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Aos 74 anos, voltando de uma caminhada pelo Parque Barigui em Curitiba |
Minha mãe Eunice faleceu nesta quarta-feira, 25 de abril de 2012, às 12:24 horas, na Unidade de Saúde do Campo Comprido, em Curitiba, de parada cardíaca. Estava com 74 anos. Sofreu muito nas ultimas semanas de dores, como aliás desde 1984 quando foi detectada a artrite reumatoide que a acompanhou severamente. Mas não foi essa doença incurável que a tirou de mim e de meu irmão.
O velório foi realizado a partir das 22 horas no Cemitério Vertical, rua Konrado Adenauer, 940, bairro Tarumã (atrás do Jockey Club), capela 1. O sepultamento se deu às 14 horas da quinta-feira.
Na última despedida, pedi aos familiares e amigos que ouvissem minhas palavras finais. Disse que ela deixava de ser uma heroína para se tornar um Mito. E pedi uma salva de palmas, no que fui atendido calorosamente.
Eunice Pereira Iarochinski provocou uma dor imensa pela perda e uma alegria enorme por estar agora acolhida nos braços de Deus todo poderoso.
Eunice Pereira Iarochinski, filha de Honorato Pereira da Silva e Maria Silveira Pereira da Silva. Viúva de Cassemiro Iarochinski. Deixou dois filhos, Ulisses Iarochinski e Cicero Iarochinski. Nasceu em 18 de agosto de 1937 em Palmeiral - MG e faleceu em 25 de abril de 2012, com 74 anos 8 meses, e 7 dias, em Curitiba - PR.
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Dias atrás - feliz por não sentir dores e querendo sair a passear |
Anos atrás enviei uma crônica de dia das mães, contando a ela das minhas emoções na Polônia, terra de meu avô paterno. Mas ao final reconhecia a sua figura como a mais importante que já tive nesta vida:
Crônica para Eunice
Quando criança minha mãe comprava muitos livros para mim e meu irmão. Interessava-me pelos livros de aventura, principalmente. Lembro-me de “Sete Léguas Submarinas” e “Moby Dick”.
Por essa época o homem também chegava a Lua. Certamente a maior aventura da humanidade. Fiquei com os olhos grudados na tela preto e branco da TV vendo Armstrong e Aldrey pisarem o solo lunar naquele junho de 1969. Li quase tudo o que foi publicado a respeito.
Até então, minha maior aspiração era ter um Jipe azul para sair pelo mundo. Mesmo carro que meu pai tinha quando era vivo (Ele morreu assassinado quando eu tinha pouco mais de dois anos de idade).
... Porém, a frase "um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade", ficou gravada na minha mente. Dali em diante não bastava mais ter um Jipe, queria mesmo era um foguete espacial. Para quem não tinha nenhuma resposta quando perguntavam: - o que você quer ser quando crescer? Agora eu tinha na ponta da língua: - Quando crescer quero ser astronauta!
Contudo, para isso ocorrer, precisava por em prática meus planos. O primeiro passo foi me inscrever num curso técnico de eletricidade, que concluí. Até então, o sonho permanecia. Logo em seguida fiz o curso técnico em telecomunicações, que também concluí. Mas aí, já era tarde para meu sonho! Os planos para engenharia eletrônica foram trocados pelo curso de jornalismo na universidade.
Além das aulas do curso técnico, o teatro e seu diretor ator José Maria Santos tinham me encantado por essa época e os sonhos da lua foram trocados pelos sonhos do espírito, das verdades que embalam os seres humanos...
E aí a vida deixou de ser um sonho de menino nos céus, para ser o de escudeiro da realidade entre os homens...
Pois, inconscientemente imagino até que, aquelas imagens de 1969 podem ter sido criadas pela imaginação dos homens e Neil Armstrong deve ter dado aquele passo em algum outro lugar, porém nunca na Lua. O mais provável é que tenha sido no deserto do Estado de Nevada.
... Depois de muitas conquistas pessoais e profissionais, vejo-me realizando um sonho que talvez no fundo, no fundo não seja meu mesmo. Sou doutorando em história na sexta mais antiga universidade do mundo.
Pela primeira vez, desde que meu bisavô emigrou com minha bisavó, meu avô e seus irmãos para o
Brasil, em 1911, retorna à Polônia, um
descendente. Vivo momentos de intensa emoção aqui nesta terra milenar, como por exemplo, num dos vôos entre Varsóvia e Cracóvia, quando vi pela pequena janela do avião Embraer (sim avião brasileiro), a terra do meu avô toda branca coberta de neve e chorei...muito. As lágrimas teimavam em cair sem cessar. Não sei realmente se fui... eu! Ou a alma do meu avô... da minha avó...do meu bisavô, da minha bisavó que emocionados verteram lágrimas nos meus olhos.
Ou então, dias atrás quando saindo da Reitoria da Universidade Jagiellonski, vi o bosque que circunda o centro da cidade de Cracóvia todo coberto de neve. Aí, acho que quem se emocionou fui eu mesmo. Naquele momento não me lembrei dos meus avôs polacos...
Recordei apenas de uma pessoa...de ninguém mais que não fosse minha mãe, que não tem nada de polaca...Nem nada!
Pois é brasileira, mineira-paranaense, que lá, muito distante, tem suas origens em Portugal.
Andando sob o caminho pavimentado de branca neve, pensava nos dias difíceis que ela passou sozinha, após a morte do meu pai e ainda jovem se dispôs a lutar para transformar duas crianças em homens. Creio, que os meus passos, neste caminho branco do inverno polaco, são testemunhas de que ela conseguiu isto.
Acredito também naquela frase que fala sobre a pessoa que não valora aqueles que lhe antecederam. Esta pessoa não consegue dar nenhum passo adiante...Estaciona!
Ao contrário, quero ir sempre em frente!
Por isso obrigado... polacos, brasileiros, paranaenses, mineiros e portugueses das minhas origens... e a meu sonho de menino(?)...
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Aos 33 anos, no bairro Macopa, em Telêmaco Borba - PR |
Cartas de terras distantes
Mãe Eunice
Que pode ser
Nice
Nice (naice em inglês é legal).
Mas você Eu
Nice é muito mais que isso.
É minha mãe
heroína.
E já dizia
Bandeira
O que não
tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros -- perdi-os...
Tive amores -- esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
MINHA MÃE
EUNICE...
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino,
Para
arquiteto “NÃO ME CRIOU” meu pai.
“CRIOU-ME
JORNALISTA, MINHA MÃE”
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
“FIZ-ME
JORNALISTA”
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
PARA QUE
MINHA MÃE EUNICE
SEJA SEMPRE
FELIZ
MESMO QUE
MINHA DISTÂNCIA
A DEIXE
SEMPRE TRISTE
Eu volto para
que sua felicidade seja eterna.
Beijos e
muitas felicidades em seu aniversário
Ulisses – 18
de agosto de 2006 – Cracóvia Polônia
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Casamento em janeiro de 1958, em Harmonia - Monte Alegre / Tibagi -PR |
Dona Eunice, minha mãe
A vida não tem sido fácil pra a senhora. Não preciso nem lembrar quantas tragédias grandes e pequenas a senhora teve que passar. Mas sempre com valentia, com coragem a senhora foi superando tudo. Depois quando finalmente as coisas pareciam estar encaminhadas, seus filhos formados na universidade, trabalhando, a senhora começou a sentir estas dores horríveis.
Terminar a universidade, trabalhar, conquistar o reconhecimento de muitos sempre teve um único objetivo para mim: agradecer todo o empenho, luta e dedicação da senhora para comigo e meu irmão. A senhora nos fez homens. Talvez isso já bastasse para a senhora. Mas diante de tudo o que a senhora passou, considero minhas conquistas muito pouca coisa diante do muito que me foi dado pela senhora.
Foi assim que vim para a Polônia, não só para viver no país que me deu este sobrenome, mas muito mais do que isso, para superar as barreiras de um filho criado com todas as dificuldades, como foi o meu caso. Com tanta renúncia que a senhora foi obrigada a passar e a conviver.
Este meu sacrifício (sim tem sido, pois não é fácil viver longe da senhora) de vir aqui tentar um título, um diploma de doutor que é o máximo da educação de qualquer país... Tem um único objetivo: Compensar um pouco tudo o que a senhora tem feito ao longo da vida por mim. Quero chegar ao topo para poder dizer: apesar da pobreza, apesar da orfandade, apesar dos governos...apesar de tudo... Um menino pobre do interior conseguiu chegar ao mais alto da educação: doutor. E sabem por que? Por que eu tive como mãe uma heroína, uma mulher forte. Muito mais forte que todas as dores e doenças juntas, que todas as injustiças que cometeram contra ela. E quero dizer isso com um orgulho infinito... e ainda perguntarei para aqueles que esperam da igreja, do governo uma vida melhor, uma escola: Sabem quem foi meu patrocinador, meu governo, meu professor, minha escola e minha coragem? Pois lhes digo com todo amor: MINHA MÃE!!!!
Sei que estas com saudade de mim, que nos momentos de maior nostalgia até pode passar pela sua cabeça que não terá forças para esperar pela minha volta. Mas é com a maior humildade e o maior carinho que peço: POR FAVOR, ESPERE POR MIM... Quero viver ainda muitos anos ao seu lado. Meus planos incluem além de estar o tempo todo com a senhora, passear muito, viajar junto... Trazer a senhora de novo a Europa. Ir a Portugal, Itália, França, Grécia, Egito e Polônia com a senhora. Vou voltar arrumar um bom emprego, reformar a casa e passear muito com a senhora.
MINHA MÃE EUNICE tenha só mais um pouco de paciência... Mais uns meses e estarei de volta.
Seu filho que a ama e idolatra
Ulisses
Cracóvia, 22 de janeiro de 2007.