Ascensão e queda da banda polaca
IRINÊO NETTO
O cronista Dante Mendonça fala sobre a história e o humor dos imigrantes poloneses em Curitiba
Até pouco tempo atrás, usar o termo “polaco” em relação a alguém de sangue polonês era uma ofensa grave. Ninguém sabia explicar muito bem o porquê, mas era melhor evitá-lo.Hoje, existe até quem defenda que o mais apropriado é polaco e não polonês. No final das contas, as duas palavras têm o mesmo significado e ambas podem ser tão ofensivas (ou não) quanto qualquer outra, dependendo do modo como se fala e do contexto da conversa.A discussão sobre o certo e o errado no universo dos imigrantes poloneses no Paraná está nas primeiras páginas de A Banda Polaca – Humor do Imigrante no Brasil Meridional. Disposto a reunir algumas das histórias engraçadas envolvendo o povo que, recém-chegado ao Brasil, carregava um sotaque que os levava a falar “iéu” no lugar de “eu” e a usar gerúndio (“dizendo”) sempre que um verbo no infinitivo (“dizer”) era necessário, Dante Mendonça se viu diante de um “campo minado”. Atravessá-lo era mais difícil do que podia imaginar.“O humor étnico é sempre complicado”, admite o cartunista, cronista e autor do livro Botecário. “A Yoko Ono (viúva de John Lennon) disse que a mulher é o negro do mundo. Pois os poloneses são tidos como os negros da Europa”, explica. Como não queria fazer uma típica coletânea de piadas, o escritor acabou criando uma obra que mistura elementos históricos e humorísticos.
Mendonça: terreno minado
Descendente de italianos, nascido em Nova Trento (SC), Mendonça veio para Curitiba em 1970 e, seis anos depois, era um dos responsáveis por instituir a Banda Polaca, espécie de resposta curitibana bem-humorada ao carnaval carioca.
Se, no Rio, as mulatas sambavam debaixo do sol, na capital paranaense, de “pluviosidade acima da santa paciência”, seriam as polacas a desfilar em carros abertos.A Banda Polaca entrou em crise em 1981, ano em que agrediram o travesti de nome Gilda que levou um chute na cara enquanto tentava subir em um dos carros do desfile. Um ano depois, a banda passou a se chamar Vermelha e Preta. Era o início do fim (que veio no ano seguinte).“Vinte e seis anos depois, a Banda Polaca ressurge no papel para emprestar seu nome ao título deste livro, com o sentido de parte, lado, jeito de um Brasil diferente”, escreve Mendonça na apresentação, para depois dedicar o livro aos integrantes da banda, que o fizeram “polaco com muito orgulho”. O prefácio é do jornalista Ulisses Iarochinski e o posfácio, do escritor Wilson Bueno.
Mendonça: terreno minado
Descendente de italianos, nascido em Nova Trento (SC), Mendonça veio para Curitiba em 1970 e, seis anos depois, era um dos responsáveis por instituir a Banda Polaca, espécie de resposta curitibana bem-humorada ao carnaval carioca.
Se, no Rio, as mulatas sambavam debaixo do sol, na capital paranaense, de “pluviosidade acima da santa paciência”, seriam as polacas a desfilar em carros abertos.A Banda Polaca entrou em crise em 1981, ano em que agrediram o travesti de nome Gilda que levou um chute na cara enquanto tentava subir em um dos carros do desfile. Um ano depois, a banda passou a se chamar Vermelha e Preta. Era o início do fim (que veio no ano seguinte).“Vinte e seis anos depois, a Banda Polaca ressurge no papel para emprestar seu nome ao título deste livro, com o sentido de parte, lado, jeito de um Brasil diferente”, escreve Mendonça na apresentação, para depois dedicar o livro aos integrantes da banda, que o fizeram “polaco com muito orgulho”. O prefácio é do jornalista Ulisses Iarochinski e o posfácio, do escritor Wilson Bueno.
A banda: garotas participam do carnaval de 1976
Curitiba é a terceira cidade do mundo em número de habitantes de origem polaca – atrás de Chicago e de Varsóvia – e a única do Brasil a ter grafia em polonês: Kurytyba. O autor acredita que entender a influência dos poloneses na história e nos “causos” de Curitiba é saber mais sobre a identidade paranaense.Uma das primeiras pessoas com quem Mendonça dividiu a idéia de escrever o livro foi Jaime Lerner – ele também de origem polonesa. O arquiteto disse que a tarefa seria complicada, pois se trata de um humor “oral”. A graça de algumas histórias está no sotaque, capaz de dar significados inusitados (e hilários) até para nomes de ruas. O livro cita exemplos: Padre Agostinho vira Padre “Gostosinho”, Ubaldino do Amaral fica “O Baldinho” do Amaral e Saldanha Marinho, de modo misterioso, se transforma em “Sandálha” Marinho.A solução encontrada por Mendonça foi tentar transcrever o modo de falar para o texto, usando acentos e um tanto de criatividade. A Banda Polaca tem ilustrações geniais de Márcia Széliga, umas feitas para o livro e outras reproduzidas de seus cadernos de estudo, quando cursou a universidade em Cracóvia.Nas piadas – ou “causos” –, ao contrário do que acontece com os portugueses, quase sempre retratados como burros ou ignorantes (ou ambos), os poloneses são, de modo paradoxal, ingênuos e espertos.Para o autor, o paranaense tem um modo próprio de fazer humor que parece mais ligado ao enredo de uma boa história do que ao punchline (o arremate que faz rir) de uma piada.* * * * * Serviço: Lançamento do livro A Banda Polaca – Humor do Imigrante no Brasil Meridional, de Dante Mendonça com ilustrações de Márcia Széliga (Novo Século, 148 págs., preço a definir). Casa Romário Martins (R. São Francisco, 30 – Largo da Ordem), (41) 3321-3255. Dia 26 de setembro, às 18 horas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário