quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Ao herói não se mancha, cultua-se

A polêmica publicação do livro sobre Lech Wałęsa sob os auspícios do IPN - Instituto da Memória Nacional, antes de verdade histórica, pode estar causando um grande estrago na própria auto-estima polaca. Inadvertidamente, ou com propósitos determinados de destruir a imagem de um símbolo, de um herói nacional, os dois "historiadores" podem ter dado um tiro no próprio pé. Desacreditando seus trabalhos futuros e a própria classe dos historiadores polacos que vivem uma espécie de "caça as bruxas do passado comunista", como se naquele período fosse tão fácil identificar quem era e quem não era comunista, quem colaborou ou não com o regime.
Dia desses, um morto ressuscitou, justo aquele que dava credibilidade documental a versão dos historiadores do IPN. Estes foram desmentidos pelo ex-agente ressuscitado.
Meu orientador no mestrado em Cultura Internacional, e diretor do Instituto de Estudos regionais da Universidade Iaguielônia de Cracóvia, publicou um artigo na revista "Dialog Pheniben" dedicada a cultura social do povo cigano na Polônia. Nele, o Prof. dr hab. Tadeusz Paleczny alerta para o fato de que aos destruirmos nossos heróis podemos estar destruindo a nós mesmos. 


Grande Formato
Tadeusz Paleczny

Usamos a expressão “Grande Formato” em relação às coisas de grande tamanho. Por analogia, servimo-nos desta expressão para caracterizar pessoas, as quais não tanto em relação ao gabarito físico, mas outros traços de caráter, alma ou intelecto distinguem-se consideravelmente acima da mediocridade. Pessoas de Grande Formato permanecem como modelo de pessoas, ídolos, não só para as pessoas de ambientes mais próximos, de seu grupo cultural, mas ultrapassam os limites de seu significado, indo mais além das fronteiras do país, ou nação. Tornam-se pessoas de Formato Global, conhecidas em todo o mundo, identificadas em cada latitude geográfica.
Temos ultimamente um déficit de pessoas de grande formato em nosso país. O último vivo parece que é Lech Wałęsa, o qual, contudo, muitos polacos na sociedade lhe recusam esta característica, colocando-o em igualdade de ex-agentes do serviço secreto, bisbilhoteiro e de um grupo de homens sórdidos e pequenos. Qual é a intenção, não só absurda, mas inviável, visto que Lech Wałęsa já ficou ungido ante a história e o mundo como um homem de grande calibre, símbolo de nós mesmos, polacos. Se maltratarmos este símbolo, nós o degradaremos aos olhos na opinião pública e isto simplesmente nos humilhará e submeter-nos-a de modo próprio ao mesmo tratamento. 
O último polaco inquestionável de Grande Formato foi João Paulo II. Estou certo, Polacos, que se não tivesse se tornado Papa, recordaríamos seu contato com o serviço de segurança daquele tempo, quando isto era imperativo, no assunto de salvar pessoas. Ninguém poderá negar que Karol Wojtyła, antes de se tornar Papa, encontrou-se algumas vezes, embora não secretamente com funcionários do SB (serviço de segurança). A reprovação deste mesmo Lech Wałęsa é feita baseada em brilhantes documentos secretos da polícia, não com a mesma forma de precisão e solidez alemã, ou legalidade francesa, mas na manipulação soviética, artificial e na falsidade dos fatos, antes disso é sintoma de engenhosidade histórica, bem como de cega crença em formulários preenchidos com arte de falsário.
A dimensão do conceito freqüentemente relativiza ambos historicamente, como e grosseiramente. Pessoas verdadeiramente de grande formato, avaliamos em plenitude somente depois da morte. Não após a intenção, propósito, desejo, mas após alcançar resultados. O homem sob um mau testamento, ou visto tal qual o conhecido fundamento da “precisão histórica” em busca da verdade, denominaria Józef Piłsudski como espião, colaborador de organizações secretas de pelo menos alguns países, até terrorista, bandido e assassino. Em vista disto, é que Piłsudski lutou contra o regime tssarista para liberar a Polônia, assaltou trens, bancos, funcionários e governantes russos? 
Ele se tornou símbolo de liberdade e independência da Polônia. E nada neste símbolo é possível violar, nem mesmo satirizar ou complementar, ou se apoiar em documentos tssaristas defendidos até metodologicamente melhor numa tese científica. Por existe, como falou o Padre Józef Tischner é igualmente verdadeiro: “tyz prowda, pikno prowda i gówno prowda” – “esta verdade, pequena verdade e verdade de merda” (dialeto montanhês polaco). Misturado no material de arquivo dúvidas de classificação na busca podem estar nos últimos fundamentos da verdade da proverbial fossa de Tischner. Ninguém sairá disto limpo, nem o fedor de cada um.
Inquietar-nos pode ser a atitude de Lech Wałęsa, em toda esta indigna confusão sobre sua pessoa. Que reaja dura e emocionalmente à provocação de parte de seus adversários. “A verdadeira virgindade não tem medo”. Esta mesma verdade algum dia emergirá. Homem verdadeiramente de grande formato, em qualquer consideração que se faça a Lech Wałęsa, devido a ser acusado, perseguido, vestiram-lhe calúnias em formato histórico numa obra científica. Quanto disto das obras dos historiados já é necessário invalidar? Não humilhemos os santos polacos nem tampouco símbolos. Porque nestes dias estaremos humilhando à nós mesmos.

P.S. (tradução livre de Ulisses Iarochinski)

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