quarta-feira, 1 de julho de 2009

Bakun, centenário de nascimento

Abriu nesta terça-feira, na Casa Andrade Muricy, em Curitiba a exposição "Miguel Bakun - A Natureza do Destino", que se estenderá até 9 de agosto.

A Exposição que conta com o apoio do Governo do Estado do Paraná, através da Secretaria de Estado da Cultura tem organização de Eliane Prolik.
Bakun, segundo, o crítico Nelson Luz, "é envolvimento, tensão, adivinhador do caos-logos, ouvinte do mistério. Fez-se em si mesmo. Só humilde, desnudado, alguém pode ser assim".
Mas é a também descendente de imigrantes polacos, como Bakun, a criadora da mostra, a artista plástica Eliane Prolik, que melhor o define Bakun, dizendo que "a singularidade da obra de Miguel Bakun se efetiva no acontecimento pictórico da tela ao utilizar, sobreduto, o recurso de proximidade. Compactadas, as áreas e cores da paisagem se articulam e interpenetram. De modo intimista, essa pintura configura espaçamentos justos e rítmicos da matéria. Seu fazer diminui as distãncis entre o pintor e o motivo, entre o sujeito e a natureza e entre os cvários planos e elementos da paisagem e fazem o espectador se aproximar dessa justeza do quadro para entendê-lo, para enxergá-lo".
Mas quem é este filho de imigrantes polacos, nascido na cidade mais polaca do Paraná, Marechal Mallet?
Considerado o precursor da arte moderna no Paraná, Bakun saiu da sua Mallet, onde nasceu em 1909, para se alistar na Marinha Brasileira em 1926. Na Escola de Grumetes do Rio de Janeiro, em 1928, conhece o jovem marinheiro e artista ainda desconhecido José Pancetti (1902-1958). Estimulado pelo amigo, começa a desenhar, seguindo sua inclinação de infância. Realiza desenhos nos diversos períodos em que precisa ficar de repouso por causa de acidentes. Em 1930, é desligado da Marinha por incapacidade física, em conseqüência de uma queda do mastro do navio. Transfere-se para Curitiba, onde trabalha como fotógrafo ambulante. Logo conhece os pintores Guido Viaro (1897 - 1971) e João Baptista Groff (1897 - 1970), que o incentivam a pintar. Autodidata, dedica-se profissionalmente à pintura até o fim de sua vida.
Ainda na década de 40, trabalhava num ateliê coletivo na Praça Tiradentes. Em texto de 1948, o crítico Sérgio Milliet (1898 - 1966), após visita à cidade, aponta para o espírito van-goghiano de Bakun, ressaltando que lhe falta noção da tela como um todo e há excesso de empastamento. Contudo, conclui sua crítica dizendo: "o entusiasmo do pintor, sua participação intensa na obra tornam, entretanto, simpáticos os seus próprios defeitos".
A partir de então, a comparação com o artista holandês se torna recorrente, tanto com relação à pintura de Bakun quanto por seu temperamento melancólico e depressivo. O próprio artista a aceita, reconhecendo sua admiração por Vincent van Gogh (1853 - 1890), cujos quadros conhecia em reproduções ou pessoalmente. Outro ponto de semelhança entre ambos é uma certa religiosidade mística em conflito com um sentimento de profunda solidão, que de modo e intensidade diversos manifestam-se em suas obras.
Em 1950, pintou murais na residência do governador Moisés Lupion, atual Castelinho do Batel. Sua produção artística ganhou espaço em exposições individuais em 1955 e 1957. Foi premiado no Salão Paranaense de Belas Artes e Belas Artes da Primavera da Sociedade Concórdia.
O polaco Bakun, não suportando uma forte depressão, veio a se suicidar em fevereiro de 1963, em Curitiba, aos 53 anos de idade. No dia 28 de outubro póximo vai se completar o centenário de nascimento deste magnífico artista plástico paranaense-polaco.

7 comentários:

Claudio Boczon disse...

Ulisses,

Pelo visto há certa controvérsia sobre a ascendência do Bakun, pois a informação que eu tinha até agora é de que ele descendia de ucranianos (o mesmo vale para a Eliane), e não de poloneses.

Na abertura da exposição e lançamento do livro, até onde soube, o consulado e entidades culturais da Ucrânia estavam representados.

Vou procurar maiores informações sobre isto, não sei se no livro há detalhes e nos releases que a imprensa divulgou, cita-o apenas como descendente de eslavos.

abraço,

Claudio Boczon disse...

ops, esqueci de colocar este link:

http://ucrania-mozambique.blogspot.com/2009/06/as-cores-ucranianas-do-parana.html

Ulisses Iarochinski disse...

Cláudio,
realmente não tenho certeza se o "eslavo" Miguel era ucraniano. Mas com certeza o sobrenome Bakun é polaco, basta uma busca no google polska para encontrar polacos engenheiros, artistas e outros na Polônia. E Mallet é reduto polaco e não ucraniano. O pai da Eliane, o advogado Augusto Prolik, que comprou a sede antiga do União Juventus além de ter sobrenome é polaco também. (Ulisses)

Claudio Boczon disse...

Obrigado pelo esclarecimento, Ulisses.

Muito mais importante que a ascendência e a tumultuada vida de Bakun, é a obra dele.

Abraço,

Unknown disse...

Voltou a Segunda República Polonesa ( 1918-1939)
Tenho em mãos a Certidão de Batismo de Bakun. Primeiro sua data de nascimento real é dia 27 de outubro e o batismo foi no dia 28. O seu batismo deu-se na Igreja de Ucraniana ( capella ruthena do curato do Rio Claro ) de Rio Claro. Bakun falava ucraniano, é só se informar com a Eugenia Petriu, durante muitos anos dirigindo a Cocaco ( casa de artes ). O pai da Eugenia era amigo de Bakun e com ele falava na língua ucraniana.
Os pais de Bakun também se casaram na mesma igreja e tiveram como padrinhos Choma e Karpovicz que são membros da comunidade ucraniana.
O pai de Bakun nasceu no Distiro de Sokal que fica na Ucrânia coma fronteira com a Polônia e mãe nasceu na aldeia de Ripniv ao noroeste de Lviv, na Ucrânia. Ele se dizia ruteno. Essa é uma nome extendido à toda a parte ocidental da Ucrânia durante o período da dominação do império austro húngaro. Meu pai também se dizia ruteno e ucraniano como sinônimos.
Muitos sobrenomes são comuns na Ucrânia e Polônia. Pois o território étnico ucraniano atinge o atual território da Polônia e os Poloneses dominaram durante certo período a parte ocidental da Ucrânia. Um dos sobrenomes de meus avós é também sobrenome típico polonês - Konopatski - e nem por isso guardamos costumes, língua e tradições polonesas e sim ucraniana. Mallet é uma cidade com as duas etnias. A população total do Município é de 12.778 habitantes e o número de descendentes de ucranianos, calculado a partir da freqüência às igrejas, é de 7. 667 pessoas. Istó é, 60% da população do Município. ( Estudo elaborado em todo o Estado do Paraná pelo Economista Metodio Groxko com base nas informações do Bispo Efraim Krevei e padres ). A primeira e mais antiga igreja ucraniana que está sendo restaurada está localizada na Serra do Tigre em Mallet. Há outras várias igrejas ucranianas em Mallet sede, Dorizon, Serra do Tigre, etc.
Quando fui à Universidade da Cracóvia tive o prazer em levar dois livros de poesia: um do Leminiski e o outro da Helena Kolody. Assim foi fácil dizer que os poloneses e ucranianos dominam a poesia no Paraná. Não há o que chorar que o Bakun é de origem ucraniana, tenho vários amigos de origem polonesa aqui em Curitiba que são excelentes pintores. Dias atrás ofereci um Borsht para a Dulce Osinki e para o Claudio . De um lado da mesa se comia o pirogue e do outro o vareneke, mas a comida era a mesma.
Vitorio Sorotiuk

Unknown disse...

Parece que essas confusões sobre as origens ucranianas ou polacas são bastante comuns. Meu sobrenome, Pototski, eu bem sei que é de origem polaca (talvez Potocki) mas todos os costumes de minha família, bem como idioma, tradições e religião são ucranianos. Já encontrei referências ao meu sobrenome em sites polacos e ucranianos. Estou em busca de documentos e pistas para montar esse quebra-cabeças que são as origens de minha família.

André Pototski (andrepototski1@gmail.com)

Telêmaco Borba - PR

Unknown disse...

Eu sou BERTONIO BAKUN, sobrinho de Miguel Bakun, irmão do meu pai, ANTÔNIO BAKUN. Meu pai é natural de Curitiba e entrou para a Aeronáutica na época da segunda guerra mundial. Indo para a Itália, onde foi combatente e, portanto, se tornou um herói nacional, ele conheceu a minha mãe, BERTELITA DE ALBUQUERQUE BAKUN, a quem namorou e prometeu voltar para casar. Promessa cumprida, eles casaram e foram morar em Curitiba, onde nasceu o meu irmão mais velho, ANTÔNIO BAKUN FILHO. Mas, minha mãe, nordestina, não se adaptou ao clima do Paraná, então, eles foram morar em Recife, onde tiveram mais cinco filhos, dos quais, eu sou o terceiro. Devido à distância, não conheci a família do meu pai, exceto pelos seus comentários. Ele me disse que a minha avó era austríaca e o pai russo, da região de Chernobil. Contou que, devido ás tensões pós-guerra, da primeira grande guerra, seus pais viveram como nômades, passando por vários países europeus, incluindo a Polônia e a Ucrânia. Contudo, como a situação deles estava muito difícil, na primeira oportunidade de sair da Europa, eles embarcaram em um navio mercante com refugiados da guerra, sem saber o destino. Somente quando foram desembarcar é que souberam que iriam viver no Brasil, precisamente em Ponta Grossa, no interior do Paraná. Foi ali que nasceram alguns dos meus tios e tias. Todavia, a família não se fixou apenas em Ponta Grossa e se espalhou pelo Paraná indo, desde São Francisco do Sul, Jaraguá do Sul, Rio Negrinho, Mallet, Mafra e Rio Negro, até Curitiba. Meu pai me contou como o meu tio Miguel fazia os seus trabalhos, tendo inclusive recebido, de presente, um quadro pintado por ele, que foi herdado pelo meu irmão mais velho e, hoje, ostenta uma das paredes de sua residência. Meu irmão não se desfaz desse quadro por dinheiro nenhum! Tio Miguel se esquecia da vida quando pintava não se importando se era dia ou noite, se tinha comido ou não. Esse descaso lhe trouxe consequências na família e ele terminou só e abandonado, por isso, passou a beber muito, mas mesmo assim, jamais deixou a pintura. Outrossim, sozinho e deprimido, terminou ceifando a própria vida e, quando o meu pai recebeu a notícia, como eu estava junto dele, ele me abraçou e chorou silenciosamente por um bom tempo. Pouco tempo depois, meu avô faleceu e, não demorou minha avó também partiu. Meu pai, então, resolveu me levar ao Paraná junto com a minha irmã mais velha, MARILENA BAKUN, e estivemos em Curitiba, Mafra, Rio Negrinho e São Francisco do Sul. Fomos também a Itapevi, no Estado de São Paulo, onde estava morando uma de suas irmãs. Conheci muita gente, mas eu era muito novo e pouco guardei da história da família. Eu segui a carreira militar, indo em 1969 para Angra dos Reis, onde frequentei o Colégio Naval. Depois, fiz a Escola Naval no Rio e me tornei Oficial da Marinha. Já como Oficial, visitei novamente, Curitiba, Mafra e Rio Negro, onde meus contatos foram suficientes para fazer com que alguns dos meus parentes fossem até Recife, onde eu estava morando por servir na Escola de Aprendizes-Marinheiros de Pernambuco. Hoje, já reformado, vivo em Barbacena, pois minha mulher é natural de Minas. Nunca mais tive notícias do pessoal do Paraná, a despeito do meu irmão mais velho morar em Ponta Grossa. Eu gostaria muito de ter maiores detalhes sobre as histórias dos componentes da família do meu pai. Agradeço desde já, a quem puder me ajudar. Obrigado!