Ela é amiga da minha ex-chefe em Cracóvia, a Jolanta Małgorzata Kozioł, dos meus serviços de guia turístico pela cidade de Cracóvia, Campo de Concentração e Extermínio Alemão Nazista de Auschwitz e Birkenau, Mina de Sal de Wielicka e a cidade natal do Papa João Paulo II, Katowice.
Liidia |
Kateryna é psicóloga atua como psicoterapeuta na empresa que ela abriu em Cracóvia. Estudou na Universidade Politécnica de Lwów, na Faculdade de Psicologia Teórica e Prática. Estudou também psicoterapia catatímica-imaginativa no desenvolvimento do drama simbólico e da psicologia profunda.
Lidiia: Por que você decidiu se mudar para a Polônia?
Kateryna: Para Cracóvia, porque eu e meu namorado compramos um apartamento aqui há 4 anos. Quando a guerra começou, tivemos para onde ir. Morávamos em Lwów, que não é tão longe de Cracóvia. Uma nova etapa da vida juntos começou, novos desafios, altos e baixos, mas as primeiras horas da agressão militar russa na Ucrânia mudaram nossas vidas em "antes" e "depois". Não sabíamos o que nos esperava a seguir, paramos juntos neste abismo existencial.
Lidiia: Como foi a adaptação no novo ambiente cultural?
Kateryna: Para mim, Cracóvia é como Lwów, nem sinto a diferença, é apenas uma cidade maior. Sempre adorei Cracóvia e sentia muitas saudades, gostei muito das suas ruas e cafés, lugar em que se pode caminhar ao longo do rio. Eu me sinto confortável e segura aqui. Também trouxe de volta memórias maravilhosas e alegres.
Pelo fato de eu não ter vindo sozinha, e porque tínhamos este apartamento. Meu companheiro tinha um emprego, assim, a adaptação foi mais fácil.
Foi mais difícil para mim encontrar um emprego. Eu estive procurando emprego por cerca de três meses e, simultaneamente, estava aprendendo muito o idioma polaco. Eu já falava um pouco de polaco, mas esse conhecimento não era suficiente para eu consultar.
Comecei a estudar intensamente com um professor particular, 3 a 5 vezes por semana, durante um mês, porque entendia que podia encontrar um emprego. Mas ainda preciso melhorar meu nível de polaco.
Lidiia: Como está tua vida atualmente?
Kateryna: Eu estive ajudando como voluntária em Varsóvia, Cracóvia, Katowice e Viena, na Áustria no trabalho com os refugiados, porque são questões muito importantes com uma certa especificidade. Então, as policlínicas começaram a me chamar para trabalhar como psicoterapeuta. Certa vez, uma mulher me telefonou, apresentou-se como coordenadora do projeto em Paszkowka, onde fica um hotel para refugiados ucranianos, e propôs-me um encontro.
No primeiro dia, consultei uma mulher que sofria de câncer. Ela foi a primeira pessoa a me procurar e depois de nossas conversas, ela me agradeceu e disse que finalmente estava se sentindo melhor. No decorrer de meu trabalho posterior, curamos com sucesso muitos de seus traumas psicológicos.
Em seguida, realizamos uma pesquisa online entre os residentes do hotel para saber se eles precisavam de um psicoterapeuta. Afinal, os ucranianos têm medo dessa profissão. Oito pessoas se inscreveram imediatamente e eu entendi que isso era apenas o começo.
Cada vez mais pessoas vinham me visitar e às vezes surgia a questão de pernoitar, porque chegar a Paszkowka é um pouco difícil.
Agora estou lá 3 a 4 dias seguidos. Há novas pessoas que precisam de ajuda. Se no começo eu tinha medo de que fosse preciso muito esforço para conseguir pessoas interessadas em vir às consultas, agora as pessoas viram o quanto o estado emocional das pessoas com quem trabalhávamos mudou e elas também quiseram me procurar.
Portanto, agora há muito trabalho, além de pessoas satisfeitas.
Agora conseguimos construir uma estrutura para esses refugiados que ajudam, interessam-se, preparam-se, para que depois do fim do projeto as pessoas saibam o que fazer a seguir. Preparamos pessoas para continuar vivendo neste momento difícil.
Lidiia: Quais eram suas expectativas/sonhos de morar em Cracóvia? Eles se tornaram realidade?
Kateryna: Honestamente, pensei que íamos passear por uma semana e voltar. Eu queria voltar o mais rápido possível para Lwów, mas a guerra continuava…
Além disso, vi que minhas habilidades eram necessárias aqui: falo inglês e polaco fluentemente. Tenho planos de estudar nos Estados Unidos, em breve – novas oportunidades se abrem aqui. Encontrei um lugar onde posso ser eficaz e ajudar os refugiados da Ucrânia. Eu entendo a mentalidade do meu povo, a língua ucraniana, russa e posso realmente ajudar essas pessoas.
Os empregadores perceberam a eficiência do meu trabalho e agora me ofereceram um emprego como psicóloga, em Cracóvia, e outras cidades. Agora não estou procurando emprego, mas os empregos estão procurando por mim.
Encontrei uma organização que valoriza o que faço. Aqui posso influenciar o processo, o sistema, não só como psicoterapeuta de pessoas, mas também todo o projeto. A cooperação com meus superiores em todos os níveis é muito fácil e conveniente. Estou tentando ver o que pode ser feito de melhor para os refugiados, onde é difícil para eles, onde são preguiçosos e precisam de um pouco de motivação. É claro que você não pode fazer tudo isso sozinho, mas na equipe em que trabalho permite que você ajude inúmeras pessoas.
Surpreendo-me como os polacos estão prontos para ajudar os ucranianos e quantas pessoas estão envolvidas nesse processo.
Os americanos nos visitam com muita frequência e cada um deles deixa um pedaço de sua alma neste projeto. Se antes eu esperava voltar em uma semana para casa, agora sinto que quero ficar aqui.
Gosto muito de Cracóvia. Conheci pessoas interessantes na minha profissão, vejo aqui as perspectivas de vida e trabalho na profissão que amo. Aqui me sinto uma pessoa importante que pode influenciar os processos. Iniciativa, responsabilidade e comprometimento com o trabalho são muito valorizados aqui.
Além disso, partindo do pressuposto, quero muito transferir minha experiência para outras organizações para mostrar o que conseguimos trabalhando com refugiados, por meio de vitórias e erros, para ajudar mais ucranianos.
Lidiia: Que lugar a Ucrânia ocupa para você?
Kateryna: Nesta fase, para mim, é daqui que saem as pessoas que realmente precisam de ajuda. Isso pode mudar a atitude dos ucranianos em relação à psicologia. É muito difícil para as pessoas e elas estão prontas para trabalhar em si mesmas e curar suas almas. É por isso que, para mim, a Ucrânia está passando por uma transformação também do ponto de vista da minha profissão. Embora o mais importante seja a nossa vitória.
Eu leio as notícias todos os dias e dói muito. Não sei como tudo vai acabar, mas não vai ser como antes. Portanto, para mim, a Ucrânia é agora um lugar onde quero que acabem com a guerra o mais rápido possível e comecemos a reconstrução, e não estou falando da economia aqui, mas das pessoas. E a Ucrânia vive em meu coração e minha alma sofre por todos os mutilados, feridos ou mortos por esta guerra. Para a glória da nação - morte para nossos inimigos!
"„Ukraińskie marzenia” (Sonhos de Ucrânia) é um projeto fotográfico documental sobre a migração de ucranianos para Cracóvia, em um país com mais oportunidades de autorrealização. Khrystyna Potapenko, advogada, tradutora, poetisa, coordenadora de projetos internacionais e especialista em cooperação polaco-ucraniana.
O projeto é financiado com fundos da "Bolsa Criativa da Cidade de Cracóvia".
Tradução para português de Ulisses Iarochinski
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