quarta-feira, 11 de julho de 2018

Ucranianos Assassinaram e torturam polacos

O parlamento ucraniano aprovou recentemente uma lei exaltando as atividades do UPA - Exército Ucraniano Insurgente.
O UPA era uma organização fundada por nacionalistas ucranianos ligados ao líder Bandera, cujos membros durante a Segunda Guerra Mundial assassinaram brutalmente entre 50 mil a 100.000 polacos.

Os diversos grupos do UPA prepararam os planos para o extermínio dos polacos em fevereiro de 1943. Estas ações genocídas ocorreram apenas 72 anos atrás.

Carnificina na Volínia

Foram assassinatos em massa (limpeza étnica, genocídio) cometidos por nacionalistas ucranianos (com apoio frequente da população ucraniana local) contra a população polaca na antiga Voivodia (Estado) da Volínia, durante o período da Segunda República Polaca e que durante a II Guerra Mundial foi invadida e ocupada pelo Comissariado do Império Ucraniano, ao mesmo tempo que ocupação dos territórios polacos pelos alemães nazistas entre fevereiro de 1943 e fevereiro de 1944.

Ainda é desconhecido o número exato de vítimas (historiadores estimam entre 50 a 100 mil pessoas).  Isso em função da demora em se fazer o reconhecimento dos muitos corpos que foram desmembrados ou queimados.

Na foto abaixo estão cadáveres de habitantes polacos da vila rural de Lipniki no município de Kostopol, na Volínia polaca. Em 26 de março de 1943, ucranianos das unidades da UPA assassinaram 182 pessoas no local:


Os terroristas do UPA cortavam o nariz e o lábio superior e arrancavam a maior parte dos dentes, enquanto perfuravam o olho esquerdo e danificavam gravemente o olho direito:


Estas são algumas das muitas fotos de vítimas do massacre e dos métodos "sofisticados" de tortura praticada pelos ucranianos do UPA (e, felizmente, em muitos casos borradas).

A principal razão para os crimes cometidos pelos vizinhos foi estritamente por considerações étnicas. O que os iguá-la em barbárie aos criminosos de guerra nazistas.

Ainda hoje na Ucrânia, o reconhecimento e adoração dos símbolos do UPA e do presidente desta organização criminosa - Stepan Bandera - ainda estão bastante vivos e cultuados. Exemplo disto é a lei promulgada pelo parlamento ucraniano semanas atrás.

Na foto abaixo, barriga aberta e vísceras colocadas para fora, mostrando como a pele ficou pendurada depois da tentativa de soltá-la. Crime praticada pelos sanguinários da OUN-UPA:


Métodos ucranianos de tortura

1. Cortar a garganta, puxar a língua e arrancá-la. 
2. Recortar a polpa da cabeça, inserindo no cérebro grampos presos com parafusos.
3. Cortar e remover as faixas estreitas de pele das costas em formato de cinto.
4. Retirar os seios das mulheres e polvilhar com sal.
5. Perfurar mulher grávida com baioneta.
6. Cortar o abdomen de mulher em gestação avançada e no lugar do feto retirado, inserir gato vivo e costurar a barriga.
7. Inserrir de pino pontiagudo na vagina e empurrar até a garganta.
8. Cortar o tronco de uma pessoa ao meio com uma serra de carpintaria.
9. Apunhalar a língua de uma criança pequena fixando-a no tampo de uma mesa, que depois ficava pendurada.
10. Perfurar com um fio grosso a orelha passando-o através da segunda orelha.
11. Cortar a cabeça com um machado.
12. Cortar o tronco do corpo de uma pessoa com uma serra de semi-carpintaria.
13. Cortar a frente do tronco do corpo de uma pessoa com uma faca de jardinagem, da vagina até o pescoço e deixar as vísceras do lado de fora.
14. Cortar a barriga e despejar água fervente sobre ela.
15. Cortar o estômago das gestantes e jogar vidro quebrado no interior.
16. Inserir ferro incandescente na vagina.
17. Cortar a barriga e derramar dentro comida para porcos famintos, chamado-os para se banquetear como se fossem lavagem das vísceras das pessoas.
18. Recorte dos dedos com faca.
19. Pregar as mãos na mesa e os pés no chão.
20. Jogar crianças pequenas vivas em poços profundos.
21. Quebrar a cabeça do bebê, arrastando-os pelos pés e batendo os corpos na parede ou no fogão.
22. Martelar uma criança em uma estaca pontuda.
23. Pendurar mulheres em árvores de cabeça para baixo e estuprando-as, e depois cortar os seios e a  língua, fazendo uma fenda na barriga, seccionando os olhos e cortando pedaços das carnes da pessoa com faca.
24. Jogar adulto nas chamas de um incêndio em uma clareira na floresta, em torno do qual garotas ucranianas cantavam e dançavam ao som de harmônicas.
25. Amarrar homens às árvores e atirar neles como se fossem alvo.
26. Rasgar o tronco dos corpos com correntes.
27. Arrastar pela rua mãe com seus três filhos, amarrados a uma carroça com cavalo, de tal forma que uma perna da mãe era amarrada com uma corrente na carroça, e a outra perna da mãe era amarrada numa das pernas do filho mais velho, a outra perna deste filho era amarrada numa das pernas do outro filho mais novo, e perna deste na perna da criança.
28. Apertos periódicos do tronco de um corpo com arame farpado e em intervalos de poucas horas despejavam na vítima água fria para recuperar a consciência e sentir dor e sofrimento.
29. Enterrar pessoas vivas no chão até o pescoço e cortar a cabeça depois com foice.
30. Retalhar com navalha o rosto das pessoas fazendo-as sangrar.

As ilustrações a seguir mostram as torturas praticadas
pelo UPA contra a população polaca, na grande maioria composta apenas por civis.


Corte da frente do corpo da vagina para o pescoço. (Volínia, área de Równe)



Retiravam os seios das mulheres e polvilham as feridas com sal. (Volínia, distrito de Kowel)


Pregavam a vítima com uma estaca no chão perfurando o estômago.
(Latacz, distrito de Zaleszczyki, junho de 1944)


Recortavam tiras de pele das costas da vítima e derramavam água fervente sobre as feridas abertas.
(Vila de Witoldówka, município de Włodzimierz, na voivodia da Volínia, julho de 1943)


Pregavam a língua da criança pequena na mesa, e depois penduravam-na na quina da mesa.
(Município de Krzemieniec, Voivodia da Volínia)


Fonte: Viralka.pl
Texto: Myrmek
Acessado em 01/jul/2018
http://v.viralka.pl/oto-jak-ukrainska-upa-mordowala-i-torturowala-polakow-przerazajaca-lista/

Tradução para o português: Ulisses Iarochinski

sábado, 2 de junho de 2018

O curitibano Cionek na Copa da Rússia

O técnico Adam Nawalka da seleção da Polônia para a disputa da Copa do Mundo da Rússia convocou um curitibano.

Seu nome: Thiago Cionek (em idioma polaco se pronuncia tchionék).


A relação do curitibano com o país europeu vem de berço. Ele é descendente de imigrantes polacos, que chegaram em Curitiba no início do século 20.

Como jogador de futebol, foi em 2008 que ele se transferiu para atuar no Jagiellonia Białystok. Ele atuou no clube até 2012, quando se transferiu para o Padova, da Itália.

Após passar pelo Modena e pelo Palermo, ele ajudou o SPAL a se livrar do rebaixamento na última temporada.

Nascido no bairro do Boqueirão, em Curitiba, Cionek, de 32 anos, defende a Seleção polaca desde 2014, convocado pela primeira vez pelo técnico Adam Nawalka.

Curioso, que nunca jogou nos times profissionais de sua cidade natal, como Coritiba, Atlético e Paraná. Mais curioso ainda é que a imprensa curitibana, jornal, rádio, internet e televisões continuam ignorando o único curitibano que estará presente como jogador na Copa do Mundo da Rússia.

- Você está na pré-lista da Polônia para a disputa da Copa do Mundo. Você esperava ser lembrado pelo técnico Adam Nawalka?

Cionek - Eu tinha essa esperança, sim, até por ser convocado pelo Adam desde que ele assumiu a seleção. Venho jogando no meu clube atual com bastante frequência e faço parte da seleção há algum tempo. Joguei as eliminatórias da Euro, a Eurocopa e as eliminatórias para a Copa, então eu esperava por isso, mesmo com a grande concorrência.

- Você esteve nas convocações do treinador durante as Eliminatórias, o que aumenta as suas chances. Como está a sua expectativa para disputar o Mundial? É um sonho jogar a Copa?

Cionek - A expectativa é muito grande, é um sonho que os jogadores têm desde criança. Aos poucos as coisas foram acontecendo na minha carreira, hoje faço parte de um time da elite italiana e trabalhei bastante para chegar na seleção. É um ciclo que está se formando, tem uma preparação grande a ser feita, mas já temos uma base sólida, com um entrosamento que tem mais de quatro anos.

Thiago Cionek defende a Polônia desde 2014


- Você esteve com grupo polonês na disputa da Eurocopa. O que representa disputar um campeonato desse porte?

Cionek - Sim, estive no grupo e agora iremos para a Copa. O tempo de treino com a seleção é pouco, mas por estarmos juntos há algum tempo e por termos jogado alguns torneios, o entrosamento vem cada vez mais forte.

- Sua ligação com o futebol polonês começou em 2008, quando foi jogar no Jagiellonia Białystok. Mas como e quando surgiu a oportunidade de atuar pela Polônia? Foi um convite da federação do país? 

Cionek -  Cheguei na Polônia em 2008, ainda sem possuir cidadania, sem passaporte. Comecei jogando o campeonato local e logo solicitei a cidadania polaca, que foi um processo que demorou um tempo. A torcida da equipe que eu jogava me ajudou a agilizar isso, eles fizeram um abaixo assinado e eu consegui o reconhecimento da cidadania. E não, não foi um convite, eu fui convocado quando fui para a Itália, um amistoso diante da Alemanha, antes da Copa de 2014, que a Polônia acabou não jogando. Desde então, tenho sido convocado com frequência.

- Por ser naturalizado polaco, sofreu algum tipo de preconceito por jogar na seleção?

Cionek - Sou o único jogador não nascido na Polônia que está na lista para a Copa. A grande maioria das pessoas apoiam, sempre fui muito querido pelos torcedores. Os jogadores também me receberam muito bem e eu acredito que por eu já falar polaco, conhecer bem os atletas e o futebol local, o processo foi muito mais tranquilo. É um grande orgulho vestir a camisa da Polônia, meus bisavós foram para o Brasil no início do século XX e, após 100 anos, eu fiz esse caminho inverso. Sou muito grato ao país por tudo que já me proporcionou, pelos meus familiares e por uma história que eu construí, então o orgulho é imenso.

Foto - Janek Skarzyński / AFP
- Você começou a carreira em um clube amador do Paraná. Anos depois, você imaginaria que poderia estar na briga por um lugar na Copa?

Cionek - Comecei buscando meu espaço no futebol em equipes amadoras de Curitiba, aí, depois fui para o Cuiabá, joguei Série C e isso ajudou no meu crescimento. Gosto muito de futebol, sempre assisti a vários jogos e eu tinha o sonho de jogar o Brasileirão. Naquela época eu jamais imaginaria que poderia jogar uma Copa do Mundo, mas aí as coisas foram acontecendo, conheci o futebol europeu e ano após ano eu fui crescendo o que me ajudou a chegar na seleção.

- Robert Lewandowski é o grande nome da seleção polaca. O que a figura dele representa para a equipe?

Cionek - O Lewandowski é o nosso líder, é aquele que faz os gols, mas não só isso. É um atleta que inspira outros jogadores, tem um caráter fenomenal e nos ajuda muito dentro e fora dos campos. Pra nós é um orgulho ter ele no nosso lado, eu já joguei contra ele, mas prefiro ele no meu time (risos). Lewandowski é o cara da Polônia



- Você atua pelo SPAL, da Itália. Como é atuar por um time que é caçula em um campeonato como o Italiano? Por conta das dificuldades, como viu a campanha da equipe?

Cionek - Joguei no Palermo duas temporadas atrás, aí me transferi para a SPAL, um time que vem numa crescente grande, subindo de divisão ano após ano. O projeto que me apresentaram me cativou e eu abracei a ideia. Conseguimos nos livrar do rebaixamento na última rodada e agora é trabalhar para chegar forte e preparado para a próxima temporada. A cidade de Ferrara tem um carinho muito grande pelo time, eles lotam o estádio todos os jogos, respiram futebol e eles são bem fervorosos.

- Estar no Mundial pode ajudá-lo a jogar em um clube de maior expressão na próxima temporada? Já há propostas ou sondagens?

Cionek - No momento não penso nisso, hoje eu só penso em me preparar da melhor maneira possível para chegar bem e em alto nível para a Copa do Mundo. Meu foco é a concentração para o Mundial.

Texto: Mário Boechat
Fonte: Jornal Lance

sexta-feira, 4 de maio de 2018

BARSZCZ = Sopa de Beterraba


SOBRE A TRADUCÃO DO NOME DA SOPA

Se a sopa é polaca e as palavras que a identificam são polacas não há como traduzi-la para português como BORSCHT (palavra alemã, adotada nas traduções por ucranianos, ingleses, russos e italianos)... 

BARSZCZ simplesmente se traduz para português como SOPA DE BETERRABA (seja ela cremosa, rala, caldo ou na forma de consomê)....

Barszcz se pronúncia como "bárchêtchê".

E isto apenas, porque Curitiba, é a terceira maior concentração da etnia polaca no mundo, só atrás de Chicago e Varsóvia. Ou seja, em Curitiba - capital latinoamericana da polaquice - chamar "SOPA DE BETERRABA (Barszcz) de Borscht é uma heresia.


Uma das tantas receitas possíveis:

BARSZCZ CZERWONY
(Sopa de beterraba)

Ingredientes
- 2 litros de caldo de osso buco
- legumes (cenoura, salsinha, cebolinha, aipo, alho porró, caldo de legumes)
- 2 maçãs
- 2 cenouras
- 800 gr de beterraba
- 2 cebolas
- 2 dentes de alho
- 2 folhas de louro
- 2 a 4 cogumelos secos
- 5 grãos de pimenta do reino
- 5 grãos de pimenta da Jamaica
- suco de limão
- salsinha picada

Modo de fazer
Cortar a beterraba descascada em pedaços médios. Adicionar no caldo junto com os outros ingredientes e cozinhar por 1 hora e meia.
Adicionar mais água se necessário.
Passar na peneira.
Colocar na sopeira de porcelana e juntar salsa picadinha.
Servir com pierogi pequenos, ovos cozidos, ou "capeletti" de carne.




quinta-feira, 3 de maio de 2018

3 DE MAIO - DIA DA MAIS ANTIGA CONSTITUIÇÃO DA EUROPA

Quadro: "A adoção da Constituição de 3 de maio" - pintura de Jan Matejko, 1891. O rei Stanisław August (à esquerda, em um manto real decorado com erminas) entra na igreja de São João Batista, onde a Constituição será empossada pelo Sejm (Câmara dos Deputados). Os marechais Stanisław Małachowski e Kazimierz Nestor Sapieha continuaram em mãos dos deputados . No fundo está o Castelo Real, onde a Constituição foi aprovada.

Naquela época a Polônia formava uma República Parlamentarista junto com a Lituânia, onde o rei era eleito pelo Congresso para exercer o papel de chefe de Estado.

Claro, algo tão inovador numa Europa Monárquica só poderia ser a da República das Duas Nações Polônia Lituânia.

A Constituição polaca é a segunda mais antiga do mundo, só sendo ultrapassada pela dos Estados Unidos.

Você sabia que a Constituição proclamada na Polônia no dia 3 de Maio de 1791 foi a primeira moderna constituição na Europa?

E você sabia, que a Polônia e a Lituânia é a primeira República do Mundo Moderno, de 1530?

A Constuição da Polônia foi escrita 4 anos depois da Constituição dos Estados Unidos, e foi a que introduziu a divisão tripartite do poder entre o legislativo, o executivo e o judiciário.

Em 1919, o aniversário da proclamação da Constituição de 3 de Maio foi estabelecido como Data Nacional da República da Polônia.

Infelizmente as celebrações foram proibidas durante a segunda guerra mundial e no regime comunista.

Desde o ano 1990, os polacos novamente homenageiam a data em que foi proclamada a primeira constituição moderna na Europa.

O dia 3 de Maio é um feriado nacional no país inteiro.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Dia da bandeira da Polônia

Hoje, 2 de maio, comemora-se o dia da Polonidade e dos descendentes polacos ao redor do mundo.
Mas também é o dia da Bandeira da República da Polônia.


Na foto, o Palácio da Cultura de Varsóvia a esquerda, a Catedral e o Castelo de Wawel ao centro, e a Basílica Mariacka (Santa Maria), a direita (os 3 edifícios ao centro e à direita estão em Cracóvia).
As cores branca e vermelha da bandeira da Polônia foram escolhidas oficialmente em 8 de novembro de 1831, durante a chamada "Revolta de Novembro", o Sejm (Câmara dos deputados do parlamento polaco) decidiu que as cores nacionais da Polônia passariam a ser as do brasão da Comunidade Polaco-Lituana, ou seja, branco e vermelho.
Em 1 de agosto de 1919, o Sejm da Polônia independente criou a bandeira da Polônia na sua forma atual. Desde 2004, no dia 2 de maio é celebrado o Dia da Bandeira,na Polônia.

Já o dia da Polonidade, ou Dia da Comunidade de Descendentes de Polacos e dos Polacos no Exterior foi constituída pelo Parlamento em 2002, por iniciativa do Senado da República da Polônia “em reconhecimento ao acervo multissecular da comunidade de descendentes polacos e dos polacos no exterior, sua contribuição na recuperação da independência da Polônia, sua lealdade e interesse em cultivar os vínculos com a polonidade, bem como pela ajuda prestada à Pátria nos momentos mais difíceis”.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Varsóvia: Seminário Negócios com o Brasil


SEMINÁRIO “FAZENDO NEGÓCIOS COM O BRASIL” 

17 maio de 2018 Varsóvia,
BZ WBK Centro de Relacionamentos
Organizações: Embaixada do Brasil em Varsóvia, Câmara de Comércio Polaca-Portuguesa (PPCC)

Agenda de trabalho

CREDENCIAMENTO: 14:30 - 15:00

1. Discurso de abertura (15:00)
- H.E. Alfredo Leoni, Embaixador do Brasil na Polônia
- Dimitri Dias, Membro da Diretoria da Câmara de Comércio Polaco-Portuguesa
- H.E. Senador Adam Bielan, vice-presidente do Senado e presidente do Grupo Parlamentar Polonês Brasileiro - TBC H.E.
- Embaixador Orlando Leite Ribeiro, Diretor do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos do Ministério das Relações Exteriores do Brasil
- Tomasz Pisula, Presidente do Conselho da Agência de Investimento e Comércio Polaca (PAIH)

2. Apresentação macroeconômica / incentivos e oportunidades para investidores (15) : 30)
- Ministério do Desenvolvimento, Comércio e Indústria (Brasil) - TBC

3. Fazendo Negócios no Brasil - marco legal e desafios para investidores e comércio

(16:00) Paulo Cesar Teixeira Duarte Filho, LL.M., Sócio, Rothmann Advogados (SãoPaulo)

COFFEE BREAK (16:30 - 16:45)

4. Estudos de caso de investimentos polacos no Brasil (16:45)

a) Jan Dąbrowa, Diretor GTV Brasil (20 min) - indústria
b) Dariusz Bąk, Gerente Geral do Grupo Gremi / Eco Estrela (20 min) - turismo e lazer

5. Financiamento às exportações e investimentos (17:25)
- Grzegorz Pojnar, BZ WBK Santander, Departamento de Comércio e Finanças

6. Prospecção do mercado: Como a Câmara de Comércio Polaco-Portuguesa apóia as empresas polacas em Brasil (17:45)

- Wojciech Baczyński, Diretor Geral da PPCC

7. Apoio à parceria econômica polaco-brasileira: o papel da Agência Brasileira de Promoção de Investimentos e Investimentos –APEX (18:00)

- Alex Figueiredo, Diretor de Operações, APEX - Escritório de Bruxelas

8. Palavras finais (18:15)
- Embaixador Orlando Leite Ribeiro, Diretor do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos do Ministério das Relações Exteriores do Brasil

BUFFET JANTAR COM CULINÁRIA BRASILEIRA (18:30)

Miores informações:
Embaixada do Brasil em Varsóvia
ul. Bajońska 15,
03-963 Warszawa
Tel. +48 22 617 48 00
Fax. +48 22 617 86 89
e-mail: secom.varsovia@itamaraty.gov.br

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Março de 1968: Álbum da família de judeus emigrados

Estas fotografias poderiam ter sido tiradas do álbum de família de qualquer pessoa.

Sua mensagem é universal - elas mostram a liberdade de uma vida normal. Os eventos sombrios que estão por vir só podem ser vistos em pequenos detalhes, como a data em que as fotos foram tiradas.

Os "eventos de março", que se estenderam entre 1968 e 1969 resultaram no êxodo forçado de cerca de 15.000 judeus e pessoas com raízes judaicas, incluindo quase 500 acadêmicos e 1.000 estudantes. Sem mencionar jornalistas, escritores e atores. Muitos deles representavam a geração de "baby boomers" nascidos depois da guerra (pessoa nascida nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, quando houve um aumento temporário marcante na taxa de natalidade).

A Polônia era o local de nascimento deles, a casa deles, o lugar onde eles cresceram. Varsóvia, Szczecin ou Wrocław eram os únicos lugares que eles conheciam.

Por ocasião do 50º aniversário de março de 1968, a Galeria Kordegarda de Varsóvia apresentou uma exposição intitulada "Album Rodzinny: Zdjęcia, które Zydzi zabrali ze Sobą" (um álbum de família: fotos que os judeus levaram com eles).

Foi inspirado por Leszek Leo Kantor, um ativista polaco-judeu, que solicitou para outros emigrados de março, que compartilhassem suas fotos daquele período trágico. As fotos mostradas iluminam a vida das comunidades judaicas na Polônia entre 1946 e 1949. Kantor explica que:

"Ao sair, as pessoas levavam seus tapetes, talheres, cristais ou suas bicicletas antigas, porque não poderiam ter nada de novo. E as fotos..."

Depois da guerra
Foto do Album Rodzinny: Zdjęcia, które Zydzi Zabrali ze Sobą - cortesia do organizador
Esta foto acima é uma das imagens mais simbólicas da exposição. Provavelmente foi tirada durante uma aula de geografia ou história. Uma menina está estudando as novas fronteiras da Polônia, de como elas mudaram após a guerra. Com uma caneta, ela está tentando mostrar as três cidades do Báltico - Gdańsk, Gydnia e Sopot (Trójmiasto).

Varsóvia em ruínas, 1946 - Foto: cortesia do organizador
Varsóvia ainda estava em ruínas. É difícil reconhecer as pessoas na foto, mas está claro que nem todas sabiam que a foto estava sendo tirada. Isso coloca o fotógrafo em uma certa perpectiva e distância. Como resultado, a fotografia parece estar mais focada no espaço representado. A escolha dos emigrados para tirar essa foto é como dizer "Varsóvia costumava ser minha cidade".

Parentes
O primeiro dia de aula, ulica (rua) Miodowa 22, Varsóvia - Foto: cortesia do organizador
No texto que acompanha a exposição, Agnieszka Bebłowska-Bednarkiewicz reflete sobre o papel que a fotografia assume na reconstrução do tecido social das nossas sociedades. Ela também cita Susan Sontag, que falou sobre "parentes dispersos", simbolicamente reunidos em uma fotografia.

Esta foto acima mostra esses parentes. É o primeiro dia de escola após guerra e a primeira geração do pós-guerra. As ruínas da cidade velha (Stare Miasto) de Varsóvia aparecem no fundo.

foto do Album Rodzinny. Zdjęcia, które Żydzi Zabrali ze Sobą - Foto: cortesia do organizador
Uma cena da vida estudantil. O homem da direita parece ser o líder do grupo. Ele se senta firme, confiante, com a camisa desabotoada, o braço despreocupado ao redor da cintura da namorada. Ele está lendo algo que deve ser importante para o rapaz sentado na máquina de escrever. É um poema, um manifesto ou talvez um requerimento?

Não muito longe do Shtetl
Cozinheiras do Comitê Judaico em Wałbrzych, Baixa Silésia, na década de 1950 - Foto: cortesia do organizador
Muitas dessas fotos foram tiradas na região da Baixa Silésia. Depois da guerra, quase 100.000 judeus se estabeleceram lá. Artur Hofman, presidente da Associação Judaico-Cultural da Polônia, lembra:
"Foi como voltar ao nosso shtetl pré-guerra. Até a década de 1970, as ruas da minha cidade natal, Wałbrzych, eram dominadas pelo iídiche. Muitos polacos judeus se estabeleceram em outras cidades da voivodia como Dzierżoniów, Kłodzko, Zgorzelec, Świdnica e Legnica."

Foto do Album Rodzinny. Zdjęcia, które Żydzi Zabrali ze Sobą - Foto: cortesia do organizador
Fotos de eventos importantes, na exposição estão colocadas ao lado de outras com cenas de lazer. Aqui está um grupo de pessoas - mulheres e crianças - desfrutando de um passeio de barco no rio  Vístula (Wisła). A ponte Śląsko-Dąbrowski é visível em segundo plano. Ela foi um dos primeiros investimentos em infra-estrutura na Varsóvia do pós-guerra.

Privado, público
Foto do Album Rodzinny: Zdjęcia, które Zydzi Zabrali ze Sobą - Foto: cortesia do organizador
Um jogo de damas é acompanhado por uma leitura conjunta do diário Trybuna Ludu (Tribuna do Povo). Naquele dia, tinha ocorrido a 9ª reunião plenária do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores Unidos da Polônia e era estampada na primeira página.

Era maio de 1957. Władysław Gomułka, o líder do partido, falou contra os chamados "revisionistas", que eram membros do próprio Partido Comunista que buscavam continuar a democratização do sistema,  iniciado em outubro de 1956.
A reunião plenária resultou em uma dura avaliação de todos os membros do partido. Como consequência dela, 15% deles foram expulsos, enquanto a posição de Gomułka no Partido melhorou consideravelmente.
Na sequência, foi fechada a Po Prostu (Simples), revista liderada por reformistas. Isto marcou o fim do chamado "degelo de Gomułka".


Alunos da Escola de Ensino Médio de Educação, em Auschwitz, 1964 - Foto: cortesia do organizador
Para a primeira das gerações do pós-guerra, uma visita a Auschwitz deve ter sido uma experiência profundamente emotiva. Nesta foto, os alunos ficaram atrás do portão, perto dos pavilhões do campo alemão de concentração e extermínio. A maioria dos alunos olha para baixo, exceto a garota com a câmera dependurada no pescoço.
Ida Kamińska com seu filho Wiktor
Foto: National Center for Culture Poland

Sem lugares


Ida Kamińska foi uma das atrizes mais famosas que o teatro judaico na Polônia havia visto. Ela foi a primeira atriz do bloco oriental a ser indicada ao Oscar. A Academia apreciou seu desempenho como proprietária de uma loja de botões na "The Shop on Main Street", filme tcheco de Ján Kadár e Elmar Klos, de 1965.

Mais tarde, ela emigrou para Nova Iorque, onde tentou sem sucesso fundar o Teatro Yiddish. Em 1975, ela voltou a Varsóvia para o 50º aniversário da morte de sua mãe Ester Rachel Kamińska.
Seu pedido de visto entrou na agenda de uma reunião do partido comunista de alto risco. Eventualmente, temendo um escândalo, as autoridades a deixaram entrar.




Anna Frajlich-Zając nasceu de um casal judeu de Lwów (atual Lviv, na Ucrânia), que retornou da União Soviética a Polônia em 1946. Passou seus primeiros dias em Szczecin. Na esteira da campanha antissemita, Frajlich, acompanhada por seu marido e filho, emigrou para Roma e depois para Nova Iorque.
Último jantar  da poeta Anna Frajlich com sua família, Varsóvia, 9 de novembro de 1969 - Foto: cortesia do organizador
Frajlich-Zając trabalhou como professora de idioma polaco e jornalista. Ela publicou doze livros de poesia. Desde 1982, Frajlich leciona literatura polaca na Columbia University, em Nova Iorque.

Frajlich-Zając disse uma vez em uma entrevista:

"Esse momento continua voltando para mim, trazendo consigo uma grande variedade de perguntas. Onde é casa? Por que as pessoas que moravam na mesma rua espalharam-se pelo mundo? Quem tem o direito de definir o lugar de alguém?"


Texto: Michał Dąbrowski
Fonte: culturepl
Originalmente escrito em polaco, traduzido para português por: Ulisses Iarochinski

quarta-feira, 21 de março de 2018

Polacas vão as ruas contra a lei que não permite aborto

No cartaz: Continua o Inferno das Mulheres
Mulheres de diversas cidades da Polônia realizaram um ato a favor do aborto no último domingo, dia 18.

As manifestações foram organizadas após bispos do país terem feito um apelo pedindo uma intervenção “imediata” para a aprovação de um projeto de lei que limita a possibilidade de interrupção da gravidez em caso de má formação do feto.

Os atos ocorreram inclusive em frente às sedes episcopais de Varsóvia, Cracóvia, Wrocław e outras dioceses. A lei polaca atual permite o aborto em casos de estupro, risco de morte e má formação do feto. No entanto, a Igreja tenta barrar esse direito em qualquer situação.

A resposta do Parlamento, dominado por partidos conservadores e ultranacionalistas, foi rápida, pois decidiu acelerar a tramitação do projeto de lei. Caso a medida seja aprovada, o presidente polaco, Andrzej Duda, prometeu sancioná-la.

“O inferno das mulheres pode estar sobre a terra”, diziam as manifestantes. “Devemos defender nossa saúde, dignidade e a liberdade ameaçada pelos bispos”, afirmou a ativista Marta Lempart, que, em 2016 e 2017, organizara greves em defesa do aborto.

Fonte: Agência de Notícias ANSA

domingo, 18 de março de 2018

"Eu sou polaca de pele preta, não conheço nenhum outro país"


Rajel Matsili - Foto: arquivo pessoal
Matéria publicada no último dia 15 de março, na site da Rádio polaca TokFM, mostra de forma concreta a transformação pela qual tem passado a Polônia desde que o PiS- Partido Direito e Justiça tomou conta de todos os poderes da república polaca.

A onda de intolerância fomentada há alguns anos pelo padre da Igreja Católica Apostólica Romana, chamado pelos seus seguidores de Pai Tadeusz Rydzyk, foi um dos fatores que favoreceu a vitória do líder da ultra-direita polaca e seu partido, Jarosław Kaczyński.

O PiS de Kaczyński e Rydzyk detém a presidência da república, a chefia do governo com o primeiro-ministro e dois terços do Congresso Nacional da Polônia desde maio de 2015.

Atores e atrizes já foram retirados do palco dos teatros enquanto realizavam espetáculo porque estavam encenando peça de autor estrangeiro. Cantores foram impedidos de continuar o show porque estavam cantando músicas em inglês.

Os responsáveis por estas ações foram pessoas de um público fanatizado de seguidores de Kaczyński e Rydzyk - dois ideólogos do xenofobismo, do antissemitismo, do racismo e da intolerância.

Esta é a reportagem sobre uma polaca, nascida na Polônia, que fala o idioma perfeitamente (mais até que muitos outros no país), que sempre viveu na Polônia, mas que difere dos demais cidadãos por não ser branca, castanha, olhos azuis ou verdes. Este texto de uma jornalista loira, e polaca, como a entrevistada, é sobre uma pessoa de pele preta, olhos pretos e cabelos pichacos.

Esta é a história da polaca Rajel Matsili, filha de uma polaca branca e um negro do Congo.

WYZWISKA, SZTURCHAŃCE, SPUNICIE*

Situações desagradáveis ​​acontecem todos os dias. Finalmente, Rajel, uma mulher polaca negra, disse "basta!". Ela quis deixar imediatamente a capital da Polônia, onde se encontrou com o desprezo.

Esta reportagem começou com a entrada no Facebook de Agnieszka Łabuszewska, proprietária do Cafe Kulturalna, na qual Rajel estava empregada. "Duas semanas atrás, uma menina mudou-se para Varsóvia, de boa energia, com um sorriso, uma inteligência e uma vontade de trabalhar, que nós a adotamos no Kulturalna. Se é importante para qualquer um, por que não para nós, uma polaca de pele escura?" - escreveu Łabuszewska.

Meio mês de insultos em bondes, coletivos e nas ruas, cuspidas e chamandos de "negrinha suja" foram o suficiente. A polaca negra desacelerou e quis sair da cidade.

Em uma entrevista para o portal tokfm.pl, Rajel, de 27 anos, diz que é uma mulher polaca de pele preta e não conhece outra terra natal a não ser a Polônia. Ela pretende retornar para Cracóvia o mais rápido possível.

Anna Dryjańska: O que aconteceu durante as duas semanas que você passou em Varsóvia?

Rajel Matsili: Isto é habitual na minha vida até aqui, mas agora foi demais. Olhos hostis, empurrões, insultos de pessoas comuns na rua, porque eu sou preta. Xingamentos de "macaca", "selvagem", "negra". Sinceramente, eu pensava que Varsóvia fosse mais aberta.
Claro, os idiotas existem em todos os lugares, mas na capital eles parecem ser exageradamente em maior número. Eu não consegui me registrar na Biblioteca Praga Sul, porque um bibliotecário começou a me pedir de forma suspeita para eu mostrar meu contrato de trabalho e provar que "eu sou daqui".

Anna Dryjańska: Você pode dar outro exemplo?

Rajel Matsili: Peguei um bonde (ônibus elétrico) do bairro Praga para o Centro da cidade. Na parada de ônibus, uma mulher de cerca de 30 anos, quando passou por mim, cutucou-me tanto que quase caí. Ela disse "foda-se negrinha suja" e continuou andando. Dois caras do outro lado da rua, riram. Uma outra senhora viu, mas não disse nada. Eu já passei por muitas dessas situações, que até se tornaram corriqueiras.

Anna Dryjańska: A mulher te disse alguma coisa?

Rajel Matsili: Murmurou-me, como de costume. Eu sempre descarto uma reação. Quando uma pessoa se encontra numa situação destas, não pensa em uma pronta-resposta. Apenas uma vez eu respondi de bate-estaca.

Anna Dryjańska: Em que circunstância?

Rajel Matsili: Eu estava voltando para casa de trem, algumas pessoas no vagão, sem cabines, começaram a me chamar de "bruxa negra". Provavelmente pensavam que não eu entendia o idioma polaco. Eu me virei para eles e lhes pedi para pararem de me caluniar pelas minhas costas.  Surpresos com minha reação, eles ficaram em silêncio.

Em geral, as pessoas muitas vezes pensam que podem me insultar sem punição, porque não eu não entenderia nada. Mas eu falo polaco, esta é a minha língua materna. Nasci na Polônia, fui ao jardim de infância, escola primária, escola secundária, faculdade ... Não sou branca, meu pai é congolês e minha mãe é polaca.

Anna Dryjańska: O que seus pais fazem?
Bethuel Belvys Matsili - pai de Rajel

Rajel Matsili: São professores universitários. Minha mãe é doutora em história e filosofia e meu pai em ciência política.

Anna Dryjańska: Seu pai provavelmente também não teve facilidades aqui.

Rajel Matsili: Lembro-me de uma situação em meados dos anos 90. Viviamos em Cracóvia, alguém bateu na porta. Quando meu pai abriu a porta, alguém o atingiu no rosto com ácido. Ele teve problemas de visão por meio ano.

Anna Dryjańska: Ficaram cicatrizes?

Rajel Matsili: Não. Ele teve sorte de acabar apenas nessa agressão. Às vezes, penso em tudo isso e chego à conclusão de que não me tratam tão mal assim, afinal! As mulheres negras são tratadas na Polônia melhor do que os homens negros, de modo que, em comparação com os homens, eu tenho uma cota reduzida de maus tratos.

Anna Dryjańska: Como é a cota reduzida?

Rajel Matsili: Os ataques físicos contra mulheres negras ocorrem com menos frequência. É mais um xingamento, uma cuspida nos pés, sou ridicularizada por pessoas aleatórias na rua. Durante minha vida inteira, fui atacada fisicamente, e isso várias vezes, devido à cor da minha pele.

Prof dra Renata Matsili

Anna Dryjańska: Você pode descrever uma dessas situações?

Rajel Matsili: Fui em um show de punk em Pszów. Quando eu saí do ônibus após o concerto, estava esperando no ponto de ônibus, em dado momento, senti que alguém estava tocando meu braço. Eu me virei. Então alguém cuspiu na minha cara e gritou "Polônia para os polacos, puta que pariu!".
Recentemente, uma senhora veio até mim na rua. Ela foi mais gentil. Ela não cuspiu em mim e até usou "por favor".
Mas me lembro exatamente de suas palavras, ainda. "Você não é deste país, por favor, vá embora daqui", ela me disse.

Anna Dryjańska: Que pensamentos vêm à sua mente, então?

Rajel Matsili: Eu me pergunto o que estou fazendo aqui. Irrita-me que as pessoas me tratem como estranha, como alienígena. E, ao mesmo tempo, penso que, afinal, sou polaca e não conheço outra pátria. Então, quando essas pessoas me mandam ir embora, eu simplesmente não tenho para onde ir. Aqui está a minha casa. Eu sou polaca de pele preta. Dói-me que as pessoas me abordem na rua desta forma discriminatória.

Anna Dryjańska: O que você acha das pessoas que usam de violência racista contra você?

Rajel Matsili: Parece-me que são pessoas muito pequenas, complexadas, que buscam uma saída para sua insatisfação com a vida, e querem descontar suas frustrações em alguém. E essa pessoa sou eu. Lembro-me do racismo em minha infância. Então, a situação começou a melhorar aos poucos. Mas, agora, tem piorando muito nos últimos dois anos. Nas ruas domina só a selvageria.

Anna Dryjańska: Por que isso aconteceu?

Rajel Matsili: Neste período de domínio do PiS no governo e nas coisas públicas, algumas pessoas sentiram que têm permissão para agredir.

*xingamento, cutuco, cuspida.

Fonte:TokFM
Texto:Anna Dryjańska
Tradução e adaptação: Ulisses Iarochinski


COMENTÁRIOS DE POLACOS
NO SITE DA RÁDIO TokFM

Marek Trybut
Rasizm, antysemityzm, ksenofobia to ulubione ale nie jedyne paliwa polityczne Kaczyńskiego i PiS, Rydzyka i Kościoła. (O racismo, o anti-semitismo, a xenofobia são os combustíveis políticos favoritos, mas não os únicos, de Kaczyński e PiS, Rydzyk e da Igreja.)

71tosia
dawniej ludzie się wstydzili być rasistami czy po prostu ignorantami, dziś sa z tego dumni, niestety nie tylko w Polsce. (antigamente, as pessoas eram envergonhadas de serem racistas ou simplesmente ignorantes, hoje orgulham-se disso, infelizmente não só na Polônia.)

marc.pl
W ciągu ostatnich dwóch lat z Polaków wylała się gnojówka - Polska robi się jak śmierdzące szambo. Skąd w naszym narodzie jest tyle nienawiści do innych narodów, my nienawidzimy wszystko i wszystkich co nie jest PL.
(Nos últimos dois anos, um estrume líquido foi derramado pelos polacos - a Polônia está fazendo um poço de fumaça, onde na nossa nação há tanto ódio para com outras nações, odiamos tudo e todos os que não são PL.)

zocha6884
Straszne, przepraszam wszystkich za Polaków rasistów i antysemitów. Tak po ludzku jest mi wstyd
(Terrível, peço desculpa a todos pelos polacos racistas e antissemitas. Tenho vergonha desta gente.)

matuniak24
Boże , nie wiedziałam że jest aż tak źle, trudno uwierzyć, że moi rodacy są takimi prymitywami... Nikt nigdy nie stanął w jej obronie... Teraz rozumiem dlaczego PIS rządzi.
(Deus, eu não sabia que isso é assim tão ruim, é difícil acreditar que meus compatriotas sejam tão primitivos ... Ninguém nunca a defendeu ... Agora entendo por que o PIS reina.)

quarta-feira, 14 de março de 2018

Investimento estrangeiro na Polônia

Nesta edição do programa Spotlight, da TV Euronews, na Polônia, fazemos uma parada no porto de Gdańsk. Foi neste estaleiro que os trabalhadores em greve começaram a derrubar o regime soviético. Há 35 anos, um empresário francês decidiu se instalar no país para produzir catamarãs de luxo e criou a empresa Sunreef.

Nicolas Lapp, filho do fundador, é um dos diretores da empresa. O desafio para nós agora, é passar de uma economia de "imitação" a uma economia de "inovação".

euronews: “Porque razão o seu pai decidiu instalar-se na Polônia? Ele viu o potencial do país?”

Nicolas Lapp: “Os estaleiros de Gdańsk são um local histórico onde há muitas pessoas com diferentes competências na construção de embarcações. Quer seja na área do aço inoxidável, da madeira, dos materiais compostos, na construção de velas e de motores. Por isso trata-se de um lugar muito bom para construir nossas embarcações”.

euronews: “Quando ele chegou aqui vindo de França, ainda antes da mudança de sistema político, as pessoas deviam pensar que ele era louco, não?”

Nicolas Lapp: “Somos franceses e quando o meu pai se mudou para a Polônia, as pessoas perguntavam-lhe por que razão ele tinha vindo. Finalmente, penso que ele fez a escolha certa, ele percebeu que a Polônia iria se desenvolver e teve uma boa intuição”.

A Polônia atrai investidores tal como a Sunreef, há várias empresas internacionais que decidem investir no país devido à qualidade da mão-de-obra na Polônia. Para aumentar o número de investidores estrangeiros, a ministra polaca para o empreendedorismo e a tecnologia, Jadwiga Emilewicz, quer melhorar as competências tecnológicas do país.

euronews: “Estudou no estrangeiro e agora vive aqui há duas décadas. Tem visto muitas mudanças e inovações no país?”

Jadwiga Emilewicz: “As pessoas na Polônia começaram a pensar em termos de inovação. O que suscita muito otimismo e estou muito entusiasmada por fazer parte deste processo. A Polônia mudou muito não apenas no que diz respeito ao aspecto das cidades, mas também na forma de produzir, no que oferecemos aos clientes aqui e lá fora. Numa primeira fase, o mais importante foi favorecer o investimento estrangeiro e organizar o novo mercado de trabalho. Hoje temos uma das taxas de desemprego mais baixas da Europa. O desafio para nós agora, é passar de uma economia de imitação a uma economia de inovação”.

euronews: “Em que tipo de setores há uma aposta na inovação?”

Jadwiga Emilewicz: “Temos fama na área das tecnologias da informação para a biotecnologia e por isso as empresas de biotecnologias se instalam aqui. Os setores da Pesquisa e Desenvolvimento e as empresas polacas estão evoluindo. Há pessoas criando soluções inovadoras para os setores bancários e das finanças. As tecnologias da informação são uma área em crescimento na Polônia”.

A aposta na educação digital

A inovação chega também à área da educação. A empresa polaca Nuadu desenvolve métodos educativos para a era digital. Além da Polônia, a empresa está presente  em outros países, na Europa, na Ásia e na África do Sul. Paweł Czech é o vice-presidente da Nuadu.

euronews: “Hoje em dia, as crianças são bombardeadas pelos media digitais. Como tornar a escola mais interessante? É esse o objetivo do vosso projeto?”

Paweł Czech: “Hoje em dia, as crianças são confrontadas instantaneamente com os ‘gostos’ quando publicam fotos no Facebook e no Instagram. O único lugar onde não têm esse reforço positivo e esse estímulo tecnológico é na sala de aula. Graças ao nosso sistema, o professor pode dar um reforço positivo a cada aluno. Imaginemos um estudante que tem dificuldades em fazer divisões. Com a tecnologia certa o professor pode lidar com esse problema de forma instantânea”.

euronews: “Como é que a tecnologia e a inteligência artificial são usadas para melhorar a educação?”

Paweł Czech: “Usamos a inteligência artificial e algoritmos para acompanhar a aprendizagem e a progressão de cada aluno”.

A competividade na área cosmética

Irena Eris é outro dos rostos da inovação na Polônia. Lançou uma empresa de cosméticos que integra uma rede de spas e hotéis. A empresa faz parte do Comité Colbert, uma associação francesa que promove as indústrias do luxo.

Irena Eris: “Começamos com três pessoas, eu, o meu marido e um empregado. Quando recordo esse tempo, penso que o que aconteceu foi um milagre”.

euronews: “Compete com a L’Oréal, a nível mundial. Como enfrenta esse gigante?”

Irena Eris: Respondemos à necessidade dos nossos clientes e somos mais flexíveis do que as grandes empresas mundiais de cosméticos”.

euronews: “Sente-se entusiasmada perante o futuro?

Irena Eris: “No futuro queremos duplicar a nossa produção. Queremos expandir-nos a nível mundial. É o meu sonho e penso que vou conseguir realizá-lo”.

Assista:



Fonte: TV Euronews
Adaptação para o português do Brasil: Ulisses Iarochinski

quinta-feira, 8 de março de 2018

A luta das polacas numa Polônia invadida

Dizendo Não às Crianças, à Cozinha, à Igreja:
As Pioneiras dos Direitos das Mulheres na Polônia

Sufragistas demonstrando como ganhar dinheiro com esfregões e vassouras - Varsóvia, 1938. Foto: FoKa / Forum
Muitas heroínas importantes lutaram contra "mulheres sendo sacrificadas à mercê de potes e vassouras". Mas sua história ainda tem uma triste marca: muitas de suas demandas ainda não são atendidas até hoje.

Isto foi na segunda metade do século dezenove. A sociedade polaca vivia dividida em três territórios ocupados por monarquias estrangeiras, e as leis em cada um destes três territórios invadidos (Rússia, Áustria e Prússia - Alemanha) era muito opressiva contra as mulheres. Na parte alemã, havia umaa regra expressa por "Kinder, Küche, Kirche" ("Crianças, Cozinha, Igreja"), e na Rússia tzarista, as mulheres eram de fato, sujeitas aos seus maridos e pais.

As mulheres não tinham direito de votar nem frequentar escolas em nenhum dos territórios ocupados. Na Galícia austríaca (província no Sudeste polaco) elas também não podiam se filiar a partidos políticos. Ao mesmo tempo, as derrotas nas várias revoltas polacas contra as ocupações naquele período levaram a uma espécie de matriarquia.

Muitos homens polacos morreram combatendo os inimigos externos. Muitos foram forçados a emigrar ou foram exilados compulsoriamente na Sibéria. Assim, as mulheres tiveram que assumir os papéis tradicionalmente reservados aos homens na sociedade polaca. Foi nesse contexto que o movimento feminista floresceu em terras polacas.

* (sufragista = aquela que defende a extensão dos votos a todos, sem distinção de raça, sexo, poder econômico, origem etc.)

IRMÃS E ENTUSIASTAS

Retrato de Klementyna Hoffmanowa, 1834 - Foto: POLONA / www.polona.pl
Klementyna Hoffmanowa é a figura que geralmente está no início de qualquer história sobre o feminismo polaco.
É verdade que ela era uma mulher independente, que vivia apenas de sua profissão de escritora e atividade pedagógica, o que convenhamos naqueles dias, era certamente algo muito raro para uma mulher.
Mas ela era feminista?
Klementyna popularizou a educação das moças, mas seus trabalhos revelavam a antiga distribuição tradicional de papéis diferenciados para homens e mulheres.


Narcyza Żmichowska. Foto: Piotr Mecik / Fórum
O verdadeiro "motim feminista" na Polônia foi fomentado por suas alunas, principalmente uma delas: Narcyza Żmichowska.

Depois de se formar no Instituto das Governantas, em Varsóvia, a ex-aluna se tornou professora particular da família Zamoyski, em Paris.

Enquanto se ocupava das crianças da mansão, Narcyza entrou em contato com o movimento democrático francês e absorveu as ideias da primeira onda de feminismo daquele país. Esta participação acabou causando a perda do emprego na casa dos milionários polacos.


Dia de lavanderia: imagem humorística de 1901 - Foto: Roger-Viollet / East News
Narcyza voltou para a Polônia uma mulher mudada. Ela se envolveu em manifestações educacionais e públicas (ela até ficou presa algum tempo por causa disso), e chocou as pessoas com seu "estilo de vida masculino" (montando cavalos e fumando charutos).

Narcyza reuniu um círculo de apoiadoras que criou um grupo informal chamado "Entuzjastki" ("As entusiastas"). Seu objetivo era aumentar a influência feminina na vida pública e garantir a igualdade de acesso à educação.

Aquelas polacas promoveram ideias de autorrealização e independência econômica. Żmichowska escreveu: "Estude se você puder. Aprenda, se puder, e considere ganhar o suficiente para cuidar de si mesma. Porque, em caso de necessidade, ninguém a sustentará com apoio e cuidado".


Os textos de Żmichowska foram publicados na Pierwiosnek (prímula). Descrita como "uma revista composta apenas de textos de senhoras", foi a primeira publicação em idioma polaco feita estritamente por mulheres.

As atividades do grupo, baseavam-se na ideia de Żmichowska de "Posiestrzenie" (literalmente "irmandade"), ou seja, de uma afirmação das amizades platônicas entre mulheres. Aquelas mulheres se opuseram a casamentos arranjados sem amor, que elas alegavam serem simplesmente contratos financeiros entre famílias.

Outras membros do grupo Entuzjastki incluíam Eleonora Ziemięcka (a primeira filósofa feminina polaca) e Bibiana Moraczewska, escritora e ativista envolvida em questões ligadas à sociedade e à independência e uma conspiradora atrevida.

As ideias do Entuzjastki floresceram nas próximas gerações. Emergindo também deste período estava Ewelina Porczyńska, mãe de Paulina Kuczalska-Reinschmit, que foi apelidada de "hetman do feminismo polaco", e Wanda Grabowska, mais tarde Żeleńska, mãe de Tadeusz Boy-Żeleński, o homem que foi o principal feminista da Segunda República polaca.

*(hetman = condestável, ou maior posto militar do reino só superado pelo rei)

EXIGINDO DIREITOS HUMANOS


Maria Dulębianka em cartão postal pré-guerra - Foto: www.cyfroteka.pl
Entre as muitas demandas do movimento sufragista durante o período das ocupações estrangeiras na Polônia, duas delas vieram fortemente à tona: direitos políticos e igual acesso à educação.

A ação que causou a maior agitação (hoje, podemos chamá-la de "performance") foi quando Maria Dulębianka, uma companheira muito próxima da escritora Maria Konopnicka (escreveu o clássico da literatura polaca "Pan Balcer w Brazylii" - O Senhor Balcer no Brasil), participou da eleição para o Sejm (Câmara dos Deputados) da Galícia austríaca, em 1908.

Dulębianka recebeu mais de 400 votos (dos homens, naturalmente). Contudo, apesar desse resultado respeitável, sua inscrição como candidata foi rejeitada "devido a questões formais".

* O romance "Pan Balcer no Brasil" descreve a adaptação dos imigrantes polacos nas colônias de Curitiba e Sul do Paraná. Konopnicka procurou retratar a vida do engenhoso ferreiro Sr.Balcer. A obra apresenta a vida de Jósef Balcerzak, que imigrou para o Brasil, mas, desiludido com a “Nova Polônia” ultramar, onde encontrou “um país maravilhoso, porém hostil” (SIEWIERSKI, 2000, p. 113), decidiu retornar ao seu país de origem.
*“Nova Polônia”...Assim era chamado o Paraná, na imprensa polaca da época. 

Sufragistas britânicas em 1913 - Foto: AKG / East News
As sufragistas polacas não foram presas ou espancadas como suas colegas britânicas, mas seus slogans foram tratados por muitos com aversão e escárnio.

A imprensa imprimiu caricaturas condenatórias e comentários sobre elas, criticando seu compromisso com "assuntos triviais", enquanto a Polônia era mantida em cativeiro. "Uma mulher está por fora da sua própria nação?", Retrucou Dulębianka.

Rosa Luxemburg durante um discurso em Stuttgart, 1907 - Foto: East News
Mesmo o espectro político mais a esquerda sempre sabotou suas ações. Em seu livro "Damy, Rycerze i Feministki" ("Damas, Cavaleiros e Feministas"), Sławomira Walczewska escreveu que "os socialistas ofereciam palavras de apoio aos sufragistas durante seus comícios, mas ao mesmo tempo proibiam seus membros de participar de reuniões de sufragistas".

Nascida na bela cidade polaca de Zamość (atualmente no Leste da Polônia), Rosa Luxemburg escreveu que as mulheres burguesas que "saboreiam os frutos prontos da dominação das classes", acrescentam "um traço burlesco" ao movimento sufragista. Na opinião de Rosa, a emancipação das mulheres teria que acompanhar uma revolução social:

"As mulheres proletárias, as mais pobres dos pobres, as mais privadas daqueles que não têm direitos: venham lutar pela libertação das mulheres e da humanidade contra as atrocidades da dominação capitalista".

O movimento das mulheres se declarou apolítico, mas não conseguiu superar as divisões da nação. As tentativas de estabelecer cooperação entre ativistas polacos, judeus ou rutenos (os atuais ucranianos) muitas vezes se desmoronaram devido a antagonismos nacionalistas. Esta situação continuou mesmo depois que a Polônia recuperou a independência, em 11 de novembro de 1918, depois de 127 anos de ocupação estrangeira. Período em que a Polônia foi apagada do mapa do mundo.

Emancipadas em 1912, Berlim - foto: AKG-Images / East News
É impossível escrever sobre o movimento das mulheres no século 20 sem mencionar Paulina Kuczalska-Reinschmit, fundadora da Związek Równouprawnienia Kobiet Polskich (A Associação Polaca da Igualdade das Mulheres) e editora-chefe da revista Ster.

Ster deveria ser uma plataforma para troca de informações entre sufragistas espalhadas pelos três territórios invadidos e ocupados na Polônia. Ela publicou não apenas textos humorísticos, mas peças literárias de Orzeszkowa, Konopnicka e Żeromski, e tentou atrair um público maior com uma coluna regular de Ludwika Ćwierczakiewiczowa, autora de livros de culinária e guias para donas de casa, que eram muito populares na época.

MULHERES FORTES
Membros da Sociedade Lublin para a Promoção da Educação "Światło" da cidade de Nałęczów: Faustyna Morzycka, Stefan Żeromski, Gustaw Daniłowski, Przemysław Rudzki, Helena Dulęba, Kazimierz Dulęba, Felicja Sulkowska, 1906.
Foto: POLONA / www.polona.pl
A maioria das sufragistas estava envolvida em atividades educacionais, especialmente para aqueles excluídos ou privados de acesso à educação. Foram estabelecidas iniciativas, muitas delas ilegais, como as salas de leitura para mulheres, "Universidades de Vôo" e "Kobiece Koła Oświaty Ludowej" (Círculos educativos para mulheres).

Figuras importantes estavam incluídas nestas atividades como: Faustyna Morzycka, organizadora de grupos educacionais e membro do PPS - Partido Socialista Polaco, que inspirou o escritor também polaco, Żeromski, a escrever a história da Siłaczka (Mulher forte), Filipina Płaskowicka, fundadora da Koło Gospodyń Wiejskich (A Associação das Mulheres Rurais) e Stefania Sempołowska, que diziam ter "participado de tudo o que aconteceu na Polônia durante seus 50 anos de vida ativa".

Reprodução: U Źródeł Kwestii Kobiecej Fonte da questão das Mulheres) por Kazimiera Bujwidowa, 1910, Cracóvia; Czy Kobieta Powinna Mieć Te Same Prawa Co Mężczyzna? (As mulheres devem ter os mesmos direitos que os homens?), 1909, Cracóvia; e um retrato de Kazimiera Bujwidowa - Foto: POLONA / www.polona.pl
Kazimiera Bujwidowa, fundadora da primeira escola secundária para meninas na Polônia, foi incansável em sua luta pelas mulheres terem igual acesso à educação.

Em sua escola, as alunas podiam fazer um exame final, que era o primeiro passo para se candidatar a uma vaga na universidade, algo inédito até então para as mulheres.

Bujwidowa também iniciou uma campanha para que as mulheres se candidatassem à Universidade Iaguielônica (a mais antiga e prestigiada universidade polaca, de 1364). Instituição que se tornou a primeira no país a aceitar estudantes do sexo feminino, em 1897.

Outra questão importante impulsionada pelas sufragistas foi o direito dos trabalhadores. A desproporção entre os salários entre os sexos era enorme e as mulheres eram muitas vezes despedidas quando se casavam ou ficavam grávidas.

O tráfico de seres humanos também era um grande problema social. Nas cidades e aldeias da Europa Centro-Oriental, muitos criminosos enganavam as mulheres não privilegiadas, oferecendo-lhes empregos lucrativos, apenas para colocá-las em bordéis.

A máfia judia Izvi Migdal, que atuava em Varsóvia, Rio de Janeiro e Buenos Aires traficou para o Brasil e Argentina várias moças eslavas de origem judaica para serem vendidas no Largo da Carioca e na Boca bonairense. Estes mafiosos judeus se casavam com moças nas pequenas vilas da Europa Oriental e depois vendiam as jovens esposas na América do Sul como mercadoria. Uma das repercussões desta prática foi o termo "polaca" ser associado no Brasil à prostitutas cariocas e obrigar a elite polaca curitibana a criar o termo "polonês". A tentativa de fugir do preconceito ao longo dos anos se revelou também preconceituoso por discriminar o correto gentílico em língua portuguesa: "polaco". (O Brasil é o uníco dos 8 países lusófonos a não usar a palavra "polaco" em referência à etnia). O termo "polonês" usado no Brasil foi criado em 1927, em Curitiba. Em 1880, o Imperador D. Pedro II expulsou 20 destes cafetões judeus do Brasil acusados de tráfico de mulheres.

Ativistas polacas lutaram contra este tráfico organizando missões nas estações de trem, onde abordavam à revelia de seus "maridos" aquelas pobres mulheres de origem judaica que chegavam. As ativistas procuravam lhes dar trabalho e providenciavam acomodações, ou quando não, ajudavam-nas a encontrar um emprego.

"QUEREMOS UMA VIDA COMPLETA!"
Uma apresentação de "Casa de Mulher" de Zofia Nałkowska no Teatro Polaco, em Varsóvia, 1930. A foto inclui o escritor e as atrizes. Sentado a partir da esquerda: Maria Przybyłko-Potocka, Zofia Nałkowska, Stanisława Słubicka, Wanda Barszczewska e Honorata Leszczyńska. Da esquerda: Karolina Lubieńska, Wanda Siemaszkowa, Mila Kamińska e Janina Muncklingrowa. Foto: Narodowe Archiwum Cyfrowe / www.audiovis.nac.gov.pl
A geração feminista mais jovem, que, parafraseando Zofia Nałkowska, já sabia que elas "têm o direito de ter direitos", era algo a mais do que ter direito à voto ou acesso à educação, mas sobre mudar costumes rígidos e hipócritas. Izabela Moszczeńska escreveu em seu artigo de 1904, Cnota Kobieca (Virtudes das Mulheres):

"Conceder às mulheres o direito de estabelecer e romper relacionamentos românticos, sem limites, sem escrúpulos, sem remorsos, está muito além das fronteiras da visão de mundo atual (...) Este tipo de moral degrada as mulheres e as reduz ao papel de vaca bem comprada e bem protegida".

Moszczeńska alertava para tópicos de uma moralidade considerada audaciosa naquele período, e que por isso mesmo, ultrapassou não apenas a opinião pública, mas também dividiu a comunidade feminista. O discurso de Nałkowska, Uwagi o Etycznych Zadaniach Ruchu Kobiecego (Observações sobre as tarefas éticas do movimento das mulheres), no Encontro da Mulher Polaca (Zjazd Kobiet Polskich) em 1907, terminou em grande escândalo. Houve tentativas de interromper a leitura. Solidárias a Moszczeńska, Konopnicka e Dulębianka deixaram a sala indignadas com tantas interrupções. O discurso de Nałkowska incluiu o seguinte:

"Nosso objetivo é reavaliar completamente a ética governante de hoje. A divisão das mulheres seja moral ou imoral, baseia-se no ponto de vista masculino. Nossa libertação deve nos dar um novo critério de classificação, um novo censo ético. Nem nossas qualidades eróticas, nem nossa atitude em relação aos homens devem ditar nossa moralidade".

A escritora terminou seu discurso com uma frase marcante: "Queremos uma vida completa!".

Ela escreveu em seu diário:

"Um homem pode conhecer a plenitude da vida, porque ele vive como homem e como ser humano. Mas para uma mulher, há apenas uma fração de vida - ela deve escolher entre ser uma mulher ou um ser humano".

É possível que conclusões semelhantes tenham influenciado a sua rival, Maria Komornicka, jovem poeta a mudar suas posições e adotar um pseudônimo e modo de ser.

Em 1907, Komornicka queimou publicamente sua roupa, vestiu roupas masculinas e começou a se apresentar como Piotr Odmieniec Włast. Sua família pensou que ela tinha ficado louca e a colocou em uma instituição psiquiátrica.

TORNANDO-SE CIDADÃS


Aleksandra Piłsudska em 1930 - Foto: POLONA / www.polona.pl

Em 1903, Paulina Kuczalska-Reinschmit escreveu:

"Ao longo da história, em todos os períodos em que as sociedades floresceram ou tiveram graves turbulências as mulheres foram levadas à luz. Um escravo passivo que sempre participa de revoltas momentâneas, uma vez que a era pacífica retorna, é novamente deixado nas sombras da casa - sem ter sua recompensa pelas realizações conjuntas".

Quando a Polônia estava à beira da independência do jugo estrangeiro, tornar a legislação igual para ambos os sexos não era uma questão proeminente. O primeiro rascunho da Constituição, em 1917, não considerou o tema em absoluto.

O marechal Józef Piłsudski, era um daqueles que não estava convencido e pensava que as mulheres eram conservadoras por natureza e suscetíveis à manipulação.

No entanto, em 28 de novembro de 1918, um grupo de sufragistas se reuniu fora de sua casa no bairro de Mokotów, em Varsóvia e se manifestaram pela igualdade dos sexos numa nova Polônia liberta. Os guarda-chuvas que elas costumavam bater nas janelas logo se tornaram símbolo do movimento.

O marechal as manteve esperando por várias horas na chuva e congelando no frio, lá fora, mas finalmente se deu por vencido.

Uma das razões para sua capitulação foi certamente Aleksandra Piłsudska, sua esposa na época, que também era ativista feminista. A Constituição foi, portanto, alterada para se tornar os sexos iguais em direitos e deveres e incluiu o direito das mulheres de votar no país recém-reformado.

Jozef Piłsudski é recebido em uma estação de trem em Varsóvia após o seu regresso da prisão em Magdeburg, 11 de novembro de 1918 - Foto: Piotr Mecik / Forum
Depois que a declaração foi escrita no papel sobre a igualdade de gênero, muitas ativistas passaram a um ativismo social mais amplo: queriam agora elevar os padrões da educação, melhorar as condições das mães e fazer campanhas contra o alcoolismo.

Mas outros viram isso como um movimento apenas simbólico e não real, por isso não aceitaram que a luta acabasse apenas nos artigos da Constituição.

As mulheres finalmente ganharam direitos eleitorais naquele 28 de novembro de 1918 pelo decreto do Chefe de Estado Provisório Józef Piłsudski.

O decreto em relação à lei eleitoral estipulava que para o Sejm (Congresso Legislativo) "todas as cidadãs são eleitoras nas eleições para o Sejm" (artigo 1) e "Nas eleições para o Sejm todos o são, os cidadãos do país com direito eleitoral ativo" (artigo 7 ). Essas disposições foram mantidas pela Constituição de março.

As primeiras mulheres polacas a tomar assento no parlamento polaco foram Gabriela Balicka, Jadwiga Dziubińska, Irena Kosmowska, Maria Moczydłowska, Zofia Moraczewska, Anna Piasecka, Zofia Sokolnicka e Franciszka Wilczkowiak.

* Por sua vez, a mulher brasileira só viria a conquistar seu direito ao voto mais de uma década depois. No código eleitoral Provisório (Decreto 21076), de 24 de fevereiro de 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, o voto feminino no Brasil foi assegurado, após intensa campanha nacional pelo direito das mulheres ao voto.

TEMAS DE "GÊNERO" NA SEGUNDA REPÚBLICA POLACA


Maria Pawlikowska-Jasnorzewska em seu apartamento em Cracóvia.
Foto: Narodowe Archiwum Cyfrowe / www.audiovis.nac.gov.pl
Apesar de ser uma letra apenas temática na Polônia de hoje, a letra ''G" não foi usada comumente durante o período entreguerras.

Muitos dos debates ideológicos de então, tinham muitas semelhanças com as disputas atuais. Um dos temas mais interessantes era a lei anti-aborto que recomendava punição de até cinco anos de prisão. Escrevendo na década de 1930, Justyna Budzińska-Tylicka comentou:

"Quando uma mulher não quer, ou não pode dar à luz; Quando ela se encolhe com o pensamento de dar à luz uma criança indesejável, ela é forçada a dar à luz, contra a vontade dela, uma criança cuja chegada poderia trazer um destino trágico para a mãe - então essa mulher é submetida ao antigo, a uma legislação masculina não realista e rigorosa em nosso código penal que a obriga a dar à luz, que exige a maternidade forçada. Um código que grita com uma voz desumana: mulher, você deve dar à luz"!

Budzińska-Tylicka, cujo trabalho ligou práticas médicas com atividades feministas e socialistas, contribuiu para a fundação da primeira Clínica de Maternidade Consciente da Polônia, voltada para mulheres de classes sociais mais baixas.

Havia uma inscrição acima da porta da frente da clinica com os dizeres: "Não interrompemos a gravidez aqui - nós a impedimos". Mas os jornais em todo seu espectro político desconsideraram suas intenções e, em vez disso, escreveram extensivamente sobre como esses tipos de clínicas se inspiravam em elementos estrangeiros e por isso acabariam por levar o país ao despovoamento.

Além de sua preocupação com as mulheres, a campanha para a paternidade consciente também foi motivada pelas teorias da eugenia que eram populares na época. Na literatura, o poema Prawo Nieurodzonych (Direitos dos não-nascidos) de Maria Pawlikowska-Jasnorzewska era resumido assim:

(...) Não queremos subterrâneos sombrios, As maldições de um pai, um machado levantado, canções de ninar feitas de matadouros e gritos! 


Irena Krzywicka em seu uniforme masculino, 1914. Foto: POLONA / www.polona.pl
Dois dos outros fundadores da Clínica Consciente foram Tadeusz Boy-Żeleński e sua companheira de longa data, Irena Krzywicka.

Considerada uma das pessoas mais escandalosas do período entreguerras, Krzywicka proclamou que "o crepúsculo da civilização masculina" estava próximo e lutou por questões consideradas tabu naquela época, como direitos para minorias sexuais e o poliamor.

Ela lutou contra o aborto forçado nos subterrâneos e exigiu garantias de que as mulheres recebessem três dias de folga durante a menstruação.

Além disso, ela teve uma relação aberta com seu marido, Jerzy Krzywicki, e não escondeu ter um caso com Tadeusz Boy-Żeleński. Fato que apenas confirmava a opinião das pessoas que a declaravam como a corrupta da moralidade.

Sufragistas britânicas em 1910. Foto: East News
Em última análise, as mulheres polacas apresentadas aqui são apenas a ponta do iceberg entre centenas de mulheres esquecidas que desafiaram os estereótipos.

Todas elas são válidas de serem lembradas no dia Internacional da Mulher, isto porque, o passado não é apenas "história", mas também é "a história delas".

Fonte: Culture.pl
Texto: Patryk Zakrzewski
Tradução e adaptação: Ulisses Iarochinski