Do enviado especial Luiz Zanin
ao Festival de Veneza 2013 de
O Estado de S. Paulo
O filme mais badalado de ontem, 5, não estava em concurso, mas o fato se explica: não é sempre que um grande personagem contemporâneo é retratado no cinema como foi Lech Wałęsa por seu conterrâneo, mestre Andrzej Wajda.
O título não esconde o sentido do projeto - Wałęsa - O Homem da Esperança é uma hagiografia do líder sindicalista que se tornou a figura mais importante do seu país, enterrou o stalinismo na Polônia e ganhou o Prêmio Nobel da Paz, foi eleito presidente e comandou a nação na primeira fase pós-comunista. Sua trajetória é, de fato, impressionante.
Wajda, aos 86 anos, autor de clássicos como Cinzas e Diamantes, O Homem de Ferro, Katyń e tantos outros, também o é. Consegue imprimir ritmo frenético a essa vida de luta, quer dizer, fazendo-nos sentir como era o dia a dia de Wałęsa quando contestava as autoridades do seu país e tentava liderar os trabalhadores rumo a um sindicato independente.
O filme tem um atrativo a mais para os italianos. Serve de âncora à narrativa a recriação de uma entrevista concedida em 1981 por Wałęsa à mítica jornalista Oriana Fallaci (1930-2006). Controversa, agressiva e cheia de ideias sobre tudo, era, ela própria, uma personagem e tanto. É interpretada por Maria Rosario Omaggio, que tem semelhança física com a personagem real e a mesma voz rouca esculpida em nicotina. No papel de Lech Wałęsa, Robert Wieckiewicz, assustadoramente parecido ao original.
As primeiras cenas entre os dois são muito boas. A uma pergunta agressiva, Walesa acusa a repórter de ditadora e ameaça encerrar a entrevista. Num momento em que ele se gaba de si, pergunta a Oriana se o considera presunçoso. Também ela dotada de um ego monstruoso, responde: "Não, por que acharia?" É engraçado.
Esse colóquio entre entrevistadora e entrevistado pontua a narrativa relembra os momentos-chave da ascensão de Wałęsa. Wajda filma como jovem. E ele, ou seu roteirista, Janusz Głowacki, mostra-se capaz de encontrar recursos interessantes de narrativa. Por exemplo, a primeira vez em que o ainda anônimo Wałęsa é detido, antes de sair de casa tira a aliança e o relógio e recomenda à mulher: "Se eu não voltar, venda para pagar as compras". Será sempre assim. Mesmo quando já homem famoso, mas ainda perseguido pelas autoridades, deixará sempre o relógio e o anel em casa.
O retrato que emerge é fascinante: eletricista de formação, Wałęsa sabe, intuitivamente, dirigir-se à multidão. É líder nato. Esnoba intelectuais: "Fazem reuniões intermináveis de cinco dias para chegar à mesma conclusão a que eu chego em cinco segundos". Gaba-se de nunca ter lido um livro. "Vou até a página cinco, depois desisto." No final da entrevista, despede-se de Oriana e diz: "Se você escrever um livro dessa entrevista, mande para mim. Vai ser o primeiro que vou ler".
Liderando greves, tornando-se conhecido mundialmente, consegue colocar o governo nas cordas. Associando sua figura à do papa Wojtyła, e valendo-se espertamente da queda de braço final entre as superpotências, Wałęsa acaba por se impor.
"Foi o homem perfeito para aquele momento”, diz Wajda. “O Solidariność chegou a 10 milhões de associados. Só um operário poderia ter conduzido o movimento que levou ao fim do socialismo na Polônia e à queda do Muro de Berlim, fato esse que me proporcionou enorme prazer”. Esse retrato enérgico, traçado por um mestre do cinema e anticomunista feroz, tem lá seus limites. Gostaríamos talvez de ver algumas contradições humanas que Wałęsa como todos, deve ter.
Ao contrário do que pensam os hagiógrafos, essas ambivalências humanizam os personagens e não o apequenam. Mas Wajda preferiu mantê-lo numa esfera unilateral, construída apenas pela infinita admiração que nutre pelo personagem.
Reportagem da Televisão EURONEWS com entrevista do cineasta Andrzej Wajda ( pronuncia-se andjei vaida) sobre o filme Lech Wałęsa - homem da esperança. (pronuncia-se léérrrrr vauensa).
"Foi o homem perfeito para aquele momento”, diz Wajda. “O Solidariność chegou a 10 milhões de associados. Só um operário poderia ter conduzido o movimento que levou ao fim do socialismo na Polônia e à queda do Muro de Berlim, fato esse que me proporcionou enorme prazer”. Esse retrato enérgico, traçado por um mestre do cinema e anticomunista feroz, tem lá seus limites. Gostaríamos talvez de ver algumas contradições humanas que Wałęsa como todos, deve ter.
Ao contrário do que pensam os hagiógrafos, essas ambivalências humanizam os personagens e não o apequenam. Mas Wajda preferiu mantê-lo numa esfera unilateral, construída apenas pela infinita admiração que nutre pelo personagem.
Reportagem da Televisão EURONEWS com entrevista do cineasta Andrzej Wajda ( pronuncia-se andjei vaida) sobre o filme Lech Wałęsa - homem da esperança. (pronuncia-se léérrrrr vauensa).
Um comentário:
Dependendo do ângulo o Walesa parece o Carlos Massa.
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