Quando estava estudando na Escola Senai, no interior do Paraná, onde fiz o curso profissionalizante de Eletricidade, andei, a pedido da professora de Língua Portuguesa, adaptando um texto teatral que encontrei numa revista para se fazer uma homenagem ao Dia das Mães pelos alunos daquela escola. Pois sim, minhas carreiras teatrais e jornalísticas devem ter começado aí. A responsável a professora Elga, que pelo que recordo era originária
Mas e aquele poema, aquela declamação? Ah! Sim... Apresentei na Rádio Sociedade Monte Alegre naquele Dias das Mães e também, no ano seguinte e em outros locais nos anos que se seguiram. Há dois anos, já vivendo aqui em Cracóvia, meu amigo, diretor da Rádio CBN Curitiba,
E hoje estou aqui pensando em como homenagear as mães. Procurei então na Internet alguma referência sobre Giaroni. Para surpresa minha, descubro que Giuseppe Artidoro Ghiaroni, autor do poema das mães que me acompanha por toda a vida faleceu no Rio de Janeiro, aos 89 anos, numa quinta-feira, dia 21 de fevereiro de 2008, ou seja, 3 meses atrás.
E agora, ao contrário de 3 anos atrás, na Internet, através do Google conferi que o nome Giuseppe Artidoro Ghiaroni, está presente em 75 referências encontradas em 0,14 segundos, que Giuseppe Ghiaroni está em 2.380 referências em 0,27 segundos, que Ghiaroni está presente em 16.400 referências em 0,33 segundos e que finalmente o poema que eu passei dias tentando recordar aqui na Montanha do Przegorzały agora está presente em 305 referências em 0,24 segundos no Google. O texto do poema que estava apenas na minha cabeça de adolescente agora está
Mas foi mesmo na antiga Rádio Nacional no começo dos anos 50, que Ghiaroni fez sucesso com seus poemas declamados pelos grandes locutores e artistas da época. Se o seu “Dia das Mães” me acompanha há tanto tempo, o "Monólogo das mãos" é sucesso permanente nas carreiras da grande Bibi Ferreira e Lúcio Mauro. “O Dia das Mães” foi também durante toda a carreira de Paulo Gracindo seu maior sucesso como declamador.
Entre suas obras publicadas e mais conhecidas estão, “O Dia da Existência”, de 1941; “A Graça de Deus’, de 1945; a “Canção do Vagabundo”, de 1948; e finalmente em 1997, ele publicou “A Máquina de Escrever.” Mas também foi autor de rádio-novelas como “MÃE”, “A Gloriosa Mentira”, e “O Bom Irmão”“. Ghiaroni também foi um locutor, não só dos próprios poemas como de grandes programas de música nas rádios do Rio de Janeiro.
Para ouvir minha gravação de “Dia das Mães”, enquanto acompanha a poesia de Giuseppe Ghiaroni, clique aqui.
Mãe! Hoje volto a te ver na antiga sala
onde uma noite te deixei sem fala
dizendo adeus como quem vai morrer.
E me viste sumir pela neblina,
porque a sina das mães é esta sina:
amar, cuidar, criar e depois perder.
Perder o filho é como achar a morte.
Perder o filho quando, grande e forte,
já podia ampará-la e compensá-la.
Mas nesse instante uma mulher bonita,
sorrindo, o rouba, e a velha mãe aflita
ainda se volta para abençoá-la.
Assim parti, e me abençoaste.
Fui esquecer o bem que me ensinaste,
fui para o mundo me deseducar.
E tu ficaste num silêncio frio,
olhando o leito que eu deixei vazio,
cantando uma cantiga de ninar.
Hoje volto coberto de poeira
e te encontro quietinha na cadeira,
a cabeça pendida sobre o peito.
Quero beijar-te a fronte, e não me atrevo.
Quero acordar-te, mas não sei se devo,
não sinto que me cabe este direito.
Eu te esqueci: as mães são esquecidas.
Vivi a vida, vivi muitas vidas,
e só agora, quando chego ao fim,
traído pela última esperança,
e só agora quando a dor me alcança
lembro quem nunca se esqueceu de mim.
Não! Eu devo voltar, ser esquecido.
Mas que foi? De repente ouço um ruído;
a cadeira rangeu; é tarde agora!
Minha mãe se levanta abrindo os braços
e, me envolvendo num milhão de abraços,
rendendo graças, diz:
"Meu filho!", e chora.
E chora e treme como fala e ri,
e parece que Deus entrou aqui,
em vez do último dos condenados.
E o seu pranto rolando em minha face
quase é como se o Céu me perdoasse,
me limpasse de todos os pecados.
Mãe! Nos teus braços eu me transfiguro.
Lembro que fui criança, que fui puro.
Sim, tenho mãe! E esta ventura é tanta
que eu compreendo o que significa:
o filho é pobre, mas a mãe é rica!
O filho é homem, mas a mãe é santa!
Santa que eu fiz envelhecer sofrendo,
mas que me beija como agradecendo
toda a dor que por mim lhe foi causada.
Dos mundos onde andei nada te trouxe,
mas tu me olhas num olhar tão doce
que , nada tendo, não te falta nada.
Dia das Mães! É o dia da bondade
maior que todo o mal da humanidade
purificada num amor fecundo.
Por mais que o homem seja um mesquinho,
enquanto a Mãe cantar junto a um bercinho
cantará a esperança para o mundo!
P.S. Está poesia, neste segundo domingo de maio de 2008, vem de encontro à distãncia que me encontro de minha Mãe Eunice, que não se cansa de me perguntar toda semana: "Meu filho, quando você volta pra casa?" E eu respondo: "Quando terminar meus estudos". Para esta heroína da minha vida, a homenagem de mais um dia distante dela.
Foto de Frances B. Johnston feita em 1900, da criadora do Dia das Mães, Anna Jarvis, em Washington, Estados Unidos. Fotografada exatamente, no dia em que ela pedia aos deputados para reconhecer o Dia das Mães como uma data nacional estadunidense e conseqüentemente feriado.
12 comentários:
Oi Ulisses que linda essa poesia e o texto que escreveu. Esse é o meu segundo dias das mães. Sofia está com 1 ano e 1 mês; Ela é ainda tão pequeninha e agora posso sentir verdadeiramente o que é ser mãe e se colocar também no lugar da minha.
Um forte abraço.
Ulisses,bem lembrado vc trazer de volta a poesia do Ghiaroni. Inda mais declamada e sonorizada por quem sabe.
Grande abraço e parabéns pelo blog.
Que é isso Eliakim! Quem sabe é você, um mestre na arte de falar. E você já gravou este poema e os outros do Ghiaroni? Que houve com o blog da Leila? Está em outro endereço? Forte abraço e obrigado pelo elogio. Ulisses
Eita polaco danado, sô!!!!!!
Adorei!!!!!!!!!!!!!
Abraços saudosos
Laercio
p.s. ouvir sua voz encheu-me o coração de alegria!!!
Oi Ulisses,
o blog da Leila está funcionando a pleno vapor. Ela dedica a ele pelo menos umas quatro horas de seu dia, pesquisando e postando o material. Diariamente ,por volta das 10 da manhã, ela distribui uma newsletter chamando os principais assuntos do dia. O endereço é
www.leilacordeiro.blogspot.com
Que post Bonito, hein?!
O texto está muito bom e a poesia é emocionante! Não é à toa que não tenha esquecido durante todos esses anos que (como é que era possível?!) o Google não resolvia nossos problemas.
Abraço!!
Caro Ulisses
Hoje recebi um e-mail do amigo Fraga, com a poesia de Ghiaroni "A Máquina de Escrever", e no e-mail, o Fraga perguntava quem foi Ghiaroni, com isso fiquei curioso e comecei a pesquisar e acabei encontrando o seu Blog que muito adorei e já repassei para o meu amigo.
Parabéns.
Abel Tolentino
www.masonic.com.br
www.gobgo.org.br
Abel!
que bom... realmente Ghiaroni foi um poeta como poucos. Pena que tenha morrido este ano. - Ulisses
Ulisses, bom conhecer seu blog. Sou filha de sonoplasta/radialista já falecido, e tenho paixão pela história do rádio brasileiro. Pretendo, inclusive, pesquisar todos os textos das radionovelas para, quem sabe, levar ao conhecimento do grande público que gosta de pesquisar, assim como estudantes de comunicação e teatro.
Conheci o Eliakim Araujo na JB, onde meu pai trabalhou em sua carreira de 40 anos.
Pretendo postar matéria sobre Ghiaroni num dos sites para o qual escrevo.
Bom partilhar TUDO isso com você. Parabéns pela sensibilidade.
Forte abraço.
ILCIMAR ABREU
ilcimarabreu@gmail.com
Estava procurando a letra deste poema, que acompanhou meu pai (grande declamador) a vida toda... Era chegar o dia das maes, eu me lembro pequeno (inicio dos anos 70..) e la estava meu "velho" fazendo a homenagem às maes... Nao precisava chegar a metade da bela poesia para ver a a plateia se desmanchar em lagrimas: quantas lembranças, quantas vidas... Valeu pelo post, parabens pela interpretação .. Um abraço Eder Daniel Corvalão
Olá,
Foi uma grata surpressa encontrar este poema e o seu autor, pois tenho o mesmo decorado desde 1968 (aliás é o úncio que foi "salvo" na minha memória), mas sempre achei que era de autoria anônima. Um grande abraço e parabéns pelo trabalho.
Arimateia Almeida
ulisses, este poema é muito lindo, irei recitá-lo para os meus alunos.há muito tempo eu estava procurando este poema, uma dia eu tambem decorei-o, mas já havia esquecido, por ser muito longo, obrigada.
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