domingo, 2 de janeiro de 2011

Saiu hoje na Gazeta


Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
 Iarochinski: repreeendido em público por usar a palavra “polaco”

História

“Polaco ou polonês?”, uma questão delicada

O jornalista e doutor em Cultura Internacional Ulisses Iarochinski provoca polêmica com livro que defende o uso de termo considerado pejorativo

Publicado em 02/01/2011
Marcio Renato dos Santos

Ulisses Iarochinski entrou em uma briga de ripa. Desde que co­­meçou a defender o uso da palavra polaco, ao invés de polonês, passou a conquistar desafetos. Mas o jornalista e pesquisador não perde o sono. Fala sobre o assunto com conhecimento de causa. Passou oito anos na Polônia, onde concluiu programas de mestrado e doutorado, além de aprimoramento na língua dos seus ancestrais.
De volta a Curitiba, onde trabalhou por anos como jornalista, Iarochinski acaba de lançar "Polaco – Identidade Cultural do Brasileiro Descendente de Imigrantes da Polônia", adaptação de sua dissertação de mestrado, defendida na Universidade Iaguielônia, de Cracóvia. Nem a chuva, torrencial, impediu que centenas de pessoas fossem dar um abraço no autor, na noite de 24 de novembro, quando o autor lançou seu livro no Centro Paranaense Feminino de Cultura.
Mas isso nem sempre acontece.
Iarochinski já passou apuros em sessões de lançamento de seu livro anterior, Saga dos Polacos. Em Erechim (RS), estava autografando um exemplar quando um sujeito chegou até ele, apertou o seu braço e disse: “Aqui não tem polaco, só polonês.” A mesma situação praticamente se repetiu em São Paulo, em outra sessão de lançamento. Um homem, de mais de 50 anos, apertou o braço do autor e gritou: “Você é burro! Aqui não tem polaco, só polonês.”
O autor de Saga dos Polacos quis saber as razões de tanto ressentimento em relação a uma mera palavra. A partir desse impulso, viajou à Polônia. Durante a temporada de pesquisa, decifrou o mistério. No fim do século 19 e no início do 20, um grupo mafioso judeu, chamado Tzvi Migdal, ou Zvi Migdal, realizava tráfico de mulheres brancas, da Europa para a América do Sul. Elas acabavam trabalhando como prostitutas, principalmente no Rio de Janeiro e em Buenos Aires e, como eram loiras e de olhos claros, passaram a ser chamadas de polacas – apesar de não serem nascidas na Polônia.
A comunidade polaca brasileira, em alguma medida, se incomodou. Em 1927, no Consulado Geral da Polônia em Curitiba, foi decidido que a expressão polaco seria banida do vocabulário. A partir de então, ficou combinado chamar de poloneses os nascidos na Polônia, bem como os seus descendentes.
Desde o fim da década de 1920, não apenas no Paraná, mas em todo o Brasil, uma guerra sutil e silenciosa está em andamento. De um lado, estão aqueles que lutam pelo uso da expressão polonês. Do outro, gente como poeta Thadeu Wojciechowski e o jornalista Iarochisnki, que defendem, bravamente, a palavra polaco.
“É um equívoco usar a expressão polonês apenas por causa da presença de prostitutas europeias no Brasil, que nem eram da Polônia. Faço questão de afirmar, falar e usar apenas o termo polaco”, diz Iarochinski.
O jornalista estava em Cracóvia no dia 2 de abril de 2005, quando Karol Józef Wojtyla, o Papa João Paulo II, morreu. Imediatamente, foi solicitado para fazer comentários para emissoras de rádios e produzir reportagens para jornais brasileiros. Toda vez que falava ao vivo, ou redigia os textos, usava a expressão polaco, para se referir ao Papa nascido na Polônia. Brasileiros de todas as regiões reagiam, pedindo para que o papa fosse chamado de polonês.
Como se percebe, essa batalha linguística está longe de um fim, e Iarochinski pretende lutar pela sua causa.

Polaquices

Iarochinski nasceu em Monte Alegre (PR). O seu avô, Boleslaw, tinha sobrenome Jarosinski, mas ao registrar Casimiro, o pai de Ulisses, o escrivão do cartório escreveu Iarochinski. Outros polacos também tiveram o sobrenome alterado no Brasil. Confira, a seguir, outras informações sobre o autor.

Invenções
O sonho, o doce recheado com goiabada ou nata, e a vodca, por exemplo, são invenções de polacos. O autor vai contar isso e muito mais em um outro livro a ser lançado em 2011.

Peleja
De 1983 a 1991, Iarochinski foi o editor do Espaço 2, suplemento de cultura do Jornal do Estado. Publicou 17 matérias de capa pedindo para que o Teatro da Classe, da Rua 13 de Maio, passasse a se chamar Teatro José Maria Santos. Conseguiu. “É uma homenagem ao meu mestre, que construiu, com as suas mãos, aquele teatro”, diz Iarochinski, que por anos foi ator.

Grupo dominante
Iarochinski analisa que, pelo fato de terem sido o grupo imigrante dominante em Curitiba, os polacos se tornaram motivo de piada. “Preto do avesso, polaco da nhanha, polaco da barreirinha e outras ofensas não são aleatórias. Veja, o brasileiro faz piada de português pelo fato de o lusitano ser o elemento dominante. O mesmo raciocínio vale para o polaco em Curitiba”, afirma.

Acesso
O autor comercializa os seus livros por meio do blog iarochinski.blogspot.com ou por contato direto pelo telefone (41) 9919-6607.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nunca me senti menosprezada ao ser chamada de "Polaca", aliás desde criança sou a única filha que meu pai chama assim.
E como você, o meu nome também foi alterado pelo cartorário, de Domanski virei Domansky.
Bj
Rita Domansky