O campo de concentração e extermínio de Auschwitz - Birkenau foi idealizado e instalado pelos Alemães depois de terem invadido e ocupado a Polônia durante a II Guerra Mundial e os nazistas alemães são os únicos responsáveis pelas mortes cometidas ali. Nesta foto estão alguns dos monstros alemães responsáveis pela maior tragédia da humanidade. Da esquerda para direita: Richard Baer, o terceiro e último comandante de Auschwitz; Josef Mengele, um dos médicos da morte; e Rudolf Hoess, fundador do campo de Auschwitz e seu primeiro comandante. Esta é uma foto da SS, do verão de 1944. Hoje está exposta nos Estados Unidos, no Holocaust Memorial Museum de Washington.
Filme mentiroso
A estréia mundial de um filme, em novembro passado, no Canadá lançou um série de deturpações históricas ao falar da existência de "Campos da Morte Polacos”. O Ministério das Relações Exteriores da Polônia imediatamente comunicou embaixadas e consulados de todos os países sobre a existência do filme que mente sobre a história da Segunda Guerra Mundial. O filme, cujo título é "Upside Down", inverte completamente os papéis principais da história, transformando as vítimas em perpetradores (assassinos).
"Upside Down" estava para ser exibido no Canal Educativo usado por escolas no Canadá. Por sua vez, a TVP Info - canal de notícias da televisão polaca anunciou que, em breve, o apresentará também na Polônia. O jornal Toronto Star, do Canadá, foi outro que vinha anunciando que o distribuiria encartado gratuitamente em uma de suas edições. O jornal incorreu na mesma inversão de valores do filme ao escrever freqüentemente as palavras: “Campo de concentração polaco”.
Durante apresentação especial deste filme para jornalistas em Varsóvia, Andrzej Sados do Ministério das Relações Exteriores da Polônia acentuou que o conceito de “acampamento de morte polaco”, ou “Campo de concentração polaco” mente e demonstra uma ignorância histórica profunda. O que, segundo ele, é especialmente grave como informação, quando esta alcança a juventude. Para exemplificar tal mentira, ele destacou as entrevistas do filme feitas com estudantes de escolas de elite que, para dizer o mínimo, embaraçam qualquer um, tal o desconhecimento dos jovens entrevistados. Estes não conseguem explicar o que seja Nazismo. Quando se pergunta, no filme, quem construiu os campos de concentração na Polônia, eles respondem: “Eles são campos polacos, portanto, quem construiu foram os polacos.”
A diretora e roteirista do filme, Violetta Cardinal, mora no Canadá. Ela declara que a falsificação da história, na América do Norte “está alcançando o ponto crítico” e explica que ela quis com seu filme apenas chocar as pessoas. Cardinal quis mostrar como tais falsificações, como “Campo de Concentração Polaco são prejudiciais e podem, sem uma oposição da esquerda, tirar dos polacos suas auto-estimas e dignidades.” O filme termina com as palavras, “Esses que não sabem que a história tem uma tendência para se repetir.”
Mudança no nome
Em sua última conferência mundial na Austrália, a UNESCO acatou pedido do Parlamento polaco para mudar a denominação do nome do local de "Campo de Concentração Auschwitz-Birkenau" para “Auschwitz-Birkenau - Campo de concentração e extermínio da Alemanha nazista (1940-1945)”.
O pedido polaco se fez necessário para que a imprensa mundial, escritores, pesquisadores deixem de denominar Auschwitz como um campo de concentração polaco, pelo simples fato de estar localidado em território da Polônia. Não só estes setores cometem esta inversão de valores históricos, mas também muitos dos milhares de jovens e adultos, que desde 1988, fazem a "Marcha da Vida", sempre no mês de abril, entre os campos de Auschwitz e Birkenau, a cometem.
Marcha da Vida
A "Marcha da Vida" ao longo dos últimos anos se transformou numa organização com muitos patrocinadores e associações membros ao redor do mundo. Criada em 1988, nos Estados Unidos, por um dos sobreviventes do genocídio da II Guerra Mundial, tem como missão desafiar as novas gerações de judeus para dois eventos dos mais significantivos para a história judaica: o Shoah (Holocausto) e o nascimento do Estado de Israel. Para isto é organizada excursão para a Polônia e Israel levando os adolescentes judeus a lugares fundamentais para entender o mundo que foi destruído e como o Israel foi estabelecido.
Esta viagem de estudos permite recordar e revitalizar na formação educacional destes jovens judeus, o Judaísmo, Israel e a sua própria etnia. Naquele primeiro ano de marcha, 7 mil pessoas percorreram os 3 km que separam um campo do outro. Desde então este número tem aumentado ano a ano.
Brasileiros de origem judaica começaram a participar em 1992. Na volta da primeira excursão por Polônia e Israel seus participantes fundaram a "Associação Brasileira dos participantes da Marcha da Vida" e desde então, a partir de São Paulo, organizam a cada ano esta viagem dos estudantes de segundo grau de origem judaica a Polônia e a Israel.
Brasileiros na marcha
Ano passado tive a oportunidade de me encontrar com um grupo de brasileiros. Apresentei-me a alguns deles e logo uma professora me disse: "Você diz que está morando aqui há mais de 4 anos. É bom morar aqui? Como os polacos são anti-semitas, não?". Perguntei a ela então, rodeada por seus alunos, quantas vezes ela já tinha visitado a Polônia. E ela respondeu que era a primeira vez que vinha a esta terra de triste memória, que tinha chegado fazia dois dias e que estava embarcando mais tarde para Israel para a continuação do programa da "Marcha da Vida". Perguntei a ela se nestas poucas horas que estava na terra de seus avós, ela tinha sido agredida por algum polaco; Se tinha encontrado manifestantes polacos contrários a esta excursão judia; Se ela tinha tido a oportunidade de conversar com algum polaco; Se ela ostentando no peito um cracha com sobrenome polaco sabia falar polaco; Se ela conhecia a história da Polônia; Se ela sabia o que havia acontecido na Segunda Guerra Mundial; Se ela tinha conhecimento de que dos 2000 mil anos da diáspora judaica metade deles, os judeus tinham vivido na Polônia, acolhidos que foram pelos reis católicos apostólicos romanos; Se ela realmente tinha ciência de que foram os alemães nazistas que perpetraram o Holocausto judeu e não os polacos católicos, ou ciganos.
A cada pergunta ela só balançava a cabeça. Eu não entendia se o gesto era de concordância ou negação. A medida que eu falava, em plena praça central de Cracóvia, para aquele grupo de brasileiros, mais deles se aproximavam. Junto com os jovens, vinham os professores-guias que perguntavam: "Mas quem é este cara? O que é que ele está falando e perguntando?". Um mais exaltado, puxou-me pelo braço e perguntou: "Mas quem é você para estar fazendo estas perguntas? É claro que sabemos de tudo isso!". Ao que respondi: "Pois não parece! Sua colega na primeira frase que me disse, após ter-me apresentando foi: Como os polacos são anti-semitas, não? Desculpa-me meu senhor, mas quem fala uma coisa dessas é no mínimo ignorante. Deveria se preocupar em difundir a confraternização entre estes dois povos que nos últimos 800 anos viveram na mesma terra e não falar do que não sabe".
A marcha deste ano
Neste fim de semana, a "Marcha da vida" coincidiu com o "Dia do Trabalhador" e o "Dia da Constituição Polaca". Varsóvia, Lublin e Cracóvia foram praticamente invadidas por jovens de jalecos azuis de 55 países. Os organizadores calculam que participaram perto de 8 mil jovens judeus e 1600 jovens polacos. Repetiram pela décima-sétima vez (até 1996 a Marcha era realizada de dois em dois anos) os 3 km da estrada da morte entre os dois campos. Enquanto os jovens judeus vestiam jalecos azuis e ostentavam bandeiras de Israel, os estudantes polacos convocados pelo Ministério da Educação da Polônia vestiam jalecos branco e vermelho e ostentavam a bandeira da Polônia. A caminhada encerrou próximo as ruinas de um dos crematórios, no campo de Birkenau, onde todos oraram. No monumento Às Vítimas do Holocausto, entre rabinos, generais e artistas de Israel falou também o estudante brasileiro Michael Ajzental.
Ele e mais centenas de jovens vieram de São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro. Desta vez não conversei com nenhum deles, mas os vi no bairro judeu do Kazimierz. Eram diferentes dos demais grupos de judeus pelo modo de olhar as coisas, de encarar as pessoas. Nisto estes paulistanos, cariocas e curitibanos não diferem dos demais brasileiros, embora suas origens judaicas. Olham curiosos e amistosamente, parecem buscar novos amigos. Mas no restante se parecem a todos estes jovens judeus que a cada ano chegam a Polônia para realizar a "Marcha da Vida". Comportam-se como se estivessem num deserto, ou seja, passam pelas ruas, praças da cidade de Cracóvia sem interagirem com a população, sem perceberem que existem corações pulsando em cada esquina, em cada edifício. Para quem assiste a este contínuo desfile de grupos, a sensação é de que estão sozinhos nesta caminhada, que a cidade esta fechada para eles e de que ninguém vive nela.
A Marcha de 2005
Em 2005, quando se comemorou 60 anos de libertação de Cracóvia e dos campos de concentração alemães nazistas de Auschwitz, Birkenau e Monowitz, um repórter do principal jornal da Polônia, Gazeta Wyborcza, tentou acompanhar um grupo de israeleses em sua peregrinação por Varsóvia, Lublin e Cracóvia. No primeiro contato foi rechaçado por seguranças que alegaram que os polacos são anti-semitas e que poderiam atentar contra a segurança dos jovens judeus.
"Pamiętaj, nie wolno ci nikomu mówić o tym, w jakim będziemy hotelu, gdzie jedziemy i którędy. Jeśli ktoś cię o to zapyta, powiedz, że nie wiesz. Jeśli będzie chciał wiedzieć, gdzie będziemy jeść, powiedz, że nie wiesz. Nawet jak cię zapytają w redakcji, gdzie będziesz następnego dnia - po prostu nie wiesz. To ważne dla naszego bezpieczeństwa. Żadna izraelska delegacja nie opuszcza swojego kraju bez ochrony od czasów olimpiady w Monachium. Wiesz, kiedy palestyńscy terroryści zabili 11 izraelskich sportowców. A w Polsce arabscy terroryści mogliby za jednym zamachem załatwić dwa cele: koalicjanta w Iraku i Żydów. Zgoda?" (Trecho da reportagem publicada em 12 de dezembro de 2005).
Numa tradução livre, o chefe da segurança tinha dito: "lembre-se, não é permitido falar com ninguém, a que hotel iremos, onde iremos e a quando. Se alguém pergunta sobre isso, diga que não sebes! Se quiser saber onde iremos comer, diga que não sabes. Até se alguém na redação do jornal pergunta, onde irão no dia seguinte, certamente não sabes. Isto é importante para nossa segurança. Nenhuma delegação israelita sai do país sem segurança desde as Olimpiadas de Munique. Sabes, quando terroristas palestinos mataram 11 esportistas israelenses. E na Polônia os terroristas árabes poderiam num único atentado atingir dois objetivos: Coalizão no Iraque e Judeus. Concorda?"
Talvez seja por isso, que muitos destes jovens estavam vindo a Polônia, até esta reportagem da Wyborcza ser publicada (causou imensa repercussão entre a população e o governo polaco na época), estavam pensando que se Auschwitz é tão próximo de Cracóvia, então tinham sido os polacos, os monstros que assassinaram seus ancestrais. Foi então que o Ministério da Educação da Polônia solicitou ao governo de Israel acompanhar o que os professores destes jovens estavam orientando nas salas de aula. Como resultado aconteceu em 2007, um Congresso Internacional em Tel Aviv, promoção conjunta de universidades polacas e israeleses com o objetivo de contar a história sem equívocos, para que filmes como "Upside Down" da canandense Cardinal não mintam e sejam desqualificados como realizações. Esperemos que estes milhares de jovens e adultos que passaram como aves de arribação pela Polônia neste fim de semana já estejam sabendo pelo menos que Auschwitz é um campo de concentração e exterminio alemão nazista e que é apenas a tradução do nome da cidade de Oświęcim e que Birkenau é a tradução do nome da cidade de Brzezinka; que o atual bairro judeu do Kazimierz, não foi guetto, mas que foi uma cidade judia mandada construir pelo rei polaco Casimiro - O Grande, o mesmo que abriu as portas de seu reino para os judeus que estavam sendo expulsos da Espanha, Portugal, reinos italianos e germânicos.
P.S. As fotos neste texto são de Holocaust Memorial Museum of Washington, Anna Bedyńska / Mateusz Skwarczek / AG e Associação Brasileira dos participantes da Marcha da Vida.
A estréia mundial de um filme, em novembro passado, no Canadá lançou um série de deturpações históricas ao falar da existência de "Campos da Morte Polacos”. O Ministério das Relações Exteriores da Polônia imediatamente comunicou embaixadas e consulados de todos os países sobre a existência do filme que mente sobre a história da Segunda Guerra Mundial. O filme, cujo título é "Upside Down", inverte completamente os papéis principais da história, transformando as vítimas em perpetradores (assassinos).
"Upside Down" estava para ser exibido no Canal Educativo usado por escolas no Canadá. Por sua vez, a TVP Info - canal de notícias da televisão polaca anunciou que, em breve, o apresentará também na Polônia. O jornal Toronto Star, do Canadá, foi outro que vinha anunciando que o distribuiria encartado gratuitamente em uma de suas edições. O jornal incorreu na mesma inversão de valores do filme ao escrever freqüentemente as palavras: “Campo de concentração polaco”.
Durante apresentação especial deste filme para jornalistas em Varsóvia, Andrzej Sados do Ministério das Relações Exteriores da Polônia acentuou que o conceito de “acampamento de morte polaco”, ou “Campo de concentração polaco” mente e demonstra uma ignorância histórica profunda. O que, segundo ele, é especialmente grave como informação, quando esta alcança a juventude. Para exemplificar tal mentira, ele destacou as entrevistas do filme feitas com estudantes de escolas de elite que, para dizer o mínimo, embaraçam qualquer um, tal o desconhecimento dos jovens entrevistados. Estes não conseguem explicar o que seja Nazismo. Quando se pergunta, no filme, quem construiu os campos de concentração na Polônia, eles respondem: “Eles são campos polacos, portanto, quem construiu foram os polacos.”
A diretora e roteirista do filme, Violetta Cardinal, mora no Canadá. Ela declara que a falsificação da história, na América do Norte “está alcançando o ponto crítico” e explica que ela quis com seu filme apenas chocar as pessoas. Cardinal quis mostrar como tais falsificações, como “Campo de Concentração Polaco são prejudiciais e podem, sem uma oposição da esquerda, tirar dos polacos suas auto-estimas e dignidades.” O filme termina com as palavras, “Esses que não sabem que a história tem uma tendência para se repetir.”
Mudança no nome
Em sua última conferência mundial na Austrália, a UNESCO acatou pedido do Parlamento polaco para mudar a denominação do nome do local de "Campo de Concentração Auschwitz-Birkenau" para “Auschwitz-Birkenau - Campo de concentração e extermínio da Alemanha nazista (1940-1945)”.
O pedido polaco se fez necessário para que a imprensa mundial, escritores, pesquisadores deixem de denominar Auschwitz como um campo de concentração polaco, pelo simples fato de estar localidado em território da Polônia. Não só estes setores cometem esta inversão de valores históricos, mas também muitos dos milhares de jovens e adultos, que desde 1988, fazem a "Marcha da Vida", sempre no mês de abril, entre os campos de Auschwitz e Birkenau, a cometem.
Marcha da Vida
A "Marcha da Vida" ao longo dos últimos anos se transformou numa organização com muitos patrocinadores e associações membros ao redor do mundo. Criada em 1988, nos Estados Unidos, por um dos sobreviventes do genocídio da II Guerra Mundial, tem como missão desafiar as novas gerações de judeus para dois eventos dos mais significantivos para a história judaica: o Shoah (Holocausto) e o nascimento do Estado de Israel. Para isto é organizada excursão para a Polônia e Israel levando os adolescentes judeus a lugares fundamentais para entender o mundo que foi destruído e como o Israel foi estabelecido.
Esta viagem de estudos permite recordar e revitalizar na formação educacional destes jovens judeus, o Judaísmo, Israel e a sua própria etnia. Naquele primeiro ano de marcha, 7 mil pessoas percorreram os 3 km que separam um campo do outro. Desde então este número tem aumentado ano a ano.
Brasileiros de origem judaica começaram a participar em 1992. Na volta da primeira excursão por Polônia e Israel seus participantes fundaram a "Associação Brasileira dos participantes da Marcha da Vida" e desde então, a partir de São Paulo, organizam a cada ano esta viagem dos estudantes de segundo grau de origem judaica a Polônia e a Israel.
Brasileiros na marcha
Ano passado tive a oportunidade de me encontrar com um grupo de brasileiros. Apresentei-me a alguns deles e logo uma professora me disse: "Você diz que está morando aqui há mais de 4 anos. É bom morar aqui? Como os polacos são anti-semitas, não?". Perguntei a ela então, rodeada por seus alunos, quantas vezes ela já tinha visitado a Polônia. E ela respondeu que era a primeira vez que vinha a esta terra de triste memória, que tinha chegado fazia dois dias e que estava embarcando mais tarde para Israel para a continuação do programa da "Marcha da Vida". Perguntei a ela se nestas poucas horas que estava na terra de seus avós, ela tinha sido agredida por algum polaco; Se tinha encontrado manifestantes polacos contrários a esta excursão judia; Se ela tinha tido a oportunidade de conversar com algum polaco; Se ela ostentando no peito um cracha com sobrenome polaco sabia falar polaco; Se ela conhecia a história da Polônia; Se ela sabia o que havia acontecido na Segunda Guerra Mundial; Se ela tinha conhecimento de que dos 2000 mil anos da diáspora judaica metade deles, os judeus tinham vivido na Polônia, acolhidos que foram pelos reis católicos apostólicos romanos; Se ela realmente tinha ciência de que foram os alemães nazistas que perpetraram o Holocausto judeu e não os polacos católicos, ou ciganos.
A cada pergunta ela só balançava a cabeça. Eu não entendia se o gesto era de concordância ou negação. A medida que eu falava, em plena praça central de Cracóvia, para aquele grupo de brasileiros, mais deles se aproximavam. Junto com os jovens, vinham os professores-guias que perguntavam: "Mas quem é este cara? O que é que ele está falando e perguntando?". Um mais exaltado, puxou-me pelo braço e perguntou: "Mas quem é você para estar fazendo estas perguntas? É claro que sabemos de tudo isso!". Ao que respondi: "Pois não parece! Sua colega na primeira frase que me disse, após ter-me apresentando foi: Como os polacos são anti-semitas, não? Desculpa-me meu senhor, mas quem fala uma coisa dessas é no mínimo ignorante. Deveria se preocupar em difundir a confraternização entre estes dois povos que nos últimos 800 anos viveram na mesma terra e não falar do que não sabe".
A marcha deste ano
Neste fim de semana, a "Marcha da vida" coincidiu com o "Dia do Trabalhador" e o "Dia da Constituição Polaca". Varsóvia, Lublin e Cracóvia foram praticamente invadidas por jovens de jalecos azuis de 55 países. Os organizadores calculam que participaram perto de 8 mil jovens judeus e 1600 jovens polacos. Repetiram pela décima-sétima vez (até 1996 a Marcha era realizada de dois em dois anos) os 3 km da estrada da morte entre os dois campos. Enquanto os jovens judeus vestiam jalecos azuis e ostentavam bandeiras de Israel, os estudantes polacos convocados pelo Ministério da Educação da Polônia vestiam jalecos branco e vermelho e ostentavam a bandeira da Polônia. A caminhada encerrou próximo as ruinas de um dos crematórios, no campo de Birkenau, onde todos oraram. No monumento Às Vítimas do Holocausto, entre rabinos, generais e artistas de Israel falou também o estudante brasileiro Michael Ajzental.
Ele e mais centenas de jovens vieram de São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro. Desta vez não conversei com nenhum deles, mas os vi no bairro judeu do Kazimierz. Eram diferentes dos demais grupos de judeus pelo modo de olhar as coisas, de encarar as pessoas. Nisto estes paulistanos, cariocas e curitibanos não diferem dos demais brasileiros, embora suas origens judaicas. Olham curiosos e amistosamente, parecem buscar novos amigos. Mas no restante se parecem a todos estes jovens judeus que a cada ano chegam a Polônia para realizar a "Marcha da Vida". Comportam-se como se estivessem num deserto, ou seja, passam pelas ruas, praças da cidade de Cracóvia sem interagirem com a população, sem perceberem que existem corações pulsando em cada esquina, em cada edifício. Para quem assiste a este contínuo desfile de grupos, a sensação é de que estão sozinhos nesta caminhada, que a cidade esta fechada para eles e de que ninguém vive nela.
A Marcha de 2005
Em 2005, quando se comemorou 60 anos de libertação de Cracóvia e dos campos de concentração alemães nazistas de Auschwitz, Birkenau e Monowitz, um repórter do principal jornal da Polônia, Gazeta Wyborcza, tentou acompanhar um grupo de israeleses em sua peregrinação por Varsóvia, Lublin e Cracóvia. No primeiro contato foi rechaçado por seguranças que alegaram que os polacos são anti-semitas e que poderiam atentar contra a segurança dos jovens judeus.
"Pamiętaj, nie wolno ci nikomu mówić o tym, w jakim będziemy hotelu, gdzie jedziemy i którędy. Jeśli ktoś cię o to zapyta, powiedz, że nie wiesz. Jeśli będzie chciał wiedzieć, gdzie będziemy jeść, powiedz, że nie wiesz. Nawet jak cię zapytają w redakcji, gdzie będziesz następnego dnia - po prostu nie wiesz. To ważne dla naszego bezpieczeństwa. Żadna izraelska delegacja nie opuszcza swojego kraju bez ochrony od czasów olimpiady w Monachium. Wiesz, kiedy palestyńscy terroryści zabili 11 izraelskich sportowców. A w Polsce arabscy terroryści mogliby za jednym zamachem załatwić dwa cele: koalicjanta w Iraku i Żydów. Zgoda?" (Trecho da reportagem publicada em 12 de dezembro de 2005).
Numa tradução livre, o chefe da segurança tinha dito: "lembre-se, não é permitido falar com ninguém, a que hotel iremos, onde iremos e a quando. Se alguém pergunta sobre isso, diga que não sebes! Se quiser saber onde iremos comer, diga que não sabes. Até se alguém na redação do jornal pergunta, onde irão no dia seguinte, certamente não sabes. Isto é importante para nossa segurança. Nenhuma delegação israelita sai do país sem segurança desde as Olimpiadas de Munique. Sabes, quando terroristas palestinos mataram 11 esportistas israelenses. E na Polônia os terroristas árabes poderiam num único atentado atingir dois objetivos: Coalizão no Iraque e Judeus. Concorda?"
Talvez seja por isso, que muitos destes jovens estavam vindo a Polônia, até esta reportagem da Wyborcza ser publicada (causou imensa repercussão entre a população e o governo polaco na época), estavam pensando que se Auschwitz é tão próximo de Cracóvia, então tinham sido os polacos, os monstros que assassinaram seus ancestrais. Foi então que o Ministério da Educação da Polônia solicitou ao governo de Israel acompanhar o que os professores destes jovens estavam orientando nas salas de aula. Como resultado aconteceu em 2007, um Congresso Internacional em Tel Aviv, promoção conjunta de universidades polacas e israeleses com o objetivo de contar a história sem equívocos, para que filmes como "Upside Down" da canandense Cardinal não mintam e sejam desqualificados como realizações. Esperemos que estes milhares de jovens e adultos que passaram como aves de arribação pela Polônia neste fim de semana já estejam sabendo pelo menos que Auschwitz é um campo de concentração e exterminio alemão nazista e que é apenas a tradução do nome da cidade de Oświęcim e que Birkenau é a tradução do nome da cidade de Brzezinka; que o atual bairro judeu do Kazimierz, não foi guetto, mas que foi uma cidade judia mandada construir pelo rei polaco Casimiro - O Grande, o mesmo que abriu as portas de seu reino para os judeus que estavam sendo expulsos da Espanha, Portugal, reinos italianos e germânicos.
P.S. As fotos neste texto são de Holocaust Memorial Museum of Washington, Anna Bedyńska / Mateusz Skwarczek / AG e Associação Brasileira dos participantes da Marcha da Vida.