"Merece destaque o comentário de um dos parentes das vítimas do acidente, quando se dirigia ao local do acidente: "este é um momento nosso!". Em outras palavras, era o momento de intimidade. Com este pequeno comentário, desmontou todo o esquema discursivo dos cansados, que se baseia no que há de mais característico da nossa cultura brasileira: a falta de limites bem definidos entre a esfera pública e a privada. Toda a resmungação cansadista era baseada nesse empastelamento entre o público e o que é particular. Os cansados queriam mais que manifestar solidariedade com a dor dessas famílias, eles pretendiam que 190 milhões de brasileiros a sentisse como sua. Esse artifício retórico é velho. Maquiavel já aconselhava ao príncipe que, ao defender seus próprios interesses, desse ao povo a impressão (quando não a certeza) de que está defendendo o bem geral. Mas aquele comentário do familiar desmonta todo esse discurso de insatisfação pseudo-geral. Alguém que perdeu um familiar há pouco tempo não se sente amparado, acolhido, representado por toda essa onda de "insatisfação cansada" que está por aí."
Trecho do artigo do prof. Ignácio Dotto Neto, de Curitiba, a propósito da missa de 7° dia dos familiares das vítimas do avião da TAM e da manifestação dos cansados liderados pelo presidente da OAB-SP, de Hebe Camargo e da Ivete Sangalo. Doutto Neto também perdeu o pai em um acidente.
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