localizada no distrito administrativo de Sobótka, no cidade de Wrocław, voivodia da Baixa Silésia, no sudoeste da Polônia) em meados do século 19 e, algumas décadas depois, foi transportado para o topo da montanha. Como é frequente foram feitos planos para erguer um local de culto cristão onde as crenças pré-cristãs eram celebradas.

A dureza de Ślęża, no entanto, acabou não sendo propícia à construção de um mosteiro agostiniano, que deveria ter sido erguido ali no século XII. Como resultado, o convento foi transferido para a vizinha Wrocław, e uma capela foi construída no Monte Ślęża apenas quatro séculos depois.

Etimologia da palavra: O nome do monte provavelmente vem da palavra eslava antiga ślęg ("umidade, umidade, tempo úmido, lama"), que significa lugares úmidos e muitas vezes envoltos em névoa. A palavra Ślęg está relacionada com o clima específico que prevalece ali. O isolamento do morro, com diferenças significativas de altura relativa (aprox. 500 m), resultou em uma quantidade relativamente grande de chuvas. O rio Ślęza (correndo através de vastos pântanos), o monte Ślęża (a umidade do morro), a tribo Ślężanie e, no futuro, o nome de toda a terra, Śląsk (Silésia), foram tirados da palavra Ślęg.

Łysa Góra
(Montanha Careca)
Santa Cruz, mosteiro beneditino, Santuário da Santa Cruz,
Foto: Marek Maruszak / Fórum

O local de culto em Łysa Góra foi assumido com muito menos dificuldade, e o nome da montanha foi mudado para Santa Cruz. Segundo uma lenda, o mosteiro beneditino no topo da montanha foi financiado por ninguém menos que Bolesław Chrobry, embora o claustro tenha sido estabelecido algumas gerações depois, provavelmente foi patrocinado por Bolesław III Krzywoust (Boleslau Boca torta) e seu guardião, Wojsław da Casa Powała.

A razão da fama de Łysa Góra como um lugar de centro de energia são os registros da presença de cultos pré-cristãos, embora não tão bem preservados quanto os do Monte Ślęża.

De acordo com as notas dos monges beneditinos do século XVI, três divindades eslavas, chamadas Lada, Boda e Leli, eram adoradas em Łysa Góra.

Jan Długosz, por sua vez, fornece os nomes Świst (Apito), Poświst e Pogoda (Clima). Hoje, tudo o que resta do culto a essas divindades pré-cristãs é um banco de arenito inacabado, provavelmente marcando a área do santuário, datado do período entre os séculos IX e XI. A trindade eslava de nomes incertos foi então substituída pela Santíssima Trindade cristã. No entanto, a história inicial relacionada ao templo românico do século XII também se perdeu no abismo escuro do passado quando, em meados do século XIII, o exército russo-tártaro expulsou os monges e destruiu seus arquivos.

Esse convento, no entanto, recuperou-se algumas décadas depois, graças às relíquias do Bosque da Santa Cruz trazidas por Władysław I, o Breve. Eles atraíram hordas de peregrinos para Łysa Góra, incluindo monarcas consecutivos - Władysław Jagiełło (Ladislau Laguielão) não poupou despesas para expandir o mosteiro e também peregrinaram lá pouco antes da campanha de Grunwald em 1410.

Łysa Góra constituiu um importante local de culto por séculos, embora sua suposta sobrenatural energia não tenha conseguido proteger os santuários das ondas subsequentes de destruição. O desenvolvimento do santuário pré-cristão foi interrompido pela adoção de uma nova fé. Então, o primeiro arquivo beneditino foi vítima do exército tártaro. A igreja que se seguiu, reconstruída em estilo barroco, juntamente com uma coleção de pinturas russo-bizantinas criadas por artistas trazidos por Jagiełło.

Nesse ínterim, o mosteiro foi saqueado pelos exércitos sueco, húngaro e saxão. O que se preservou por muito tempo, no entanto, foi a função do claustro como prisão, na qual foi transformado pelas autoridades russas sob partição – e assim permaneceu durante o período entre guerras. Hoje, o local possui camadas de relíquias de períodos históricos consecutivos, do banco pré-cristão à igreja barroca tardia com obras do pintor classicista Franciszek Smuglewicz.

Odry
Reserva natural "Circulo de Pedras" em Odry,
foto: Jacek Łagowski / Fórum

Locais de enterros pré-cristãos, ali exemplificados pelos círculos de pedra da Pomerânia, são frequentemente considerados "lugares de fontes de energia". Na Polônia, os mais famosos desses cemitérios são os de Odry, que também são os segundos maiores círculos de pedra da Europa.

Na reserva estabelecida na década de 1950, há 12 círculos no total, além de algumas dezenas de morros pequenos nos quais foram encontrados cerca de 600 túmulos, com ornamentos e cerâmicas do Império Romano em seu interior. Esses cemitérios têm sido associados à cultura dos povos góticos, que provavelmente chegaram às regiões da Escandinávia, na segunda metade do século I d.C.

Segundo alguns pesquisadores, os círculos deveriam preceder o estabelecimento de necrópoles. Suspeita-se que servissem como locais de reunião e culto religioso, este último incluindo o sacrifício humano.

Hoje em dia, os círculos de pedra constituem uma atração local discreta e um local de peregrinação para os buscadores de chakra. No entanto, os primeiros peregrinos-turistas que escolheram os círculos de pedra de Odry como destino foram os nazistas, que consideravam o local uma relíquia de uma cultura "pré-saxônica" e uma prova da imemorial germanidade do Vístula e da Pomerânia.

Tum perto de Łęczyca
A igreja colegiada de três naves em Tum, perto de Łęczyca,
foto: Radek Jaworski / Fórum

Os exploradores de locais de poder locais gostam de visitar os mais preciosos edifícios do patrimônio românico. Um deles é a igreja colegiada em Tum, próxima  Łęczyca (município na voivodia de Łódź). Sob o piso da igreja, foram encontrados restos de uma construção de pedra mais antiga, que se acredita ter sido uma abadia beneditina, uma basílica pré-românica ou a residência de um bispo ou príncipe datada do século XI, ou início do século XII. Independentemente da forma e finalidade da estrutura original, Tum ostenta hoje uma monumental basílica de três naves e duas torres, consagrada no ano de 1161 e construída durante o período dos Ducados da Polônia.

No entanto, a própria arquitetura também reflete história anterior, incluindo o reinado de Kazimierz I, o Restaurador (Casimiro I) e a proteção do Sacro Imperador, que estava ligada a um influxo de clérigos saxônicos, principalmente beneditinos, bem como de estilos arquitetônicos da Renânia.

Em Tum, podemos encontrar os seus vestígios no traçado da colegiada, mas também nos pormenores escultóricos do tímpano com a Madona e o Menino, bem como nos capitéis, que constituem uma clara alusão à antiguidade. Hoje, a massa de pedra bruta complementada por delicadas cantarias é um dos marcos arquitetônicos românicos mais proeminentes da Polônia, que devemos em grande parte à reconstrução do pós-guerra.

Wawel
Turistas no local onde, segundo a lenda, está localizado o chakra Wawel,
foto: Jacek Bednarczyk / PAP

O rei inquestionável dos locais de poder polacos é o chamado "chakra Wawel". Embora Wawel é provavelmente a mais popular das atrações polacas, a história do chakra local está ligada a um período anterior ao estabelecimento da necrópole real ou da Capela do rei Zygmunt.

Situada às margens do rio Wisła (Vístula), em Cracóvia, a Colina Wawel desempenhou uma importante função política desde o século IX. Além disso, também ganhou rapidamente significado religioso. Na época, o local onde hoje se encontra a Catedral de Wawel era ocupado por uma catedral românica fundada no final do século IX e uma Igreja de São Gereon de três naves. É a última igreja (chamada erroneamente de "capela" pelos buscadores de chakra) que continha o local supostamente emanando energia especial, já famosa durante o período entre guerras. Hoje, no pátio do rei Stefan Batory, apenas o contorno da igreja agora inexistente é visível.

À medida que a fama do chakra Wawel crescia, aumentava também o conhecimento sobre as relíquias escondidas sob as camadas mais recentes do palimpsesto arquitetônico de Wawel. 

Grande parte das partes românicas e pré-românicas do castelo só foram descobertas durante escavações arqueológicas no século XX. Muitas dessas descobertas foram feitas graças a Adolf Szyszko-Bohusz, que serviu como conservacionista de Wawel por anos. Ele também contribuiu para a arquitetura do local ao projetar um dossel monumental clássico-modernista sobre a entrada da cripta do Marechal Józef Piłsudski.

Em 1917, tendo encontrado os vestígios de uma pequena rotunda de pedra do final do século X ou início do século XI, Szyszko-Bohusz projetou uma reconstrução, que agora é a parte mais bem preservada de Wawel que remonta a esse período histórico.

A descoberta da rotunda da Virgem Maria (mais tarde conhecida como Sãp Félix e Adauctus Rotunda) foi, segundo o próprio arquitecto-conservacionista, a sua realização mais proeminente. Ele chegou a exibi-lo em sua villa na Colina do Przegorzały, cujo layout espacial alude à reconstrução.

Tykocin
Sinagoga em Tykocin,
foto: Wojciech Wójcik / Fórum

Nem todos os chakras polacos estão relacionados a crenças pagãs ou aos mais antigos locais de culto cristão. Outro local popular de energia é a Grande Sinagoga, em Tykocin, Voivodia da Podláquia, que remonta a meados do século XVII.

A comunidade judaica começou a se estabelecer na cidade pouco mais de um século antes. Na década de 1740, Tykocin já era um próspero centro de comércio e aprendizado, e o local de culto de madeira foi substituído por uma sinagoga monumental do final do Renascimento. 

A sinagoga foi parcialmente reconstruída em estilo barroco após um incêndio no século seguinte. É chamada de "grande" por uma razão - era a segunda maior sinagoga em terras polacas depois da de Cracóvia, e é também onde fica o cemitério judeu mais antigo da Polônia. Logo após a construção da sinagoga, o exército sueco marchou por Tykocin.

No entanto, ao contrário de alguns outros marcos importantes, a sinagoga sobreviveu ilesa à invasão sueca. Embora parcialmente destruída e completamente roubada, o edifício também conseguiu sobreviver à Segunda Guerra Mundial, durante a qual serviu de armazém.

Os habitantes da cidade, no entanto, não tiveram tanta sorte - um grupo de cerca de duas mil pessoas, quase metade de todos os habitantes da cidade, foi baleado pelos nazistas em agosto de 1941, em uma floresta próxima ao vilarejo próximo de Łopuchów. A Grande Sinagoga foi reformada, na década de 1970, e atualmente abriga um museu local.

Interior da sinagoga em Tykocin,
foto: Andrzej Sidor / Fórum

Rapa
O status de lugares de energia também foi concedido a locais muito mais modestos e mais jovens que os montes celtas, como o túmulo de uma família prussiana, construído na Mazuria, no início do século XIX.

A reputação do mausoléu de von Fahrenheid como um lugar que emana uma energia especial deriva de sua forma piramidal. O barão von Fahrehnheid, que encomendou o projeto da tumba, amava o antigo Egito.

Embora a tumba seja agora descrita como "misteriosa", não havia nada de exótico na ideia de erguer um mausoléu em forma de pirâmide em uma pequena vila da Mazuria, em 1811. Muito pelo contrário - o edifício se encaixa perfeitamente na corrente arquitetônica e artística chamada "Revivalismo Egípcio", que floresceu após a campanha de Napoleão, de 1798 a 1801, no Egito. O exército de Napoleão foi acompanhado por artistas e pesquisadores que documentavam relíquias antigas,

"Description de l'Egypte", lançado em muitos volumes a partir de 1809, incluía centenas de gravuras e constituía uma fonte incrivelmente rica de conhecimento para artistas e arquitetos, bem como para o campo incipiente que era a egiptologia na época.

Motivos egípcios surgiram em todas as capitais europeias. Em todos os lugares, de Paris a Roma e Londres, eles foram usados ​​em prédios públicos, laranjais, jardins zoológicos e residências particulares. Os traços da egiptomania pós-napoleônica são até camuflados no desenho urbano. Por exemplo, passeando pelo centro da cidade de Szczecin, no noroeste da Polônia, então uma cidade ocupada pelos prussos, reconstruída no século XIX, pode-se notar o traçado de suas três praças e avenidas (hoje conhecidas como praças Grunwald, Renascentista e Fileiras Cinzentas), destinadas a espelhar o layout das pirâmides de Gisa e sua localização em relação ao rio Nilo.

Tudo isso considerado, motivos egípcios em túmulos não são de forma alguma excepcionais. Lápides em forma de pirâmide podem ser encontradas, por exemplo, no cemitério Evangélico-Augsburg em Varsóvia, Łaziska ou Piotrowice.

Já no Cemitério Rakowicki , em Cracóvia, podemos encontrar uma esfinge, sentada sobre os túmulos das famílias Talowski e Paszkowski. O nome não é coincidência – a esfinge foi projetada por Teodor Talowski, uma das personalidades mais coloridas da história da arquitetura de Cracóvia. Talowski usou motivos históricos com talento e brio e rejeitou o reconstrucionismo servil em favor do malabarismo extravagante de referências históricas.

O túmulo de Rapa constitui uma estrutura muito mais crua do que as obras de Talowski e está associado a outro artista excepcional, o ícone dinamarquês da escultura classicista Bertel Thorvaldsen.

Na Polônia, ele é mais conhecido como o criador de dois monumentos na Krakowskie Przedmieście de Varsóvia – o do príncipe Józef Poniatowski e o de Mikołaj Kopernik. Particularmente, Thorvaldsen era um entusiasta das antigas relíquias egípcias, que ele colecionava junto com as gregas, etruscas e romanas.

Embora a tumba da pirâmide tenha sido colocada em um local discreto, o Barão von Fahrenheid provavelmente ordenou que fosse projetada por ninguém menos que Thorvaldsen – e não teria sido a primeira encomenda que o artista recebeu dessa família.

Święta Woda (Água Benta) e a Floresta Białowieża
Święta Woda (Água Benta), a Colina das Cruzes, Wasilków,
foto: Ewa Maciejczyk / Fórum

O monge Cluny Rodolfo, o Calvo, observou que, depois de 1000 d.C., a Europa "se envolveu em um manto branco de igrejas". Da mesma forma, no período de transição do final dos anos 1980 e início dos anos 1990, Święta Woda (Água Benta), uma pequena cidade na voivodia da Podláquia, envolveu-se em um manto de cruzes (certamente apropriado para o período).

É esta Colina das Cruzes que mais chama a atenção para o seu lugar de energia fluída. As cruzes formam uma densa floresta que reflete todo o panorama da sensibilidade religiosa contemporânea – aqui podemos encontrar tanto um enorme número de modestos crucifixos de madeira como uma enorme estrutura metálica semelhante a um pilão. Este tornou-se mais um local de energia, relacionado com o Santuário de Nossa Senhora das Dores, famoso pelo seu poder curativo.
Simona Kossak com uma manada de veados, 
Foto: Lech Wilczek

Os tempos de transformação também foram uma era de ouro do esoterismo, então não é de se estranhar que nesse período tenha abundado anúncios de novos lugares com poder energético sendo descobertos. Um deles teria sido encontrado, em 1993, por três turistas, na floresta primária de Białowieża.

O local foi examinado por radiestesistas e geomantes, e não faltaram teorias afirmando que o local abrigava anteriormente um santuário eslavo, embora os vestígios dele sejam mais do que duvidosos. A crescente popularidade deste lugar de energia esotérica foi habilmente aproveitada por Simona Kossak, uma bióloga famosa por seu trabalho e divulgação da proteção ambiental, que desenvolveu aquela terra, criando uma trilha turística educativa com o nome nada menos que "Lugar de Energia".

P.S. O traduto deste texto, quando morava em Cracóvia, e atuava como guia turístico levou várias pessoas para se encostarem na parede dos fundos da Catedral de Wawel, para sentir a energia que flui do chakra de Wawel.

Fonte: Cultura.pl
Texto: Piotr Policht
Tradutor: Ulisses Iarochinski

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Um Iarochinski foi herói da Polônia

Ludwik Jarosiński - ou Luiz Iarochinski, em português - nasceu em 1840, na vila rural de Wojciechowice, na cidade de Sandomierz e faleceu em 21 de agosto de 1862, em Varsóvia. Era membro da Organização Vermelha da Cidade de Varsóvia.

Ele foi o executor da tentativa de assassinato do governador do Reino da Polônia, o Grão-Duque Konstanty Mikołajewicz Romanow (irmão do rei russo Tzar Aleksander II), em 3 de julho de 1862.

 Em 1858, mudou-se para Varsóvia, onde trabalhou como alfaiate e jornaleiro. Na capital do Reino do Congresso (nome dado por Napoleão Bonaparte e consolidado pelo Reino da Rússia) ele se envolveu com um grupo pró-independência da República da Polônia.

Ludwik era ativo na Organização Vermelha da Cidade de Varsóvia. O executor do atentado fracassado contra o novo governador do Reino da Polônia, grão-duque Konstanty fazia sua segunda tentativa de assassinar o grão-duque.

No dia anterior com outro assassino, Edward Rodowicz, ele esperava a chegada de Konstanty na estação ferroviária de São Petersburgo, que vinha de Moscou, à caminho de Varsóvia. Mas decidiu não atirar devido à presença da esposa de Konstanty, princesa Aleksandra, que estava no último mês de gravidez.

A tentativa mal sucedida aconteceu em frente ao Grande Teatro de Varsóvia. O russo foi ferido no braço por disparo de revólver.

Jarosiński foi preso no 10.º Pavilhão da Fortaleza de Varsóvia. Condenado à morte pela Corte Marcial russa, foi executado por enforcamento nas encostas da fortaleza após seis semanas do atentado.

Xilogravura de Luiz, na Cela do 10.º Pavilhão. 

Na foto, a seguir, está uma reprodução fotográfica de um desenho, provavelmente, fortemente retocado. A foto está colada na base de papelão original.

No verso, há uma inscrição a lápis já desbotada que diz: "Jarosiński enforcado [...?]" , "Jarosiński 1861". 

Margens e verso manchados. ("A Revolta de Janeiro e os exílios siberianos. Catálogo de fotografias da coleção do Museu Histórico da Capital de Varsóvia", parte 1, editado por K. Lejko. Guerra. 2004, item 117) L. Jarosiński (1840-1862).

Ludwik era jornaleiro, alfaiate, membro da organização vermelha.

Em 3 de julho de 1862, fez uma tentativa frustrada contra o vice-rei do reino do congresso, duque Konstanty, que estava saindo do Grande Teatro. Após um julgamento público, ele foi executado nas encostas da Fortaleza em 21 de agosto de 1862.

O evento faz parte do Calendário da História das Forças Armadas da Polônia e faz parte do acervo do Muzeum Wojska Polskiego - Museu do Exército Polaco.

Tradução da legenda: Luiz Iarochinski. Enforcado em Varsóvia em 12 de agosto de 1862.

Nos arquivos está grafado Jaroszyński, uma das grafias dos cartórios e igrejas polacos para Jarosiński... assim como, o cartório da cidade de Castro - PR grafou o que ouviu e registrou: iarochinski.

O atentado de Luiz Iarochinski desembocou no Levante de 1863-1864, a revolta polaca mais duradoura pela independência da República na era pós-invasão, divisão e ocupação pelas três monarquias vizinhas.

Atraiu para a luta todas as camadas da sociedade, teve forte impacto nas relações internacionais contemporâneas e, finalmente, causou um enorme avanço social e ideológico na história nacional da Polônia.

Os voluntários vieram de pessoas urbanas, nobres, eclesiais, trabalhadores, intelectuais, alunos do ensino médio e universitários. Uma era de assassinatos, mas "sem sonhos".

O enfraquecimento da Rússia após a derrota na Guerra da Crimeia levou à liberalização da política interna do Império Russo.

As esperanças de concessões mais amplas foram interrompidas pelo Tsar Alexandre II, em 1856, com as palavras "sem sonhos".

No entanto, a sociedade polaca estava em tumultos frequentes e ficou claro que a direção do confronto tinha que vencer. As autoridades russas, temendo uma eclosão espontânea de combates, concordaram em aceitar uma petição exigindo uma mudança no sistema de governo, que Alexandre II descreveu como audaciosa, mas finalmente concordaram em designar Aleksander Wielopolski como diretor da Comissão de Denominações Religiosas e Esclarecimento Público.

Também anunciou a criação do Conselho de Estado e dos governos municipal e distrital. 

Essas mudanças, no entanto, não impediram as manifestações patrióticas e os numerosos ataques, cujo centro da revolta era Varsóvia.

Em 8 de abril de 1861, 200 pessoas foram mortas, cerca de 500 polacos feridos por balas russas.

A lei marcial foi introduzida em Varsóvia, repressões brutais começaram, os organizadores das manifestações, em Varsóvia e Vilno foram deportados para o interior da Rússia.

Os polacos passaram à clandestinidade e realizaram atividades de assassinato.

Foi quando em 3 de julho de 1862, Ludwik Jarosiński, em frente ao Grande Teatro de Varsóvia, fez a tentativa malsucedida contra o governador do Reino da Polônia, o grão-duque Konstanty Mikołajewicz, irmão do czar Alexandre II.

Iarochinski capturado e condenado à morte pelo Tribunal Militar.

Em 7 de agosto de 1862, em Plac Bankowy, em Varsóvia, em frente ao prédio da Comissão do Tesouro, foi feita uma tentativa malsucedida na cabeça do governo civil do Reino da Polônia, Aleksander Wielopolski.

As tentativas de matar o governador foram feitas por Ludwik Ryll e Jan Rzońca. Ambos os assassinos foram logo capturados e executados nas encostas da mesma Fortaleza de Varsóvia, em 26 de agosto de 1862.

Em 14 de agosto de 1862, Jarosław Dąbrowski - um dos líderes do Partido Vermelho que estava preparando um plano para a revolta na divisão russa - foi preso. Ele foi condenado a 15 anos de trabalhos forçados. Escapou durante a deportação para a Sibéria. Horas depois - 15 de agosto de 1862 - na Aleia Ujazdowskie, em Varsóvia, Jan Rzońca fez outra tentativa malsucedida de assassinar o chefe do governo civil do Reino da Polônia, Aleksander Wielopolski.

As autoridades tsaristas não podiam mais ignorar a resistência polaca. Para minimizá-la, em janeiro de 1863, decidiu-se transferir o prisioneiro para o exército russo, ao qual os polacos responderam com a eclosão da Revolta de janeiro.

Quadro do Levante de 1863

Varsóvia um centro político, mas não militar no final da primavera e no verão de 1863, até 35.000 polacos lutaram. Estes insurgentes, enfrentaram 145.000 russos. O Estado polaco na clandestinidade era administrado pelo governo nacional com sede, em Varsóvia.

O maior confronto na área ocorreu perto de Buda Zaborowska. Nesta batalha perto de Varsóvia, a unidade do Major Walery Remiszewski, com 240 insurgentes, foi derrotado por forças russas três vezes mais fortes do general Krüdner.

O major Remiszewski, comandante dos insurgentes, foi morto na batalha. Os remanescentes da unidade, que se concentravam perto de Kampinos, foram finalmente derrotados, em 18 de abril.

Outros grandes confrontos ocorreram mais longe de Varsóvia. Mais de 50.000 pessoas passaram pelas fileiras polacas pessoas.

Na área coberta pelo levante, de Prosna a Dźwina e Dniepro, nada menos que 1.200 batalhas e escaramuças foram travadas, quase 20.000 pessoas foram mortas.

Os russos executaram pelo menos 669 sentenças de morte, 38.000 polacos foram deportados para o exílio, sem contar os milhares de criminosos convocados para o exército, dos quais cerca de 20.000 foram para a Sibéria, incluindo 4.000 condenados a trabalhos forçados.

Cerca de 10.000 emigraram. Alguns dos insurgentes estabeleceram na província austríaca da Galícia (terras polacas ocupadas pelo Império Austríaco) depois de alguns anos.

O confisco de propriedades e as altas contribuições afetaram a pequena nobreza, especialmente na Lituânia.

A Revolta de Janeiro desencadeou uma onda de chauvinismo antipolaco na sociedade russa. Isso fortaleceu o curso de reação e repressão, a unificação administrativa do Reino do Congresso Polaco com o Império russo, a russificação das terras polacas e a supressão da vida política e social. Por outro lado, a tradição de 1863 foi seguida pelo renascimento do movimento de independência.

A Revolta de Janeiro teve grande influência na formação da consciência nacional das massas, bem como nas atitudes e programas políticos antes de 1918.

O lugar de memória mais importante da Revolta de Janeiro, em Varsóvia, é, claro, a Fortaleza. Há um cemitério simbólico de prisioneiros no Portão de Execução. Particularmente venerado ao longo dos anos é a seção C-13, onde foram enterradas as cinzas dos que morreram na Revolta de Janeiro e onde foram enterrados os veteranos ainda vivos de 1863.

Os monumentos e placas erguidos relembram a história da luta pela independência e o preço que se pagou por ela. Sessenta e oito (incluindo 8 desconhecidos) veteranos da revolta estão enterrados ali.

212 insurgentes que morreram nas prisões tsaristas foram homenageados na parede.

A revolta também tem sua marca na área editorial de Tygodnik Sąsiadów PASSA: no cemitério de Wilanów há uma placa na capela do cemitério em homenagem aos insurgentes Wincenty e Józef Biernacki e Kazimierz Olesiński. Eles foram executados em Powsinek, em 5 de dezembro de 1864, por lutar pela independência da Polônia.

Com toda justiça, Luiz Iarochinski faz parte da lista de heróis nacionais da Polônia.


terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Governo fala em comoção sobre aborto de uma adolescente na Polônia

O governo polaco manifestou comoção nesta segunda-feira, dia 30 de janeiro de 2023, pelas dificuldades enfrentadas por uma adolescente para fazer aborto após sofrer agressão sexual.

Hospitais de da região Podlasie (Podláquia, Nordeste do país) recusaram-se a interromper a gravidez, apesar da menina de 14 anos ter sido vítima de estupro.



"Estamos chocados com este caso e nossa resposta é inequívoca", declarou o ministro da saúde, Adam Niedzielski.

Soou completamente falso o pronunciamento do Ministro da Saúde, quando instado pelo professor de direito da Universidade de Varsóvia e ouvidor da Câmara dos Deputado Marcin Wiącek, visto o histórico desta lei absurda. Isto se observarmos o histórico da Lei que criou este dispositivo: cláusula de consciência.

O ouvidor de Justiça da Câmara dos Deputados, Marcin Wiącek, havia consentido o procedimento, mesmo assim os médicos se recusaram a fazer o aborto.


Tradução: Os hospitais da Podláquia se recusaram ilegalmente a interromper a gravidez de uma menina de 14 anos estuprada. Graças à AJUDA da FEDERA, a menina já fez um aborto em Varsóvia.

A menina de 14 anos foi abusada sexualmente por seu tio, e acabou grávida. A jovem, que apresenta deficiência intelectual, não percebeu que estava grávida até que sua tia descobriu o ocorrido e passou a ajudá-la a fim de realizar o aborto.

A tia da jovem de 14 anos recorreu à FEDERA Federação para a Mulher e o Planeamento Familiar.


O ouvidor, Marcin Wiącek, reagiu às denúncias da Federação. Avaliou que a situação levou a uma violação do direito do paciente de obter um serviço de saúde; também indicando a existência de dificuldades práticas no acesso ao aborto devido ao médico invocar a cláusula de consciência.

A Ouvidoria interveio e questionou o Ministério da Saúde sobre as mudanças. Wiącek, dirigiu-se ao ministro da Saúde, Adam Niedzielski e ao presidente do Fundo Nacional de Saúde, Filip Nowak.

Wiącek lembrou que, de acordo com o padrão expresso na jurisprudência do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH), "os Estados são obrigados a organizar o sistema de serviços de saúde de forma a garantir que o exercício efetivo do direito à liberdade de consciência dos profissionais de saúde em contexto profissional não impede o acesso dos doentes às prestações a que têm direito nos termos da legislação aplicável".

O TEDH argumenta que "a Convenção não pretende fornecer direitos teóricos ou ilusórios, mas direitos práticos e efetivos", diz a declaração de Wiącek.

"De acordo com o artigo 39 da Lei de 5 de dezembro de 1996 sobre as Profissões de Médico e Dentista, um médico pode abster-se de prestar serviços de saúde contrários à sua consciência, sujeito ao artigo 30 da Lei, mas é obrigado a registrar esse fato na documentação O médico em profissão com base em contrato de trabalho ou como parte do serviço também é obrigado a notificar previamente o supervisor por escrito, acrescentou. Até 2015, o médico que invocasse a cláusula de consciência era também obrigado a indicar a possibilidade real de obter serviços de saúde junto de outro médico ou entidade médica"

Marcin Wiącek perguntou ao Ministro da Saúde se ele via a necessidade de tomar medidas legislativas apropriadas. "A introdução de tais soluções, não apenas contribuirá para a melhoria do padrão de proteção dos direitos dos pacientes, mas também será de significativa importância para a avaliação da implementação pela Polônia dos acórdãos do TEDH indicados" .

O Ministro da Saúde Adam Niedzielski e Filip Nowak, têm 30 dias para responder. No entanto, o ministro da saúde foi questionado pela mídia sobre a recusa dos médicos em fazer um aborto em uma menina de 14 anos estuprada.

Estamos absolutamente chateados com isso. Tal comportamento é inaceitável", disse ele na ontem, em entrevista coletiva ,na Academia Mazowiecka, em Płock.

"A lei polaca estabelece claramente que, no caso de uma gravidez resultante de estupro, a paciente pode fazer um aborto. Não há o que discutir aqui."  disse ele nesta terça-feira (31 de janeiro).

"Ainda que um ou outro médico não quisesse realizar o procedimento, pautado na cláusula de consciência, o hospital era obrigado a indicar o local onde o paciente poderia se beneficiar de tal procedimento. O drama é que toda a situação envolveu uma criança que pode não entender muitas coisas. Uma criança requer um procedimento especial, um cuidado especial, e não estou falando estritamente do procedimento, mas do próprio procedimento com o pequeno paciente", completou o ministro.

Por sua vez, o deputado Władzisław Kosiniak-Kamysz, presidente do Partido PSL - Polskie Stronnictwo  Ludowe (Partido do Povo Polaco), que também é médico, disse que "Eu usaria a cláusula de consciência. Não se pode obrigar alguém a fazer algo que não quer, porque é ultrapassar os limites da liberdade”. Seu partido é conservador, agrário, neoliberal, centro-direita e cristão.

E completou:  "Não vamos culpar um ou outro médico, porque ele tem o direito de fazer uma escolha, aplicar a cláusula de consciência e recusar. Isso está de acordo com o Código de Ética Médica. Mas a responsabilidade do Estado, é a de ele que deve fornecer e indicar um Centro Médico, no qual o paciente deveria ser encaminhado é outra".

O caso desencadeou onda de indignação e pedidos para flexibilizar as leis referentes ao aborto neste país extremamente católico apostólico romano, que estão entre as mais rigorosas da Europa.



Desde janeiro de 2021, a Polônia só permite abortar em caso de agressão sexual ou se a vida ou a saúde da mulher estiver em perigo. No entanto, mesmo sob estas condições é difícil reivindicar seus direitos neste país membro da União Europeia.

"Nenhuma palavra de repulsa basta para definir tal comportamento (...) mas para nós, o mais importante foi ajudar a menina", disse o Federa.

Após a indignação provocada pelo caso, a oposição pediu que a lei seja modificada. "A cláusula de consciência é uma lei atroz e desumana (...) e deveria ser eliminada", declarou a deputada de esquerda Katarzyna Kotula.

Segundo Marcin Wiącek, o caso revela as deficiências da legislação porque os hospitais deveriam ter informado à menina sobre os centros onde ela poderia realizar o aborto. O que soa ridículo partindo de um defensor que deveria atender as aflições e demandas do povo que diz representar.

Abortar ficou praticamente impossível na Polônia, desde que o Tribunal Constitucional declarou, em 2020, que os abortos por má-formação fetal eram inconstitucionais.

O aborto emergiu como uma das questões mais polêmicas desde que o PiS assumiu o poder em 2015, prometendo aos polacos mais pobres e aos mais velhos um retorno a uma sociedade tradicional misturada com políticas de bem-estar generosas.

O Tribunal Constitucional, controlado por juízes próximos do partido governista, o ultraconservador Direito e Justiça (PiS), tinha decidido que considerava inconstitucional a interrupção da gravidez caso o feto apresentasse malformação ou doença irreversível.

Cerca de 97% dos 1.100 abortos praticados legalmente no país, aconteceram em 2019, um ano antes da decisão do tribunal.

A decisão se baseou em um pedido de um grupo de 119 deputados de direita e extrema-direita, em sua maioria do PiS, que haviam apresentaram pela segunda vez moção ante o Tribunal Constitucional.


Durante a leitura da sentença, a presidenta da corte, Julia Przyłębska, deu a eles a razão ao considerar que disposição que “legaliza as práticas eugenistas no campo do direito à vida de uma criança que vai nascer e faz com que seu direito à vida dependa de sua saúde, constituindo uma discriminação direta, (...) é inconsistente (...) com a Constituição”.

A Lei de Planejamento Familiar polaca, de 1993, já era uma das mais restritivas da Europa― atrás apenas das normas de Malta, San Marino e Andorra, onde o aborto não é legal em nenhuma situação ― e permitia essa prática, além do caso de malformação fetal, se a gravidez fosse fruto de um estupro ou incesto e quando a vida da mãe corria perigo.

A Federação Internacional de Planejamento Familiar na Europa (IPPF) destacou a gravidade da decisão. “Não se trata somente de direitos da mulher”, afirmou Irene Donadio, porta-voz da IPPF.

“Com essa decisão, estamos colocando em perigo a saúde e a vida das mulheres.” A entidade também denunciou que o acesso ao aborto nas outras duas situações, na prática, era muito mais complicado.

“É mais um passo rumo ao obscurantismo, em linha com o pedido feito por alguns deputados, meses atrás, de retirada da Polônia da Convenção de Istambul (a Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate à Violência Contra as Mulheres e a Violência Doméstica)”, diz.

No mesmo sentido se pronunciou Leah Hector, diretora regional para a Europa do Centro de Direitos Reprodutivos. Segundo ela, a sentença “viola as obrigações da Polônia segundo os tratados internacionais de direitos humanos de se abster de medidas que façam retroceder os direitos das mulheres na atenção da saúde sexual e reprodutiva.”

“Eliminar o fundamento de quase todos os abortos legais na Polônia equivale praticamente a proibi-los e viola os direitos humanos”, disse, em nota, a comissária para os Direitos Humanos do Conselho da Europa, Dunja Mijatovic. “Aquele foi um dia triste para os direitos das mulheres.”


A decisão do Tribunal Polaco, denunciaram as organizações civis, revela novamente a falta de independência dos juízes. Para Małgorzata Szuleka, advogada da Fundação Helsinki para os Direitos Humanos, do ponto de vista legal o principal problema é a composição do Tribunal Constitucional. “Entre os magistrados que decidiram aquele dia, três foram nomeados pelo Parlamento― controlado pelo PiS ― sem uma base legal válida”, afirmou.

Nos últimos anos, diz Szuleka, todos os casos politizados foram resolvidos em sintonia com a opinião do partido de extrema-direita que se mantém no Governo. Além disso, a imprensa apontou em diversas ocasiões a amizade existente entre a presidente do Tribunal e o líder do PiS, Jarosław Kaczyński.

As sucessivas reformas judiciais realizadas pelo Partido Direito e Justiça desde sua chegada a poder, em 2015, colocaram o Executivo contra a União Europeia (UE), que considera que as reformas colocam em perigo o Estado de Direito, no país, ao solapar a separação de poderes.

Para Marta Lempart, ativista e integrante do movimento Greve Nacional de Mulheres na Polônia, o posicionamento do Tribunal não foi nenhuma surpresa. Num organismo “politizado”, disse ela, a decisão serve para “desviar a atenção” quando o país atravessava o pior momento da pandemia de covid-19, com recorde de infecções diárias (12.017) e 168 mortos diariamente. Lempart também advertiu que o movimento,  prepara-se para lutar e continuará apoiando as mulheres que busquem interromper a gravidez.

“Quando toda a Europa caminha numa direção, a Polônia, dessa forma tão pouco democrática, seguiu em outra”, afirma Donadio, que defendeu uma solução comunitária para deter os rumos de seu país.

“Ontem foi a Polônia, mas amanhã pode ser qualquer outro membro da UE. Precisamos de um mecanismo muito mais forte para proteger os cidadãos”, diz ela, referindo-se à vinculação dos fundos europeus e do orçamento com o cumprimento do Estado de Direito.

Segundo uma pesquisa da empresa IBRiS divulgada pela Europa Press, cerca de 50% dos polacos apoiam a legislação atual sobre o aborto.

Num país onde mais de 97% dos 38 milhões de habitantes são católicos, quase 30% estariam a favor de uma flexibilização da lei, ao passo que 15% desejariam que o acesso à interrupção da gravidez fosse completamente proibido.


Fontes: AFP, Gazeta Wyborcza, CNN Brasil e El País