quarta-feira, 11 de março de 2009

Bartoszewski responde a alemão fascista

Foto: Piotr Kowalczyk

O ex-prisioneiro nr. 4447 do Campo de Concentração e Exterminação Alemão de Auschwitz, Władysław Bartoszewski, não se conteve e respondeu a altura os comentários feitos em um programa da TV alemã ARD, transmitido no último dia primeiro de março, pelo político alemão Rudi Pawelka, de que a Polônia teria atacado a Rússia em 1920. "Pawelka relincha idiotice. Ele não é idiota. Ele é perfeitamente consciente de que a Polônia não atacou a Rússia. Somente a Rússia atacou a Polônia e isto ela faz há séculos." afirmou Bartoszewski para o canal de notícias da televisão polaca TVPInfo.
Pawelka, chefe da Associação de Patriotas Silesianos estava participando do debate sobre candidaturas para chefe da "Associação de Exilados" e para o Conselho de administração da Fundação "Fuga, Expulsão, e Reconciliação", na televisão alemã junto com jornalistas, políticos, historiadores, e ao responder a uma pergunta da política Erika Steinbach disse que, "Devemos recordar que a Polônia atacou a Rússia em 1920 e apoderou-se destes territórios. Posteriormente teve que devolvê-las a Stalin". Pawelka nasceu em 1940, em Wrocław, quando esta cidade estava ocupada pela Alemanha e se chamava Breslau.
A Associação de Patriotas Silesianos faz parte da Associação dos Exilados, que visam cultivar a cultura da Silésia. Mas da Silésia alemã. Atualmente a associação conta com mais de 200 mil membros, em sua maioria alemães e seus descendentes que foram deslocados após a Segunda Guerra Mundial para a Alemanha, uma vez que a Polônia após quase 150 anos de horrenda ocupação alemã finalmente recebia de volta as terras silesianas que sempre foram polacas para o seio do seu milenar território.
Os políticos alemãos não conseguem suportar Bartoszewski e muito menos Erika Steinbach, a qual o presidente da Bundstag - o Parlamento alemão - pediu moderação quando ela falar do polaco Bartoszewski. Ironicamente a política que desistiu à candidatura do conselho da Fundação dos Exilados, fez a seguinte pergunta: "Por acaso não é livre identificar algo diferente dele no pensamento dos palhaços, como este senhor fez?"
Para Bartoszweski esta senhora alemã, não faz mais do que revanchismo histórico contra os polacos. "Ela é uma anti-Polônia". Ele inclusive já fez reclamações pessoais a chanceler Angela Merker contra Steinbach, pelas posições dela, "esclerosadas e antissemitas".
Bartoszewski, além de ter sofrido os horrores das ações monstruosas dos alemães na segunda guerra mundial, é professor, jornalista e político. Já foi ministro das Relações Exteriores da República da Polônia, entre 2000 e 2001, embaixador da Polônia na Áustria e Senador da República e é certamente uma das pessoas mais célebres da Polônia na atualidade.
Talvez seja menos conhecido que Lech Wałęsa, ou o Papa João Paulo II, em todo mundo, mas sua posições em defesa da Polônia e suas duras palavras não admitem contestações. Não só por seu passado de prisioneiro, mas por tudo que realizou em vida depois da segunda guerra mundial. Não há no mundo nenhum fascista que possa se sobrepor a sua figura nem mesmo insultá-lo, como costumeiramente políticos de extrema-direita alemãos fazem contra ele.
Se o mundo da concórdia pede que não se confunda os alemães atuais com seus ascendentes da segunda guerra mundial, também não se pode admitir que estes mesmos descendentes de nazistas ousem levantar a voz contra um ex-prisioneiro dos campos de concentração de Hitler. Pois a estatura moral de Bartoszewski não é ultrapassada por nenhum alemão de alma boa na Alemanha de hoje.
P.S. Na verdade foi a Polônia que sofreu ataque do exército Bolchevique em 1920. Mas o marechal Józef Piłsudski conseguiu conter o ataque russo. E mais, com suas tropas polacas entrou em Moscou. A Polônia junto com o Japão (Guerra Japão-Rússia de 1905) são as duas únicas nações na história a vencerem a Rússia. E os polacos fizeram isto duas vezes, a primeira em 1612 e depois em 1920. Nas duas vezes entraram vitoriosamente em Moscou. Em meu documentário, "Auschwitz-Birkenau", talvez um dos únicos em idioma português sobre a história destes dois campos de concentração alemães em terras da Polônia, mostro Bartoszewski discursando nos 60 anos de libertação do campo, em 2005, quando ele afirma em tom de brado, levantando a mão, as palavras: "Terra não cobrirás meu sangue, porque meu grito não cessará!"

Um comentário:

kirdeiko disse...

Prezado Ulisses,
Aonde posso encontrar seu documentário para assistir??
kirdeiko@hotmail.com
Sou descendente de polacos,nascidos em Vilnus e pretendo brevemente visitar o pais.
Muito bonito seu trabalho através do blog.
Cada vez mais me aproximo da cultura polonesa. obrigado.
Vera