O ministro das relações exteriores da Polônia, Radosław Sikorski fez um chamamento à ajuda internacional para manter o museu existente na cidade de Oswięcien, na Polônia. O museu é o conhecido maior cemitério sem tumbas de todo o mundo, o campo de concentração e exterminação alemão nazista de Auschwitz-Birkenau.
Falando após um encontro de ministros do exterior da União Europeia, em Bruxelas, na Bélgica, Sikorski, disse que a Fundação para a conservação do nefasto campo, criada no mês passado, recebe 120 milhões de euros, dos quais só pode utilizar seis ou sete milhões de euros por ano para a conservação do local.
Sikorski afirmou que a manutenção do campo da morte é particularmente importante para as futuras gerações, justo num momento em que líderes em alguns países e alguns religiosos colocam em dúvida a existência do Holocausto.
O Museu de Auschwitz recebeu recentemente 4.2 milhões de euros da UE para projetos de manutenção. Ano passado Auschwitz, localizado a 65 km de Cracóvia, foi visitado por mais de 1.1 milhão de pessoas de todo o mundo.
Um comentário:
ja estive neste local, apesar do ambiente ser meio nubuloso, pelas circustâncis, posso dizer que vale apena visitar sempre que visitem a Polska.
segue novo comentario que saiu na internete recentemente.
26/02/2009 - 00h37
Auschwitz, memorial em perigo
Clara Georges
Auschwitz, Varsóvia (Polônia)
Uma inscrição sobre uma lápide preta se destaca sobre a espessa camada de neve. "Que este lugar, onde os nazistas assassinaram um milhão e meio de homens, mulheres e crianças, a maioria judeus de vários países da Europa, seja para sempre um grito de desespero e um alerta para a humanidade". Essa epígrafe, escrita em 21 idiomas, está gravada no memorial de Auschwitz-II-Birkenau.
Logo a neve vai derreter e a terra descongelará. Os destroços dos galpões de madeira e das câmaras de gás e crematórios serão, mais uma vez, submetidos aos movimentos do solo. É preciso protegê-los para evitar que acabem desmoronando.
É somente um dos trabalhos indispensáveis para a preservação do antigo campo de concentração e de extermínio de Auschwitz-Birkenau. Em janeiro, o Museu do Estado Auschwitz-Birkenau, que administra os antigos campos, as visitas e as exposições, tornou públicas suas necessidades: 60 milhões de euros para as reformas mais urgentes, 120 milhões para o financiamento total da conservação. Se nada for feito, o local está simplesmente ameaçado de desaparecer.
Mas o orçamento do museu aumentou em 2008 para 6,8 milhões de euros. É só o suficiente para alguns "remendos", como explica Jacek Kastelianec, responsável pela coleta dos fundos. Dessa soma, somente 400 mil euros chegam do exterior. O resto provém metade das receitas do museu (livros, publicações - a entrada do local é gratuita) e metade do governo polonês.
Isso porque o museu é uma instituição do Estado, financiado, desde sua criação, em 1947, pelo Ministério da Cultura. Foi somente depois da era comunista, nos anos 1990, que ele se beneficiou de pontuais auxílios estrangeiros para sua restauração.
Então o museu acaba de criar uma fundação encarregada de receber um fundo dotado, idealmente, de 120 milhões de euros a serem recolhidos, e cujos dividendos anuais (entre 3 e 15 milhões) permitiriam sustentar uma reforma.
Por que se esperou tanto tempo? "Talvez por causa da falta de visão da antiga direção", diz Serge Klarsfeld, vice-presidente da Fundação pela Memória da Shoah e novo membro do conselho da Fundação Auschwitz-Birkenau. "Mas também pela falta de interesse dos governos da Polônia. Eles se conscientizaram dessa necessidade recentemente, com o aumento do número de pessoas que vêm". Wladyslaw Bartoszewski, ex-detento, secretário de Estado encarregado do diálogo internacional e diretor do Conselho Internacional para Auschwitz (IAC), comitê que zela pelo futuro do local, oferece uma resposta complementar. "A geração dos detentos chega no fim de sua vida. É preciso proteger este lugar, o único dos campos inscrito no Patrimônio Mundial da Humanidade da Unesco. É um compromisso para com aqueles que partem".
Na oficina de conservação do local, financiada pela Fundação Lauder, uma equipe de dez pessoas se empenha, desde 2003, em preservar objetos e lugares. Sobre uma mesa, duas pilhas de folhas amareladas esperam. São os relatórios do Instituto de Higiene da SS, nos quais estão registradas as experiências médicas praticadas nos detentos. A restauração dessas folhas, paga pelo Estado da Renânia do Norte-Vestfália, custa 600 mil euros e levará três anos. O trabalho dos conservadores é difícil. Não se trata de embelezar, como em um museu de arte. Trata-se de "conservar o estado", explica um deles. "O objetivo obviamente não é de construir uma Disneylândia", resume Bartoszewski. "Queremos manter o lugar autêntico". É também o trabalho do especialista encarregado da conservação vegetal: com base nos arquivos, ele consegue com que a paisagem se pareça o máximo possível com a da época.
Em uma outra sala, blocos vermelhos e brancos são numerados. São testes para reproduzir de forma idêntica os solos de alguns prédios. Nos galpões de tijolos de paredes desbotadas, o chão está danificado. Há buracos. Então é preciso recriar os materiais utilizados nos anos 1940. Às vezes, também é necessário substituir as ripas de madeira inchadas pela umidade ou gastas pelo tempo.
Mais além, depara-se com uma reprodução do portão onde se lê "Arbeit macht frei" [O trabalho liberta], que substituía o original durante sua restauração; ou com um grande afresco que se encontrava, originalmente, na antiga cantina da SS.
Entre as primeiras tarefas a cumprir, o conservador Rafal Pirio cita a preservação dos galpões de madeira e de tijolo de Birkenau e dos onze prédios de Auschwitz-I que abrigam a exposição principal. Esta última, que conduz os visitantes por onze galpões, também deve ser renovada, pois não sofre nenhuma mudança desde... 1947. Nessas salas, onde é grande o fluxo de pessoas, mostram-se por trás dos vidros toneladas de cabelos de detentos e sapatos de crianças. Os sapatos serão restaurados, mas o museu decidiu deixar os cabelos virarem pó.
O local engloba 155 construções e 300 ruínas sobre quase 200 hectares. Chegando em Birkenau, o visitante fica estupefato com a extensão dos lugares. Os vestígios dos galpões-dormitórios, cercados por arame farpado enferrujado e suas estacas de concreto que se corroem, se estendem a perder de vista. Os destroços dos galpões de madeira se distribuem pela longa plataforma onde chegavam os trens.
A preservação de um memorial certamente não está desprovida de ambivalência. "Eu sempre tive um sentimento um pouco mitigado diante da ideia de que era preciso restaurar um lugar como este", diz Richard Prasquier, presidente do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (CRIF) e membro do Conselho Internacional para Auschwitz. "Por um outro lado, se não o restaurarmos, ele desaparecerá. Auschwitz é um símbolo para a Europa e para o mundo. Ele não pode desaparecer fisicamente".
Ao longo dos anos, o status de Auschwitz mudou. Ele se tornou o símbolo por excelência da loucura nazista. Os números de frequência confirmam: até 2003, o número anual de visitantes girava em torno de meio milhão. Em 2008, eram 1,3 milhão. Piotr Cywinski, diretor do museu, relata uma anedota que ilustra essa evolução. "No final de abril de 2008 veio um homem, um judeu que, ainda criança, havia sobrevivido aos campos de concentração. Seu pai morrera. Ele me disse: 'Eu tinha de vir a Auschwitz, porque meu pai foi morto em Bergen-Belsen.' Para ele, Bergen-Belsen estava simbolicamente inserido em Auschwitz".
Parece impensável que a comunidade internacional se recuse a participar da conservação de Auschwitz-Birkenau. No entanto, Piotr Cywinski guarda cautela. "Em geral, digo que o que chega do exterior, são sobretudo bons conselhos", ele brinca. Richard Prasquier não acha normal que seja a Polônia a financiar o local: "Eu ficaria totalmente chocado se o conjunto dos países da Europa não pagasse".
O local acaba de obter 4 milhões de euros de fundos europeus, para a conservação dos galpões de Auschwitz-I. Os alemães já se manifestaram junto à Fundação.
Wladyslaw Bartoszewski está otimista. "Quando eu estava no colégio, no entre-guerras, parecia-me que Verdun era uma história encerrada, que logo não interessaria a mais ninguém. Passaram-se exatamente 70 anos desde que me formei. As pessoas continuam se interessando por Verdun".
Tradução: Lana Lim
UOL Celular
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