O leitor do blog, Mário José Gondek, está fazendo um trabalho, juntamente com pesquisadora Dominika Mierzwa, do Museu de História Natural de Varsóvia, sobre um médico polaco que viveu em Araucária. Este médico participou da guerra entre Rússia e Japão em 1904/05, depois viajou para a China onde fez mais de uma centena de fotos. Depois emigrou para Chicago, nos Estados Unidos, onde colaborou com a fundação da "Universidade Popular Polaca". Tempos depois emigrou para o Brasil. Em Araucária, no Paraná, foi correspondente do Museu de História Natural de Varsóvia, enviando para lá aves empalhadas, insetos e muitas borboletas.
Józef Czaki
Nasceu no dia 21 de dezembro de 1858, no vilarejo de Sanniki a aproximadamente 79 km de Varsóvia. Graduou-se em medicina pela Universidade de Varsóvia, em 1879, aos 21 anos de idade. Na época, a Polônia estava dominada pela Rússia, Prússia e Império Austro-Húngaro. Varsóvia, onde ele residia, estava sob o domínio da Rússia. Por esse motivo, em 1904, foi convocado a participar da guerra entre Rússia e Japão, como coronel médico do exército imperial russo. O então pároco de Araucária, padre Józef Anusz enviou-lhe uma carta relatando que os cidadãos araucarienses necessitavam de cuidados médicos. Atendendo ao chamado de Anusz, viajou ao Brasil e fixou residência em Araucária. De suas viagens pelo Paraná, conseguiu rico acervo de zoologia e geologia, que enviava aos museus polacos. Mantinha contatos com vários países, assinava várias revistas médicas e por esse motivo recebia os novos remédios lançados nos países europeus. Várias clínicas curitibanas apelavam frequentemente aos seus serviços, para conseguir esses remédios de última geração. Dentre os vários setores de seus interesses científicos, destaca-se a sua tendência em estudar os répteis brasileiros, notadamente as serpentes. Sabe-se que a incidência de mortes por mordidas de cobras naquela época era enorme. Mantinha sólidos contatos com cientistas brasileiros do Rio de Janeiro e São Paulo, notadamente com o Dr. Vital Brasil, descobridor da vacina antiofídica. Os habitantes de Araucária, quando prendiam alguma cobra venenosa, levavam-na em caixinhas ao serpentário que o Dr. Czaki possuía em seu quintal. Ele as remetia ao Instituto Butantã de São Paulo, para o preparo de antídotos. Para explicar às pessoas como deveriam agir em caso de mordidas de cobra, editou com recursos próprios uma brochura em polaco e em português com explicações sobre mordidas de cobras. Estimulou a vida social e cultural em Araucária: escolas, teatro, a Sociedade Strzelec (O Atirador), Dom Ludowy (Casa do Povo) e outras atividades culturais. Aos professores, que sabia mal remunerados, atendia gratuitamente e, para não poucos, ainda dava uns trocados para a volta. Sua filantropia o levava atender os clientes pobres de graça ou a esquecer de cobrar os honorários. Por isso, a necessidade frequentemente batia à sua porta. Sua preocupação com a saúde das pessoas também se manifestou no seu artigo didático: "Como proceder em momentos de acidentes e como comportar-se para evitar doenças"; livro editado em 1920. Fundou juntamente com o médico Juliusz Szymańsky, o Sanatório de Araucária. Este foi o primeiro Hospital do município. Possuía uma extensa e rica biblioteca. Tinha um moderno laboratório em seu consultório onde preparava os remédios que prescrevia. Faleceu no dia 22 de maio de 1946 e está enterrado no Cemitério Municipal de Araucária.
2 comentários:
desde pequeno, minha mãe contava que seu pai sempre tinha umas caixas e um gancho que o médico de Araucária dava a ele para capturar as cobras que encontrasse no sítio.
vou ver se ela lembra do nome do doutor, mas deve ser o mesmo.
bela história.
Esse tipo de resgate histórico é muito valioso. Uma biografia minuciosa do Dr. Czaki ainda está por ser escrita, mas os dados biográficos que se obtem aqui e ali já formam um quadro bastante interessante de sua personalidade e de sua relevância na comunidade polonesa paranaense da época.
Apenas três correções peço que sejam feitas: Vital Brazil (com "z" mesmo) dirigia o Instituto Butantan (com "n" no final, não ã), onde se produziu as primeiras ampolas específicas de soros antiofídicos (soros, não vacinas).
Parabéns pelas matérias sobre o Dr. Czaki.
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