terça-feira, 1 de agosto de 2023

Levante de Varsóvia 1944

Cansados das atrocidades... Sim!
Mas jamais esmorecidos.

Adolescentes polacos da Armia Krajowa

Os moradores de Varsóvia, naquela 17ª hora, do dia 1º de agosto, insurgiram-se.

O que garantiu a vitória contra o nazismo não foi a atuação do imperialismo civilizado, mas as insurreições revolucionárias do povo ocupado pelo Nazismo Alemão.

O Levante de Varsóvia foi a luta armada na cidade de Varsóvia, capital da Polônia, durante a 2ª Guerra Mundial. Foi a maior força de resistência contra o exército invasor que se viu na história. A verdadeira insurreição do povo de um país ocupado pelo nazismo durante a 2ª Guerra Mundial.

Quase de 50 mil moradores participaram do levante. A insurreição começou pontualmente às 17 horas, chamada de hora “W”.

Brasão da Armia Krajowa (Exército do País)

Neste ano de 2023, no mesmo horário deste dia 1º de agosto, as sirenes tocam e os varsovianos fazem 1 minuto de silêncio em memória daqueles que lutaram no Levante.

A força de resistência polaca, em Varsóvia contou com homens, mulheres de todas as idades e muitas crianças. Foi uma das maiores e a mais ativa força de resistência da Europa. Um verdadeiro movimento com o desejo de libertar a Polônia.

A principal estratégia foi tentar sabotar as operações alemãs e municiar os exércitos aliados com informações de inteligência. Stalin tinha prometido, numa reunião, em Moscou, com o governo polaco no exílio, auxiliar os moradores de Varsóvia, mas o que se viu foi o exército vermelho cruzar os braços do outro lado do rio Vístula e esperar...

... sabe-se lá o quê!

Locais dos embates na cidade de Varsóvia

A pausa russa permitiu que os alemães se reagrupassem e derrotassem a resistência polaca e destruíssem a cidade em retaliação. A Revolta durou 63 dias sem nenhum apoio externo. Cerca de 16 mil membros da resistência polaca foram mortos, e 6 mil gravemente feridos. Cerca de 200 mil civis foram mortos, principalmente em execuções em massa.

Durante o combate, cerca de 25% de prédios de Varsóvia foi destruído. Em Varsóvia, estavam a serviço cerca de 12 mil soldados alemães.

A força nazista era menor em números, mas estava abastecida de considerável poder bélico. Com o início do levante, apesar de forças de resistência polaca serem maiores em número, não estavam, suficientemente, armadas.

Hitler interpretou que o Exército Vermelho de Stalin não tinha intenção de auxiliar os polacos, e ordenou a destruição total de Varsóvia. Porém, a resistência tomou de assalto o armazém de mantimentos, dificultando a operação alemã.

A resistência conseguiu acessar armas de fogo e roupas militares, e para evitar ser confundido com nazistas, colocou braçadeiras para se identificarem. Os combates começaram antes da "hora W", notavelmente em Żoliborz, e em torno da Praça Dąbrowski.

Os alemães haviam antecipado a possibilidade de uma insurreição, embora não tivessem percebido seu tamanho ou força, e às 16h30 o governador Fischer colocou a guarnição alemã em alerta máximo.

Naquela noite, a resistência capturou um importante arsenal alemão, a principal estação de correios e a central elétrica e o prédio da Prudential.

No entanto, a Praça do Castelo, o distrito policial e o aeroporto permaneceram nas mãos dos alemães. Após as primeiras horas de luta, muitas unidades adotaram uma estratégia mais defensiva, enquanto civis começaram a erguer barricadas, apesar de todos os problemas, em 4 de agosto a maioria da cidade estava em mãos polacas, embora alguns pontos-chave estratégicos permanecessem inalterados.

Bach-Zelewski

Neste mesmo dia 4 de agosto, o general da SS Erich von dem Bach foi nomeado comandante de todas as forças empregadas contra a revolta.

Os contra-ataques alemães visavam unir-se aos bolsões alemães remanescentes e depois cortar a Revolta no rio Vístula. Entre as unidades de reforço estavam forças sob o comando de Heinz Reinefarth, tais forças retomaram brutalmente o bairro de Wola.

Muitos civis se juntaram à resistência, construindo barricadas. No dia 05 de agosto de 1944 chegou à Varsóvia o comandante da SS Erich vom dem Bach-Zelewski, que reúniu tropas e iniciou o contra-ataque.

A Armia Krajowa (Exército do País), no entanto, estava com moral alta por ter reconquistado pontos importantes, e o ataque alemã não obteve resultado esperado. Outro empecilho era união dos polacos e a existência da Brigada Kamiński entre a tropa nazista, que era composta de membros nacionalistas bielorrussos, ucranianos, russos. Isso aumentou ainda mais a união de resistência polaca.

Bronislav Kamiński

A Brigada Kamiński foi uma das responsáveis por crimes bárbaros ocorridos em Varsóvia, como chacinas e estupros. Apesar de ter declarado lealdade aos nazistas, o líder da brigada foi executado após ser condenado, na corte marcial, acusado de crime de apropriação indevida de propriedade do Reich.

No dia 07 de agosto de 1944 a tropa alemã reconquistou alguns prédios públicos e libertou tropas que estavam no poder de resistência.

Mas a Armia Krajowa era resiliente.

Em 19 de agosto de 1944 a resistência ocupou o prédio de telefonia, mantendo 120 soldados alemães como prisioneiros. O exército vermelho estava do outro lado do rio Vístula imóvel, assistindo a tudo com sorriso nos lábios.

O governo polaco no exílio, sediado em Londres, realizou frenéticos esforços diplomáticos para obter o apoio dos aliados ocidentais antes do início da batalha, mas os aliados não iriam agir sem a aprovação soviética.

O governo polaco, em Londres, pediu várias vezes aos britânicos que enviassem uma missão aliada à Polônia, no entanto, a missão britânica não chegaria, até dezembro de 1944, logo após a sua chegada, eles se reuniram com as autoridades soviéticas, que os aprisionaram.

No entanto, de agosto de 1943 a julho de 1944, mais de 200 voos da Força Aérea Britânica (RAF) lançaram cerca de 146 militares polacos treinados na Grã-Bretanha, mais de 4 mil caixas de suprimentos e US$ 16 milhões em notas e ouro para a Armia Krajowa.

A Inglaterra, na tentativa vergonhosa de ajudar os polacos, fez 200 lançamentos aéreos com suprimentos de baixa altitude pelas forças aéreas. Os Estados Unidos da América do Norte, através da Operação Frantic, lançou um lançamento aéreo de suprimento de alto nível. Mas, infelizmente, 80% desses lançamentos aterrissaram em áreas controladas pelos alemães. Apesar de toda resistência, a Armia Krajowa não foi páreo diante da força bélica alemã, que estava municiada dcom tanques, lança-chamas e metralhadoras.

A "Operação Tempestade" (outro nome para o Levante) deveria durar apenas alguns dias, até que o Exército Soviético chegasse à cidade, conforme prometido por Józef Stalin, em Moscou, ao governo polaco no exílio.

O avanço soviético, no entanto. nunca aconteceu, mas a resistência polaca continuou por 63 dias, até sua rendição às forças alemãs em 2 de outubro.

Tadeusz Bór-Komorowski
comandante da Armia Krajowa

Entre tantos objetivos dos insurgentes estava a libertação da cidade antes da chegada dos soviéticos, conquistando assim seu direito de soberania e desfazendo a divisão da Europa Central em esferas de influência sob os poderes aliados. Os revoltosos esperavam reinstalar as autoridades de seu país antes que o Polski Komitet Wyzwolenia Narodowego (Comitê de Liberação Nacional Soviético Polaco) assumisse o controle.

O líder soviético Józef Stalin esperava pelo fracasso da insurreição para que pudesse assim ocupar a Polônia de forma incontestável. Após a rendição das forças polacas, as tropas alemãs destruíram sistematicamente, quarteirão a quarteirão, 35% da cidade.

Juntamente com os danos provocados pela Invasão da Polônia, em 1939, e o Levante do Gueto de Varsóvia, em 1943, mais de 85% da cidade estava destruída, em 1945, quando os soviéticos finalmente ultrapassaram suas fronteiras.


CRONOLOGIA

25/04/1943:
Stálin rompe relação Polônia-URSS após ser denunciado pela Alemanha pela morte de oficiais polacos no Massacre de Katyn. Stalin alegou ser propaganda alemã.

26/10/1943:
Emissão de uma instrução do governo polaco no exílio, em que, caso as relações diplomáticas com a URSS não fossem retomadas antes da entrada dos sovietes na Polônia, as forças do ARMIA KRAJOWA (Exército do País) permaneceriam no subterrâneo, aguardando novas decisões.

20/11/1943:
Comandante do Armia Krajowa, Tadeusz Bór-Komorowski esboçou o seu próprio plano, a “Operação Tempestade”. Quando a forças soviéticas se aproximassem, as unidades locais do Exército do País soviéticas quando possível. Embora existissem dúvidas sobre a necessidade militar de uma grande revolta, o general Bór-Komorowski foi autorizado pelo governo no exílio a proclamar uma revolta geral.

13/07/1944:
ofensiva soviética cruzou a antiga fronteira polaca.

20/07/1944:
fracasso do plano para assassinar Adolf Hitler, através da “Operação Valquíria”. Os alemães de Varsóvia estavam fracos e visivelmente desmoralizados, mas receberam reforços no final de julho.

27/07/1944:
o governador do distrito de Varsóvia solicitou que 100 mil polacos trabalhassem em fortificações ao redor da cidade. O povo ignorou, e o comando do Exército do País ficou preocupado com as represálias. As forças soviéticas aproximaram da cidade, e através de transmissão de rádio incitaram o povo para pegar em armas.

31/07/1944:
as forças polacas marcaram a “hora-W (explosão)”, para início da revolta para às 17 h do dia seguinte. A decisão foi um erro de cálculo estratégico, porque as forças de resistência estavam mal equipadas e não estavam prontas para uma série de ataques coordenados surpresa.
Além disso, embora muitas unidades já estivessem mobilizadas e aguardando nos pontos de reunião, em toda a cidade, era difícil esconder a mobilização de milhares de jovens homens e mulheres. Os combates começaram antes da “hora W”, notavelmente em Żoliborz, e em torno da Praça Dąbrowski.
Os alemães haviam antecipado a possibilidade de uma insurreição, embora não tivessem percebido seu tamanho ou força, e às 16h30, o governador Fischer colocou a guarnição alemã em alerta máximo. Naquela noite, a resistência capturou um importante arsenal alemão, a principal estação de correios e a central elétrica e o prédio da Prudential. No entanto, a Praça do Castelo, o distrito policial e o aeroporto permaneceram nas mãos dos alemães.

01/08/1944:
às 17 horas, inicia o Levante da Varsóvia, como parte de uma revolta nacional, a “Operação Tempestade”. O levante deveria durar apenas alguns dias, até a chegada do Exército Soviético à cidade.

03/08/1944:
O chefe do governo polaco no exílio se reuniu com Stalin, em Moscou, e levantou as questões da libertação iminente de Varsóvia, o retorno ao poder do governo na Polônia, bem como as fronteiras orientais de Polônia, embora tenha recusado categoricamente a reconhecer a Linha Curzon como base para as negociações. Comandante nazista Erich von dem Bach-Zelewski entrou na Varsóvia, reunindo a tropa.

05/08/1944:
Sob o comando de Bach-Zekewski, começa o contra-ataque alemão.

07/08/1944:
A tropa alemã reconquistou alguns prédios públicos e libertou tropas que estavam no poder de resistência. Mas a resistência polaca era resiliente.

09 a 18/08/1944:
Travaram-se batalhas em torno da Cidade Velha e da praça Bankowy, com ataques bem-sucedidas dos alemães e contra-ataques dos polacos. As táticas alemãs dependiam do bombardeio por meio do uso de artilharia pesada e bombardeiros táticos, contra os quais os polacos não conseguiam se defender com eficácia, pois não dispunham de armas de artilharia antiaérea. Mesmo os hospitais claramente marcados foram bombardeados por Stukas.

19/08/1944:
Resistência polaca ocupou o prédio de telefonia, mantendo 120 soldados alemães como prisioneiros.

07/09/1944:
O general nazista Rohr propôs negociações, que Bór-Komorowski concordou em prosseguir no dia seguinte.

8 a 10/09/1944:
cerca de 20 mil civis foram evacuados por acordo de ambos os lados, e Rohr reconheceu o direito de soldados da Resistência de serem tratados como combatentes militares. 

14/09/1944:
o lado leste do rio Vístula, do outro lado da resistência polaca, foi tomada pela tropa polaca que combatia sobre o comando soviético. 1200 soldados polacos atravessaram o rio, mas eles não receberam o reforço do Exército Vermelho, apesar de base aérea soviética estar localizado a 5 minutos de voo.

02/10/1944:
Rendição oficial da Resistência polaca.

12/01/1945:
Reinício de ataque do Exército Vermelho, ocupando a Varsóvia devastada.

Até 1950:
Sobreviventes do Levante fugiram para a floresta, sendo conhecidos como partizans anticomunistas da floresta. Eles começaram a atacar os membros do governo soviético.

Varsóvia devastada



Fontes: Diversas
Texto: Ulisses iarochinski


terça-feira, 11 de julho de 2023

Lembrando o Massacre da Volínia 1943

Um passado difícil tem complicado a estada dos refugiados ucranianos na Polônia.

Memórias polacas de "pogroms" étnicos causados por bandoleiros ucranianos, na década de 1940, chocam-se com o trauma  da invasão russa na Ucrânia.

Ryszard Marcinkowski, filho de sobreviventes da Volínia
Foto: Maciek Nabrdalik

Em um vilarejo rural com menos de 500 moradores, os estranhos se destacam. Até mesmo Anna Osinska, uma senhora de 93 anos, portadora de deficiência visual, percebeu quando pessoas, que ela não reconhecia – refugiados da guerra na Ucrânia – começaram a aparecer na rua estreita do lado de fora da janela de sua cozinha.

Osinska sentiu pena dos ucranianos e ficou feliz por seu país estar fazendo o possível para ajudá-los. Ela também lutou com emoções menos caridosas.

"Graças a Deus não sinto nenhuma necessidade de vingança", disse Osinska, lembrando como, em 1943, ela fugiu de sua casa de infância em antigas terras polacas no leste da Polônia (entregues por Stalin a Ucrânia, em 1946) depois que nacionalistas ucranianos atacaram a vila de sua família, massacrando a maior parte de seus 160 habitantes.

Os assassinatos em Niemylnia, a vila onde ela nasceu, não existe mais, mas fizeram parte de eventos horríveis que a Ucrânia chama de "Tragédia de Volínia", e que a Polônia chamda pelo que realmente foi, "Genocídio na Volínia". Nesses "pogroms" étnicos de bandoleiros ucranianos, mais de 60.000 polacos, muitos deles mulheres e crianças, foram assassinados sem piedade.

Anna Osinska, 93, fugiu de militantes ucranianos através de campos de trigo
perto da casa de sua família, em Niemila, em 1943.
Foto: Maciek Nabrdalik

Ligados pela hostilidade compartilhada em relação às ambições imperiais da Rússia e à determinação de resistir ao ataque militar ordenado pelo presidente Vladimir V. Putin, a Polônia e a Ucrânia também compartilham passados ​​dolorosamente emaranhados. A carnificina de 1943 tem sido uma fonte de tensão há décadas, mas agora é um episódio de importância urgente, enquanto a Polônia lembra os 80 anos neste 11 de julho.

A Polônia se irrita com a glorificação da Ucrânia aos assassinos do tempo de guerra responsáveis ​​pelo Massacre, mas, cautelosa em dar conforto à visão da Rússia da Ucrânia como um ninho de fascistas sedentos de sangue, ela pediu “reconciliação e perdão”, o tema de um culto na semana passada em uma Catedral de Varsóvia teve a presença de padres da Polônia e da Ucrânia. No domingo, o presidente Andrzej Duda, da Polônia, e o presidente Volodymyr Zelensky, da Ucrânia, visitaram uma igreja em Luck, no atual oeste da Ucrânia, para lembrar o massacre. Os gabinetes presidenciais de Duda e Zelensky postaram no Twitter fotos da cerimônia, usando a mesma linguagem para homenagear as vítimas.

A Sra. Osinska, que foi reassentada, quando adolescente, após a Segunda Guerra Mundial ,no sudoeste da Polônia, junto com dezenas de milhares de outros refugiados polacos da Ucrânia, cresceu em uma comunidade traumatizada pelos massacres de 1943 e fervendo de ódio contra os ucranianos.

Ela ainda se ressente “que eles não demonstrem remorso” e não esqueceu os gritos frenéticos de “mate os polacos, mate os polacos” que ecoaram em sua vila natal, quando ela tinha 13 anos.

Acompanhada, em maio, por seu filho e polacos idosos que viveram o mesmo trauma, ela colocou flores em um memorial de mármore com a inscrição: “Não esqueceremos nossos parentes assassinados por bandoleiros ucranianos durante a guerra “porque eram poloacos”.

Enquanto os ucranianos “fizeram coisas terríveis conosco”, disse Osinska durante uma entrevista, em sua cozinha, no vilarejo de Slupice, os descendentes “não podem ser culpados pelo que seus pais e avós fizeram” e merecem ajuda em sua luta contra a Rússia.

“Minhas opiniões sobre os ucranianos”, disse ela, “mudaram lentamente”.

Um projeto de arquivo polaco-ucraniano em Wrocław, na Polônia, compara desenhos feitos por crianças polacas, em 1946, com desenhos contemporâneos feitos por crianças ucranianas que vivem a guerra agora.
Foto: Maciek Nabrdalik

Sua mudança de opinião, embora limitada por um trauma pessoal,
destaca como a Rússia lutou para derrotar a Ucrânia
não apenas no campo de batalha,
mas em um de seus campos de combate favoritos e mais vantajosos
- as guerras de memória.
Esse é um conflito que está acostumado a vencer
por causa dos milhões de russos que morreram 
lutando contra a Alemanha nazista.

Moscou iniciou sua invasão em grande escala da Ucrânia, em fevereiro de 2022, com um arsenal bem abastecido com história, grande parte dela adulterada por Putin, mas parte verdadeira - incluindo relatos horríveis dos massacres de Volínia realizados por seguidores de Stepan Bandera, o líder de uma facção particularmente brutal da Organização dos Nacionalistas Ucranianos.

Funcionários e historiadores polacos expressaram frustração com o que vêem como a recusa da Ucrânia em reconhecer e expiar totalmente os pecados de militantes nacionalistas leais a Bandera, que foi assassinado por agentes soviéticos, em 1959. Ele é reverenciado por muitos ucranianos, hoje, como um herói nacional - ou festejado, alegremente, como uma curiosidade folclórica inofensiva. Ele é com justa razão, na Polônia, e também na Rússia, como fascista e colaborador nazista.

Łukasz Jasina, porta-voz do ministro das Relações Exteriores da Polônia, disse a um jornal polonês em maio que, embora Zelensky “tenha muitas outras coisas em mente no momento”, a Ucrânia precisava se desculpar pelos massacres de 1943, que ele descreveu como “uma questão tão importante que deve ser tratado.”

Em vez de um pedido de desculpas, a Polônia recebeu uma repreensão irritada do embaixador da Ucrânia em Varsóvia, Vasyl Zvarych. Em uma postagem no Twitter que posteriormente apagou, o embaixador rejeitou o que chamou de demandas “inaceitáveis ​​e infelizes”, dizendo que os ucranianos “lembram da história e pedem respeito e equilíbrio nas declarações, especialmente na difícil realidade da agressão russa genocida”.


O presidente Andrzej Duda, da Polônia, falando no ano passado, em Varsóvia,
em uma cerimônia no Dia Nacional em Memória das vítimas do genocídio
Foto: Pawel Supernak/EPA

Apesar desses atritos no passado, os esforços de Putin para usar a história, ou pelo menos uma versão altamente seletiva dela, para destruir a Ucrânia em nome da "desnazificação" foram minados por memórias rivais e muitas vezes mais fortes da própria Rússia. ações passadas.

Nacionalistas ucranianos, disse Damian Markowski, um historiador polaco e autor de "The Shadow of Volhynia" (A Sombra de Volínia), um livro a ser lançado, sobre os massacres de 1943, cometeram "crimes horríveis" durante a Segunda Guerra Mundial contra os polacos que viviam em sua terras, mas que atualmente são território da Ucrânia, cenário de combates sangrentos entre nazistas e soldados soviéticos.

Mas, acrescentou Markowski, os assassinatos de polacos, em 1943, simplesmente, por serem polacos foram um crime também pela polícia secreta de Moscou, que foi pioneira em assassinatos baseados em etnia durante o Grande Terror de Stalin de 1937 a 1938, com uma campanha de “liquidação total” visando polacos rotulados falsamente como espiões. Algumas vítimas foram selecionadas em listas telefônicas por causa de seus nomes que soarem polacos. Mais de 120.000 polacos foram mortos.

Os assassinos de Stalin então assassinaram mais de 22.000 polacos, em 1940, despejando seus corpos na floresta de Katyń, uma atrocidade sobre a qual Moscou mentiu por décadas e reconheceu apenas, em 1990.

Inspirados pelos exemplos soviéticos e posteriormente nazistas de matança étnica, disse Markowski, os bandoleiros ucranianos na década de 1940 “perceberam que era possível eliminar pessoas de outras nacionalidades”.

O esforço para limpar Volínia de polacos étnicos, que os ucranianos viam como uma pré-condição essencial para o estabelecimento de um Estado independente, atingiu seu auge no domingo, 11 de julho de 1943, quando o Exército Insurgente Ucraniano lançou ataque coordenado a 90 cidades e vilas polacas, matando cerca de 11.000 pessoas em um único dia. O dia foi escolhido, segundo Markowski, porque “eles sabiam que muitas pessoas estariam na igreja”.

Marcinkowski, sobrinho de Osinska, visitou o vilarejo da tia muitas vezes,
desde o colapso da União Soviética para cuidar de sepulturas em Niemylnia,
e erguer cruzes, em memória dos mortos.
Foto: Maciek Nabrdalik

A vila da Sra. Osinska foi atacada algumas semanas antes, em 27 de maio. Ela se lembra vividamente da noite de luar. Cães de repente começaram a latir, e seu pai, temendo um ataque de militantes ucranianos após o assassinato e mutilação alguns dias antes de um amigo, levou a família para um campo próximo para se abrigar.

Ela se lembra de ter rasgado o vestido enquanto rastejava no meio do trigo – e os vizinhos gritando enquanto os ucranianos atacavam. “Eles queriam matar todos nós”, disse ela, “só porque éramos polacos”.

Quando ela e sua família retornaram brevemente no dia seguinte, descobriram que a vila havia sido incendiada e estava repleta de corpos de amigos e parentes. “Lembro-me de uma tia, com a cabeça aberta com insetos pretos rastejando em seu rosto”, lembrou ela.

Com sua casa incinerada e seu vilarejo cheio de bandos de saqueadores de ucranianos e seus ajudantes alemães nazistas, a Sra. Osinska e sua família fugiram a pé e depois de trem. Eles finalmente chegaram a Varsóvia quando a guerra estava chegando ao fim. De lá, eles foram enviados para a cidade de Wrocław, no sudoeste, que havia sido reconquistada pela Polônia.

"Todos nós desejamos voltar para Volínia", disse ela. “Isso foi tudo em que pensamos por muitos anos.” Mas sua antiga casa, expurgada de seus residentes polacos remanescentes ao cair firmemente sob o domínio de Moscou, após a guerra como parte da Ucrânia soviética, estava fora de alcance.

De seus parentes próximos, apenas um sobrinho, Ryszard Marcinkowski, 74, voltou. O líder da Associação de Fronteiríssos, um grupo de polacos interessados ​​na cultura desaparecida de terras perdidas no leste, visitou o atual oeste da Ucrânia muitas vezes, desde o colapso da União Soviética, em 1991, para cuidar de túmulos no antigo vilarejo de sua família, em Niemylnia, e erguer cruzes em memória dos mortos.

Embora tenha sido criado ouvindo histórias de horror sobre os ucranianos contadas por sua tia e seus pais, ele viajou para lá, novamente, depois que a guerra começou, no ano passado, para mostrar seu apoio contra a Rússia e entregar suprimentos.

“Viver com ódio”, disse ele, “nunca é saudável”.

Fonte: The New York Times
Texto: Andrew Higgins
Tradução: Ulisses Iarochinski

Andrew Higgins é o chefe do escritório do "The New York Times" da Europa Central e Oriental baseado, em Varsóvia. Anteriormente foi correspondente e chefe do escritório, em Moscou, para o The Times. Ele fez parte da equipe que recebeu o Prêmio Pulitzer de Reportagem Internacional de 2017, e liderou uma equipe que ganhou o mesmo prêmio em 1999, quando era chefe do escritório de Moscou do "The Wall Street Journal".

TERRAS DA POLÔNIA
No meu livro publicado em agosto de 2022, em três capítulos, trato dos massacres cometidos por ucranianos em territórios polacos da Volínia, Podólia e Małoposka.



quarta-feira, 14 de junho de 2023

Seriam 450 vampiros, as ossadas encontradas na Polônia?

Foto: Amr Abdallah Dalsh/Reuters

Em uma vila da antiga região da Caxúbia, voivodia da Pomerânia, no norte da Polônia foi encontrada uma ossada durante escavações ao lado de uma pequena igreja.

Durante as obras para a expansão da Ulica (pronuncia-se ulitssa e significa Rua) Kościelna (da igreja), em Luzino, foi inicialmente avistada pelos operários um esqueleto com a cabeça entre as pernas. Acharam melhor parar o serviço e chamar o padre. Este vendo o inusitado cadáver achou melhor avisar as autoridades, que logo chamaram arqueólogos.

Estes imediatamente começaram os trabalhos. Dos resultados de suas pesquisas emergiu um contexto histórico extremamente aterrorizante. Segundo um dos especialistas, práticas anti-vampirescas foram realizadas em alguns dos mortos. "Acreditava-se que se alguém da família do falecido morresse logo após o funeral, ele ou ela poderia ser um vampiro", Maciej Stromski.

As escavações continuaram e restos mortais de 450 pessoas foram sendo desenterradas.

A vila de Luzino tem muitas histórias, quase lendas a respeito de vampiros. “Durante as pesquisas, descobrimos restos mortais em sistemas anatômicos e também uma enorme massa de ossos soltos depositados em três ossuários. A igreja, onde os esqueletos humanos foram descobertos foi construída no início do século 18, e depois foi ampliada pós 1945. Muito, provavelmente, durante a construção e expansão da igreja, antigas sepulturas foram removidas e em locais no cemitério, grandes quantidades de ossos foram depositados", completou o arqueólogo Stromski.

Pesquisas arqueológicas anteriores mostraram que os antigos habitantes da região da Caxúbia tinham muito medo de vampiros, e é por isso que costumavam organizar funerais anti-vampiros para seus parentes.

“Em cerca de 30 por cento das sepulturas descobertas existem tijolos que foram inseridos na altura das pernas, braços e cabeça do falecido. Nas bocas dos mortos encontramos moedas.
Em uma delas pudemos ler o ano de 1846. O que é raro. Também temos exemplos de decapitações após a morte. Acreditava-se que se um parente do falecido morresse logo após o funeral, ele ou ela poderia ser um vampiro. Portanto, após o enterro, a sepultura era aberta, o corpo desenterrado e a cabeça era cortada, e em seguida, colocada entre as pernas. Também descobrimos, por exemplo, uma mulher após ser decapitada. Apenas o crânio da criança foi colocado em seu colo", explicou Stromski.

Luzino tem atualmente cerca de 7.646 habitantes. A vila remonta ao século 9. A igreja onde foram encontradas as 450 ossadas, é de 1740.

O mobiliário é barroco do século 19 e segunda metade do século 20. Nela se encontram esculturas do século 18, a Via Sacra do século 19, pia batismal do século 18.

O portão de entrada da praça da igreja também é barroco. O objeto mais antigo é uma pedra medieval de uma igreja de madeira. Na torre, há um sino histórico da oficina do fundador do sino de Gdańsk, E. Lindeman, de 1793.

A igreja tem 2 relógios de sol e um relógio mecânico de 100 anos. Dentro do espeço da igreja existe um presbitério histórico e casa de um organista.

No jardim existe um obelisco trasladado do antigo cemitério da igreja. Uma escultura - Jesus entrando em Jerusalém - foi obra de Marian Mielewczyk, moradora de Luzino, constituindo um dos elementos do altar papal de 1999, realizado sob a orientação de um conhecido mestre prof. Marian Kołodziej.


Igreja de Santo Lourenço, em Luzino, cidade de Wojherowo, voivodia da Pomerânia

Os corpos eram enterrados com os crânios decapitados alojados entre as pernas e moedas eram colocadas na cavidade das bocas. Esta prática tinha o objetivo de impedir que, se porventura eles fossem vampiros, pudessem se levantar de seus túmulos.

Esta recente descoberta descortina crenças obscuras e medidas extremas tomadas pela população local para evitar o retorno dos mortos de seus túmulos na forma de vampiros. As lendas polacas descrevem os “Vjesci” (vampiros) como figuras pálidas que assombram as ruas iluminadas pela Lua. Conforme a tradição, essas criaturas sanguinárias se escondiam em criptas antigas, emergindo ao anoitecer para atacar almas inocentes.

Tal prática era muito comum até o século 19, na Polônia, e faz parte do que se acreditava ser um ritual para impedir a “maldição de vampiros”, e que remonta ao folclore medieval polaco.

No entanto, esta não é a primeira vez que um cemitério tido como de vampiros é encontrado no país. Em 2014, dois sítios arqueológicos foram revelados no sul e noroeste da Polônia, ambos com características de sepultamento comuns às práticas anti-vampiras da época.

Neles, dentes foram removidos, pedaços de pedra foram colocados na boca e pernas foram estacadas.

Titus Hjelm, especialista em cultos sobre vampiros na Escola de Estudos Eslavos e do Leste Europeu na University College London, explicou que o costume de colocar uma pedra na boca dos mortos tinha como objetivo fazer uma “barreira sobrenatural” entre os mundos dos mortos e dos vivos.

Segundo algumas fontes, os polacos pensavam que os vampiros nasciam, em vez de serem ‘feitos'”, explicou ele. “Os vampiros eram pessoas normais que podiam viver vidas normais, não eram aristocratas vivendo em castelos distantes. Os problemas só começaram quando essas pessoas morriam. Elas poderiam voltar a viver com suas famílias e até mesmo engravidar suas esposas”, completou Hjelm.

Texto: Ulisses Iarochinski
Fontes: CNN Brasil, History Chanel Brasil, Revista Fakt e TV Morska
 (nadmorski24.pl)

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Polônia superpotência?

A Polônia é constantemente vista com indiferência.


Em que pese, todas as contribuições que já ofereceu ao mundo em várias áreas. O mundo permanece em silêncio quando a
notícia é sobre a Polônia. Televisões e imprensa do mundo todo preferem falar da gravata do presidente americano, ou dos escândalos da família real britânica, do que dos esforços polacos para acolher milhares de refugidos ucrânianos. Preferem silenciar que desde que a União Soviética caiu, por um esforço, concretamente dos polacos, o país vem experimentando um crescimento econômico espantoso.

Sim! Indiferença, desconhecimento, ou apagamento intencional.

Pois, quem não se lembra da famosa “Mesa Redonda” de Gdańsk de Lech Wałęsa, dos operários e mineiros da Polônia que deram um cheque-mate em Moscou?

O mundo prefere anunciar o fim da URSS como decorrente da queda do muro de Berlim. Nada mais cabotino

Olhassem com mais atenção para a Polônia, notariam que últimas três décadas, o país vem se transformando no que alguns especialistas chamam de a próxima grande superpotência do continente europeu. Antes da pandemia, a economia polaca vinha crescendo inabalavelmente por 28 anos consecutivamente, segundo dados apresentados pelo jornal inglês Financial Times, em 2019, sobre a situação financeira do país.


E outro jornal inglês, o The Telegraph, publicou num artigo agora no mês de maio último, que “em nenhum outro lugar do império soviético, o poder popular prevaleceu de forma tão triunfante quanto na Polônia. A terra das causas perdidas, tornou-se a vanguarda da liberdade e da prosperidade.”

Não bastasse isso, economia da Polônia emergiu fortemente, após o auge da pandemia da covid-19, de acordo com dados da London School of Economics.


Há poucos dias, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE divulgou a lista com os 34 países de maior crescimento do PIB - Produto Interno Bruto no primeiro trimeste de 2023.

Na lista, em primeiro lugar apareceu a Polônia com um crescimento de 3,90%. Superou a China que cresceu 2,2% e o Brasil, em terceiro, com uma subida de 1,90%, no período entre janeiro e março.



Alguns atentos economistas dizem que “A Polônia é a garota-propaganda de uma transição bem-sucedida”, como Beata Javorcik, economista-chefe do Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento. Ela, acrescentou ainda que “em 30 anos, a Polônia passou de um país que sofria escassez, em quase todos os setores, para um que está entrando no clube dos países ricos”.

Mesmo assim, ainda não foi convidada para fazer parte do G7, nem do G20. Outro observador atento do crescimento polaco é o o líder do Partido Trabalhista britânico, Keir Starmer, que usando dados do Banco Mundial, previu que, com seu crescimento médio anual de 3,6%, a economia da Polônia vai ultrapassar a da Grã-Bretanha, até o final da década, conforme relatado pela “Sky News”, em fevereiro de 2023. O jornalista Daniel Johnson do “The Telegraph” escreveu, agora em maio, que:

“Em seu caminho atual, a Polônia está a caminho de se tornar mais rica que a Grã-Bretanha até 2030, graças a um milagre econômico pós-comunista. O país se tornou um foco para indústrias voltadas para o futuro, como fabricação de baterias e tecnologia.Varsóvia está usando essa força econômica para transformar o país em uma formidável força de combate para se proteger contra o lobo russo à porta. Sua disposição de enfrentar Moscou também conquistou aliados entre muitos países vizinhos. Enquanto a Alemanha e a França se confundem em relação à sua resposta à guerra na Ucrânia, a estrela da Polônia está em ascensão.”

Não é só na área econômica e de investimentos que a Polônia tem crescido. A sociedade polaca que, desde 2015 vem dando suporte ao PiS - Partido Direito e Justiça do líder Stanisław Kaczyński, de extrema-direita, que comanda a Presidência da República e a Chancelaria do Primeiro-Ministro, tornou-se um país xenófobo e intolerante. Chegou ao ponto de várias cidades proibir a entrada e a moradia de pessoas LGBT+ em seus municípios. No período da pandemia da Covid-19, o arcebispo de Cracóvia, desobedecendo as recomendações da OMS - Organização Mundial da Saúde, organizou procissões durante a semana santa sem máscaras. “Deus há de nos proteger”, teria dito e escrito o arcebispo da mesma Cúria, onde o Papa João Paulo II foi um dia o cardeal metropolitano.



Ainda esta semana, o Tribunal de Justiça da União Europeia - TJUE condenou a Polônia, num acórdão em que se pronunciou sobre um processo movido pela Comissão Europeia contra o Estado-membro por fazer uma reforma da justiça, em 2019, que viola o direito da UE.

Segundo a Comissão Europeia, o sistema judicial polaco implantado pelo governo do PiS, viola diversas disposições do direito da UE. O governo da Polônia em sua defesa alegou que a reforma era necessária para eliminar as influências da era comunista e combater a corrupção.

A reforma judicial condenada pela UE aumenta os poderes da seção disciplinar do Supremo Tribunal para punir magistrados em função do conteúdo dos seus vereditos. As sanções incluem a redução do salário, a suspensão temporária das funções e o cancelamento da imunidade para permitir o início de um processo penal contra o juiz em causa.

O TJUE anunciou claramente que "as medidas adotadas pelo legislador polaco são incompatíveis com as garantias de acesso a um tribunal independente e imparcial, previamente estabelecidas por lei", dando razão ao órgão executivo da UE.

Mas, ao lado de abrigar milhões de refugiados ucranianos que fugiram desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Polônia está se tornando uma das maiores forças bélicas da Europa, prestes a superar Grã-Bretanha, França e Alemanha. Também “a Polônia liderou o esforço de impor duras sanções contra a Rússia e apoiar a Ucrânia com forte assistência política, econômica e militar”, escreveu Arndt Freytag Von Loringhoven, em artigo para o Jornal Politico.

Żeleński e Morawiecki

A Polônia tem sido um importante não só na ajuda humanitária aos ucranianos como também à Ucrânia, de acordo com Loringhoven. A Polônia deu 300 de seus próprios tanques de guerra para seu vizinho. As autoridades polacas foram das primeiras a viajar para
Kiev.

Na iminência da guerra se estender ao seu território, a Polônia quer armar um exército imbatível. “O exército polaco deve ser tão poderoso que não precise lutar apenas devido à sua força”, disse o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki, na véspera do dia da independência da Polônia, ano passado.

A invasão da Ucrânia fez o governo da Polônia estabelecer a meta de aumentar suas forças armadas de 150 mil para 300 mil soldados, até 2035. Comparando com sua vizinha a Oeste, a Alemanha que possui 170 mil soldados.



Estimulado pela guerra vizinha e pelo medo crescente de que a Polônia um dia possa estar na mira de um Kremlin que busca retornar aos dias em que o império russo se estendia até o rio Vístula, o governo polaco está determinado a se armar - e rápido.

A Polônia passou a gastar algo próximo a US$ 10 bilhões em sistemas de artilharia Himars fabricados nos EUA, que se mostraram eficazes no conflito ucraniano-russo. Isto, só para dar apenas um exemplo dos planos de investimento bélicos.

Além disso, a Polônia está comprando uma frota de aeronaves F-35 Lightning II e 116 tanques Abrams, para substituir os caças MiG da era soviética e os tanques T-72 que o governo polaco decidiu doar à Ucrânia.

Os gastos com defesa subiram para 4% do PIB este ano. Era 2,5% no ano passado. Estes valores são mais do que o dobro daqueles dispendidos pela França, Alemanha, Itália e Espanha, e significativamente maiores do que os da Grã-Bretanha, que planeja atingir apenas 2,5%, em 2030.


A Polônia fez pedidos de 1.000 tanques de batalha K2 da Coréia do Sul e 250 novos tanques M1A2 SEPv3 Abram dos EUA. Isso transformará a Polônia no proprietário da maior força de tanques da Europa, superando a frota da Grã-Bretanha de 227.

Sua artilharia será reforçada pela chegada de 600 K9s, 18 lançadores HIMARS com 9.000 foguetes e 288 sistemas K239 Chunmoo MRL da Coreia do Sul. Mais de 1.000 veículos de combate de infantaria Borsuk fabricados na Polônia transportarão tropas polacas para a batalha, enquanto a cobertura aérea virá de 96 helicópteros AH-64E Apache comprados dos EUA e 48 aeronaves de combate FA-50 agora encomendadas da Coréia do Sul.



Também estão em andamento conversas sobre a construção de uma "enorme fábrica de armas" em colaboração com a Inglaterra, para ajudar a produzir e consertar equipamentos e armas destinados à Ucrânia.  “É de fundamental importância aumentar os níveis de segurança o mais rápido possível para a Polônia. Só podemos fazer isso criando um exército forte. Forte o suficiente para impedir qualquer agressor em potencial de decidir atacar”, disse Mariusz Blaszczak, ministro da Defesa polaco.

A Polônia planeja gastar cerca de 85 bilhões de libras esterlinas até 2035 em armas, e o orçamento de defesa, deste ano, alcança um recorde de 97 bilhões de złotych (18 bilhões de libras esterlinas) e mais 24 bilhões de libras esterlinas fora do orçamento que estão incluídos. 

As pretensões polacas não visam apenas dissuadir a Rússia, que compartilha uma fronteira terrestre em Kaliningrado, mas também pressiona a Alemanha a aumentar seu peso na aliança.

A fronteira russa-polaca fortemente armada e fortificada em Kaliningrado, é um alerta de como essa terrível história terminou, há 78 anos. Este pedaço russificado foi recentemente reforçado com armas nucleares. Ali, é o lar da frota russa no inverno e que existe para ficar de guarda no Báltico, principalmente, contra a Polônia.

O presidente polaco Andrzej Duda lançou no início deste mês o que chamou de “ofensiva diplomática”. Quer visitar líderes ocidentais para “aumentar a conscientização em vários cantos do mundo sobre o que está acontecendo aqui, em nossa região, sobre a natureza da bárbara agressão russa”.

Presidentes Duda e Żeleński

Por outro lado, é visível o papel da educação nos resultados polacos. O sistema de ensino polaco está entre os cinco ou seis primeiros entre 38 países da OCDE em leitura, matemática e ciências, bem acima de países mais ricos, como Grã-Bretanha, França ou Alemanha. Isso estabelece as bases para um crescimento econômico forte e continuo no futuro.

O sucesso de hoje tem sua origem, em grande parte, nas reformas de livre mercado do ministro da economia Leszek Balcerowicz durante o período imediatamente pós-1989. Balcerowicz era o homem com um plano – um novo tipo de plano – para abolir a economia planificada dos últimos 40 anos imposta por Moscou.

O Plano Balcerowicz foi um choque acelerado de alto risco que abriu os negócios polacos para o mercado global. Até o início da pandemia, a Polônia ostentava o maior período de crescimento ininterrupto do mundo: 28 anos.

Outra forma que poderia explicar esta mudança espantosa na Polônia é o viés histórico. Os alemães assassinaram 2,7 milhões de polacos de origem judaica na Segunda Grande Guerra Mundial, além outros 3 milhões de polacos católicos, protestantes e ciganos que também foram mortos. Uma grande parte da população foi deslocada durante e após a Segunda Guerra Mundial por decisão de Józef Stalin e os líderes ocidentais.

No último sábado, 4 de junho, data que comemora as primeiras eleições livres da Polônia desde a década de 30, marcou uma nova fase na vida da nação polaca. O país parece estar dividido neste momento. Mais de meio milhão de pessoas saíram às ruas das cidades da Polônia para protestar contra o partido que está há 8 anos no poder e quer se manter ali. O partido governante Direito e Justiça (PiS), está contando fortemente com os eleitores rurais em sua tentativa de ser reeleito para um terceiro mandato consecutivo no próximo outono.

As previsões para se tornar uma grande potência mundial pode sofrer um revés por causa da política nacional. Acusações de minar o estado de direito e supressão do debate público foram levantadas no partido de extrema-direita, enquanto um ar de paranóia paira sobre a política do país há algum tempo. A oposição liberal, liderada por Donald Tusk, o ex-presidente do Conselho Europeu e ex-primeiro ministro da Polônia, e seu partido PO - Plataforma Cívica consideram o PiS meramente a cabala católica reacionária de Kaczyński, hostil à União Europeia e às instituições da democracia polaca, incluindo o judiciário independente e a imprensa livre.

A ironia de que o estado de direito polaco está ameaçado sob um partido que se autodenomina Direito e Justiça não passa despercebida a muitos cidadãos polacos. A confiança no atual governo é de apenas 34,2%. O que foi comprovado nas manifestações do dia 4 de junho.

Apesar de sua história conturbada, a Polônia, hoje, é uma democracia vigorosa. Os polacos têm razão em se orgulhar de sua república e de suas forças armadas. Mas não deve haver lugar para paranóia. Os polacos não necessitam ver a Polônia como vítima ou como mártir. 



Qualquer que seja o caminho da política polaca é difícil ignorar o fato de que Varsóvia é a força que está batendo às portas da Europa e do mundo e, por isso, não pode ser escondida, silenciada, ou passar desapercebida pela mídia mundial.

Está na hora das televisões brasileiras pararem de falar sobre o mundo sob a visão exclusiva de seus correspondentes de Nova Iorque e Londres. O mundo está querendo ver “in loco”, o que se passa na Europa Central, sem o filtro da OTAN, UE e Washington.

Texto: Ulisses Iarochinski
Fontes: Gazeta Wyborcza, The Telegraph, Daily Digest e outras

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Silésia, uma terra polaca

Silésia histórica total

Silésia assim traduzida para português é grafada no idioma polaco como Śląsk, no próprio dialeto silesiano como Ślůnsk. Mas como ela sofreu, invasões, ocupações e intervenções alemãs, ela é chamada em alemão de Schlesien. Parte da Silésia histórica também fica na atual República Tcheca e, por isso, em tcheco é grafada como Slezsko.

Atualmente a Silésia é uma importante zona industrial tanto da Polônia, quanto da República Tcheca. No entanto, nos últimos anos depois das mudanças políticas ocorridas em 1989, a região tem sofrido enormes restruturações econômicas que implicam o fechamento de dezenas de minas de carvão, base energética, principalmente da Polônia.

Katowice

O nome latino Silésia, segundo algumas teorias, teria derivado dos silingos, um povo vândalo que supostamente viveu ao sul do mar Báltico ao longo dos rios Elba, Odra e Vístula, no século II.

Quando os silingos se deslocaram da região durante o período de migrações bárbaras, eles deixaram provas de sua civilização para trás. As mais evidentes provas são os nomes de lugares, adotados pelos eslavos como Śląsk, do proto-polaco Śląžsk, a partir do vândalo antigo Siling-isk (terra).

Esses povos passaram a ser conhecidos desde então como silesianos (forma latinizada do nome em polaco Ślężanie), mesmo que eles tivessem pouca coisa em comum com os silingos.

Opole

Achados arqueológicos dos séculos VII e VIII também descobriram antigas áreas amplamente habitadas, protegidas por um grande sistema de fortificações no oeste e no sul. A falta de um sistema semelhante no norte e no leste supõe que a noção de Silésia era parte de um grande Estado habitado por antigas tribos eslavas.

Witold Hensel, em “Les origenes de I’Etat Polonais” assinalou que, “a situação geográfica dos proto-eslavos demonstra que eles tinham por vizinhos ao Noroeste os saxônicos, a Sudoeste as tribos proto-célticas, ao Sul as tribos ilirianas e em parte proto-tracianos, ao Nordeste os proto-baltos, a leste os ugro-fineses, a Sudeste as tribos proto-tracianas e mais tarde iranianas”.

Plínio, o Velho, escreveu, em 79 d.C., que a faixa de terra entre o estuário do rio Vístula e o mar Negro era chamada de Cítia. Este povo tinha origem persa. Em meu livro, "Terras da Polônia", escrevi que:

Entre os anos 350 a 150 a.C., os celtas chegaram à região meridional polaca ocupando a região de Oeste a Leste. A maioria dos celtas se fixou no que, hoje, é o Sul da Polônia. Outros dois grupos celtas se estabeleceram nas terras da Silésia. Um deles, fixou-se na margem esquerda do rio Odra, ao Sul da atual cidade de Wrocław, e que incluía ainda o Monte Ślęża. O segundo grupo ficou ao redor das terras altas de Głubczyce. Estes grupos ficaram naquelas regiões durante o período de 400 a120 a.C. Sepulturas e locais celtas importantes de Głubczyce foram investigados em Kietrz e nos arredores de Nowa Cerekwia. O grupo do Monte Ślęża foi assimilado pela população local. Já o de Głubczyce migrou para o Sul. Descobertas recentes incluem assentamentos celtas em Wrocław e Wojkowice, onde um túmulo bem preservado do século III a.C., de uma mulher com braceletes de bronze e ferro, broches, anéis e correntes foi encontrado. (IAROCHINSKI, 2022)

Grande parte da Silésia é relativamente plana, embora o sul seja montanhoso. Está localizada em uma faixa que corre ao longo de ambas as margens do rio Odra, em seus trechos superior e médio, apesar de que se estende para o leste até a bacia superior do rio Vístula. A região também inclui muitos afluentes do Odra, incluindo o Bóbr (e seu afluente o Kwisa), o Barycz e o Nysa Kłodzka.

As Montanhas Sudetas percorrem em sua maior parte do extremo sul da região, embora no extremo sudeste alcancem as Montanhas Beskydy e as montanhas Beskid da Morávia, que pertencem à cordilheira dos Cárpatos.

Historicamente, a Silésia era limitada a oeste pelos rios Kwisa e Bóbr, enquanto o território a oeste do Kwisa ficava na Alta Lusácia (anteriormente Milsko). No entanto, como parte da Alta Lusácia foi incluída na província da Silésia em 1815, em alemão Görlitz, o Niederschlesischer Oberlausitzkreis e áreas vizinhas são consideradas partes da Silésia histórica.

Wrocław

Estas terras, juntamente com a voivodia polaca da Baixa Silésia e partes da voivodia de Lubusz, compõem a região geográfica da Baixa Silésia.

A Silésia passou por uma extensão semelhante no seu extremo leste. Ela estendia-se apenas até ao rio Brynica, que o separava de Zagłębie Dąbrowskie, na região da Małopolska (Pequena Polônia). 

Para a Polônia, a Silésia (Śląsk) é entendida como cobrindo toda a área ao redor de Katowice, incluindo Zagłębie. Assim, o nome Silésia (Województwo Śląskie) para a voivodia (correspondente a Estado) que cobre esta área.

A palavra Śląsk em polaco se refere exclusivamente a esta área também chamada de Górny Śląsk ou Alta Silésia. Daí, o porquê, a Dolny Śląsk, refere-se a Baixa Siléia. A histórica Alta Silésia também incluía a região de Opole (atualmente voivodia de Opole) e a terra silesiana, que fica na atual República Tcheca.

A Silésia tcheca consiste em uma parte da região da Morávia e do distrito de Jeseník, na região de Olomouc.

Assim, a Silésia polaca como um todo está dividida em três voivodias: Baixa Silésia cuja capital da Voivodia é a cidade de Wrocław, a Silésia cuja capital da Voivodia é Katowice, e ainda a voivodia de Opole, cuja capital tem o mesmo nome, fica entre as duas atuais regiões chamadas de Silésia.

A Baixa (Dolny) assim chamada é porque ela é uma região de planície, embora esteja mais ao norte-oeste do território.

Bielsko Biała

Enquanto, a Silésia - Górny - de Góra (montanha) Alta - está mais ao sul-leste. Embora tenha planície é, principalmente, uma região de montanhas.

Por ali para a cordilheira europeia chamada Cárpatos. Ela passa pela Alemanha, passa pela República Tcheca, Polônia onde recebe o nome de Sudetas, passa pela Eslováquia, Hungria e a atual Ucrânia.

Na Polônia, a cadeia de montanhas recebe dois nomes: Beskyde, na Voivodia da Silésia e Tatras, na Voivodia da Małoposka.

A chamada Silésia meridional (sul) nada mais é do que a região chamada apenas de Silésia (ou Alta Silésia), porque está justo ao sul-leste da Baixa Silésia.




A Baixa Silésia está no norte-oeste, portanto, atualmente existem duas Silésias, assim chamadas, devido à divisão administrativa realizada pela Polônia, em 1 de janeiro de 1999, quando foram criadas 16 novas voivodias, substituindo as 49 existentes desde 1 de julho de 1975, a que está ao Sul (meridional) é a Silésia (apenas assim, sem adjetivo de baixa ou alta).

Montanhas Beskydy

Texto: Ulisses Iarochinski