colocam flores e velas no local onde caiu o avião
A revista Época, que circula no Brasil, neste domingo traz artigo intitulado "Uma catarse na Polônia". Nele, a revista faz uma análise do momento crucial que vivem as duas nações eslavas, desunidas a séculos, por guerras, ocupações e principalmente incompreensão de ambos os lados.
A queda do Tupolev Tu-154 da Força Aérea Polonesa em Smolensk, na Rússia, no sábado passado (10), entrelaçou os destinos da Polônia e da Rússia mais uma vez. A aeronave que carregava o presidente Lech Kaczynski, a primeira-dama, Maria, o presidente do Banco Central, toda a cúpula militar, 18 parlamentares e outras personalidades importantes caiu no fim de uma viagem que serviria para celebrar o aniversário de 70 anos do massacre de Katyn, no qual 22 mil poloneses foram mortos pela polícia secreta soviética. Ao contrário do que se podia imaginar, poloneses e russos, tomados pela incredulidade da coincidência, se aproximaram na dor.
Rússia e Polônia compartilham uma história trágica desde o fim do século XVIII, quando o Império Russo teve papel determinante na divisão dos territórios poloneses. O episódio mais tétrico nessa rivalidade talvez tenha sido o massacre de Katyn, cujo objetivo era minar o futuro da Polônia, facilitando a permanência do país como um Estado satélite da União Soviética após a Segunda Guerra Mundial. Nas últimas décadas, o rancor não foi superado. E um bastião da mágoa era justamente Lech Kaczynski.
Em seu período na presidência, ele fez de tudo para aproximar a Polônia da Ucrânia e da Geórgia, duas ex-repúblicas soviéticas, e trabalhou para que os dois países fossem incluídos na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar da qual a Rússia não faz parte. Nacionalista combativo, Kaczynski também fez campanha para que a Polônia recebesse uma parte do escudo anti-mísseis que a administração de George W. Bush na Casa Branca queria construir em países próximos à Rússia.
A relação de Kaczynski com Moscou era tão ruim que o evento do qual ele participaria em Smolensk não era oficial. Mas o massacre de Katyn é um assunto importante na Polônia. Tanto é que Kaczynski teria pressionado o piloto do Tupolev a pousar mesmo sem boas condições de visibilidade. Segundo os controladores de voo russos, o piloto foi avisado quatro vezes de que a névoa atrapalharia o pouso, mas mesmo assim prosseguiu.
Logo após a tragédia, o presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, e o primeiro-ministro, Vladimir Putin, se apressaram em enviar mensagens de condolências aos poloneses. As autoridades dos dois países cooperaram no resgate e no reconhecimento dos corpos e a TV russa até transmitiu o filme Katyn, indicado ao Oscar, mas até então censurado no país.As demonstrações amistosas entre os vizinhos foram uma novidade. "Essa tragédia pode servir como uma catarse na relação entre a Polônia e a Rússia", avalia Piotr Maciej Kaczynski, analista do Centro Europeu de Estudos Políticos (CEPS), baseado em Bruxelas. "Os países dividem uma história que não pode ser esquecida, mas que precisa ser compreendida pelas duas partes", afirma. Segundo o analista, ainda é cedo para falar saber o futuro do diálogo russo-polonês, mas é certo que pela primeira vez na história há poloneses falando "nos amigos do leste".
Dentro da Polônia, a morte de Kaczynski lembrou a comoção com a morte do papa João Paulo II, em 2005. O país viveu momentos de união nacional, mas logo as divisões apareceram. O estopim foi o anúncio de que o presidente e a primeira-dama seriam enterrados na Catedral de Wawel, em Cracóvia, um santuário para os heróis do país. Pequenos protestos foram realizados nas ruas da cidade, enquanto uma comunidade no Facebook contra o enterro em Wawel reuniu 30 mil pessoas. "O país está unido da tragédia, mas quando o luto passar, vai começar um novo período turbulento na política", diz Kaczynski, do CEPS.
Antes de morrer, o presidente desfrutava de uma popularidade de apenas 28%, mas concorreria à reeleição mesmo assim. Agora, o partido conservador que comandava, o Lei e Justiça, ficou sem candidato e terá que se reorganizar. O presidente interino, Bronislaw Komorowski, que comandava a câmara baixa, é o favorito para as eleições, que serão realizadas em 20 de junho.
Um comentário:
A revista Carta Capital traz uma reportagem sobre o ridiculo de se colocar o falecido presidente Lech no panteão Wawel. Político inexpressivo ocupar um local historicamente sagrado. Alguém tem que fazer alguma coisa!!!
Jaime Iantas de Telêmaco
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