Quando a Polônia aderiu à União Europeia, em 2004, 15 anos depois de ter deixado a União Soviética, seus cidadãos inundaram nações europeias mais prósperas em uma maré branca e vermelha -as cores de sua bandeira.
Esse dilúvio atingiu em especial a Grã-Bretanha, onde há quase 900 mil polacos. Eles chegaram a representar, para uma parcela específica da população, a grande ameaça à economia. O "encanador polaco" era um dos estereótipos da migração europeia sem qualificação (o que não se configurou, pois os polacos eram mais qualificados que os próprios ingleses).
Agora, essa colônia tem planos de abandonar em massa a Grã-Bretanha, que em junho de 2016 aprovou sua saída da União Europeia.
O governo polaco prevê o retorno de algo entre 100 mil e 200 mil cidadãos por causa do divórcio entre os britânicos e o resto do continente. A campanha do "brexit" foi em parte baseada em um sentimento xenófobo e na defesa de controles mais rígidos à migração.
Ewa Gladysz, 38 anos, voltou na primeira semana de setembro a um povoado próximo a Wrocław, no Oeste do país. "Investi 12 anos da minha vida em um país que não me quer nem quer minha família", diz. "Ainda penso em inglês. Digo 'thank you' [obrigado] ao motorista do ônibus, e ele me olha como se eu fosse um alien."
A reportagem consultou um "carreto" especializado nas mudanças da Grã-Bretanha à Polônia. A procura pelo serviço cresceu em 50% desde o "brexit".
"Quando conversamos sobre isso, os polacos dizem que têm sido destratados", afirma um funcionário que não quer se identificar. "Muitos deles vieram para juntar dinheiro, mas os preços na Grã-Bretanha estão altos."
A libra esterlina valia 1,4 euro antes do "brexit", mas hoje vale 1,1 euro. Migrantes temem que a situação piore depois do rompimento --alguns analistas veem risco de crise econômica.
ILEGAIS?
Os estrangeiros radicados em solo britânico também se preocupam com a legalidade de seu status como residentes. Ainda não se sabe sob que condições os 3 milhões de europeus hoje estabelecidos ali poderão fixar moradia e trabalhar, e alguns preferem não esperar para descobrir.
"Para muitas pessoas, a Grã-Bretanha perdeu atratividade", diz a polaca Barbara Drzsowicz, chefe do Centro de Recursos do Leste Europeu. Ela fala também de si mesma: decidiu deixar o país depois de nove anos.
"Há milhões de razões, mesmo o clima, mas o 'brexit' me ajudou a tomar a decisão. Eu e minha geração viemos ao Grã-Bretanha porque era parte de um projeto europeu, com mobilidade entre os países, e eles estão abandonando isso", afirma.
"Para mim, foi uma perda de tempo vir para cá", diz Joanna Kalinowska, 60, que migrou há oito anos para juntar dinheiro e pagar um tratamento de saúde para o marido. Ela se empregou em uma fábrica de chocolates. "Após o 'brexit', começaram a nos tratar mal, e está difícil encontrar um trabalho decente. Com a queda da libra, já não vale mais a pena", diz.
EUROPA CENTRAL
Não são só os polacos que estão deixando o país. Cerca de 339 mil pessoas saíram da Grã-Bretanha em 2016, 40 mil a mais do que no ano anterior.
Paralelamente, menos cidadãos foram morar na ilha --588 mil no ano passado, 43 mil a menos do que em 2015.
A queda foi especialmente brusca entre os oriundos do leste europeu (que incluem os polacos), analisados em conjunto nas estatísticas.
A diferença entre imigrantes e emigrantes desses países foi de apenas 5 mil pessoas, a taxa mais baixa desde que entraram na União Europeia, em 2004. O fenômeno não é explicado apenas pelo "brexit", porém.
No caso polaco, é preciso levar em conta que o país cresceu e se modernizou desde sua adesão ao bloco. Varsóvia é hoje uma capital europeia vibrante, com as mesmas grandes franquias vistas em Paris, Londres, Roma ou Madri.
E, para muitos dos filhos que a casa tornam, o país natal oferece um bônus: a família. "Quero ver meus pais discutindo e envelhecendo", diz Gladysz.
Esse dilúvio atingiu em especial a Grã-Bretanha, onde há quase 900 mil polacos. Eles chegaram a representar, para uma parcela específica da população, a grande ameaça à economia. O "encanador polaco" era um dos estereótipos da migração europeia sem qualificação (o que não se configurou, pois os polacos eram mais qualificados que os próprios ingleses).
Agora, essa colônia tem planos de abandonar em massa a Grã-Bretanha, que em junho de 2016 aprovou sua saída da União Europeia.
O governo polaco prevê o retorno de algo entre 100 mil e 200 mil cidadãos por causa do divórcio entre os britânicos e o resto do continente. A campanha do "brexit" foi em parte baseada em um sentimento xenófobo e na defesa de controles mais rígidos à migração.
Ewa Gladysz, 38 anos, voltou na primeira semana de setembro a um povoado próximo a Wrocław, no Oeste do país. "Investi 12 anos da minha vida em um país que não me quer nem quer minha família", diz. "Ainda penso em inglês. Digo 'thank you' [obrigado] ao motorista do ônibus, e ele me olha como se eu fosse um alien."
A reportagem consultou um "carreto" especializado nas mudanças da Grã-Bretanha à Polônia. A procura pelo serviço cresceu em 50% desde o "brexit".
"Quando conversamos sobre isso, os polacos dizem que têm sido destratados", afirma um funcionário que não quer se identificar. "Muitos deles vieram para juntar dinheiro, mas os preços na Grã-Bretanha estão altos."
A libra esterlina valia 1,4 euro antes do "brexit", mas hoje vale 1,1 euro. Migrantes temem que a situação piore depois do rompimento --alguns analistas veem risco de crise econômica.
ILEGAIS?
Os estrangeiros radicados em solo britânico também se preocupam com a legalidade de seu status como residentes. Ainda não se sabe sob que condições os 3 milhões de europeus hoje estabelecidos ali poderão fixar moradia e trabalhar, e alguns preferem não esperar para descobrir.
"Para muitas pessoas, a Grã-Bretanha perdeu atratividade", diz a polaca Barbara Drzsowicz, chefe do Centro de Recursos do Leste Europeu. Ela fala também de si mesma: decidiu deixar o país depois de nove anos.
"Há milhões de razões, mesmo o clima, mas o 'brexit' me ajudou a tomar a decisão. Eu e minha geração viemos ao Grã-Bretanha porque era parte de um projeto europeu, com mobilidade entre os países, e eles estão abandonando isso", afirma.
"Para mim, foi uma perda de tempo vir para cá", diz Joanna Kalinowska, 60, que migrou há oito anos para juntar dinheiro e pagar um tratamento de saúde para o marido. Ela se empregou em uma fábrica de chocolates. "Após o 'brexit', começaram a nos tratar mal, e está difícil encontrar um trabalho decente. Com a queda da libra, já não vale mais a pena", diz.
EUROPA CENTRAL
Não são só os polacos que estão deixando o país. Cerca de 339 mil pessoas saíram da Grã-Bretanha em 2016, 40 mil a mais do que no ano anterior.
Paralelamente, menos cidadãos foram morar na ilha --588 mil no ano passado, 43 mil a menos do que em 2015.
A queda foi especialmente brusca entre os oriundos do leste europeu (que incluem os polacos), analisados em conjunto nas estatísticas.
A diferença entre imigrantes e emigrantes desses países foi de apenas 5 mil pessoas, a taxa mais baixa desde que entraram na União Europeia, em 2004. O fenômeno não é explicado apenas pelo "brexit", porém.
No caso polaco, é preciso levar em conta que o país cresceu e se modernizou desde sua adesão ao bloco. Varsóvia é hoje uma capital europeia vibrante, com as mesmas grandes franquias vistas em Paris, Londres, Roma ou Madri.
E, para muitos dos filhos que a casa tornam, o país natal oferece um bônus: a família. "Quero ver meus pais discutindo e envelhecendo", diz Gladysz.
Fonte: Folhapress
Texto: Diogo Bercito
Enviado especial a Varsóvia
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