A atriz Krystyna Janda - Foto: Maciej Zienkiewicz
Quem já assistiu os dois clássicos do cineasta Andrzej Wajda, "Homem de Mármore" e "Homem de Ferro" vai se lembrar da atriz Krystyna Janda. Considerada um dos "monstros sagrados" da arte de interpretar na Polônia ela está ao nível das grandes atrizes internacionais como Fernanda Montenegro, Sofia Loren, ElizabethTaylor, Ava Gardner e Marlene Dietrych, entre outras.
Krystyna nasceu em 18 de dezembro de 1952, na cidade de Starachowice, Polônia. Formada pela Escola Superior de Teatro de Varsóvia, a atriz debutou no cinema com no filme "Homem de Mármore" em 1976. Sua carreira no cinema, teatro e televisão tem sido ao longos das últimas décadas de um reconhecimento impressionante por parte da crítica e do público. Foram 45 filmes para TV e outros 50 para o cinema. No teatro foram 60 as peças, em que invariavelmente foi a atriz principal, como em "Medeia". Os espetáculos "Shirley Valentine" e "Edukacja Rity" tiveram mais de 400 apresentações. Ganhou vários prêmios na Polônia, a Palma de Ouro de Melhor atriz em Cannes, no Festival de San Sebastian (Espanha), Festival de Montreal, entre outros. Tem seis discos lançados como cantora e cinco livros como escritora. Numa pesquisa realizada por um jornal polaco em 2000, foi eleita a maior atriz do século 20 da Polônia. Em maio de 2006 recebeu, talvez o maior de seus prêmios, a "Medaille Charlemagne pour des Medias Europeens". Em 5 de janeiro de 2008, ficou viúva de Edward Kłosiński, com quem havia se casado em 1981. Mãe de Maria Seweryn, Adam e Andrzej. Mora nas cercanias de Varsóvia, em Milanów. Tem uma coluna na revista "Pani".
O filme tem duas partes, uma baseada na história de Jarosław Iwaszkiewicz e segunda num texto de Olga Tokarczuk. Krystyna Janda faz o papel da personagem Marta. Paweł Edelman é o diretor de fotografia.
Krystyna foi entrevistada pelo jornalista do jornal Gazeta Wyborcza antes do Festival de Berlim, onde sob a direção de Andrzej Wajda, Janda (pronuncia-se ianda) atua em "Tatarak", filme polaco concorrente ao "Urso de Ouro" de Berlim. Na entrevista, a atriz conta que o monólogo inicial do filme é, na verdade, texto de sua própria autoria com passagens de sua vida real.
Tadeusz Sobolewski: Primeira cena de "Tatarak” - Krystyna Janda, sozinha, e seu cigarro, num quarto de hotel fala sobre a doença e morte de seu marido, o câmera de cinema Edward Kłosiński. A senhora fala este texto como um monodrama com absoluto autocontrole.
Krystyna Janda: Escrevi este texto, estudei e decorei-o e disse diante da câmera. Só uma coisa vi: não terei nenhuma "crise de alma". Isto tem que ter uma forma. O quadro de Edward Hopper foi a chave desta cena: uma mulher sozinha num hotel. Andrzej Wajda, vidente, que nisto, o que disse, não é ficção, desde o início foi estabelecido o formato da expressão. Examinou se a cor da parede é precisamente aquela como em Hopper, se a janela está no mesmo lugar do quadro do pintor. Apenas em seu quadro mulher sozinha no quarto vazio de hotel ela esta nua. Somente nisto não tivemos a ousadia de repetir. E com razão. Não, de um modo geral não refleti como teria que fazer isto. Vi somente que devo.
Tadeusz Sobolewski: Enfim tudo isto partiu da senhora?
Krystyna Janda - Desde o início Andrzej apostou, que "Tatarak" se sustentará em duas partes: a novela de Iwaszkiewicz e numa parte contemporânea, na qual teria que interpretar a mim mesma, a atriz Krystyna Janda, e Andrzej a si mesmo - o diretor Wajda. Surgiram várias versões desta parte contemporânea. Escreveu Olga Tokarczuk, escreveu Władysław Pasikowski e outrosi. Curioso foi ter pego tudo isto num único livro. A primeira versão fui eu que escrevi. Teve uma cena: vou a noite à farmácia para comprar remédio para o coração. Não tenho receita médica. A plantonista da fármacia diz: este remédio é para Andrzej Wajda. Fico com o remédio. Saindo, escuto desta senhora - minhas condolências, eu também sou viúva. Andrzej disse: Muito escrevi sobre esta frase, tiveste coragem, vamos em frente. Juntos vimos, que esta história é para nossa a mais importante. Sente-se e escreva. Em meia hora escrevi 19 páginas, as quais neste mesmo dia enviei a ele. Denominei "Diário para Andrzej".
Tadeusz Sobolewski: E apenas então vocês decidiram, que a senhora diria isto diante da câmera?
Krystyna Janda - Isto Andrzej decidiu. Perguntou se dava tal decisão. Imediatamente entendi e não podia acreditar, que consegui uma chance de fazer algo realmente importante para mim.Tudo então teria significado. Andrzej, com toda sua delicadeza, ordenou retirar-se a câmera. Aparentemente não houve qualquer direção. Preparou tudo. Falou com o cinegrafista. Estudei exatamente o texto decorando. Sua vivência. E equipe silenciou. E assim sozinha aconteceu.Apenas no último segundo fiquei nervosa, não me parei, mas o cinegrafista Paweł Edelman imediatamente desligou a luz, não se gravou. Andrzej em algum momento tocou minha mão. E perguntou: Você tem certeza, que quer isto? Não queres retrocede? Não se preocupe - disse - não deixei entrar nenhum jornalista na locação de filmagem. E depois a si em algum lugar onde fores - explicou como criança. Bailou, que isto será difícil para mim. E eu disse: Sou adulta, sei, o que faço, conta esta história de Andrzej Wajda e até, se neste filme não saio, isto é como "chegar na história". Porque este é o filme dele. De resto travalho com um homem, o qual conheço há 30 anos, no qual confio e o qual é para mim muito próximo. Sou um elemento desta história - respondi a ele.
Tadeusz Sobolewski: Mas porque isto foi preciso para a senhora?
Krystyna Janda - Não foi necessário. Tornou-se preciso. Somos artístas. "Tatarak" teria que ser um filme entre nossa profissão. Andrzej dependia, que entrasse na tela, aparecesse, para gravar. Isto tinha que ser filme sobre fazer filme. Filme now filme. Clássico. Falei: Este é filme também sobre atores. Porque como senhora Marta de Iwaszkiewicz pintei os cabelos, mudei a cor dos olhos. Depois, quando preparávamos o filme chegou súbito esta história pessoal, entendi que extamente esta coisa é na verdade sobre esta profissão. "Tatarak" de Iwaszkiewicz e a nossa história se ligaram numa coisa só. Não sei falar sobre "Tatarak" como filme. Para mim isto não é filme. Importante que algo ficou gravado, ofertado. E antes disto ele tem uma forma. Ele é uma composição. Então isto é filme. Tive milhares de dúvidas, "como", ale "ou" - nenhum vacilo.Fiz isto não para mim própria.
Tadeusz Sobolewski: Então por que?
Krystyna Janda - Meu marido permitiu se fotografar doente. Tenho muitas fotos. Juntos compreedimos, como isto tem significado. Esquisito foi para mim, quando pela primeira vez peguei a câmera e parei diante dele, estava contente. Queria que isto ficasse registrado que não evitou, que ficasse. Esta é a nossa profissão! O que é o filme"Tatarak"? Sobre o que responde Iwaszkiewicz? Porque afinal não é um romance trivial da senhora médica com um jovem rapaz,o qual de súbito por obra do destino fatalmente morre, afogado. Isto é sobre algo muito mais importante. Sobre isto é difícil denominar. Precisamente então, vale a pena fazer este filme, quando não se pode escrever nem dizer qualquer palavra. A única coisa é olhar que isto pode ocorrer. Isto é algo dito difícil de nominar. Não é verdade?
Tadeusz Sobolewski: A senhora não irá a Berlim no festival, onde dentro de alguns dias acontece a avant-premiére de „Tatarak”.
Krystyna Janda - Estou feliz, que esperam por mim em relação a isto, mas faz tempo assinei um contrato para um espetáculo na Polônia. Desde o princípio sabia que o mais difícil para mim virá neste filme quando seja apresentado. Mas estou curiosa como ficou a apresentação. Intriga-me, se isto em geral é um filme de festival? O que pode significar fora da Polônia? Tivemos faz pouco um curioso acontecimento: telefonou a distribuídora de "Tatarak" da França. Não conhecia minha história. Pensaca que tudo o que digo no filme é ficção. E isto me deu esperança, que o filme se defende fora deste contexto, não exige conhecimento, assim como nós temos. Estou feliz que apareceu. Embora eu goste muito, como falante do monólogo, saindo do quadro. E abandono o fotograma sem mim.
Encontro de Polański e Wajda no festival de Berlim 2009 - Foto: AKPA
P.S. A palavra "Tatarak", título do filme de Wajda, é a denominação em idioma polaco da planta Cálamo aromático. Esta planta é chamada em em inglês de "Sweet Rush". O filme de Wajda ganhou este título, porque o rio da pequena cidade onde a personagem Marta conhece o jovem Bogus exala o perfume do cálamo.
A agência Mañana de Varsóvia está promovendo uma mostra do cinema polaco em 12 cidades brasileiras. Infelizmente, apesar de constar o excelente "Terra Prometida", na lista dos 14 filmes levados ao Brasil, os brasileiros ainda não viram o penúltimo filme de Wajda, "Katyń", que concorreu ao Oscar, o ano passado. Assim fica difícil esperar que "Tatarak" ou "Cálamo aromático", possa vir a ser distribuído na cadeia de cinemas do Brasil.
Ao encerrar as filmagens, o grande Wajda, agradece a equipe, o diretor de fotografia Paweł Edelman, entregue um buquê de rosas vermelhas para Krystyna e abraça todo mundo, dizendo: dziękuję (obrigado)
Um comentário:
Ela pensa em visitar o sul do Brasil?
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